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22 de ago. de 2016

E O QUE SERÁ DO ESPORTE BRASILEIRO?



Acompanho olimpíadas desde 1980. Vi muita medalha perdida por despreparo emocional, gente chorando antes mesmo de começar a competir assustada com a cobrança incessante por medalhas praticada por certa rede de TV. Ouvi discursos chateados com o desempenho ruim, presenciei o conformismo por quartos, quintos e sextos lugares, quando o discurso era de pódio.

Posso dizer que alguma coisa mudou em 2016. O Thiago Braz botou pressão no favorito saltador francês porque queria o ouro. Vi o sangue frio da  Rafaela Silva mesmo depois do racismo do qual foi vítima em, Londres, 2012. A fé das meninas da vela no seu conhecimento da baía de Guanabara, mudando o percurso para serem campeãs. O Robson Conceição e o Maicon Siqueira partirem para cima dos adversários. Desta vez eu vi sangue nos olhos, gente que não estava contente apenas por estar ali ou por frequentar a vila dos atletas, atletas com o objetivo definido de vencer.

É certo que olimpíada em casa melhora o rendimento do atleta. Mas o Brasil teve ótimos resultados em várias modalidades em que jamais sonhara pontuar até então. Inegável que evoluiu, apesar de ser óbvio que houve um investimento direto em atletas de alto desempenho, já com resultados que indicavam a capacidade de fazer boa campanha, coisa que todo o país que sedia olimpíada faz.

Também é certo que muitos atletas brasileiros tremeram nesta Rio 2016 tal qual aconteceu muitas vezes no passado. Muita gente boa e favorita não conseguiu vencer a pressão, o que não faz deles maus atletas, mas exige do país que os ajude a melhorar sua preparação e aprenda de uma vez por todas que derrota não é o fim, pode ser um recomeço como o de Diego Hypólito.

O medalhista de hoje é o cara que vai atrair gente para o esporte que ele pratica. O medalhista de hoje pode ser o técnico ou o dirigente do amanhã, ele pode ser o cara que vai mudar a face daquela modalidade para sempre.

Foi assim no vôlei. Carlos Arthur Nuzmann não foi medalhista, mas sabia a fórmula de criar ídolos para fomentar a modalidade. O vôlei passou a ter rostos e nomes, caras com quem se identificar como Bernard, Renan, Montanaro, William e Bernardinho. E nós então pudemos comentar o "Jornada nas Estrelas" e o "Viagem ao Fundo do Mar" e ver o Brasil vencer a URSS em pleno Maracanã lotado e abaixo de chuva.  Aquela prata de 1984 valeu muito mais que ouro, ela transformou o vôlei em mania e o ouro em objetivo. Hoje nós temos jovens que querem praticar vôlei e fazer carreira nele, e aprendemos isso tão bem que ajudamos a criar outra modalidade de vôlei olímpico, a de praia. E na Rio 2016 o vôlei fez bonito, trouxe 3 medalhas, emocionou o país com o ouro da seleção de quadra e nos causou aquela tristeza enorme não pelo fracasso das bi-campeãs olímpicas, mas porque sabíamos que apenas uma derrota às separou da medalha, derrota esta contra uma seleção do mesmo nível.

É óbvio que o esporte brasileiro será desafiado como nunca antes a partir de agora. Temos o desafio de fomentá-lo na base a partir dos heróis que criamos ao financiar o atletas de alto rendimento. Temos o desafio ainda maior de ocupar, utilizar e manter as instalações caríssimas construídas para a Rio 2016. Temos que vencer o descaso dos governos e a corrupção das federações. Temos que conseguir espaço permanente de mídia para todas as modalidades, precisamos de patrocínio privado. Temos que levar o esporte para as escolas do país inteiro e voltar a ensinar os valores da disciplina e do esforço pessoal que o sistema educacional brasileiro perdeu quando abdicou do mérito, empurrando alunos de série para série sem exigir desempenho.

Podemos aproveitar o lado bom daquelas vaias feias que promovemos nas quadras da Rio 2016, que é a vontade férrea de vencer e o inconformismo com a derrota sem luta que nos espreitou no futebol masculino, aprender a cobrar e sermos cobrados, a pedir e dar satisfações, a fugir das desculpas e aprender com os erros. 

Temos que aprender que competir é antes de tudo uma escola de cidadania, onde se moldam bons homens e boas mulheres, que aprendem suas responsabilidades, que respeitam o próximo, que sabem a importância do que fazem para um todo. O esporte pode trazer decepções eventuais, mas no geral ele fomenta o sucesso de uma pessoa.

É um grande desafio, é do tamanho da nação que os brasileiros bons, honestos e trabalhadores querem ter.



27 de mai. de 2016

O ESTUPRO COLETIVO, O SENTIMENTO DE MANADA E AS LEIS IDEAIS QUE NÃO PUNEM NINGUÉM

Em todas as ocasiões em que acontece um crime bárbaro como o estupro coletivo que horrorizou o Brasil neste feriado, aparecem dois movimentos distintos:

O de culpar a vítima pelo acontecido.

O de exigir a alteração ou criação de leis ideais, que nunca ninguém vai cumprir, como já não se cumpre o Estatuto do Idoso ou o Estatuto da Criança e do Adolescente, ou, ainda, a Lei Maria da Penha.

Na verdade, são duas faces de um mesmo problema - a completa ignorância do brasileiro médio e sua incapacidade de adquirir valores que não sejam os de manada,  ou seja, aqueles impostos pela maioria que segue seu rumo porque as coisas sempre foram assim, e, portanto, nunca devem mudar.

No passado, o Brasil queria as mulheres em casa, cuidando dos filhos, hoje, com a evolução da sociedade, experimentamos um machismo ainda pior e mais deletério que aquele. O Brasil não admite que, além de ser um país machista, é um lugar onde mulher tem sido tratada tratada como coisa, objeto sexual eventualmente com alguns direitos. É assim que as coisas funcionam no Brasil, é assim que a "manada" pensa, se não, vejamos: 

Quantas letras de sertanejo universitário e funk falam de bebedeira, balada e de imposição da vontade masculina sobre a mulher, que nada mais é nas bocas desses "artistas" que uma qualquer se oferecendo em meio à multidão, a safada, a piradinha, a que gosta da pressão? 

Quantas vezes nos deparamos com uma pressão social intensa para que uma artista, uma atleta ou uma mulher que se destaca na mídia de alguma forma pose nua para alguma revista de cujos textos nada se aproveita de tão fúteis?  Quantas vezes, em um evento como uma olimpíada, você, caro leitor, teve de aguentar uma matéria de TV sobre as "musas" dos jogos, sem qualquer relação com os resultados esportivos delas? 

Mas vamos mais longe. Quantas manifestações você leu ou ouviu desde ontem, culpando a menina, porque ela tem 16 anos com um filho de 3 que deixa com a avó, que se vestia com roupas sensuais e passava a noite com o namorado? Você prestou atenção na história da vingança do namorado traído? Você não ficou incomodado em saber que em meio a 30 indivíduos não teve um único com com o mínimo de moral para tentar proteger a garota? Lendo as redes sociais e o noticiário esta manhã, constatei que há milhares de homens comuns no Brasil que jamais estuprariam, mas que não são capazes de reconhecer que a garota foi vítima, afirmando que ela fez por merecer. E o pior de tudo, constatei que há mulheres que pensam do mesmo jeito.

Eu não tenho dúvidas que isso é decorrência do sentimento de manada. Afinal, o brasileiro não lê. Quando lê, os sucessos editoriais são porcarias como 50 tons de cinza ou aventuras vampirescas. O brasileiro só assiste programa de auditório se tiver gente seminua, só gosta de novela com pano de fundo sexual, só assiste filme nacional porque sabe que verá peitos e bundas, só ouve música de péssima qualidade que incentiva comportamentos irresponsáveis. E não há ninguém que se levante contra esse estado de coisas que não seja admoestado por algum defensor da "liberdade de expressão" que está pouco se lixando para condição das pessoas.

Quando acontece um caso escabroso como este, as vozes se levantam para denunciar a opressão contra o sexo feminino, mas esta opressão não aconteceu apenas neste caso isolado, ela é latente, diária e muitas vezes imperceptível em um país onde música de baixo calão é tratada como piada e protegida como "manifestação cultural", como se a cultura de um país se medisse pela quantidade de mulheres que um homem conquista ou abusa durante sua vida. Até em nossas escolas isso virou regra, basta ver vídeos de sucesso nas redes sociais, que mostram meninas se engalfinhando na disputa por um namorado ou grupos de meninas dançando funk como trabalho escolar requisitado por algum professor pedófilo. Tudo às claras, direto, opressor para quem pensa, mas imperceptível para a manada.

E o pior é que a cada caso escabroso, seguem leis cada vez mais estúpidas, decorrentes da incapacidade nacional de manada em perceber que o que coíbe o crime é a certeza da pena, não a lei ideal que protege o menor infrator ou cuida dos direitos humanos do criminoso enquanto a vítima não consegue curar suas feridas porque fica estigmatizada e aterrorizada em saber que seu algoz ou não é preso, ou não fica na prisão ou serve de exemplo para gente que pretende delinquir igual à ele, já que leis brandas, os juízes desconectados com a realidade e os advogados espertos tratam de interpretar as regras sempre em favor da liberdade rápida e da boa vida do réu que precisa ter seus direitos humanos protegidos mais que os da vítima.


12 de fev. de 2016

POPULISMO: A PRAGA!

Bernie Sanders causa frisson nas primárias do Partido Democrata com um discurso bonito, cheio de promessas de bondades e ataques contra as forças supostamente opressoras Elege o capitalismo como inimigo, promete universidade de graça para todos os jovens e saúde universal gratuita para todos os cidadãos, levanta a voz para falar mal dos doadores de campanha e se mostra como um inimigo do sistema, o mesmo que fez dele um político profissional que se acha diferente dos demais. Ele se diz "socialista democrático", mas seu discurso é de caudilho sul-americano, incluindo o ranço, praticamente o vício de prometer o que sabe que nunca cumprirá, apostando no eleitorado ingênuo, que se esquece das promessas tão fácil quanto aperta um nome na máquina de votação.

Donald Trump não é diferente. Apesar de estar no lado oposto, de ser o capitalista empedernido defensor intransigente do livre mercado, seu discurso também é o que o seu eleitorado quer ouvir, prometendo controle sobre imigração e sanções contra imigrantes, o uso de armas, menos impostos, menos regulamentação e mais liberdade, coisas que o mundo sensato discute dentro de uma lógica de meio-termo que os  republicanos, por serem uma agremiação política conservadora e interiorana, nem sempre entendem.

O populismo é uma praga que volta e meia atinge mesmo os países politicamente mais desenvolvidos. Hitler e Mussolini foram populistas, Lênin foi um populista, Fidel e Raul Castro são populistas como Getúlio Vargas, Perón, Hugo Chaves, Nicolas Maduro, Alfredo Stroessner, Alberto Fujimori, Augusto Pinochet, Franco, Mao Tsé Tung, Nestor e Cristina Kirchner,  Lula e George W. Bush, todos elevados ao poder ou eleitos com o discurso que as massas queriam ouvir, com resultados no máximo tremendamente distantes do generosamente prometido.

No caso dos EUA, as primárias são um freio nas pretensões mais radicais dos candidatos. Elas antecipam o debate da campanha eleitoral propriamente dita, e dentro das agremiações as idiossincrasias e as promessas vazias podem se relevar inexequíveis. Sanders pode até atacar o sistema de ensino do país, mas em algum momento no futuro próximo, Hillary Clinton ou qualquer outro de seus colegas partidários levantará a questão de modo objetivo, como, por exemplo, perguntando para ele como mudar um sistema que legou ao país as melhores universidades do mundo, as que mais produzem conhecimento científico, as que mais produzem produtos e inovações, as que mais distribuem bolsas de estudo para o mundo todo. Será que ele vai estatizar tudo para dar universidade para todos? Por outro lado, de onde ele vai tirar dinheiro para expandir e universalizar o "Medicare" que Obama conseguiu à custa de uma pequena guerra política? E Trump? Será que suas propostas absurdas de murar a América contra os imigrantes se sustentam? Será que um país que desde a crise de 2008 viu 29 instituições financeiras gigantescas serem concentradas no sistema para aguentarem as novas regulamentações que são imperiosas para evitar outra bolha imobiliária e financeira, tanto quanto odiadas pelos capitalistas mais liberais? 

O populismo da América não é diferente do que ocorre no Brasil. A diferença é que nos EUA essas questões são debatidas e no Brasil, não, porque nossa campanha eleitoral é um programa de auditório muito antes de um evento institucional. Mas o populismo está por aí, e se agora ele ameaça (novamente) os EUA, o Brasil, a Argentina, a Venezuela e outros tantos países pelo mundo estão pagando a conta das promessas vazias, radicais e impossíveis de serem cumpridas, que levam a déficits financeiros colossais e problemas de toda a ordem, mas cujo pior efeito é impedir que os cidadãos entendam que não há soluções mágicas, que bondades precisam ser pagas com dinheiro vindo de algum lugar, que déficits públicos um dia precisam ser pagos e que país nenhum vive eternamente de endividamento. O populismo é a arte de prometer o céu sabendo que só pode entregar o purgatório, mas no fim das contas, é mais provável que leve todos ao inferno.

Graças ao seu sistema partidário, os EUA ainda têm a chance de trocar um lunático como Sanders por uma pessoa preparada e capaz como Hillary Clinton, e um boquirroto como Trump por um político competente e pragmático como Michael Bloomberg. Mas ainda há a possibilidade de se enfiar num buraco igual ao deixado por George W.Bush... tomara que a América desperte antes do desastre que o Brasil já experimentou várias vezes. 

5 de fev. de 2016

BRASILEIRO: DESLIGUE A TV OU TROQUE DE CANAL!

Gente fazendo e falando coisas irrelevantes e muitas vezes sem sentido, enquanto Pedro Bial tentava animar o embate mais ou menos épico de uma moça afetada que se orgulha de viver às custas dos pais e um indivíduo com cara de morador de rua, acusado de flertar com coisas não muito legais. 

Montagens toscas, constrangedoras para uma TV como a Globo, piadas sem graça, personagens que, se não fisicamente feios, são moralmente horrorosos, tudo em um ambiente de vale tudo justificado sempre pelo "jogo", que autoriza falsidade, traição, cara-de-pau, bebedeira e promiscuidade sexual. Estou ficando velho, sou do tempo em que "jogo" tinha regras e uma ética intrínseca, hoje em dia,  "jogo" significa ausência pura e simples de qualquer ética.

Acabei assistindo um episódio dessa coisa que faz 20 pontos de audiência, com um apresentador patético tentando desesperadamente dar um lustro de poesia com textos vazios sobre pessoas abarrotadas de clichês em busca da fama efêmera.

São 20 pontos de audiência relevadores do por quê do Brasil ser o país do jeitinho, do "me dar bem", da corrupção, da preguiça e da incompetência.

Definitivamente, cheguei à conclusão que o BBB realmente é uma representação fiel do Brasil. Deus, tenha piedade de nós!

11 de jan. de 2016

ANO NOVO, BRASIL VELHO

É certo que virada de ano é apenas uma convenção, porque não tem energia adicional nenhuma, nem fato adicional que mude qualquer coisa, salvo as férias que muita gente tira e eventuais intenções individuais para, a partir de 1º de janeiro, mudarem alguma atitude, o que não gera efeito prático mais abrangente do que nelas mesmas.

Mas os governos e mídia vendem a data como uma renovação de espíritos e atitude, e de certa forma isso é bom, porque tira das pessoas a tensão constante de viver num péssimo país como o Brasil, onde o cidadão só tem obrigações e é roubado diuturnamente para sustentar as castas nacionais, que são políticos, grandes empresários ligados à política e altos funcionários públicos que recebem salários de 25 mil reais e auxílio-moradia enquanto 40 milhões de brasileiros vivem em favelas insalubres.

O problema é que tão logo as coisas voltam a funcionar normalmente, voltamos a perceber o jeito brasileiro de viver: políticos conseguindo aumentos de impostos para sustentar seus apadrinhados (são 104 mil cargos em comissão e confiança somente no governo federal, se contar estados e municípios, esse número chega fácil a 2 milhões de inúteis), saúde precária, segurança pública caótica com arrastões, assassinatos, acidentes pavorosos de trânsito, gastos supérfluos e desnecessários com coisas como uma olimpíada, políticos querendo cassar uns aos outros, mortes em desabamentos em encostas decorrentes da ausência de prevenção, greves decorrentes da falta de pagamento de salários em serviços públicos (só em Curitiba, motoristas, cobradores de ônibus e os funcionários do maior hospital do estado), além dos tradicionais IPVA, IPTU, seguro-obrigatório, anuidades profissionais, que antigamente podiam se pagos até março, mas agora, vencem todos em janeiro mesmo, porque sem eles, os governos não conseguem funcionar, já que são administrados por incompetentes de pai e mãe, da presidenta até o menos votado dos vereadores.

Na virada do ano, houve aumento do IPI sobre automóveis, bebidas e eletro-eletrônicos, especialmente computadores e celulares. Também entraram em vigor novas regras sobre o ICMS, que aumentarão o imposto pago e a burocracia para todas as empresas, que por sua vez, estão perdendo o enquadramento no Simples Nacional porque a tabela dele não é corrigida com a única função de aumentar a carga tributária na marra. Ao sair do regime do Simples Nacional, uma empresa pode pagar até 70% mais de impostos e obrigações, e passa a ter de adotar uma burocracia ainda mais insana, desproporcional e custosa, mas é isso que os governos querem, porque para eles, o importante é arrecadar muito e transferir migalhas à sociedade.

Enfim, o ano novo é pintado como algo bom, e os governantes espertos promovem até festanças nababescas à beira mar para que o povão pense que o país é lindo e maravilhoso, mas em verdade, ano novo é apenas uma data no calendário, que marca aumentos anuais de impostos e burocracia, todo o resto continua tão ruim quanto sempre foi.

16 de out. de 2015

O ORÇAMENTO FICTÍCIO

Todos sabem, em Brasília, que o orçamento da União é ficcional. Todos os anos há contingenciamento, corte de despesas,  de investimentos e eventuais frustrações de receitas, geralmente patrimoniais como as de concessões de serviços públicos.

A única coisa que historicamente nunca falhou no orçamento da União foi o aumento das receitas tributárias. A carga tributária no Brasil cresce vegetativamente, porque o país experimenta inflação nunca inferior a 6% ao ano, sendo que em 2015, vai ultrapassar 10%. A inflação aumenta as receitas tributárias, porque a correção das tabelas do Imposto de Renda Pessoa Física e do Super Simples só pode ser feita por lei, e o governo impede e negocia para que isso não aconteça. E quando acontece, corrige por menos que a inflação acumulada e aumenta as alíquotas, o que é sistemático.

Fora isso, todos os anos, a folha de pagamento da União cresce acima da arrecadação e da inflação e não estou tratando da previdência, estou tratando de funcionários e agentes públicos da ativa, o que engloba o pessoal fixo e concursado, mas especialmente o pessoal contratado em confiança e sem concurso, este sim, verdadeira praga que corrói as contas públicas, embora não seja a única.

O orçamento de 2016 será um pouco menos fictício, porque nele já começará a viger a regra de imposição das emendas parlamentares. Com isso, o governo perdeu margem de manobra no Congresso, já que não tem mais em mãos a caneta com que liberava verbas para deputados "aliados" em troca de apoios pontuais. 

Quando o governo Dilma enviou ao Congresso uma peça orçamentária com déficit, estava apenas avisando que, em 2016, pela primeira vez em uns 40 anos, haverá queda de receitas tributárias decorrentes da recessão brutal causada pela corrupção na Petrobrás, pelas pedaladas fiscais, pelo corte de investimentos que o governo se obrigou a fazer, porque havia gasto demais em 2014 por motivos que, sabemos, não muito republicanos.

Mais que isso, o que o orçamento deficitário enviado por Dilma representou, é um aviso, mesmo que informal, de que o Estado brasileiro não cabe em si mesmo e que o governo dela não tem nenhuma intenção de mudar esse quadro, o que depois comprovou, com as tímidas medidas de reforma administrativa e a negativa em extinguir de uma vez apenas 3000 cargos comissionados, dos mais de 100 mil que existem.

E tudo isso na certeza de que o orçamento é fictício, ou seja, uma vez que ele seja aprovado, o governo toca o barco com quaisquer que sejam suas contas, embora administrar o país seria muito mais fácil com a CPMF, já que ela representaria dinheiro novo.

Dou um exemplo: tive um cliente que prestava serviços para órgãos da administração pública federal. E era invariável, quando chegava outubro, eles arranjavam alguma desculpa, alguma suposta infração contratual para simplesmente não liberar as parcelas mensais, basicamente porque já não tinham mais disponibilidade orçamentária e tentavam empurrar o problema pro ano seguinte. Ou seja, o governo não se dá ao trabalho de controlar nem a execução do orçamento, o que mostra que ele é fictício.

A única questão é que o Congresso não pode deixar o país sem orçamento. Porque se o faz, o governo depende dele para tocar o barco, coisa cada vez mais difícil num contexto de base aliada não mais dócil e prestativa como era entre 2003 e 2014.

6 de out. de 2015

PODÍAMOS APRENDER ALGUMA COISA COM A ARGENTINA



Na Argentina, faltam pouco menos de 20 dias para as eleições gerais.

Estive lá este fim de semana e não vi muitos muros pichados, cheios de cartazes ou pintados com nome e número de candidatos. Nem derrame de santinhos no chão por toda a parte, muito menos militantes com bandeiras e faixas de partidos e candidatos nas esquinas. Nos carros, não vi adesivos, não havia aparelhos de som com músicas de campanha. Cartazes oficiais, apenas em lugares pré-determinados e "out-doors" e mesmo assim, raros de serem vistos.

Na TV, os candidatos se apresentavam em propagandas de 30 segundos, a maioria delas propositivas, sem ataques pessoais e principalmente, sem insinuações de que alguém vai retirar programas sociais ou entregar o país aos interesses dos bancos. O candidato do governo, Daniel Scioli, alegava que não se pode melhorar o país descartando o que já foi feito, os demais candidatos apresentavam suas propostas, tais como programas de geração de emprego (Maurício Macri), de segurança (Adolfo Rodrigues Saa) e combate à corrupção (Margarita Stolbizer). 

Nas TV(s), o primeiro debate presidencial da história do país aconteceu sem o candidato governista, que foi bastante criticado já que é líder das pesquisas, embora as discussões tenham sido sobre pobreza, corrupção e economia. Assisti alguns trechos, prestei atenção nos comentários e notei pouquíssima chicana com acusações e ironias, embora se note claramente que Scioli é um governista tímido que mantém certa distância de Cristina Kirchner, esta pesadamente acusada de usar cadeia nacional de rádio e TV para, nas entrelinhas, alavancar a campanha do seu filho ao Congresso Nacional.

Aliás, os argentinos com quem conversei pareciam estar de saco cheio com Cristina. 10 anos de poder, mais 5 anos de Nestor Kirchner, parecem pesar sobre a imagem da presidente, que é acusada de ser irascível, não dialogar com ninguém (havia grupos indígenas acampados no centro da cidade "aguardando" audiência com ela há 3 anos, e os jornais especulavam que Scioli já preparava uma comitiva para dialogar com os fundos "abutres", que discutem judicialmente a dívida pública do país, cujos bens no exterior tem sofrido restrições, mas com quem Cristina não aceita sequer aventar aproximação), tomar decisões unilaterais e exagerar nas mordomias, sem contar a ostentação que é o "Centro Cultural Nestor Kirchner", um prédio imenso e luxuoso nas cercanias da Casa Rosada, ainda em construção, onde ela trabalhará após entregar o cargo.

O país tem problemas parecidos com os do Brasil. Há inflação e pobreza, há corrupção, há excesso de regramento sobre os cidadãos, há imensas demandas sociais, há um debate intenso sobre a necessidade de educar. No entanto, nota-se que os prédios públicos não são fortalezas de luxo e riqueza como visto no Brasil, sem contar que, à exceção da Casa Rosada, há pouquíssimas barreiras entre o cidadão e o acesso à eles, o que é surpreendente, já que por aqui, delimita-se até a distância com a que se pode chegar perto de certos palácios.

Me chamou a atenção o clima de absoluta tranquilidade numa campanha eleitoral aparentemente civilizada. Não que a Argentina seja um grande exemplo. Provavelmente nas demais províncias e cidades há campanhas mais acirradas, coronelismo, e mesmo militantes mais radicais e engajados. Mas me pareceu que o processo político de lá é bem mais calmo, não existe uma polarização tão intensa a ponto de eleições virarem verdadeiras guerras como acontece aqui, onde o debate gira em torno do fim do país se candidato "a" ou "b" vencer ou perder. Me pareceu que lá, as eleições são apenas uma rotina a ser seguida.

E penso que isso seja reflexo da cultura dos argentinos. Os jornais de Buenos Aires são ótimos, suas coberturas de política nacional e internacional, cultura e esportes são abrangentes, os textos são muitas vezes longos e bem feitos para quem tem prazer na leitura. A cidade detém com orgulho o título de lugar com mais livrarias no mundo (mais de 400) e entrando nelas, são dezenas de títulos sobre história e política, tanto recente quanto contemporânea, obras acusatórias contra os governos e biografias políticas. Os livros de pintar, de auto-ajuda, de vampiros e de sado-masoquismo light se fazem presentes, mas não nas estantes principais das lojas. 

Enfim, pode ser apenas uma impressão minha, já que não fiquei muito tempo lá... mas os argentinos me pareceram politicamente muito mais civilizados que nós, brasileiros.

22 de set. de 2015

ARRASTÃO NO RIO, A VIOLÊNCIA IDEOLÓGICA

A política brasileira sempre foi centrada em explorar a miséria para manter os privilégios e mordomias da classe política que basicamente é composta de gente rica, gerando mitos que impactam em nossa vida diária.

Segundo estes mitos, o pobre é sempre bom e o rico, sempre mau. Aquele é sempre esperto e dado ao "jeitinho" de violar a Lei, este é sempre o cara que aciona o sobrenome para evitá-la. Outro mito é o do menor de idade, que sempre é uma vítima da sociedade porque não pensa e não toma decisões. O menor é sempre um inepto, ele não sabe o que faz e não tem intenções, ele simplesmente aguarda fazer 18 anos para ativar o cérebro e então decidir se será um bom ou mau cidadão. Um terceiro mito, é o da "comunidade". Favela no Brasil não é gueto, nem uma vergonha para a nação que cobra impostos suecos e não consegue tirar as pessoas de condições desumanas de moradia. Virou cenário de novela e atração turística, o morro é parte na nossa cultura, dizem aqueles que absolutamente nada fazem para salvar aquelas pessoas da opressão de ruelas e becos cheios de ratos, baratas e criminosos em um lugar praticamente inexpugnável pela Lei, com seu próprio código de conduta e sua moral definida pelo dono do lugar, geralmente o traficante, que de pobre e favelado não tem nada. 

Em muitos lugares do país, o cidadão se protege aliando-se ao criminoso, alegando que a polícia o oprime. O brasileiro é cheio de direitos, ele não aceita ser abordado por policial e acha uma humilhação fazer teste do bafômetro. Direitos demais e obrigações de menos, e não se aceita ser "alcaguete", porque isso fere um código social segundo o qual todos tem direito a uma outra infraçãozinha básica da lei, seja roubando sinal de TV por assinatura, seja "quebrando" a multa do trânsito, seja trocando o voto por um benefício pontual dado em época de eleição.

E tudo isso foi criado porque no Brasil todos os políticos são de esquerda. Todos eles prometem que o Estado vai resolver os problemas dos cidadãos, que o Estado dará emprego, moradia, saúde, segurança educação e renda para todos, que o Estado vai garantir o bem estar social. E a maioria acredita porque não sabe a quantidade de impostos que paga, não tem consciência das mordomias que a elite dos agentes públicos têm. A maioria das pessoas não sente falta dos serviços públicos porque nunca os teve, apesar das promessas atávicas de um lugar maravilhoso para se viver, cheio de direitos para todos e obrigações para manter o Estado sempre forte, onipresente, mas sempre doador de benesses para os poucos governantes ricaços, que se elegem se dizendo "do povo".

Razões históricas e geográficas fizeram do Rio de Janeiro um lugar onde todos os mitos brasileiros se encontram e mostram sua face real. A cidade empurrou os escravos libertos e os pobres para os morros que eram áreas de terras sem valor, na tentativa de virar uma Paris dos trópicos no início do século XX. Um lugar que foi o centro político do Brasil até relativamente pouco tempo, e que é o centro turístico e cultural do país, convive com riqueza incomum ladeada por miséria grosseira. A disparidade social do Brasil por si só é avassaladora, no Rio, é pornográfica. E quando a miséria encontra a riqueza opulenta, num contexto em que ninguém sabe ao certo se as leis valem para todos, acontece a explosão que estamos vendo.

As autoridades cariocas não sabem o que fazer porque não podem combater o crime, cuja face é o pobre, mas o comando é de ricos (muito ricos). Não se pode punir o pobre que é sempre bom e não se pune o rico que é sempre privilegiado no trato das Leis que são sempre subjetivas no aguardo de um bom e caro advogado que às use em favor do cliente. Não se pode colocar menor de idade na cadeia, nem subir o morro sem que não intervenha algum político alegando ser uma violência. E cumprir a lei e o bom senso virou coisa de otário mesmo nas situações mais simples: estaciona-se em qualquer lugar, se toca som alto a qualquer hora do dia ou da noite, se transforma posto de gasolina em rave as 4 da madrugada. Ricos e pobres abusando da paciência uns dos outros e gerando aquela sensação de anomia que está desaguando em arrastões e contra-arrastões, violência sem limite e redes sociais convocando para uma guerra. E no meio de tudo isso, autoridades prometendo melhorar a educação e a saúde, mas usando o dinheiro disso para dar auxílio-moradia para juízes e carros novos para deputados.

O Rio pode ter escala maior e mais dramática, mas não é diferente do que acontece no resto do Brasil, onde as leis são relativas, o pobre é sempre bom, o rico sempre mau e a lei não atinge ninguém, de modo que todo mundo se dá ao direito de ignorá-la.

17 de set. de 2015

O PAÍS DAS EMPRESAS ESTATAIS


Segundo o site do Ministério do Planejamento, a União detém o controle de 149 empresas, distribuídas entre a Presidência da República (1) e 14 ministérios, com os destaques para o da Fazenda, com 27 empresas e o de Minas e Energia  com 74.

Destas 149, nada menos que 44 foram criadas de 2003 para cá, ou seja, pelos governos do PT, cada uma com várias diretorias e conselhos de administração e aconselhamento.

Dentro do emaranhado de empresa estatais há de tudo: há uma administradora de consórcios e outra de "leasing", há uma empresa de nitrogenados, uma companhia têxtil, uma locadora de equipamentos petrolíferos, uma fábrica de asfaltos, uma empresa de tecnologia (COBRA - Computadores do Brasil), uma empresa de capitalização (mesma atividade do Silvio Santos), duas empresas de trens urbanos e uma empresa de material bélico.

Outro fato curioso, que também demonstra o caos que representa esse acúmulo absurdo de companhias estatais, é o fato de que a Empresa Brasileira de Administração Hospitalar, a EBSERH, está vinculada ao Ministério da Educação, não ao da Saúde, como seria o esperado. Outra coisa estranha é que a Empresa Brasileira de comunicação está vinculada à Presidência, e não ao Ministério das Comunicações. O Ministério da Fazenda vincula uma empresa de turismo e viagens, a BBTurismo. O Ministério das Cidades controla a Companhia de Trens Urbanos de Porto Alegre.

Há dezenas de empresas geradoras e distribuidoras de energia elétrica, há dezenas de subsidiárias integrais da Petrobrás e do Banco do Brasil, além de companhias portuárias e da INFRAERO, que é aeroportuária.

Em essência, há pelo menos 100 destas companhias que podiam ser facilmente privatizadas ou fechadas, com enorme economia de recursos públicos, contraprestação pela venda e ganho em eficiência, além da extinção pura e simples de milhares de diretorias e cargos de aconselhamento que são verdadeiros focos de corrupção, como a Operação Lava Jato comprovou ao indiciar e condenar diretores dos conselhos da Petrobrás.

E não fariam falta nenhuma, porque o Brasil tem agências reguladoras em todas as áreas e porque o patrimônio da União ficaria intocável, já que continua detendo o monopólio sobre os produtos minerais, especialmente os petrolíferos, além de ser a detentora sobre direitos portuários e aeroportuários. Ademais, um governo não precisa vender títulos de capitalização (deixemos isso pro Silvio Santos, que é muito mais eficiente no assunto), nem contratos de leasing, muito menos ser controlador do CEAGESP ou locador de equipamentos petrolíferos.

Enfim, se o governo Dilma quer "fazer dinheiro" e ao mesmo tempo conseguir economia de recursos, deveria começar a privatizar todas essas companhias agora, salvando o Brasil do empreguismo, da burocracia e focando a administração pública em suas reais atribuições, que certamente não passam por fabricar emulsão asfáltica!

Veja a lista completa:
http://antigo.planejamento.gov.br/ministerio.asp?index=4&ler=c638
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_empresas_estatais_do_Brasil

CONCILIAÇÃO: OS PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL

I – Introdução.

Sempre digo que o Brasil não tem partidos políticos verdadeiros e que a única entidade entre nós assemelhada a um deles é o PT, onde é possível vislumbrar algum tipo de orientação ideológica e hierarquia em relação às lideranças, elementos sem os quais simplesmente não funcionam as organizações que nós brasileiros costumamos seguir como exemplo de tanto em nossa novel democracia, e que são os seguintes:

- o Partido Comunista da extinta URSS;
- o Trabalhista (“Labor”), os Liberais (“whigs”) e os Conservadores (“torys”) britânicos;
- Democrata e Republicano dos EUA.

Em verdade, nós, brasileiros, adotamos um conceito errado, de que os partidos são um meio necessário para atingir um objetivo, o cargo público.

Deveríamos considerar o partido político como um instrumento organizador de políticas públicas, mas isso não acontece por vários fatores, como o histórico-cultural, o econômico, o estrutural e outros menores.

Do fator histórico-cultural eu vou tratar nesta matéria, a partir do item II.

Porém, há que se afirmar que o fator econômico é preponderante na organização política brasileira. Li dias atrás, e peço desculpas ao leitor por não citar a fonte, que há muita gente no Brasil que gostaria de votar em pessoas que defendem políticas públicas verdadeiras, mas a situação econômica acaba levando a deferir o voto a quem oferece o alento necessário naquele momento específico antes ou depois do sufrágio. Muita gente no Brasil entende que a época de campanha política é para se esbaldar, ganhar presentes e aliviar um pouco a situação dolorosa do dia a dia. Não se pensa em longo prazo, nem no país, mas no que o candidato pode aliviar a situação individual do agente no agora.

Há ainda um aspecto mais grave, o estrutural. Eu chamo de estrutural porque é algo afeito do Estado brasileiro como uma máquina. Uma máquina política extremamente amadora, onde de uma eleição para outra o novo chefe do Executivo (e mesmo os integrantes do Legislativo) procede centenas ou milhares de exonerações e nomeações para cargos em comissão, deferidos a parentes, amigos, correligionários, membros do partido que o elegeu ou ainda, membros de partidos que prometem apoiá-lo durante o mandato. Ou seja, o partido político e a militância são o caminho para um emprego bem remunerado, onde os salários nunca atrasam e onde não é necessária grande qualificação, senão a de lealdade a um “cacique”.

Cada item destes dá margem a enormes discussões, monografias, teses de mestrado e doutorado, quero apenas escrever aqui uma impressão pessoal a partir de certos dados históricos, o que faço a partir do item II.

II – No Império: O poder pelo poder.

Os partidos políticos do império tiveram gênese no debate entre quem aceitava ou não a independência.

Vencida essa discussão, iniciou-se outra, segundo a qual buscava-se mais autonomia das então províncias, com a instalação de instituições republicanas à margem da monarquia, diminuindo, claro, o poder do imperador e distribuindo-o entre os pequenos poderosos locais.

Mesmo assim, não se podiam chamar de partidos. Suas denominações eram muito mais uma classificação de ânimos em relação aos assuntos, do que aparatos partidário-ideológicos.

Por volta de 1837 surgiram as primeiras instituições nacionais que poderiam ser chamadas de “partido”, mesmo considerando que a política, na época, era uma atividade exclusiva de senhores de terra e escravos, pessoas de mesma classe social, cujas opiniões pouco divergiam sobre assuntos importantes, de tal maneira que até o fim do segundo império vigeu uma situação de desinteresse do grande público pelas lides políticas, sempre centradas em uma prática que permeou a política brasileira em toda a sua história, a conciliação, que mantinha o poder centralizado na corte, a despeito dos reclames provinciais por mais autonomia, com contrapartida no atendimento de interesses específicos de líderes locais.

Na teoria, os Conservadores eram adeptos da centralização de poder, tinham bases rurais. Os Liberais o contrário, tentando fortalecer oligarquias provinciais dando-lhes autonomia, eram mais apreciados nas áreas urbanas. Apenas em teoria, pois já na época constatou-se um defeito inerente à toda história política brasileira: os partidos não mantinham unidos por ideologia, mas apenas por interesses pontuais de seus próceres.

CARLOS DELMIRO DA SILVA SOARES(1) é feliz em afirmar que esses “...dois partidos não apresentavam diferença ideológica marcantes, aceitando ambos a filosofia Liberal Clássica, de pouca intervenção do Estado no domínio econômico e outras características próprias do Liberalismo do século XX...” e ainda cita as historiadoras Maria Célia Freire e Marlene Ordonez (2) que escreveram o seguinte: “Na prática, esses partidos funcionavam independentemente de sua ideologia e não eram orientados pelos seus princípios. Lutavam apenas pela posse do poder. Havia elementos do Partido Liberal, bastante conservadores em duas idéias, e conservadores que apresentavam projetos de reforma progressistas. Tudo dependia das conveniências.”

III – Na República Velha.

A República foi uma conseqüência do enriquecimento das províncias de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, cujo poder econômico passou a preponderar, enfraquecendo o Império, a figura do imperador e uma parte das oligarquias monarquistas. Também foi uma decorrência do tímido debate no Império sobre a autonomia provincial, que foi evoluindo junto com a economia das mais fortes entre elas e consequentemente, com a formação de novas elites que não dependiam de trabalho escravo e apenas da exploração de terras.

SP, MG e RS experimentaram fenômenos chamados de partidos republicanos desde a década de 1870, o que coincide com o enfraquecimento econômico da corte. Em verdade, eram organizações locais que abraçavam a causa da autonomia das províncias (ou por ideologia republicana, ou por interesses locais, o que, sabemos, preponderou) ou que, antevendo que a escravidão já não representava muito em termos econômicos, lutaram pela abolição.

O fato é que, proclamada a República, a situação partidária pouco se modificou.

VOLTAIRE SCHILLING (3), do canal de história do portal Terra é muito feliz em comentar que a proclamação da República “...contou com escassa presença de republicanos autênticos...” , basicamente porque ela não decorreu da militância partidária em favor do novo regime.

Tenho que ela foi ocasional, apenas para alinhar interesses e embarcar novos integrantes ao regime, quais sejam, os potentados econômicos urbanos de SP, MG e RS.

E podemos concluir por isso quando constatamos que tão logo iniciaram os primeiros embates políticos, a política de conciliação reapareceu no grande movimento de “conversão” segundo o qual o historiador HÉLIO SILVA (4) informa que “...muitos monarquistas aderiram espontâneamente à nova causa...” e ainda que “...havia um interesse comum de refrear ambições e rivalidades em benefício da República...”.

A República Velha acabou marcada pela inexistência de forças políticas nacionais e homogêneas, que dizer de partidos, pois os ditos “partidos” regionais eram representação das oligarquias e coronelismos de cada estado.

Se no Império havia algo parecido com partidos nacionais, esses cindiram e cada uma de suas lideranças resolveu fundar a própria força política, não dando espaço à criação de instituições nacionais, o que acabou implicando num constante debater e puxar de armas pelo país afora, em vista das sempre presentes insatisfações regionais em um sistema caótico.

Caótico porque os estados economicamente hegemônicos eram SP e MG, do que adveio a política do “Café com Leite” que garantia certa estabilidade mas implicava muita insatisfação ao deflagrar a corrida sucessória na metade do mandato do presidente, sempre acabando com a escolha de um paulista ou mineiro. Isso gerou quarteladas por todo o lugar e presidentes que pouco produziram em termos de conquistas econômicas e sociais.

Sobre esse estado de coisas, o historiador HÉLIO SILVA (5): “...A gênese da candidatura do último presidente constitucional da República Velha foi a repetição dos conciliábulos de que falavam mal os políticos, quando não se podiam beneficiar deles. Não havia partidos políticos, mas simples rótulos vistosos, atrás dos quais os políticos se agrupavam, de acordo com suas conveniências. Não havia voto livre, mas a fraude generalizada, oficializada, praticada pelo Governo e pela oposição, porque não existia sequer outra forma de eleição...”
Enfim, um caos controlado onde as oligarquias se debatiam mas mantinham as rédeas da coisa, sem qualquer resquício de ideologia ou verdadeira organização partidária, até que os acontecimentos levaram a um levante e à ditadura Vargas.

IV – De Vargas à Revolução de 1964.

Vargas foi alçado ao poder por uma série de fatores, entre os quais, pelo menos eu entendo assim, não se encontra a política-partidária.

Ele representava o nacionalismo em moda na época, em um país que experimentava os efeitos da crise mundial de 1929 e no qual as lideranças políticas de há muito não apresentavam qualquer resquício de eficiência ou capacidade de realizar conquistas econômicas e sociais, mais preocupados em garantir a hegemonia das oligarquias de sempre.

Foi uma conjunção de fatores, mas não o partidário, basta lembrar que Vargas era representante de um partido regional, com os mesmos defeitos e pretensões dos que existiam em SP, MG e nos demais estados e também não deixou utilizar se da velha política de conciliação, tal qual os políticos do Império e da República Velha.

BÓRIS FAUSTO(6) cita que “...A ‘guerra paulista’ produziu efeitos contraditórios. De um lado, demonstrou ao governo Vargas e a Getúlio em particular que, apesar da vitória, era preciso cooptar pelo menos uma parte da elite paulista, e não confrontá-la abertamente ...”.

Vargas não era algo exatamente novo, mas na qualidade de ditador a sufocar opositores e centralizar o Estado pôde apresentar conquistas econômicas e sociais e enfrentar a crise mundial.

Ele foi o primeiro líder republicano nacional e sua popularidade era sabidamente imensa em todo o país, o que forçou ao arranjo de forças políticas heterogêneas que buscavam confrontá-lo. BÓRIS FAUSTO (7) cita que, com a Constituição de 1934 “As eleições marcaram um florescimento partidário como nunca existira no país, ainda que a grande maioria das organizações tivesse cunho regional.”.

O leitor se atenha na expressão “grande maioria”, que mostra que já havia resquícios de organizações nacionais, certamente considerando a popularidade do presidente em todos os estados do país.

Entre idas e vindas, avanços e retrocessos, a ditadura de Vargas gerou a tenebrosa Constituição de 1946 que, se por um lado ajudou a desenvolver os primeiros partidos de cunho nacional (PTB, PSD e UDN), por outro, era idealista demais, a ponto de prever coisas como a eleição separada de presidente e vice.

O sistema partidário passou a ser nacional, mas nem por isso funcionou. O diplomata JOSÉ GUILHERME MELCHIOR, citado por RONALDO COSTA COUTO (8), comenta sobre a situação de 1964 que: “...Instabilidade governamental, desintegração do sistema partidário, virtual paralisia da capacidade decisória do Legislativo...”.

A Constituição se manteve enquanto os presidentes foram Dutra e Vargas, ainda na esteira de poder do popular ex-ditador. Mas foi um dos estopins da verdadeira guerra acontecida durante o governo JK, quando uma oposição passou a ter influência no Poder Executivo, onde era representada pelo vice-presidente João Goulart, sem contar que JK não agradava em nada a UDN, partido das antigas oligarquias que nunca enfrentou (por não ter coragem para isso) Vargas a não ser no final de sua vida quando já no ocaso de sua carreira política.

Mas JK também conciliou na medida do possível e conseguiu encerrar seu mandato.

A Constituição de 1946 foi responsável direta pelo golpe de 1964 porque fragmentou o governo de 1960 em dois: o de Jânio, de direita, e o de João Goulart, de esquerda, o que acirrou o debate político num país influenciado pelos EUA e num mundo polarizado.

Eu, pelo menos, penso de Jânio sentiu essa instabilidade e tentou dar um golpe para tirar o PTB e Goulart da parada, acalmar os ânimos e tentar governar com os resultados econômicos que tiveram Vargas e JK, quem sabe até virando ditador, coisa que não conseguiria fazer porque absolutamente nada era possível com a relação de forças parlamentares da época. Não parecia ter ânimo conciliatório, mas não foi verdadeiramente testado sobre isso.

Jânio caiu e a vez de Goulart chegara. Jango, porém, não agradava nem o PSD nem a UDN e ficou isolado, com apoio apenas do PTB.

Daí veio o parlamentarismo enterrado pela inexistência de partidos, porque não conseguia a mínima estabilidade para manter gabinetes funcionais.

Voltando ao presidencialismo, Jango assumiu sem mínima condição de tomar medida econômica alguma que apresentasse resultados efetivos ao país. Daí apelou para as promessas de resgate social e se aproximou do comunismo, o que não funcionou, porque a população brasileira ainda era predominantemente rural, religiosa e extremamente conservadora. Há quem diga que ele também tentaria um golpe para se perpetuar no poder na qualidade de discípulo e sucessor de Vargas, mas não tinha apoio para tanto.

O maior artífice da sua queda talvez tenha sido Leonel Brizola, cuja retórica incendiária assustou os setores moderados da sociedade brasileira e afastou qualquer tipo de diálogo (conciliação) entre Jango e forças políticas que poderiam lhe dar mínima estabilidade para terminar o mandato.

Se Carlos Lacerda afastava os conservadores de Jango e fazia muito barulho a incomodá-lo, Leonel Brizola afastava os moderados e Jango ficou apenas com os "radicais" do PTB, não conseguindo qualquer resquício de conciliação.

O que aconteceu? A sociedade brasileira apoiou o golpe de 64 que pôs ordem no caos instalado desde 1960. Tanto apoiou, que só começou a discuti-lo em 1967, quando apareceram os primeiros opositores declarados e iniciou-se o endurecimento do regime.
V – O Bipartidarismo na Marra.

Em 1965, o Ato Institucional nº. 2 impôs o bipartidarismo.

A ARENA, formada pela antiga UDN e uma parte do PSD, uma união das oligarquias locais devidamente conciliadas ao estilo do Império, da República Velha e de certos momentos de Vargas. O Executivo impôs uma espécie de silêncio a todos, se bem que não conseguiu lealdade, pelo que se viu a partir do processo de redemocratização.

No MDB, os moderados do PTB e eventuais outros partidos não elitistas, que aos poucos foi conquistando adeptos entre elites não tão arcaicas quanto as agrupadas na ARENA. O grande mérito de Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Theotônio Vilela e outros, foi de aglutinar no MDB as muitas forças diferentes da oposição moderada, que fizeram a opção por não aderir às armas, mas a um embate político que duraria décadas entre marchas e contra-marchas.

Em 1979, com a Lei da Anistia, Brizola juntou-se a eles e com discurso moderado, como querendo redimir-se dos erros colossais do seu passado e trazendo pela primeira vez o ânimo de criar estruturas partidárias verdadeiras.

Em 1981, foi autorizada a criação dos ditos partidos modernos.

VI – Até hoje.

A firmeza da oposição ao regime mudou a opinião pública, que encontrou nela uma opção quando as medidas econômicas dos governos militares começaram a não funcionar mais, minando sua popularidade, que era grande até o primeiro Choque do Petróleo.

O MDB tornara-se PMDB, frente política que havia vencido as eleições em 1974 e 1978, que venceria as de 1982 e mostrava que, cedo ou tarde, governaria o país pela pressão popular por mudanças. Isso causou uma verdadeira debandada no PDS que sucedera à ARENA, e que foi minguando, porque os históricos oligarcas que o formavam foram para outras siglas novamente com o intuito conciliatório que marcou a política brasileira em toda a sua história, no sentido de todos terem seus interesses atendidos no poder central.

Ao mesmo tempo, pequenas siglas com algum caráter verdadeiramente partidário e ideológico foram se desenvolvendo, como o PT, o PCB e o PDT, este último muito mais pelo carisma e o histórico de Leonel Brizola.

O PMDB conseguiu o poder em 1985 compondo com o PP de Tancredo Neves (que foi agregado à sigla maior) e com os setores do PDS que fundaram o PFL, apoio oligárquico sem o qual não haveria transição democrática.

Em 1986, ao vencer as eleições de modo avassalador, virou o novo porto seguro das oligarquias remanescentes do processo inicial, de tal modo que o antigo PDS praticamente desapareceu do mapa político, em favor, novamente, de uma conciliação entre a oligarquia tradicional e novas forças políticas moderadas, nascidas na luta contra a ditadura.

E a conciliação continuou durante os anos Sarney, que governou aos trancos e barrancos até que a Constituição de 1988 permitiu a eleição de um presidente por um partido minúsculo, sem força parlamentar e dependendo de unir forças políticas diversas, mas sem muita vocação ou mesmo disposição para o diálogo com gente que tinha convicções completamente diferentes, como, em exemplo contrário, faz o presidente Lula nos dias de hoje.

Collor caiu por várias razões, mas uma das primordiais foi justamente governar em confronto direto com as oligarquias do resto do país, mesmo ele sendo de uma delas, a instalada em Alagoas.

FHC teve tais apoios e Lula os têm, e a política brasileira jamais deixou, salvo nos poucos meses de poder do “caçador de marajás” e anos de Jango, de adotar a prática conciliação.

VII – Conclusão.

Como o leitor notou, enfoquei o assunto a partir do termo “conciliação”, no sentido de um arranjo político a evitar embates entre opiniões diferentes, desde que compondo em questões econômicas e interesses pontuais de líderes locais.

Na história brasileira, essa conciliação sempre teve por finalidade dar a impressão de grandes mudanças na teoria do poder, mas mínimas na prática.

O que quero dizer é que a inexistência de forças políticas homogêneas e bem distintas sempre foi o grande entrave brasileiro à democracia. O Brasil nunca teve partidos, não os tem até hoje, porque o que existe são apenas arremedos e entre estes o PT é o mais desenvolvido.

A história política brasileira teria sido muito menos conturbada se tivesse partidos políticos bem definidos, quem sabe, desenvolvidos partir das estruturas Conservadoras e Liberais do Império, agregando-se uma corrente de esquerda moderada como o antigo PTB. Mas isso jamais aconteceu e implicou em o povo nunca desenvolver consciência política, e os governos nunca saberem exatamente quem os apóia e quem não, a ponto de um partido de nítido viés estatista e interventor da economia como o PT governar mediante ditames econômicos neo-liberais, se deixando apoiar por indivíduos que seus líderes sempre combateram de modo até histriônico, exatamente o que fez o PSDB durante seus 8 anos de governo federal, se bem que este é uma espécie de sucessor do MDB e, portanto, com vocação conciliatória.

A prática da conciliação pode ter impedido guerras civis, separatismos e regimes ditatoriais ainda mais radicais que os que experimentamos, mas ela roubou da população as idéias de alternância real de poder, de organização partidária e principalmente a de que o Estado não existe para privilegiar as classes políticas, mas para melhorar a vida de todos. Hoje, o sentimento generalizado é que o Estado existe pelos políticos, porque eles são maiores que seus partidos.

Notas:

(1) SOARES, Carlos Dalmiro da Silva. Evolução histórico-sociológica dos partidos políticos no Brasil Imperial. In http://jus2.uol.com/doutrina/texto.asp?id=1503.
(2) Citação item “1”
(3) SCHILLING, Voltaire. Partidos Políticos no Brasil. In http://educaterra.terra.com.br/voltaire/brasil/2003/08/18/003.htm.
(4) SILVA, Hélio. História da República Brasileira. Volume 1 – Nasce a República, Editora Três, São Paulo, 1998, p.76.
(5) SILVA, Hélio. História da República Brasileira. Volume 7 – O Fim da Primeira República, Editora Três, São Paulo, 1998, p.33.
(6) FAUSTO, Boris. Perfis Brasileiros: Getúlio Vargas. Companhia das Letras, São Paulo, 2006, p. 64.
(7) FAUSTO, Boris. Obra citada, p.67.
(8) COUTO, Ronaldo Costa. História Indiscreta da Ditadura e da Abertura. Editora Record, Rio de Janeiro, 1998, p.43.

Bibliografia:

- BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. Editora Saraiva, São Paulo, 1980.
- CONTI, Mário Sérgio. Notícias do Planalto. Companhia das Letras, São Paulo, 1999.
- COUTO, Ronaldo Costa. História Indiscreta da Ditadura e da Abertura. Editora Record, Rio de Janeiro, 1998.
- FAUSTO, Boris. Perfis Brasileiros: Getúlio Vargas. Companhia das Letras, São Paulo, 2006.
- SCHILLING, Voltaire. Partidos Políticos no Brasil. Portal Terra, 2003.
- SILVA, Hélio. História da República Brasileira. 24 Volumes, Editora Três, São Paulo, 1998.
- SOARES, Carlos Dalmiro da Silva. Evolução histórico-sociológica dos partidos políticos no Brasil Imperial. Portal Jus Navigandi, 2008.

- Revista VEJA, Edição Especial República, 20/11/1989.

13 de ago. de 2013

O BRASIL NÃO-POTÊNCIA!

Vez em quando o Brasil encarna o sonho de virar superpotência influente no mundo exibindo uma suposta prosperidade que contrasta com a pobreza econômica e de espírito de existe por aqui, e que decorre da incompetência atávica dos seus governantes.

Na onda do “Milagre”, fase em que a economia crescia de 12 a 16% anuais, se falava que estava nascendo uma nação pronta a dar uma vida rica e de igualdade social ao seu povo, capaz de influenciar o mundo. Época em que se torrou o dinheiro público do aumento da arrecadação de impostos em todo tipo de asneira, inclusive uma Copa do Mundo exclusiva para o Brasil, a Copa Sesquicentenário da Independência. O resultado foi, na primeira crise, o desmonte do sonho do “Brasil potência” como um castelo de cartas ao vento, legando 20 anos de inflação alta, descontrole de contas públicas e principalmente, de abandono social e econômico da população, que até hoje dentro de sua ignorância patrocinada por quem nunca quis mesmo educá-la com qualidade, ainda elogia o falecido ex-presidente Médici que era “do povo” a ponto de ser admirado por assistir futebol com radinho de pilha na orelha, sem que muita gente lembre que ele foi o cabeça da pior fase da ditadura, que governou com os DOPS sequestrando e torturando inimigos do regime.

Perdeu-se uma oportunidade de ouro para construir Estado com contas públicas em ordem e investir maciçamente em educação, segurança e saúde, projetando um país rico, poderoso e influente para o terceiro milênio, como aconteceu com a Coréia do Sul que então, era um país miserável e hoje é potência econômica, militar e política.

Vivemos hoje em dia fase parecida. O presidente Lula teve a oportunidade de ouro de preparar o país para virar superpotência, ele tinha todos os requisitos necessários: contas públicas em rota de controle, crescimento econômico, crescimento exponencial da arrecadação tributária, cenário externo favorável. Mas ele mesmo torrou tudo nas exatas mesmas asneiras em que o Brasill torrou chance idêntica que teve na década de 70! Criou milhares de cargos para agentes comissionados e em confiança, fez obras faraônicas que não terminaram ou para pouco servem, abusou das mordomias e a cereja do bolo, aceitou o encargo de fazer Copa do Mundo e Olimpíada em um espaço de 2 anos.

A diferença de Lula para Médici é que aquele governou com democracia e este, não. Aquele não torturou nem perseguiu e este, sim. Fora isso, ambos viraram ícones populares entoando o canto do “Brasil potência” sem grande preocupação prática em criar condições para tanto, que são simples: contas públicas em ordem e superavitárias, educação de qualidade, segurança (lato sensu) e saúde, requisitos sem os quais sociedade alguma se desenvolve.

Se há uma coisa que o Brasil deveria aprender nessa fase marrenta pela qual passa o governo Dilma Roussef, em que se desvendam as falhas de seu antecessor que falava demais e resolvia pouco, é que progresso se alcança em longo prazo e que não são nem 4, nem 8 anos que colocam um país das dimensões e da complexidade do Brasil na situação de potência. Mais que isso, não é apenas um governo ou um governante que faz isto, é um conjunto de pessoas cujo amálgama é a democracia, não é tarefa para um partido ou um tipo de ideologia. Fora isso, o Brasil é um país potencialmente rico, mas materialmente pobre: não dá saúde nem educação para seus cidadãos, não lhes dá segurança para trabalhar e viver honestamente, não é capaz sequer de manter ativas suas forças armadas que hoje são equipadas com sucata, armamentos usados até o osso em países estrangeiros entregues a preço de banana para os militaresm, enquanto os políticos passeiam com aviões novos de fábrica.


O Brasil é um país pobre, mais que pobre, é um país vergonhoso, onde a elite política formada basicamente pela escória da sociedade, vive como soberana européia, e o povo, mesmo o povo mais bem formado e intelectualmente bem preparado, sustenta os abusos de quem se aboletou no Estado para dedicar-se ao ócio arrotando uma grandeza inexistente.

1 de jul. de 2013

A SELEÇÃO VOLTOU A SER NOSSA, MAS A LUTA CONTINUA!

 Minha ideia era não comentar sobre a Copa das Confederações e aliás, nem assisti-la, em protesto pelo gasto absurdo de recursos públicos no evento e na Copa do Mundo de 2014.

Mas no fim de semana, nada restou senão assistir ao recital de futebol protagonizado pela Seleção Brasileira que, afinal, descobriu-se que é mesmo do povo, acima das espertezas da CBF, das jogadas de marketing da poderosa rede de TV e do escândalo que envolve a FIFA e a organização da Copa 2014. É a tal coisa, em um lugar onde todo mundo pára para assistir o jogo, de que adianta querer ser diferente?

O que muita gente não percebeu nesses dias cheios de emoções durante os quais jogou-se a Copa das Confederações, é que o Rei Pelé estava certo no seu discurso confuso sobre apoiar a Seleção Brasileira, “esquecendo” tudo o que rolava no país. Em verdade, o Rei queria dizer para o povo apoiar a seleção apesar da revolta justificada contra um estado de coisas que afeta a todos e ao qual se chegou porque a classe política cansou de abusar do povo e achava que ia fazê-lo indefinidamente. No final das contas, protestos e seleção se uniram e o povo brasileiro distinguiu bem a verdadeira paixão nacional que as camisas amarelas representam, dos problemas que não foram causados pelos rapazes que às vestem!

Foi bonito ver os estádio enchendo o peito para cantar “Pátria Amada, Brasil!” a despeito do protocolo da FIFA, que não tocava o hino nacional completo, isso em território brasileiro.

Foi mais bonito ainda, ver que essa acolhida popular inspirou técnico e jogadores que, vindos de uma fase negra, talvez a pior da gloriosa história da Seleção Brasileira que tantas vezes arrebatou o país quase sempre em crise, mostraram uma superação incrível que eu, particularmente, penso que foi em homenagem a este povo que resolveu tomar de novo o que é seu e foi para as ruas lutar por isso. Tanto foi que reconquistou algo que realmente é seu, que é a Seleção Brasileira de Futebol, talvez o maior símbolo de brasilidade que exista, apesar de em muitas ocasiões ser também o símbolo de uma alienação nacional que, sonham todos os brasileiros de bem, esteja acabando em definitivo.

A final contra a Espanha pode mascarar as dificuldades que certamente haverão até a Copa 2014. A Seleção ainda tem um longo caminho a percorrer se quiser ser hexa-campeã em casa. Mas foi uma vitória bela, incontestável, uma vitória categórica contra a melhor seleção do planeta na atualidade. E se redescobriu durante esta Copa das Confederações que craque não falta aqui ao sul do Equador na terra onde em se plantando, tudo dá. Neymar e Fred foram sublimes, simplesmente fantásticos, sobrenaturais. Ter os dois no mesmo time jogando com a gana batalhadora que vimos nestes dias é certeza de momentos inesquecíveis, dos quais destaco o gol deitado de Fred e a jogada de gênio (algo que o Rei Pelé faria) de Neymar que, impedido, deu 3 passos para trás e voltou a correr em direção ao gol para fugir do impedimento.

A Seleção Brasileira voltou a ser grande. Não que a da Espanha tenha se apequenado, não que não se deva prestar muita atenção nas verdadeiras escolas de futebol, que são a da Itália, da Argentina e da Alemanha e que, com o Brasil fecham a quadra das seleções que não vivem de uma geração brilhante, como o que acontece com a Espanha e aconteceu com França, Inglaterra, Hungria, Holanda e Tcheco-Eslováquia. Penso que esta geração do futebol espanhol ainda tem muita força acumulada e vai para 2014 com franco-favorita, o time a ser batido pela eficiência do seu futebol. Mas é uma geração de um país que se muito, tem 3 clubes fortes: Real, Barcelona e Atletico Madrid e cuja renovação não se compara à de países como o Brasil, a Argentina e mesmo Alemanha e Itália.


Vendo tudo isso, cheguei à conclusão que não é incompatível protestar contra o gasto exorbitante na Copa e ao mesmo tempo torcer e se emocionar com a camisa canarinho. Eu mesmo, por debaixo de uma máscara ou ingênua ou arrogante, pensei que seria simples não torcer pelas camisas amarelas até a final no Maracanã em julho de 2014. Não é tão simples assim lutar contra o DNA, e tanto não é simples, que o sentimento que ficou é que o país acordou, a luta por tornar esta terra em lugar mais justo continua e será renhida porque há muito o que consertar... mas o país gigante cujo povo acordou de décadas de sonolência, nunca deixará de prestar atenção nas telinhas da TV e abraçar seu filho pródigo que veste 11 camisas e carrega uma história de emoções belas e superlativas tão importantes mesmo para quem esteja nas ruas protestando contra as injustiças!

24 de jun. de 2013

ANTES DE REFORMAR, TEM QUE REPENSAR

 Já passei do tempo em que achava que à uma crise deve corresponder um chute no pau da barraca para mudar radicalmente alguma coisa. Simplesmente não acredito mais em mudança radical. Apesar de não ser exatamente “velho”, descobri com o passar do tempo que o melhor a se fazer quando se precisa mudar algo é deixar que ele flua em direção à mudança, e não que a mudança seja jogada sobre ele.

Eu não duvido de jeito nenhum das boas intenções da presidente Dilma Roussef em clamar por um plebiscito para tratar de uma reforma política. Não concordo, mas não penso que seja algo tramado com fins errados, apesar da clara incapacidade política que ela e seu partido demonstraram nessa situação, já que, com 70% de apoio congressual, a dita “base aliada”, ela resolveu dirigir-se a governadores e prefeitos para propor uma mudança, quando podia ter convocado sua bancada e pedido mãos à obra.

Mas a questão é que a sociedade brasileira tende a acreditar demais em simbolismos e de menos na fiscalização que ela mesma deve promover para que as coisas mudem e passem a funcionar.

Eu digo isso e repito que, se em 1997, quando da Emenda Constitucional que criou a reeleição o povão tivesse ido às ruas e protestado, quebrado, pixado e arrebentado como fez nos últimos dias, possivelmente a regra nefasta e desastrosa para o país não teria sido aprovada e os costumes políticos seriam bem melhores hoje. E agora eu digo que reforma política em momento de pressão não é exatamente algo bom, especialmente dentro do contexto de uma assembléia constituinte específica, onde se poderá votar o que quiser e se criar o monstrengo que quiser sempre sob a égide do discurso de mudar o país, discurso este que agrada muito as pessoas, especialmente as que não fiscalizam o conteúdo de regras e que acreditam que palavras de ordem escritas sobre cartazes levados às ruas têm efeito permanente!

Por não fiscalizar de verdade o conteúdo das regras, os brasileiros vivem desde 1988 em eterna mudança delas. A Consttuição de 1988 foi fruto de uma Assembléia Constituinte que também era o Congresso Nacional. E foi escrita dentro de um contexto em que o país clamava por reformas sentindo as vozes nas ruas pressionando pela aprovação de regras que se compatibilizassem com as lindas palavras de ordem de toda manifestação popular, mas não necessariamente eficientes para o legar o bem estar do país.

E o que aconteceu? CENTENAS, se não MILHARES de regras simplesmente belas do ponto de vista do ideal, mas inexequíveis e, quando exequíveis, de tão cara operação que o legado foi a quebra econômica pura e simples do país. O BRASIL FALIU COM A CONSTITUIÇÃO DE 1988! Ela deferiu direitos demais e obrigações de menos, transformou a classe política nacional em uma casta intocável, protegida e alheia à própria Lei e ao mesmo tempo tão beneficiada por mordomias de todos os tipos que na prática criou dois países: um, o real, onde as pessoas passam fome e enfrentam dificuldades que vão desde a má-vontade de funcionários públicos igualmente intocáveis, passando por uma burocracia insana e terminando em serviços públicos precários, isso quando existentes; o outro, o país dos discursos, de belos palácios, de vida boa, de uma visão equivocada segundo a qual a simples redação de uma lei resolve as demandas da sociedade.

E assim vivemos nestes 24 anos em que a maior parte dois debates políticos não foi para melhorar o país, mas para corrigir as besteiras colossais que aquela Assembléia Constituinte equivocada legou, e cujos problemas ainda estão aí, muitos deles sem solução, entre os quais destaco a intocabilidade dos políticos, que é fortíssima, e a impossibilidade atuarial da previdência, causada pela unificação dos regimes jurídicos dos funcionários públicos, que de um dia para o outro transformou todos os celetistas em estatutários, com os direitos inerentes aos estatutários como aposentadorias integrais ou superiores à remuneração na ativa, duodécimos, estipêndios, licenças-prêmio, etc... regra esta cuja principal consequência foi o pulo da carga tributária de 18 para 38% do PIB e subindo continuamente sem parar para financiar um Estado gastador que pouco ou nada produz e que não consegue sequer administrar a conduta disciplinar se seus agentes.

Se enveredarmos de novo para o caminho de um processo legislativo livre para fazer o que bem entende e dermos carta branca para que os doutos constituintes gerem uma nova estrutura política, a probabilidade é que vamos piorar o que já é ruim, porque o fato é que mesmo que se convoque uma eleição para uma entidade assim, chegarão ao posto de constituintes apenas dois tipos de indivíduos: os eleitos pelo poder econômico e os eleitos pela esperança ingênua de manifestantes de rua para fazer alterações radicais na vida nacional, exatamente o que aconteceu naquelas eleições de 1986 e cuja péssima qualidade pagamos até hoje, porque os primeiros só agem por interesses, e os segundos, só agem por ideais desconectados da realidade!

Não há necessidade de se fazer mudanças radicais na Constituição. É preciso que se cumpra com rigor o arcabouço legal que já existe aderindo mudanças pontuais, como o acirramento da regra de “ficha limpa”, o fim do foro privilegiado e o fim da regra de reeleição. Todas as demais reformas podem ser feitas com a aplicação do arcabouço legal existente, com o esforço de tribunais em exigirem juízes de primeiro grau mais eficientes e dando interpretação “pró-sociedade” nas demandas em que se nota que a parte mais importante é a população.

Mas mais importante que reformar leis e regras, é REPENSAR. É imaginar que a pressão social não precisa ser desorganizada e eventual como a que temos visto, mas pode ser feita sempre com os meios que existem. Significa prestar atenção nos movimentos legislativos e judiciais, para manifestar-se em grupos de pessoas em frente a tribunais e casas legislativas sempre que a pauta envolver temas polêmicos, significa manter contato permanente com parlamentares e magistrados e entender basicamente que eles não são cidadãos acima de quem quer que seja. Aliás, é verdadeiramente revoltante que no Brasil, para se falar com juiz ou parlamentar seja necessário marcar audiência tanto quanto não é aceitável que chefes do poder executivo não abram suas agendas para receberem pessoas do povo em seus gabinetes.

É preciso dar um basta no círculo vicioso de escrever leis e regras e não cobrar dos agentes que às colocam em prática a interpretação que a sociedade queria ao requisitá-las! A principal reforma é a de pensamento, é no sentido das pessoas aprenderem que um presidente, governador, prefeito, parlamentar e juiz não podem decidir as coisas por si mesmos, mas sim pela voz que emana sempre da sociedade, e que quando não ouvirem a sociedade, devem ter coragem de assumir isto para ela e se justificarem como faz qualquer funcionário para seu patrão. Nesse caso, o patrão é o povo, o funcionário é o agente público. Quando o brasileiro descobrir isto, verá que reforma legislativa nem se faz tão necessária...



21 de jun. de 2013

NINGUÉM TEM SANGUE DE BARATA

 As manifestações que estamos vendo pelo Brasil afora tem um clima de “gota d'agua”, o brasileiro cansou de muitas coisas e passou a externar isso abertamente, mesmo que o faça sem organização e mesmo sem justificativa direta.

Desde o “fora Collor”, quando se pensou que o país embarcara numa onda de moralidade, o que se viu no Brasil foi uma política dos fins justificando os meios. Para combater a inflação e a desorganização do Estado os impostos foram subindo e arroxando as pessoas, para justificar a continuidade do combate, criou-se a regra da reeleição, para manter a inflação baixa, se alegou ter necessidade de apoio parlamentar mesmo que ideologicamente não compatível. Criou-se uma salada mista, onde “aliado” é todo mundo que quiser ser governo e não quem tiver afinidade ou ideias, a ponto de, em 2002, criar-se o conceito de “ministério com porteira fechada” para indicar o apoio político comprado junto a antigos inimigos políticos mediante a entrega de um conjunto completo de cargos e estruturas federais para um só partido aderente.

E na mesma toada, os políticos que apoiavam os governos passaram a achar que lhes era de direito abusar das mordomias, dos aumentos frequentes de salários, de estipêndios, de compensações por despesas que nem precisariam ter. E as coisas foram piorando, quando o país descobriu que o arroxo de década e meia no combate à inflação legara uma situação fiscal que possibilitava algum crescimento econômico, passou-se a achar que o Estado brasileiro é rico, e então criou-se a ilusão do “país potência”, que sob as rédeas de um deus barbudo ninguém mais seguraria, e que isso autorizava a criação de muitos ministérios, muitos cargos sem concurso para todo tipo de desocupado, muita arrogância e muita opulência.

Arrogância porque se criou a sensação geral de que a classe política é intocável. Deputado cassado por corrupção virou prefeito tempos depois, deputado condenado por corrupção continua elegível, deputado que matou dois jovens a sangue frio dirigindo um veículo a 190 km/h simplesmente não é julgado e não paga pelos seus crimes aguardando a prescrição da pena, deputados e políticos envolvidos em um caso descarado de desvio de recursos publicos, uma vez condenados nada menos que pelo STF, simplesmente não se recolhem à prisão e alguns deles voltam em triunfo à Câmara dos Deputados!

E dentro desse contexto do “tudo possível”, eis que o Erário passou a ser considerado infinito, o dinheiro público foi liberado para tudo, então os políticos aceitaram a inversão completa de qualquer prioridade nacional ao eleger a organização da Copa do Mundo e da Olimpíada como algo acima de qualquer pleito popular, não importando quanto seria gasto, nem se seria bem gasto, muito menos se teria retorno. Nada mais importava senão ter estádios perfeitos e mostrar ao mundo um Brasil grande, opulento e exibido, mesmo que a maioria de sua população continue vivendo em favelas, sem saneamento básico, sem educação fundamental, sem um sistema de saúde minimamente eficiente, suportando a burocracia mais insana do planeta, sem previdência, pagando os impostos mais caros do mundo sem necessidade, já que eles foram alçados a este patamar para combater a inflação e uma vez ela controlada deveriam ter voltado aos índices históricos.

Sintomático então, que no momento exato em que a classe política começou a exibir para o mundo e para a FIFA os troféus da sua irresponsabilidade o povo tenha cansado, a represa da insatisfação popular se rompeu e as águas jorraram ora plácidas, ora violentas. O estopim foram R$ 0,20, mas a banana de dinamite que foi estourada engloba os impostos altos que não são revertidos em uma vida minimamente decente, o descaso com direitos fundamentais mas principalmente, a revolta contra os políticos que durante duas décadas afrontaram as pessoas vivendo como nababos, empregando parentes, amantes e correligionários, dando risada da Justiça e se fartando em acordos espúrios com a sensação de que, se desse algo errado seria necessário apenas colocar o filho e/ou a esposa na chapa das eleições que tudo continuaria igual.

Eu sou um dos que estava decepcionado com a mansidão do povo brasileiro, que vinha aceitando tudo de cabeça baixa, em troca das esmolas do bolsa-família que nada mais é que uma contra-prestação precária dos impostos altíssimos que todos pagam, mas nem todos sabem que pagam. Pensava que tínhamos chegado a uma situação sem retorno, em que o sangue de barata havia aderido ao DNA nacional.

Ainda bem que eu estava errado, o brasileiro está demonstrando não ter sangue de barata e quebrou o dique! E agora que quebrou o dique ninguém sabe até quando as águas vão rolar...



11 de jul. de 2012

O CARRO USADO VIROU MICO ATÉ PARA A SOCIEDADE

O brasileiro se acostumou a trocar de carro colocando o veículo antigo no negócio como entrada. Assim tem sido durante décadas, mas parece que agora a situação está mudando em vista da facilidade de adquirir carros zero quilômetro.

Dias atrás eu estava em um feirão, porque uma pessoa próxima pretende trocar de carro e queria aproveitar o desconto do IPI. Fora o vendedor safado que queria vender um carro por um valor 4 mil reais mais alto que o da publicidade, o que me chamou a atenção foi o fato dele reclamar do estoque altíssimo de carros usados que implicava oferecer um valor (bem) baixo para o veículo que entraria no negócio.

É a tal coisa, nessas horas vemos como funciona a ganância do empresário brasileiro. Se o leitor pesquisar bem pela internet, pela tabela FIPE ou mesmo nas lojas de carros usados, verá que o preço deles cai na hora da compra pela concessionária mas, apesar do mercado não lhes ser favorável, não cai na hora da revenda (embora com a redução do IPI isso tenha acontecido para evitar paralisação total do mercado). 

O resultado é simples, na hora de comprar ou trocar de carro o consumidor naturalmente busca o carro zero, porque tudo nele é em tese mais barato, se bem que no final das contas, se colocar veículo usado no negócio, a vantagem será nenhuma.

Não sei se existe quem conte com a distração do consumidor em pesquisar, mas o que se pode ver é carro usado custando mais que carro zero quase igual. E daí os empresários reclamam de seus pátios cheios de veículos e do aluguel que pagam para manter essa estrutura. Mesmo assim, eu pelo menos entendo que não se pode dizer que isso seja uma característica do mercado ou uma situação pontual dele.

Em um mercado saturado de veículos novos, o carro usado naturalmente tem que perder valor e o comerciante por sua vez, tem que ter sua margem de lucro diminuída. Se é justo que as concessionárias recebam veículos usados por valores inferiores ao de mercado e ao da tabela FIPE, por outro lado não é coerente deixar os pátios lotados de veículos que geram custos de manutenção e não oferecê-los por um valor mais acessível ao consumidor mantendo intacto o percentual de lucratividade ou mesmo brigar para que as taxas de juros nesta operações sejam idênticas às do negócio que envolve veículo novo.

Sobre as taxas de juros então não há razão lógica para serem diferenciadas, se o "spread" é determinado pelo risco da operação, se mantida a proporcionalidade de valor, este é exatamente o mesmo para carro novo ou usado, porque o valor financiado é tão menos quanto o valor da garantia, o próprio carro. Se a taxa de juros para adquirir carro usado é maior que a de carro novo, isso é parte da estratégia de marketing das companhias automobilísticas, para quem o carro já não é mais sua responsabilidade uma vez usado por alguém, por mais que carregue sua marca, elas impõe o fato de serem um gigante competindo contra pequenas lojas de veículos multimarcas.

O que parece que os empresários e mesmo as autoridades não percebem é que esse estoque gigantesco de automóveis, se já não está gerando problemas, vai começar a gerá-los. Alguém já parou para pensar no ônus ambiental de um carro parado em um pátio por meses a fio? Ou ainda, no desperdício de recursos naturais que representa um estoque colossal de veículos parados ao passo em que, para produzir mais máquinas novas extrai-se minério de ferro, se produz aço e se gastam outros diversos recursos naturais? 

O Brasil não tem planos de reciclagem desses veículos. Ainda estamos na fase dos ferro-velhos que acumulam estoques mas não se preocupam em efetivamente reciclar peças, armazenando-as em boas condições e recolocando-as no comércio. Por aqui, o veículo fica no ferro velho até ser depenado e quando sobrar apenas a carcaça, se sobrar apenas a carcaça, terá o aço encaminhado para ser derretido e reutilizado. Se as montadoras fossem obrigadas a reciclar um percentual dos veículos que colocam para rodar, e se os impostos fossem progressivos para veículos cada vez mais velhos e sem condições ideais de rodagem, talvez seria possível retirar um percentual relevante de carros velhos das ruas e diminuir o problema da estocagem de outros tantos veículos que os substituiriam. 

O que não pode é carro usado ser vendido a preço de carro zero e os estoques aumentarem exponencialmente gerando um risco ambiental dessa magnitude para a sociedade. Não se trata apenas de uma questão comercial ou mesmo do sonho de consumo de uma pessoa, o carro é um item de consumo que não pode ficar parado e que exige que as autoridades compreendam o grave problema que ele encerra, que vai muito além dos engarrafamentos das grandes cidades.





CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.

No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar ...