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10 de mar. de 2016

RENAN, O CONDESTÁVEL

Condestável é o militar responsável por apontar e dirigir a artilharia. Em política, condestável é a eminência parda, um detentor de poder tamanho, que consegue mover as peças do tabuleiro partidário para uma determinada direção.

Hoje, Renan Calheiros é o condestável da república. Sua notória articulação política o transformou de inimigo feroz do PT oposicionista a amigo dileto e aliado de primeira hora do partido governista de Lula e do governo Dilma, ao mesmo tempo em que também é o pior pesadelo da presidente e do ex-presidente, pois esse estado de coisas o qualificou para ser o protagonista da "solução" da enorme crise politica e econômica que o país enfrenta.

Renan não é petista. Renan não tem compromisso com movimentos sociais. Renan não tem ideologia política, nem linha de pensamento em economia. Renan não perde poder algum se Dilma renunciar ou for cassada, nem seria afetado por uma decisão do TSE que venha a impugnar a chapa Dilma/Temer. É um franco-atirador, pode escolher a vítima ou o lado em que ficar, e está sempre em boa posição.

Em contrário de Eduardo Cunha que, aboletado na Câmara, atirou para todos os lados e nisso acertou tanto o governo quanto a oposição, Renan manteve o quadro assumido há muito tempo, de apoiar o governo do PT e não fazer marola, não ficar no olho do furacão, não ser alvo de ataques nem da situação, nem da oposição. Hoje, sente-se tranquilo para mudar de lado na hora que melhor lhe aprouver, e isso lhe dá poderes extraordinários.

Sua posição não ofensiva lhe garante, inclusive, não estar no centro das discussões sobre a Operação Lava Jato, na qual ele é investigado. Tanto a situação quanto a oposição evitam lhe causar constrangimentos, porque sabem que ele detém um poder tamanho, que pode fazer a balança pender para um dos lados.

Ele não precisa ameaçar ir para a oposição para o governo lhe acenar com todo tipo de benesse e contraprestação. Se quiser, ele faz e demite ministros, avança ou encerra programas e dá o tom de toda a administração Dilma, bastando manter posição ambígua sobre impeachment, que mantenha o pavor no Palácio do Planalto, que dele depende para manter o apoio majoritário que ainda tem no PMDB. Renan garante ao PMDB a cômoda situação de em parte ser governo, em parte, oposição.

Se, porém, ele resolver deixar o governo, ainda pode decidir como ou até quem sucederá Dilma.

Presidente do Congresso, com boas relações com Eduardo Cunha (que ele nunca contrariou) tem poder para protelar o processo de cassação e levá-lo até o final do ano. Fazendo isso, define a eleição como indireta e, então, passa a manipular com grande poder para escolher o sucessor de Dilma, se é que ele mesmo já não almeja isto, talvez até com o apoio do PT.

26 de nov. de 2015

DELCÍDIO AMARAL - O DESGASTE DO GOVERNO

O líder do governo no Senado foi flagrado prometendo um plano de fuga para um ex-diretor da Petrobrás, que inclusive fez parte da mesma diretoria que a própria presidente. O PT bem que tentou amenizar a imagem ruim, declarando não ter solidariedade com o senador, o que logo após se fez inútil, ante o voto da sua bancada na sessão extraordinária que analisou o ato de prisão.

Num dia em que o Congresso Nacional votaria itens importantes do ajuste fiscal, a prisão de Delcídio Amaral não só paralisou os trabalhos do Legislativo como causou pânico no Palácio do Planalto, pois além da não apreciação da matéria, perdeu-se um articulador que, por exemplo, havia convencido alguns senadores a manter o veto da presidente à correção dos salários do Judiciário.

Esse episódio da Lava a Jato aumentou o risco de impeachment e de descontrole das contas públicas, porque o governo optou por medidas fiscais relativas ao corte de verbas carimbadas, mas não pelo corte de gastos discricionários, como ministérios e folha de pagamento de comissionados e contratados em confiança. Gerou desgaste múltiplo na paralisia de votações e em mais atraso na aprovação das metas fiscais, o que pode, inclusive, causar a ocorrência de crime de responsabilidade da presidente, afora o engessamento de verbas, já que a Desvinculação de Receitas da União precisa ser renovada e sem ela, perde-se margem de manobra do orçamento, o que afeta em muito a governabilidade numa contexto de crise econômica que baixa a previsão de arrecadação.

E força o governo a uma (nova) rearticulação. Dilma terá de nomear um novo líder, que provavelmente não será do PT, já que a maioria dos seus senadores votou pelo não, que significaria libertar Delcídio Amaral. Talvez isso signifique ceder mais uma parcela de poder ao PMDB e deixar ainda mais descontentes os petistas da Câmara, alguns dos quais votaram contra a manutenção de alguns vetos presidenciais recentemente. Se indicar um petista, pode passar a mensagem de que foi conivente com os atos do senador preso, se não indicar, pode perder apoio dentro do seu próprio partido.




4 de nov. de 2009

O FIM DA REPÚBLICA

O TSE decidiu em última instância pela cassação por compra de votos, do senador Expedito Junior (PSDB-RO). Pouco depois, o STF decidiu em Mandado de Segurança pela posse imediata do candidato derrotado nas eleições, Acir Gurgacz (PDT-RO) e, por óbvio, a cassação de Expedito Junior.
O que fez a mesa do Senado?
Contrariando duas decisões judiciais advindas de tribunais superiores sem possibilidade recursal, a mesa comandada por José Sarney deu uma semana adicional de prazo para o cassado Expedito Junior, enviando a questão para uma instância inferior, a Comissão de Constituição e Justiça.
Ou seja, o Senado não só descumpriu determinação judicial expressa, como a recolocou em discussão em um órgão subalterno, incorrendo em crime de desobediência previsto no artigo 330 do Código Penal.
Ea partir disso está aberto um precedente para algo que já vem sendo plantado há tempos.
Há poucos dias o presidente Lula contestou determinações do Tribunal de Contas da União e agora, o Senado recusa-se a dar cumprimento a sentença proferida pelo Supremo Tribunal Federal.
Onde isso vai parar, ninguém sabe, porque está aberto o precedente. Daqui há pouco o Executivo passará a ignorar Leis que não lhe sejam politicamente interessantes e o Legislativo passará a derrubar vetos sem votação em plenário. O Judiciário, por sua vez, passará decidir fora dos limites da Lei e da Constituição e a executar seu próprio orçamento, sem observar os contingenciamentos feitos pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento.
Instalou-se o vale-tudo motivado por interesses políticos. Tornou-se subjetiva a separação dos poderes, agora o que importa são os interesses meramente pessoais e não-institucionais.
Fosse o Brasil um país sério, o Ministério Público Federal estaria denunciando hoje mesmo os senhores José Sarney (PMDB-AP), Heráclito Fortes (DEM-PI), Adelmir Santana (DEM-DF), César Borges (PR-BA), Cícero Lucena (PSDB-PB) e Serys Slhessarenko (PT-MG), ocupantes da mesa do Senado, pelo crime cometido.
Mais do que isso, se seriedade existisse por aqui, o TCU teria tomado todas as medidas cabíveis para garantir a determinaçõ de paralisação das obras, sob pena de imputar ao senhor presidente as penalidades administrativas às quais está sujeito pelo descumprimento.
Mas não, o juízo político no Brasil é mais importante que o administrativo, até porque o Estado brasileiro é uma grande confraria de amigos, onde os eleitos contratam hordas de parentes e apadrinhados com lautos salários em cargos de confiança e comissão, tudo para satisfazer apenas e tão somente seus interesses pessoais mais mesquinhos.

25 de ago. de 2009

SUPLICY TAMBÉM SAIRÁ DO PT?

O discurso de hoje do senador Eduardo Matarazzo Suplicy foi muito mais representativo nas palavras do que o cartão vermelho que deu em José Sarney.

Ele esmiuçou e rebateu TODAS as alegações de defesa do presidente do senado.

Viesse de um senador do PSDB ou do DEM, não teria efeito nenhum.

Mas veio de outro petista histórico claramente insatisfeito com os rumos do poder pelo poder tomados pelo PT, cuja projeto político pretende fazer de Dilma Roussef, petista, mas não histórica (egressa do PDT), presidente do país fazendo reverência aos mesmos oligarcas que a sigla tanto combateu no passado.

Suplicy está pedindo o boné ou será expulso?

É a tal coisa, Marina Silva não tem chances de vitória. Mas uma chapa de Eduardo Suplicy com ela enterraria Dilma Roussef na exata medida em que atrairia os petistas históricos que não são poucos.

18 de ago. de 2009

AGENDA NÃO PROVA NADA

A ex-Secretária de Receita Federal afirmou que a ministra Dilma pediu celeridade, não engavetamento de coisa alguma.

Assim sendo, como eu escrevi no "post" anterior, bastava à ministra dizer que teve uma reunião sim, e justificá-la no interesse do país em amenizar a grave crise política do Senado. O assunto estaria encerrado e não daria pano para manga, até porque remeteria para a Receita Federal a informação sobre irregularidades ou não nas empresas Sarney e deixaria a discussão absolutamente técnica para os parlamentares.

O problema talvez seja justamente este, parece que ela queria preservar o aliado mas ao mesmo tempo não queria ser associada ao dele. Coisas de quem está em campanha.

Penso que a ministra mentiu, mas não afirmo isso, vá que minha lógica não esteja correta?

O fato é que de prático ela pouco fez até agora para se defender, e uma medida efetiva seria ir à mesma comissão a que foi Lina Vieira e demonstrar algum encadeamento lógico nas suas alegações. O governo detém maioria naquela comissão, ela não teria problemas, salvo o da associação ao sobrenome Sarney.

E o presidente equivocou-se no trato do assunto.

Ao entrar na discussão de comadres ele chamou a atenção para o debate, dando-lhe uma importância que ele não tem, tudo o que a oposição queria.

E quando remeteu a discussão à verificação das agendas, reforçou o diz-que-me-diz, porque Lina Vieira alega justamente isso, que em sua agenda existe a informação da visita, corroborada pelo testemunho de pessoas.

Sem contar que uma ministra como Dilma, detentora da confiança do presidente e segunda pessoa de fato no comando do país, certamente não informa todos os seus muitos compromissos em agenda pública na internet, muito menos os compromissos de cunho político, cuja própria natureza exige sigilo.

Imaginemos o que aconteceria se, com a CPI da Petrobrás e o escândalo no Senado, a imprensa verificasse na agenda pública da ministra que ela se encontraria com a Secretária de Receita Federal (que não é subordinada ao seu ministério) e que de alguma forma vazasse que o assunto era justamente ou a Petrobrás e/ou as empresas Sarney?

Vale lembrar que a ministra não é chefe direta do Secretário de Receita Federal, que por sua vez, claro que jamais recusaria uma audiência com ela. Aliás, quem recusaria? Eu certamente não, e penso que leitor nenhum também não, afinal, é uma ministra, com grandes chances de ser a próxima presidente.

No dilema político que é manter Sarney como aliado e ao mesmo tempo afastar a imagem dele, o presidente e a ministra erraram no trato da questão. Coisa que poderia ser resolvida com uma única declaração curta e seca da ministra, agora se arrasta por uma ou duas semanas.

17 de ago. de 2009

DILMA OU LINA? E A FALTA DO BOM SENSO NA POLÍTICA

Quem está mentindo, Dilma ou Lina?

De um lado está uma ministra de Estado, e isso não pode ser desconsiderado na equação, porque ela tem, sim, uma presunção de veracidade no que diz. Mas ao mesmo tempo há que se considerar que é uma política e mais do que isso, em campanha pela presidência e, portanto, tendente a blindar seus aliados.

Esse é o problema de uma campanha prematura. Os pré-candidatos ficam sujeitos a ataques, razão pela qual, talvez, até hoje o PSDB não definiu se seu candidato será José Serra ou Aécio Neves, o que diminui a artilharia contra eles. Já Dilma Roussef é candidata declarada e na qualidade de segunda autoridade de fato no comando do país, é vidraça, como já se comprovou no caso ainda não explicado do currículo inchado e tem agora um novo lance, com o advento da discussão com a ex-Secretária de Receita Federal.

Lina Vieira, por sua vez, é funcionária de carreira do Ministério da Fazenda, e pessoa altamente qualificada do ponto de vista técnico. Até agora ninguém explica ao certo porque ela foi escolhida para o cargo político que ocupou por pouquíssimo tempo, sabendo-se de antemão que sua demissão teria efeitos limitados, pois ela não deixaria a carreira se isso acontecesse. Mais do que isso, que razões ela teria para levantar os supostos atos de pressão praticados pela ministra?

Que não me venham os apoiadores radicais do governo dizer que é invencionice da mídia ou mesmo que a senhora Lina bandeou-se para o lado tucano sabe Deus por quais razões, isso não procede e não é lógico, na exata medida em que esta senhora se compromete cível,criminal e politicamente ao insistir na versão de que encontrou-se com a ministra e foi instada a acelerar o término de processos fiscalizatórios contra empresas da família Sarney e mesmo contra a Petrobrás, justamente os dois espinhos mais pontiagudos da política nestes meados de 2009.

Mas é bem dito, na versão dela, houve uma certa pressão, mas não consta que a ministra tenha pedido para "aliviar" a situação de ninguém, e isso é favorável à tese de Lina, porque não imputa crime algum, mas apenas uma suspeita, até porque um ministro de Estado não chama ninguém para conversar sem motivos bem definidos.

Tenho tendência a pensar que a ministra buscou acelerar os processos de fiscalização e reforçar o seu sigilo (que, aliás, foi mantido, porque ninguém até agora veio informar claramente se existiram irregularidades e quais eram, tanto na Petrobrás quanto na família Sarney), e que a secretária ou interpretou isso mal ou foi obrigada a demonstrar contrariedade, vez que, repita-se, é alta funcionária de carreira do órgão mais técnico, politizado e capacitado da administração pública.

Lina Vieira ficou entre a cruz e a caldeirinha, porque uma vez fora do cargo político, poderia se ver em maus lençóis com seus colegas de carreira ao não defender a instituição.

É especulação minha, mas se aconteceu desse jeito, bastaria à ministra vir à público e dizer que sim, que chamou a secretária e pediu uma atenção especial aos processos, seja porque a Petrobrás é empresa estratégica vital para o desenvolvimento do país, seja porque não seria bom para o país agravar e já terrível crise política que assola o Legislativo.

O que fica claro é que no Brasil, os políticos tem uma péssima tendência à negação de tudo e as vezes atropelam o bom senso. Essa questão podia ser encerrada declarações mais claras e diretas de ambos os lados.

10 de ago. de 2009

XÔ, SARNEY!



O DO promove hoje uma blogagem coletiva, pedindo a renúncia ou cassação do senador José Sarney. Penso que ele não renunciará e tenho certeza que não será cassado, mas faço o coro.

José Sarney foi o pior presidente da história deste país. Depois apoiou os governos Itamar, FHC e Lula, sempre mantendo-se no centro da influência política e se beneficiando disso sem a mínima relação de ideologia e compatibilidade de projetos para o país. Ele exerce o poder pelo poder e faz isso cooptando os presidentes covardes deste país.

Também devo ressaltar que é vergonhoso um Conselho de Ética escolhido por um acusado de irregularidade, como o que aconteceu recentemente. Quando um órgão julgador é escolhido assim, no momento em que deve ser acionado, ou ele é de exceção ou é de conveniência, ou seja, em qualquer caso, é uma afronta à democracia. Se por exemplo o Conselho de Ética fosse formado pelos líderes de partidos com representação na casa, pelo menos haveria um critério anterior ao fato que se pretende julgar. Mas não, os senadores José Sarney e Renan Calheiros simplesmente constituíram o conselho que acharam mais conveniente para o momento.

Mais do que isso, é aviltante à democracia que 1/3 dos senadores sejam suplentes e jamais tenham tido sequer um voto, como é revoltante saber que por conta de centenas de atos afrontantes à coisa pública chegou-se a essa crise e a partir dela o Congresso Nacional está paralizado.

Ando cansado de investigações e CPI(s), todas inúteis. Ando de paciência esgotada com uma classe política que nada mais faz senão administrar os próprios mesquinhos interesses. Ando cansado de ver políticos trampolinarem de partido em partido e de ideologia em ideologia.

Para qualquer pessoa com o mínimo bom senso, se Fernando Collor e Luiz Ignácio Lula da Silva criticaram e fizeram comícios e passeatas contra José Sarney, eles não têm o direito nem a moral de hoje serem seus aliados e vice-versa. E o mesmo vale para as traições de Collor contra Renan Calheiros ou os acintes praticados pelo PT contra todos eles.

Como Sarney não largará o osso, pelo menos deixo aqui meu desabafo. Quero que os políticos passem a ter OPINIÃO, e não se prostituam mais apenas para gozar do poder pelo poder.

3 de ago. de 2009

QUEM SÃO ELES PARA FALAR DE SIMON?

Pedro Simon, como qualquer político brasileiro, tem defeitos e não é flor que se cheire.

Há quem fale mal dele por vários fatos passados, mas sua atuação no Senado sempre foi marcada pela defesa intransigente do combate à corrupção endêmica que deságua nos privilégios torpes escamoteados por atos secretos em favor de uns poucos oligarcas, basta ver sua atuação nos casos Jáder Barbalho, Antonio Carlos Magalhães e agora, com José Sarney.

Entre ele, e as figuras nefastas de Renan Calheiros e Fernando Collor, mesmo com seus muitos defeitos, prefiro Simon, que não foi apeado da presidência da casa sob uma chuva de acusações e uma torrente de mentiras comprovadas à própria familia e até à amante, e nem cassado por corrupção pelo Congresso Nacional.

Sem contar que Collor traiu Renan, que foi para a oposição quando aquele votou abertamente em Divaldo Suruagi numa eleição para o governo de Alagoas, em que o presidente tinha empenhado sua palavra no apoio ao atual colega senador.

Simon não se elegeu malhando José Sarney para depois ir beijar-lhe a mão, como fez Fernando Collor. E também nunca esteve do lado do entreguismo peemedebista, cuja maioria dos integrantes, especialmente Calheiros e Sarney, preferem esquecer o passado de ofensas e acusações praticadas pelo PT, para aderir ao seu governo de modo patético e vergonhoso.

Nem Collor, nem Calheiros, tem estofo para atacar Simon, do mesmo jeito que não têm para a defesa de Sarney. Suas atuações parlamentares são pífias, fisiológicas e marcadas pelo adesismo cego ao governo da vez, jogando no lixo qualquer resquício de ideologia e coerência para se manterem sempre no centro do poder.

SERÁ QUE ESTOU ENGANADO?

O tal "Conselho de Ética" foi escolhido a dedo por José Sarney e Renan Calheiros. Seu presidente é um indivíduo que nunca teve sequer um voto, alçado à casa por acaso e favor, louco para retribuir tanta bondade do destino, se é que o leitor me entende.

Arrisca livrar a cara do maranhense e ferrar com os acusados da oposição, como Arthur Virgílio que pagará a conta do enfrentamento aos "capos" em face do seu telhado de vidro, afinal, estamos falando de políticos que, na essência, são todos iguais.

Duvido que José Sarney renuncie. E se renunciar, no máximo será à presidência, não largará o cargo de senador para voltar ao Maranhão.

Agora, pouco efeito prático teria uma renúncia assim. O próximo presidente da casa seria alguém indicado pelo próprio Sarney, como Renan Calheiros, porque não? Não esperem que o cargo seja ocupado por um Jarbas Vascincelos ou Pedro Simon, isso não vai acontecer.

E mais do que isso, há um verdadeiro manancial de denúncias que ainda pode ser explorado tanto contra senadores da "base aliada" quanto em relação aos da dita oposição.

Qualquer que seja o novo presidente, é provável que o Senado continue paralizado e que continue em curso o processo de golpe capitaneado pelo PT, cuja indisposição com o presidente Lula não foi gratuita, foi milimetricamente pensada no sentido de acabar com a casa e facilitar a aprovação de emendas constitucionais de cunho eleitoreiro e tributário, sendo a primeira a volta da CPMF.

Será que estou enganado?

23 de jul. de 2009

NO CONTEXTO, PARECEU AMEAÇA


No Estadão de hoje, com as palavras do senhor presidente:

No primeiro evento de que participou, ao lado de Gurgel, Lula também alertou que o Congresso pode se sentir motivado, ante abusos, a promover alterações na Constituição para reduzir os poderes do Ministério Público. 'Sabemos que a mudança nunca será por mais liberdade, mas por mais castramento'.


Ditas por um presidente extremamente popular de um governo com resultados sociais concretos, que conta com folgada maioria na Câmara dos Deputados e possível maioria no Senado Federal, maioria esta capaz de aprovar emendas constitucionais mesmo polêmicas, principalmente se feitas mediante o conjunto de interesses nem sempre éticos dos senhores parlamentares.

Essas palavras soaram como ameaça velada ao Ministério Público, contrangendo-o para que não cumpra sua função constitucional em detrimento das "biografias" nem sempre belas de parlamentares que apóiam o governo.

16 de jul. de 2009

CONSELHO DE... "ÉTICA"


Eu rio, porque se desato a chorar, não paro mais com tanto motivo.

A base aliada no conselho de... "ética"... do Senado foi escolhida a dedo pelo senador Renan Calheiros, que hoje é quem manda na casa, com o enfraquecimento da imagem do senador José Sarney e ungido com o apoio expresso e incondicional do presidente Lula, na mesma ocasião em que este teceu loas ao antigo inimigo do povo, Fernando Collor de Mello.

E o presidente do tal conselho no senado, Paulo Duque, que foi eleito com a exclusão de todos os demasiado "independentes" na base aliada e desfruta do mandato sem ter recebido um único voto popular, já se adiantou em declarar que cassação só pode se dar por "coisa seríssima", o que não inclui contratação de parente na casa e, concluo que dentro dessa linha de raciocínio, muito menos a edição de atos secretos que violam dispositivo da Constituição Federal.

Aliás, tratando ainda em conselho de... "ética"... mas agora na Câmara dos Deputados, constato que lá também, a cassação só se dá por coisa "seríssima".

E segundo os nobres deputados, não é "seríssimo" omitir informações patrimoniais à Receita Federal, como o dinheiro para a construção de um castelo. Alega-se que isso não é sério porque o eventual crédito tributário estaria prescrito, como que dizendo que a mulher de César, parecendo séria pode agir como bem entender desde que seus atos estejam protegidos pela passagem do tempo.

E também não é "seríssimo" para ensejar cassação, a contratação de empresa própria para justificar gasto com verba de gabinete.

Enfim, a partir de agora, parlamentar só é cassado se matar um indefeso em praça pública medianto atos de sadismo e crueldade mórbida e injustificada. Tudo o que for menos que isso será considerado coisinha sem importância.

A gente ri... mas a vontade é debulhar em choro.

17 de mar. de 2009

131 DIRETORES



Tá no portal UOL/Folha de S.Paulo de hoje:

"Sarney ordena destituição de todos os diretores do Senado"

E no texto, se constata que 131 diretores deverão apresentar suas cartas de demissão.

Não vou abordar a questão do ponto de vista do presidente do Senado. Há alguma questão política envolvida, mas não foi isso que me chamou a atenção, embora, em política, qualquer fumaça é sinal de catástrofe.

Mas voltando ao meu comentário, me responda o leitor se souber:

Você conhece alguma instituição privada, qualquer uma, que tenha algo em torno de 10000 colaboradores e 131 diretores?

Uma instituição privada, seja empresa, seja associação ou fundação com 131 diretores muito bem remunerados e cheios de mordomias como são os do Senado, não conseguiria se manter em face da exigência natural de viabilidade financeira e competência. Seria cacique demais e índio de menos e quem trabalha duro e administra margens de lucro pequenas e orçamentos apertados, não pode se dar um luxo como este.

No Senado isso só acontece porque a entidade não depende de verbas ou, melhor, não depende de arrecadá-las, pois o repasse do orçamento da União é sempre generoso e, independentemente de crise, aumenta em percentuais reais absolutamente todos os anos.

É uma farra, uma verdadeira orgia tal qual a retratada por Diogo Rivera na imagem que ilustra o post. Esse número absurdo e catastrófico de diretorias é uma moeda de troca eleitoral, um agrado para os doutos integrantes da mesa, que podem se fartar em indicar cupinchas e apaniguados, muitos deles a fazer carreira dentro da instituição e quem sabe, se auto presenteando com apartamentos funcionais baratinhos ou mansões não declaradas ao imposto de renda.

E o pior de tudo, caro leitor: sai do meu, do seu, do nosso bolso...

Update: Já me disseram que de 131, passou para 136 e depois disso, para mais de 180. Como sempre, é pior do que se pensa.

2 de fev. de 2009

SARNEY & TEMER: O PMDB JÁ BARGANHA 2010!


José Sarney disse que não queria ser candidato à presidência do Senado, mas pôs para escanteio o ex-presidente da casa, Garibaldi Alves Filho, e venceu o senador Tião Viana do PT, que era o favorito até ele entrar na disputa.

Sarney foi "aliado" do atual governo e nesse processo, onde não queria ser candidato, deu nítidas indicações de que foi para a oposição, o que repetiu-se hoje em seu discurso, quando disse que "nesta presidência reafirmaremos a nossa independência e exigiremos respeito à nossa instituição".

É sintomático que ele tenha dito isso, porque no caso da CPMF, o Senado foi a última barreira de resistência da sociedade(mas muito mais da oposição) ao rolo compressor parlamentar do governo Lula. Ou seja, o Senado é, efetivamente, a casa do Congresso onde o governo precisa negociar muito se quiser aprovar projetos polêmicos.

E no mesmo discurso, Sarney afirmou que vai lutar (do melhor lugar possível, diga-se de passagem) por reformas política e tributária, que são tudo o que o governo Lula em fim de mandato já tencionava não discutir, porque são capazes de causar muitos estragos se tiverem que ser aplicadas pelo Poder Executivo, inclusive com perda de apoios políticos importantes para quem ainda precisa "construir" uma candidata.

Sarney vai barganhar muito com este governo com vistas a 2010, e isso enfraquece, pelo menos por enquanto, as pretensões da ministra Dilma Roussef.

Já Michel Temer, que foi fiel escudeiro de Fernando Henrique Cardoso, conseguiu a façanha de ser eleito presidente da Câmara com votos da oposição e da base aliada, o que denota que está aberto a negociar com quem dá mais pelo naco de poder que o PMDB exigirá em 2010.

Mas na Câmara, é sabido que o governo tem folga e gordura para queimar, o que faz de Temer um personagem bem menos importante que Sarney.

O PMDB, que para muitos estava morto e enterrado, sujeito a no máximo emplacar um candidato a vice na chapa encabeçada pelo PT para 2010, virou o jogo!

Agora, controlando as matérias que vão à votação tanto na Câmara quanto no Senado, tendo o poder de definir presidências e relatorias de comissões, o PMDB pode barganhar muito e tanto fazer um vice pelo governo quanto pela oposição, ou, ainda, vetar candidaturas que não agradem seus próceres, se a crise econômica se agravar e forem necessárias medidas de efeito chanceladas pelo Congresso.

Mais que isso, o PMDB pode pensar até em candidato próprio, porque o Congresso dá a visibilidade necessária para construí-lo.

É cedo para dizer se o governo Lula saiu enfraquecido deste processo, pode ser até que tenha saído mais forte, dependendo das peculiaridades do processo político para 2010. Mas que a partir de agora terá que negociar mais pelo que precisa, não duvide o leitor.

26 de jan. de 2009

2010 SE APROXIMA - PARTE II


As eleições para as mesas do Congresso revelam claramente o pior da política brasileira.

Na Câmara, Michel Temer não se decidiu ainda se é representante do governo ou da oposição. Ele joga com os votos do PMDB e, dependendo do que acontecer no Senado, pode ser eleito presidente da casa ou com o apoio do governo (PT e aliados) ou com o apoio da oposição (PSBD e DEM), sendo que o PT ainda não lançou candidato, mas na última hora pode apoiar Aldo Rebelo do PC do B, que, afinal, é aliado e fiel ao governo.

Sem chances, tal qual um Dom Quixote contra os moinhos de vento, o deputado paranaense Osmar Serraglio, tentando reeditar a "terceira via".

Já no Senado, especula-se que José Sarney já se comprometeu com o DEM, em troca da
1ª Secretaria, que é a que cuida da administração da casa, o que envolve verbas de R$ 2 bilhões. Também no campo da especulação, Josias de Souza da Folha de S. Paulo comenta que o PSDB teria exigido a vice-presidência da casa, mais duas comissões, a de Assuntos Econômicos e a de Relações Exteriores.

Se assim for, José Sarney bandeou para a oposição. Imagine o leitor o que pode fazer o PSDB em termos de mídia, dirigindo essas duas comissões?

A Comissão de Assuntos Econômicos assume importância em razão da crise que assola o mundo e especialmente em vista dela ter influência sobre o orçamento da União. E a de Relações Exteriores, trata do que é o ponto fraco, o calcanhar de Aquiles do governo do PT, em vista da excessiva leniência havida desde 2003 em relação a países que violaram direitos brasileiros, como a Bolívia, o Equador, o Paraguai e a Venezuela.

O PSDB e o DEM teriam mídia e, principalmente, "ganchos" onde grudar no governo e enfraquecer seu candidato, ou melhor, sua candidata, fazendo estardalhaço com convocações para depoimentos e quetais.

Enfim, pouco se pensa no país, e muito nas eleições. O pior da política brasileira está escancarado, o que vai desde a troca de favores e interesses, até a incapacidade do governo em manter uma base aliada sem liberar emendas orçamentárias para o baixo clero das casas.

Foto da assessoria de imprensa da Câmara dos Deputados.

21 de jan. de 2009

2010 SE APROXIMA... E COMO TEM PODER ESSE SENHOR SARNEY!!!


2010 realmente se aproxima.

No Congresso Nacional, o governo, que contou com maioria e base "aliada" supostamente folgada depois de 2006, começa agora a sentir os efeitos da pressão por um arranjo político para o pleito presidencial.

José Sarney negou ser candidato à presidência do Senado até o último momento e agora, não só conseguiu que o atual presidente, Garibaldi Alves Filho (PMDB/RN), desistisse de uma nova candidatura, como deixou clara sua liderança sobre o PMDB, que o qualifica a afrontar o "aliado" PT de Tião Vianna (AC), para desgosto nas hostes do governo Lula.

E na Câmara, a situação não é muito diferente. Michel Temer (SP) é candidato do PMDB e supostamente teria apoio do PT. Mas se duvidar muito, o olho grande do partido no Senado o leva a se aliar na Câmara a PSDB, DEM e qualquer outro que queira enfraquecer o governo.

Não custa lembrar que Michel Temer foi presidente da Câmara durante os anos FHC, e um presidente (muito) bem afinado com aquele governo, diga-se de passagem. Sua posição política é nada ideológica e muito oportunista.

O problema todo é que essa volubilidade do PMDB coloca o PSDB e o DEM como fiéis da balança nas duas casas. E loucos para infligir uma derrota ao governo Lula depois de tanta sapatada, com exceção do caso da CPMF.

E ao mesmo tempo, essa sede peemedebista pelo poder no Congresso não deixa de ser uma resposta à candidatura de Dilma Roussef, que já está nas ruas, com o apoio do presidente.

No PMDB, havia quem imaginasse que em 2010 a cabeça de chapa seria do partido. Mas o PT, especialmente o presidente Lula, já deixou claro que vai liderar o processo com gente própria, o que significaria um PMDB supostamente "aliado" por mais 4 anos mas, consequentemente, secundário, como tem sido desde que aderiu ao governo petista, já em 2003.

Agora, o PMDB (e José Sarney) faz menção a dar o troco para quem promoveu a candidatura Dilma e esqueceu que o PT não governou sozinho desde 2003. Estaria cobrando a conta da adesão por esse tempo todo?

Vendo coisas assim me convenço do extraordinário poder que o senador José Sarney amealhou desde que foi presidente da república, sem contar a esperteza.

Nesse episódio, ele conseguiu (até agora) dar um nó no PT e impor uma negociação em termos políticos bem claros. Controlando as mesas do Congresso, pode ficar daqui até as eleições incomodando e atrapalhando o governo numa época de turbulência econômica não muito adequada para construir uma candidatura nacional como a de Dilma.

Pode fazer a diferença entre ser coadjuvante ou protagonista em 2010 em diante.

Ps.:A foto é da assessoria de imprensa da Câmara dos Deputados.

19 de dez. de 2008


Eu já havia comentado aqui da surpresa em constatar que o governo federal reduziu impostos para combater a crise.

Mas esqueci de dizer que ele já havia feito desonerações pontuais anteriores, para combater o surto inflacionário do início do ano, ao diminuir impostos sobre o trigo e o milho, e depois, ao reduzir a CIDE sobre os combustíveis, que tiveram majoração nas refinarias por conta da disparada do barril do petróleo.

Mas a supresa não se limitou a isto.Imagine o leitor, o Congresso Nacional aprovou esta semana o orçamento da União para 2009. Por quê a surpresa? Porque era comum no passado que o orçamento da União fosse aprovado em abril ou março, tornando problemática a administração da coisa pública.

E ontem, para alegria deste que vos escreve, a mesa da Câmara de Deputados rejeitou promulgar a Emenda Constitucional aprovada pelo Senado, que aumentava o número de vereadores sem diminuir o percentual de repasse dos municípios às câmaras municipais.

Bons fluidos para o Brasil? Espero que sim. Já se disse que momentos de crise ao mesmo tempo são de oportunidades. Para um país, a crise (ou a impressão dela) pode ser oportunidade de se reinventar em meio ao sacrifício.

O governo federal deu sinais claros em 2008, de que entende que a carga tributária chegou a um limite insuportável e que é preciso mudar esse quadro para sustentar o crescimento econômico, nem que haja cortes orçamentários.

E o Congresso Nacional deu neste fim de ano, sinais de que compreende a necessidade de ações parlamentares objetivas. Só o fato de ter aprovado o orçamento da União no prazo correto, em um ano eleitoral, já demonstra que há, entre os parlamentares, a preocupação com o bom andamento das coisas públicas. Se é verdade que o Senado foi infeliz, ao querer aumentar as regalias desses inúteis ocupantes do cargo de vereador, dando cargos a quem não foi efetivamente eleito em outubro passado, também é fato que a Câmara lhe serviu de contrapeso, exatamente como prevê o sistema bicameral.

Enfim, um fim de ano com boas notícias de cunho institucional.

PS.: Na contramão da história e do bom senso, fazendo-se valer do voto de deputados de baixo clero que jamais são oposição a nada e ninguém, meros carimbadores e chanceladores de ordem do poder executivo estadual, a Assembléia Legislativa aprovou, por ordem expressa do bolivariano governador Roberto Requião, uma "reforma" tributária estadual que aumentará os preços da energia elétrica, da telefonia, dos combustíveis e das bebidas, dando ganhos apenas para grandes supermercadistas e para o erário, mas causando inflação. O governo federal do presidente Lula, deve ficar de olho em indivíduos como Roberto Requião, que se dizem "aliados" mas em verdade, agem como inimigos do governo do PT e principalmente, do país.

Foto: Vista da orla, Santos/SP.

8 de mai. de 2008

TATIBITATI PARLAMENTAR

O debate político no Brasil é de regra ruim.

Fala-se asneira e há "achologismo" demais. Promovem-se ilações e logo depois busca-se dizer que não é bem assim e alteram-se interpretações de fatos apenas para uso no calor de um momento, o que transforma CPI(s) e comissões parlamentares em espaços onde se trocam perguntas imbecis por respostas idiotas repetidas à exaustão.

Eu chamaria de "tatibitati parlamentar".

Mas ontem, houve um episódio que ficará marcado como um dos mais estúpidos da tortuosa e ineficiente história dos debates parlamentares do país.

O senador Agripino Maia, que chegou a ser cogitado candidato oposicionista à presidência da casa, disse não fazer ilações, mas foi tão infeliz, que é difícil acreditar que não tivesse essa intenção ao perguntar à ministra sobre algum tipo de relação das mentiras que ela obviamente foi obrigada a contar sob tortura, quando encarcerada pelo regime militar por atos de guerrilha, com o imbroglio do dossiê sobre os gastos da Presidência da República.

Não entro no mérito do por quê da prisão da então militante, o que ela fez ou deixou de fazer para ser presa. Também não há razão para duvidar que a hoje ministra na época mentiu, o que fez de modo corajoso para proteger companheiros de luta ideológica. O fato é que, se o fez, foi efetivamente por coragem, por mais que eu ou o leitor não concordemos com atos de guerrilha e com a ideologia da ministra.

Mas apenas o fato de levantar aquelas mentiras, para comparar sobre supostas mentiras de hoje, como fez o senador, é deplorável.

O povão diz que "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa", no sentido de separar bem os momentos em que atos parecidos foram cometidos. Os atos podem ser parecidos, ou idênticos, mas as motivações diferentes, e o senador, que só percebeu isso depois que falou a asneira, tentou consertar, mas o estrago já estava feito e irreversível.

A ministra pode não ser um ícone de palanque, mas é política e identificou a deixa.

A partir disso, acabou com qualquer tentativa da oposição em julgá-la antecipadamente pelo caso do dossiê, porque virou vítima. Uma pessoa perseguida hoje, pelos atos que foi obrigada a praticar na juventude, quando lutava por uma causa, ao contrário de muitas pessoas que se calavam ou não assumiam o encargo de tanto, qualquer que fosse o lado.

E isso abriu espaço para ela falar do PAC, porque o ato pouco inteligente do senador Maia obrigou a oposição a se calar, sob pena de ser acusada de julgar uma pessoa por atos passados e mesmo de aceitar a tortura como meio de testemunho.

Ela deitou e rolou e, quando alguém pensava em apertá-la sobre o dossiê, ficava a dúvida se ela não apelaria para o discurso emocional de um dia ter mentido para proteger colegas de causa.

A oposição se calou. O senador Maia a amordaçou e isso praticamente enterrou o caso do dossiê.

Com a qualidade dessa oposição, muito me admira que o governo não imponha o que bem entende. O fato é que ficou patente é que falta cultura, discernimento, democracia e capacidade para a imensa maioria dos parlamentares brasileiros, o que leva o debate político a rastejar em troca de favores, cargos, boquinhas e apoios fisiológicos.

Vindo este erro de um parlamentar tido como competente, a impressão que fica é de algo muito grave, um Congresso omisso em relação ao país, mas presente apenas por razões pessoais, o que explica as dificuldades que o governo tem em arregimentar membros de sua "base aliada", mesmo tendo em tese, um rolo compressor parlamentar.

Pior que isso, um Congresso que, quando tem oportunidade de esclarecer à população sobre casos nebulosos de administração pública, prefere a bravata eleitoreira à investigação séria.

Enfim, "tatibitati". Ninguém sabe como funciona, não há regras, não há limites, há apenas palavras jogadas ao vento.

12 de dez. de 2007

UM FESTIVAL DE INCOERÊNCIA

Não há muito mais o que falar.

Segundo os jornais de hoje, o presidente instruiu sua "base aliada" a votar a CPMF para vencer ou não, tentando, ao menos, salvar a DRU - Desvinculação das Receitas da União no caso de acontecer a derrota.

Acredito que o tributo será aprovado mas, mesmo que isso não ocorra, importante informar o que se viu em Brasília desde o início da tramitação dessa emenda constitucional.

Um festival de incoerência e desfaçatez poucas vezes repetido na triste história dos conchavos parlamentares nacionais.

Um governo que detém uma "base aliada" com mais de 2/3 dos componentes da Câmara dos Deputados foi obrigado a negociar, liberar emendas e preencher cargos públicos vagos para conseguir naquela casa uma vitória apertada, onde ficou visível que houve traição por parte de muitos parlamentares que apóiam a popularidade do presidente, não o seu governo.

Um partido governista, o PT, que enquanto oposição sempre votou contra o tributo não chegando sequer a discutí-lo, rechaçando qualquer argumentação, deixando claro ser uma taxação desnecessária (pois, segundo o PT, para evitá-la bastaria cobrar os sonegadores, calotear a dívida externa e romper com o FMI e sua mania de superávits primários).

Um partido de oposição, o PSDB, que criou a taxação original e lançou as bases para que seu uso fosse deturpado e não aplicado à área de saúde, reclamando justamente que ela afeta os mais pobres e que é indefensável num contexto de carga tributária altíssima, a mesma carga que o próprio PSDB aumentou o que pôde enquanto gozou das benesses do poder.

No Senado, parlamentares incoerentes como Mercadante e Arthur Virgílio a relativizarem seus discursos passados, jogando no lixo qualquer resquício de ideologia ou principiologia partidária, sem contar que a casa, onde a idéia geral era de que o governo não teria votos para aprovar a emenda, ainda não se decidiu por isso, e pode muito bem dar uma vitória consagradora à tese de manter esse imposto perverso.

Incoerência que denota uma opinião geral entre os parlamentares: A OPINIÃO PÚBLICA NÃO SERVE PARA NADA!

11 de out. de 2007

ELE VOLTA?

O senador Renan Calheiros pediu licença, por 45 dias, da presidência da casa.

Meu palpite é que, tão logo aprovada a prorrogação da CPMF, ele volta, inclusive recebendo abraços dos senadores petistas, especialmente Aloísio Mercadante e Idelli Salvatti.

Qual a opinião do leitor?

9 de out. de 2007

MERCADANTE E OS "SANCHOS-PANÇUDOS"

Leio no blog do Josias de Souza, da Folha de S.Paulo, que o senador Aloísio Mercadante (PT/SP)mudou de idéia e agora busca a cassação de Renan Calheiros, prometendo amealhar 10, dos 12 votos da bancada petista no Senado.

É uma situação interessante.

O PT defendeu Renan por receio que sua cassação respingasse no governo, visto que o presidente do Senado é um dos quotistas ministeriais do PMDB, junto com a família Sarney.

Outro motivo foi a suposta onda golpista da imprensa, que para os petistas mais empedernidos da raia miúda e alguns próceres, como a senadora Idelli Salvatti, deturpou os fatos, mas só até agora, quando os atos arbitrários do presidente do Senado não podem mais ser atribuídos à má vontade das corporações de mídia, que não têm o poder de destituir ninguém de comissões parlamentares, muito menos indicar relatores paus-mandados no Conselho de Ética, ou, ainda, manobrar com o regimento como tábua de salvação, sem pensar nos interesses imediatos do governo, a CPMF em especial.

Mercadante mudou de idéia.

Essa mudança radical é um traço da personalidade dele que era um dos próceres petistas a defender uma radical mudança nas políticas econômicas do governo FHC, mas virou figura apagada e envergonhada no PT governo, que nada mais faz que aplicar o dito ideário "neo-liberal" em suas diretrizes macroeconômicas, e o ideário liberal puro nas diretrizes microeconômicas (menos juros, mais prazos = consumo), fugindo daquele socialismo chavista que já matou Cuba e está matando a Venezuela e a Bolívia.

Antes se absteve de cassar Renan, agora vai brigar para que o presidente do Senado renuncie ou seja cassado.

É estranho, o senador parece deslocado dentro do PT, confuso, sem saber exatamente o que fazer.

Meu palpite é que Mercadante encherga mais que o resto do PT, que anda embotado ao brigar contra os moinhos de vento da mídia e não percebe que o perigo para o governo Lula não está na oposição nem nos jornais, mas sim nos "Sanchos-Pançudos" de tanto amealhar ministérios e cargos para seus grupos políticos, mas nunca satisfeitos e sempre com mais apetite que desgasta o governo a cada projeto novo discutido no Congresso.

O fato é que a emenda da CPMF será aprovada em alguns dias na Câmara (não sem agradar bastante os "Sanchos-pançudos"), já está chegando ao Senado. Se as coisas não acalmarem na câmara alta, arrisca a emenda atrasar ou até ser rejeitada, o que seria um desastre monumental para um governo que não pára de criar cargos em comissão para a companheirada amadora no serviço público e incapaz de passar em concursos públicos, indo, por sinal, também em contrário à defesa que o senador paulista fazia de um Estado forte e profissionalizado, que deveria reforçar as carreiras públicas e limitar o amadorismo.

Mas Mercadante está vendo tudo isso e pressente o perigo.

Pelo jeito ele foi o primeiro petista a descobrir que tanto faz Renan perder a presidência do Senado, porque a dita base aliada elege alguém afinado com o governo do mesmo jeito. Deve ter percebido também que a oposição não é contra a CPMF, mas votará contra se Renan presidir a casa.

Enfim, meu palpite é que Mercadante pode ser confuso, mas não é burro e trabalha para salvar o governo de problemas.

Basta saber se o PT dará a ele o crédito merecido por ajudar o governo, ou também o chamará de golpista por querer derrubar Renan.

CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.

No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar ...