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20 de jan. de 2017

NEM TRUMP SERÁ TUDO AQUILO, NEM OBAMA FOI TUDO ISSO



No exercício do cargo, um presidente dos EUA tem menos poderes que muitos primeiros-ministros europeus e inclusive, que o presidente da república no Brasil. 

Um presidente dos EUA não pode emitir medida provisória nem decreto-lei. A imensa maioria de suas nomeações mais importantes (inclusive ministeriais) tem necessariamente que obter aprovação do Congresso Nacional após sabatina. Ele não implanta um único programa econômico sem negociação com os parlamentares e não pode nomear um juiz da Suprema Corte sem que a sabatina do Senado não só seja rígida, como efetivamente pronta para recusar nomes até que um deles obtenha maioria da casa. Para declarar guerra, um presidente dos EUA precisa de autorização, para movimentar tropas sem que haja interesse ou risco para cidadãos dos EUA, idem. 

O Congresso dos EUA muda de composição conforme as leis estaduais, ou seja, em dois anos após a posse, o partido do presidente pode perder a maioria, o que o força a negociar com a oposição as coisas mais comezinhas, como, por exemplo, o orçamento, que nos EUA é impositivo, não há como gastar sem autorização prévia, com raras exceções legais. Um presidente dos EUA com minoria no Congresso se obriga a negociar com uma oposição ferrenha, porque apesar do sistema ser multipartidário, é dominado há décadas apenas por republicanos e democratas que se alternam tanto no poder federal quanto nos estaduais. Ou seja, não tem como oferecer ministério para aliciar partido de aluguel, a única saída é ceder, tratar com parlamentares olho no olho, mudar os termos da negociação, adequar o projeto àquilo que a maioria no Congresso tende a aceitar. 

Um presidente dos EUA não tem o poder que o do Brasil tem sobre estados e municípios. Cada estado arrecada seus próprios impostos, tem suas próprias leis (inclusive criminais) e seu próprio Legislativo, apenas as questões federais, a defesa e a representação internacional do país são de competência da União, ou seja, ela não impõe regras, não distribui nem contingencia verbas para ajudar ou atrapalhar um governador simpático ou de oposição. 

Em resumo, um presidente dos EUA não governa sem as instituições. Ele pode ter idéias fantásticas, boas e más intenções, ideais, interesses pessoais e objetivos sociais ou corporativos, mas daí a colocar tudo isso em prática é outro assunto que não depende apenas de sua vontade, mas da mobilização do partido que o elegeu, da negociação com o Congresso Nacional e da estrita legalidade do que propor, que será posta à prova nas votações da Câmara dos Deputados e do Senado.

Ninguém nega que Obama foi um presidente carismático e que mal ou bem tirou o país da crise econômica de 2008, nem seus esforços pacifistas e sua preocupação com programas sociais como o "Obamacare". Mas nós, brasileiros, as vezes esquecemos que o discurso de Trump agradou o americano médio, aquele que não está contente com o fim do emprego na indústria, substituído pelo do setor de serviços que emprega imigrantes desqualificados e mais baratos, nem com a insegurança causada ao país pela retirada das tropas do Iraque, que foi um fator que fortaleceu o ISIS. Também não atinamos para o fato de que Hillary Clinton foi acusada de corrupção, o que já está provado que, para nós, não é tão preponderante numa campanha eleitoral quanto lá. 

No Brasil, temos a mania de interpretar os fatos de outros países pela ótica dos nossos defeitos, de modo que tem sido comum nesses dias que antecedem a posse de Donald Trump ver a imprensa e as pessoas comentando sobre o demoníaco republicano que será cassado em pouco tempo porque é mau, machista e xenófobo, com pena de acabar o mandato do democrata bonzinho, paladino dos direitos civis, da paz e da concórdia. 

Esquecemos das instituições que aqui são fracas ou inexistentes e lá são fortes e presentes. Imaginamos um Donald Trump enviando tropas para todos os lados para impor algum capricho seu como constatamos a perseguição a caminhoneiros feita a partir de medida provisória emitida por uma presidente depois cassada. Pensamos que Trump vai comprar o Congresso com ministérios e secretarias, quando lá, se o Congresso implica com um ministro ou secretário o mais fácil é ele renunciar e o presidente colocar o rabo entre as pernas.

O Trump presidente não será aquele dos discursos radicais de campanha, do mesmo modo que Obama não fez as boas coisas que fez sem o auxílio e autorização prévia do Congresso. Do mesmo modo que Obama não fez nada sozinho (e nem entremos na discussão sobre seu legado, que é bem controversa), Trump não transformará o país num enorme cassino e hotel extravagante e permissivo como a fama de seus negócios pode sugerir.

12 de fev. de 2016

POPULISMO: A PRAGA!

Bernie Sanders causa frisson nas primárias do Partido Democrata com um discurso bonito, cheio de promessas de bondades e ataques contra as forças supostamente opressoras Elege o capitalismo como inimigo, promete universidade de graça para todos os jovens e saúde universal gratuita para todos os cidadãos, levanta a voz para falar mal dos doadores de campanha e se mostra como um inimigo do sistema, o mesmo que fez dele um político profissional que se acha diferente dos demais. Ele se diz "socialista democrático", mas seu discurso é de caudilho sul-americano, incluindo o ranço, praticamente o vício de prometer o que sabe que nunca cumprirá, apostando no eleitorado ingênuo, que se esquece das promessas tão fácil quanto aperta um nome na máquina de votação.

Donald Trump não é diferente. Apesar de estar no lado oposto, de ser o capitalista empedernido defensor intransigente do livre mercado, seu discurso também é o que o seu eleitorado quer ouvir, prometendo controle sobre imigração e sanções contra imigrantes, o uso de armas, menos impostos, menos regulamentação e mais liberdade, coisas que o mundo sensato discute dentro de uma lógica de meio-termo que os  republicanos, por serem uma agremiação política conservadora e interiorana, nem sempre entendem.

O populismo é uma praga que volta e meia atinge mesmo os países politicamente mais desenvolvidos. Hitler e Mussolini foram populistas, Lênin foi um populista, Fidel e Raul Castro são populistas como Getúlio Vargas, Perón, Hugo Chaves, Nicolas Maduro, Alfredo Stroessner, Alberto Fujimori, Augusto Pinochet, Franco, Mao Tsé Tung, Nestor e Cristina Kirchner,  Lula e George W. Bush, todos elevados ao poder ou eleitos com o discurso que as massas queriam ouvir, com resultados no máximo tremendamente distantes do generosamente prometido.

No caso dos EUA, as primárias são um freio nas pretensões mais radicais dos candidatos. Elas antecipam o debate da campanha eleitoral propriamente dita, e dentro das agremiações as idiossincrasias e as promessas vazias podem se relevar inexequíveis. Sanders pode até atacar o sistema de ensino do país, mas em algum momento no futuro próximo, Hillary Clinton ou qualquer outro de seus colegas partidários levantará a questão de modo objetivo, como, por exemplo, perguntando para ele como mudar um sistema que legou ao país as melhores universidades do mundo, as que mais produzem conhecimento científico, as que mais produzem produtos e inovações, as que mais distribuem bolsas de estudo para o mundo todo. Será que ele vai estatizar tudo para dar universidade para todos? Por outro lado, de onde ele vai tirar dinheiro para expandir e universalizar o "Medicare" que Obama conseguiu à custa de uma pequena guerra política? E Trump? Será que suas propostas absurdas de murar a América contra os imigrantes se sustentam? Será que um país que desde a crise de 2008 viu 29 instituições financeiras gigantescas serem concentradas no sistema para aguentarem as novas regulamentações que são imperiosas para evitar outra bolha imobiliária e financeira, tanto quanto odiadas pelos capitalistas mais liberais? 

O populismo da América não é diferente do que ocorre no Brasil. A diferença é que nos EUA essas questões são debatidas e no Brasil, não, porque nossa campanha eleitoral é um programa de auditório muito antes de um evento institucional. Mas o populismo está por aí, e se agora ele ameaça (novamente) os EUA, o Brasil, a Argentina, a Venezuela e outros tantos países pelo mundo estão pagando a conta das promessas vazias, radicais e impossíveis de serem cumpridas, que levam a déficits financeiros colossais e problemas de toda a ordem, mas cujo pior efeito é impedir que os cidadãos entendam que não há soluções mágicas, que bondades precisam ser pagas com dinheiro vindo de algum lugar, que déficits públicos um dia precisam ser pagos e que país nenhum vive eternamente de endividamento. O populismo é a arte de prometer o céu sabendo que só pode entregar o purgatório, mas no fim das contas, é mais provável que leve todos ao inferno.

Graças ao seu sistema partidário, os EUA ainda têm a chance de trocar um lunático como Sanders por uma pessoa preparada e capaz como Hillary Clinton, e um boquirroto como Trump por um político competente e pragmático como Michael Bloomberg. Mas ainda há a possibilidade de se enfiar num buraco igual ao deixado por George W.Bush... tomara que a América desperte antes do desastre que o Brasil já experimentou várias vezes. 

21 de mar. de 2011

BARACK OBAMA NO BRASIL... MAS ONDE FICARAM OS PROTESTOS?

O leitor pode não ter percebido, mas uma das coisas mais engraçadas acontecidas nos últimos tempos, foi a proibição que o PT fez, para que seus filiados não protestassem na visita de Barack Obama ao Brasil.

Quem diria que a "esquerda" brasileira um dia estaria preocupada em não ferir suscetibilidades norte-americanas, de tal modo que até o ritual de queimar a bandeira deles não teve grande repercussão desta vez, da mesma forma como simplesmente ignorados os protestos brancaleones de sempre, gente entorpecida por idéias retrógradas, que continua atribuindo aos EUA todas as mazelas do mundo em que vivemos, nem que para isso usem como exemplo países de vivem ditaduras sanguinárias, como Cuba, Coréia do Norte e Venezuela.

Há quem diga que isso é sinal de maturidade, mas eu penso que é sinal de que o PT é igual a todos os demais partidos brasileiros pois, uma vez no poder, não se preocupa de jeito algum com ideologia (por mais torta e injustificada que seja), quer focar seus esforços em manter-se nele, nem que para isso eleja como novo parceiro comercial, diplomático e econômico o antes destratado e demonizado grande país da América do Norte.

É a tal coisa. Os EUA tem inúmeros defeitos, o pior deles é garantir seus interesses a qualquer custo, usando a força se necessário e não dando bola para protestos internacionais. Uma vez contrariados, os EUA agem e dão as costas para o resto do mundo. Mas ao mesmo tempo, os EUA são ótimos parceiros comerciais por serem uma economia aberta sempre à procura de oportunidades, de modo que todo governo pragmático, certamente deixa de lado os dogmas ideológicos e aceita a "parceria" que no fim das contas é boa para todos, desde que siga as regras de estabilidade.

Fica a lição para a esquerda brasileira - uma vez no poder as utopias se desfazem, não se governa a partir de dogmas, isso é coisa de ditadores despreocupados com o bem estar do povo, que só é garantido com preocupação constante em movimentar a economia.

27 de out. de 2010

DEUS SALVE A AMÉRICA DOS NEOCONS!


Os EUA têm sido o país líder do mundo nos últimos 100 anos basicamente em razão da liberdade interna que cultuam.

A vanguarda tecnológica e cultural do país sobre o mundo é explicada justamente pelo fato de que sempre foi uma nação que, internamente*, sempre prezou a liberdade de pensamento, de opinião, de credo e de expressão, mesmo no período negro de histeria anti-comunista entre fins da década de 40 e meados da de 50, o Macarthismo, que acabou enterrado justamente pela violação contínua de direitos humanos e civis no país.

Graças à esta liberdade sempre defendida com unhas e dentes, reconhecida pela Suprema Corte em muitas decisões e sobrevivente até ao anti-comunismo radical latente na sociedade, o país legou ao mundo um arcabouço cultural que influencia as culturas de todo o planeta a partir da música e do cinema, representado por alguns de seus maiores artistas reconhecidos globalmente, como Elvis Presley, Frank Sinatra, Paul Newman, Marlon Brando, Audrey e Katherine Hepburn, Meryl Streep, Madonna, Michael Jackson, entre muitos outros.

Graças à liberdade política e de credo, o país atraiu cientistas renomados, tais como Léo Szilard, Albert Einstein, Enrico Fermi e tantos outros fugidos do nazismo. E isso legou ao país a vanguarda tecnológica mantida até hoje, bem demonstrada pelo fato de deter a maioria dos prêmios Nobel de física, química e medicina/fisiologia (129), que também são resultado da liberdade de debater idéias e da efervescência de suas universidades e centros de pesquisa, detentores da maior parte das patentes de invenções existentes no mundo.

Mas a "pátria da liberdade" convive há mais ou menos 30 anos com uma ameaça que têm se tornado cada vez mais presente na vida do país e que nestas eleições de 2010 tende a agregar (pelo menos aparentemente) mais poder. São os "Neocons" e os integrantes do "Tea Party", movimentos ultraconservadores que existem nas fileiras do Partido Republicano desde a década de 70, que chegaram timidamente a altas posições com a eleição de Ronald Reagan em 1980 e que alcançaram o topo de sua influência nos tenebrosos anos de George W.Bush na Casa Branca.

Candidatos ultraconservadores beirando a hipocrisia pura e simples a exemplo da a ex-candidata a vice-presidente Sarah Palin, tomaram o lugar de políticos tradicionais (e moderados) da legenda com discursos religiosos radicais e defesa e oposição encarniçada à intervenção estatal na economia, pregando ainda a continuidade das políticas de controle migratório e anti-terrorismo que cresceram a níveis assustadores desde os atentados de 11/09/2001, isso para um país que não só se acostumou a receber quem quer que seja de braços abertos, mas fez disso uma das alavancas de seu progresso material.

Apresentam-se como caçadores de bruxas e defensores da família, mas defendem a restrição de liberdades que sempre foram cultuadas pelos americanos, justificando isso com a promoção da paranóia anti-terrorista que permeou o governo Bush, e da qual se pensava que a eleição do negro de ascendência muçulmana Barack Obama tinha livrado o país.

Deus salve a América, e nisso o mundo também, dos neocons!


* Quando ressalto o internamente, é justamente para avisar que externamente o assunto é outro. Fora dos EUA, o que vale para todos os governos do país são os interesses internos, isso é histórico, eles não se importam com a liberdade dos outros, nem com a democracia dos outros se isso não lhes causar problemas. Se estão certos ou errados, não sei, mas o que é bem claro na história da humanidade é que países não se tornam potências influentes com bondade.

22 de mar. de 2010

TEM GENTE QUE NÃO GOSTA DA COMPARAÇÃO

Tem gente que não gosta da comparação, mas não resisto à chance de fazê-la.

Nos EUA não existe medida provisória, salvo um caso muito limitado de emergência nacional, com validade máxima de alguns dias e que, se não apreciada pelo Congresso Nacional, o impede de votar qualquer outra matéria e o retira de eventuais recessos imediatamente, não existindo desculpa para o parlamentar driblá-la, sendo que até as Forças Armadas são acionadas para buscá-lo onde estiver.

Mais do que isso, o Congresso dos EUA é soberano. Se ele aprovar uma Lei, o Poder Executivo é obrigado a cumpri-la, sem dar um jeitinho para mudar seus efeitos. Se o Poder Executivo propõe uma Lei, é obrigado a negociá-la mesmo com sua "base aliada" e, não tendo maioria, é obrigado a chamar a oposição para o diálogo e ceder pelo menos em parte, para ter sua aprovação.

Ontem, um domingo, o Congresso dos EUA reuniu-se para votar a mais radical reforma institucional do país em 50 anos, o novo sistema de saúde proposto pelos Democratas do governo Obama. E após muitas deliberações e negociações, alguns pontos polêmicos foram decididos, de modo que, por exemplo, o dinheiro público não financiará abortos, uma das teses conservadoras mais caras ao Partido Republicano. Mesmo assim, no âmago, a proposta democrata foi aprovada.

O leitor lembra da última vez que uma lei relevante do Brasil foi proposta pelo Congresso Nacional e não por Medida Provisória ou Projeto de Lei de iniciativa da Presidência da República? O leitor lembra de alguma ocasião em que o Congresso Nacional tenha se reunido num domingo? O leitor já notou que o quórum de sessões ordinárias no Congresso Nacional sempre é baixíssimo, mesmo sendo elas realizadas apenas terças à tarde, quartas-feiras e quintas-feiras de manhã?

Nos EUA há lobbies e corrupção como em qualquer parlamento do mundo. Mas pelo menos existe o espírito republicano e democrático de preservar insistentemente a separação entre os poderes e a discussão dos problemas do país sem uma imposição vinda do Poder Executivo, como a que existe no Brasil, onde a redação da maioria das Leis é decidida dentro dos ministérios ou pelo próprio Presidente da República, e elas muitas vezes são aprovadas por "acordo de lideranças" ou a partir de conceitos populistas e demagógicos como a que retirou os royalties do estado o Rio de Janeiro. O paramentar brasileiro não pensa no país e é preguiçoso, na exata medida em que aceita a subserviência ao Poder Executivo, a quem e regra adere por razões eleitorais na primeira oportunidade

Quem não gosta dessa comparação são apenas os péssimos parlamentares brasileiros.

14 de out. de 2009

OBAMA NOBEL?

O presidente dos EUA, Barack Obama, não era mais para o mundo que um ilustre desconhecido até janeiro de 2008, quando se iniciaram as eleições primárias que o escolheriam como candidato democrata à Casa Branca.

E eis que menos de um ano após sua posse, recebe a mais importante honraria da humanidade sem ter feito em 10 meses absolutamente nada que a justificasse.

Muitos americanos já haviam recebido o prêmio com absoluta justiça. O então presidente Woodrow Wilson foi laureado por seus esforços em criar a Liga das Nações. O general George Marshall foi premiado pela criação e os esforços em prol do plano que levou seu nome, e que ajudou a reconstruir a Europa devastada pela guerra com recursos do tesouro norte-americano. Henry Kissinger pelo plano de paz com o Vietnã, o ex vice-presidente Albert Gore por seus esforços pelo meio ambiente e o ex-presidente Jimmy Carter por sua atuação em prol dos direitos humanos e da solução pacífica de conflitos.

Se houvesse algum critério para o Nobel, até mesmo um presidente malquisto dentro e fora dos EUA, Richard Nixon, poderia ser premiado por aproximar a China ao ocidente. A abertura econômica que disto decorreu resultou na retirada de milhões de chineses da miséria completa na adoção de um sistema econômico misto de socialismo e capitalismo, sem contar a diminuição sensível das tensões militares na Ásia.

Apesar de ser um marco político na história americana, representando minorias raciais que compõe a heterogênea sociedade daquele país e mesmo governando a partir de conceitos mais flexíveis de segurança nacional e abrindo-se ao diálogo com focos de tensão como o Irã, Obama não praticou ainda nenhum ato de verdadeiro impacto que o qualificasse ao prêmio.

Em 2009, comemora-se 20 anos da queda do muro de Berlin, que foi um dos fatos mais importantes do século XX, talvez um divisor de eras da humanidade, por representar que regimes mantidos apenas pela coação contra os cidadãos não prosperam, e ao mesmo tempo indicar que não existe sistema econômico tão perfeito que não possa agregar novos parâmetros. Por esta razão, talvez o ex-chanceler alemão Helmuth Kohl mereceria a homenagem. Ainda havia a possibilidade de laurear o dissidente chinês Hu-Jia por esforços em prol da democracia, dos direitos humanos e da liberdade de expressão, por mais que isso irritasse o governo chinês. E ainda, Oswaldo Paya pela luta sem tréguas contra a ditadura cubana ou o Dr.Denis Mukwege, médico congolês que ampara e protege mulheres vítimas de violência sexual em seu país.

Todos eles merecem o prêmio mais que Barack Obama, uma vez que não se pode premiar ninguém por atos futuros. Talvez Obama entre para a história e um dia justifique a láurea que ele mesmo recebeu com surpresa, mas hoje, a homenagem não se justifica.

19 de jan. de 2009

BUSH, O MAU, OBAMA, O BOM?


Amanhã encerra a administração George Walker Bush, que algumas pessoas dizem que foi a pior que os EUA já tiveram. E inicia-se a administração Barack Hussein Obama, que muitos dizem, trará uma mudança radical na vida da nação mais poderosa do planeta, em meio a uma onda de esperança poucas vezes vista.

Nem tanto ao céu, nem tanto à terra:

As pessoas se apressaram em julgar George W.Bush porque ele encerra seu governo com baixíssimo índice de popularidade. Se é verdade que ele errou muito, por outro, é fato que em muitas ocasiões pode ter sido levado ao erro, afinal, nos anos que sucederam o 11 de setembro de 2001, aquele país entrou numa catarse, uma paranóia em torno da dita segurança nacional que fortaleceu o poderoso lobby dos complexos industriais-militares e os setores mais conservadores (e menos responsáveis, economicamente dizendo) da sua sociedade.

Ninguém deve esquecer que Bush foi reeleito com o discurso e a prática que agradavam os americanos naquele momento: Atacar os inimigos do país em seu território para não passar pelo trauma de, novamente, serem atacados dentro dos EUA, coisa que só aconteceu duas vezes, em Pearl Harbor e em 11/9 em Nova York.

Sempre acompanho, pelo menos superficialmente, as campanhas presidenciais dos EUA. Lembro que, em 2004, a economia e a falta de regulamentação dela foram temas secundários, perdidos num debate claro sobre política de defesa.

Os equívocos de Bush foram do país inteiro. Ele fez o que os americanos queriam que fizesse e surfou na onda da popularidade ao dar o que o povo queria. E esse mesmo povo nunca deixou de comprar SUV(s), gastar combustíveis ou refinanciar imóveis para satisfazer seus ânimos consumistas. Julgar Bush assim, apenas pela popularidade em fim de mandato, é esquecer que ele recebeu carta branca do povo para fazer o que fez.

Já o presidente eleito Barack Obama assumirá como um salvador da pátria para quebrar velhos paradigmas e mudar a face de uma nação que, entorpecida pelos problemas econômicos que ela mesma criou, agora se envergonha do seu excesso de belicismo.

Obama lembra muito o ex-presidente Jimmy Carter. Carter foi eleito numa época de crise econômica, sucedendo a admnistração de Richard Nixon que também foi considerada uma das piores da história envolta em um escândalo de corrupção e manchada por uma guerra perdida no Vietnã. Carter também era uma novidade, um presidente saído de um estado sem tradição política, a Geórgia, com um discurso pacifista e conciliador e uma face simpática, quase caipira, dando a impressão de que um tipo diferente de norte-americano estaria dirigindo os destinos do país daquele momento em diante.

Carter não foi reeleito. Aliás, levou uma surra histórica de Ronald Reagan que veio com um discurso belicista a afrontar a antiga URSS e ao mesmo tempo, um discurso de desregulamentação econômica, fugindo do jeito democrata que não conseguiu recuperar a economia debilitada pelos dois choques do petróleo da década de 70, num país já acostumado naquele tempo, à pouca regulamentação econômica e ao consumismo exagerado. E os democratas só voltaram à Casa Branca 12 anos depois.

Não são grandes as semelhanças?

Pois é. Obama certamente terá um jeito diferente de tratar dos assuntos de defesa, mas sua principal tarefa é inglória, a de recuperar a economia e a auto-estima de um país acostumado a ser líder no mundo, mas hoje contestado justamente porque perdeu boa parte do seu poderio econômico, preocupado demais em consumir, e de menos em produzir nas últimas duas décadas. Uma sociedade importadora de bens e exportadora de capitais, coisa esta, de que não tem sido capaz nos últimos tempos.

Obama encerra esperanças demais e é justamente isso que pode minar o seu governo, tal qual o que aconteceu com Jimmy Carter, que até hoje é considerado uma grande figura histórica, um pacifista e reformista, que no entanto, fracassou.

Dificilmente haverá grandes mudanças de política externa no governo Obama e mesmo a retirada do Iraque e do Afeganistão não serão rápidas nem indolores, até porque, os EUA ainda são dependentes de petróleo e, portanto, das conturbadas relações diplomáticas no Oriente Médio. A economia poderá não responder a choques regulatórios, porque isso não faz parte da cultura daquele país. E a imagem dos EUA continuará sendo a de país imperialista, isso não muda da noite para o dia, que dizer quando se passou décadas agindo como polícia do mundo.

Toda essa esperança depositada em Obama pode voltar-se contra ele, é bom evitar o excesso de ufanismo e encarar as coisas com menos extremismo para o bem ou para o mal. Se ele conseguir fazer dos EUA um país com menos tensões raciais, diminuir pelo menos um pouco a péssima imagem externa do país e dar um impulso econômico, já terá feito um grande governo. Mas não conseguirá salvar a pátria, nem fazer mudanças radicais, porque essas tarefas são processos históricos, não se encerram em apenas 4 anos, que dizer num país de tradição democrática, mas onde há uma clara definição de situação e oposição.

5 de nov. de 2008

OBAMA VENCEU! (OS VENTOS DA MUDANÇA...)

Há quem diga a vitória de Barack Hussein Obama deu-se em razão de duas crises graves, a de política externa simbolizada pelo Iraque, e a econômica, o que levou o eleitorado a buscar a mudança sem analisar os candidatos.

Eu discordo disso. São crises graves, mas penso que os americanos resolveram dar uma guinada no pensamento extremamente conservador,liberal, isolacionista e militarista que tomou conta do país especialmente após os atentados de 11/09/2001, dada a influência grande que os "neocons" passaram a ter sobre o partido Republicano e consequentemente sobre a administração federal de George W.Bush.

Só que a história é dinâmica. Em 2006, os democratas venceram as eleições legislativas e conseguiram uma maioria apertada no Senado e folgada na Câmara. Foi um lance da eleição presidencial de 2008, indício de que havia, no país, insatisfação contra as políticas equivocadas e radicais decorrentes da catarse nacional que o terrorismo despertou em 2001 e que foram capitalizadas pelos republicanos para sua manutenção no poder, catarse da qual os americanos foram se libertando paulatinamente.

Portanto, os ventos da mudança já se faziam presentes bem antes do estouro do sub-prime e mesmo da disparada dos preços do petróleo, cujo resultado causou insatisfação popular em um país viciado em gasolina. E já se faziam notar de modo bem mais tímido anda antes de 2006, quando da discussão sobre o Iraque.

E os ventos da mudança sopraram ainda mais forte, porque nas eleições primárias, o partido Democrata polarizou a disputa entre uma mulher, Hillary Clinton, e o negro Barack Obama, demonstrando que a busca pelo câmbio de idéias e atitudes em relação ao mundo não era apenas no âmbito da economia ou mesmo no das relações exteriores da nação mais poderosa do planeta.

O povo dos EUA, a partir do partido Democrata, deu sinais de que pretendia reafirmar sua condição de nação pluralista a dar oportunidades a todos, o que vai muito além da insatisfação com os revezes militares no Iraque e com os tropicões econômicos.

Os republicanos, ao indicarem o moderado John McCain, pareciam ter percebido tais ventos até o último momento, quando na sua convenção, indicaram para vice a ultra-radical "neocon" Sarah Palin, imposta na tentativa de unir o partido, mas que acabou com efeito contrário, sendo um fator decisivo pró-Democrata, em vista até da idade do candidato, que aumentava a probabilidade dela assumir a Casa Branca. Eu mesmo escrevi em vários lugares que a atitude do partido Republicano poderia conservar-lhe a Casa Branca, desde que ele se mantivesse unido, coisa que não aconteceu.

E ontem, o que se viu foi o comparecimento em massa às urnas, pois 66% é recorde neste século e mais do que isso, uma forte indicação da vontade de mudar o país, pois sabe-se que o maior desafio dos Democratas a cada 4 anos, é efetivamente levar o seu eleitorado ao voto.

Se as crises externa e econômica bastassem para eleger um presidente democrata, o partido não teria se arriscado em polarizar a disputa com duas novidades (uma mulher ou um negro). Escolheria um candidato caucasiano de algum estado influente da federação, como John Kerry, John Edwards ou mesmo Albert Gore e iria para a disputa sem se preocupar sequer com a baixa afluência às urnas, nas últimas eleições presidenciais.

Mas não. Obama, mal ou bem, representa uma clara indicação de que o povo dos EUA quer mudanças. Se ele vai consegui-las, isso é outro assunto, mas o fato é que ele foi eleito não só por sua capacidade política, mas também pela sólida formação intelectual (Colúmbia e Harvard) aliada à sua imagem de alguém que venceu barreiras numa sociedade pluralista, mas ao mesmo tempo fortemente influenciada por idéias conservadoras e permeada com preconceitos, eternamente debatento direitos civis e buscando dar voz às minorias.

O povo dos EUA não votu contra Bush, muito menos contra os "neocons" ou contra os republicanos. Votou pela mudança, talvez a busca por atitudes equilibradas, em contraposição ao aferramento em opiniões pré-concebidas que aconteceu especialmente a partir de 11/09/2001, com consequências políticas, sociais e econômicas.

3 de nov. de 2008

OBAMA OU McCAIN?

Impossível negar a importância global de uma eleição nos EUA. E ao mesmo tempo, impossível deixar de admirar o processo democrático de lá, onde em mais de 200 anos as eleições presidenciais repetiram-se quase que religiosamente a cada 4, com uma única alteração substancial de regra, a ocorrida quando resolveu-se impedir a reeleição indefinida do chefe do executivo.

É fato que a democracia americana não é perfeita. É comum que o candidato mais votado nas urnas não seja eleito presidente em razão do colégio eleitoral que define o pleito, criado por motivos vários, entre eles, o fato do país ser uma federação e buscar impedir a excessiva influência de apenas um estado nas decisões nacionais.

Também se constatou nas últimas décadas um aumento exponencial nos custos das campanhas, o que impõe aos candidatos, além dos atributos políticos, a capacidade de agregar recursos financeiros.

Apesar de dezenas de candidatos de pequenos partidos espalhados pelo país e muitas vezes concorrendo apenas dentro de um ou alguns estados, os EUA escolherão amanhã entre o democrata Barack Obama e o republicano John McCain.

Eu já escrevi que, como brasileiro, se tivesse o direito votaria em McCain, porque historicamente os republicanos defendem o livre comércio, impostos menores e liberdade econômica, que são valores favoráveis aos parceiros comerciais dos EUA.

Mas se americano fosse, votaria em Obama em razão da necessidade premente de rever os conceitos de política externa do país, marcados nos últimos 8 anos pela influência radical dos "neocons", que após os atentados de 11/09/2001 passaram a defender um intervencionismo excessivo do país, com gastos militares irreais mesmo para ume economia tão poderosa quanto aquela.

Sem contar que vivemos uma época em que é certo que haverá mais regulamentação sobre mercados financeiros, tarefa para a qual, assim entendo, os democratas são mais qualificados.

Obama tem seu calcanhar de aquiles na pouca experiência política. É senador de primeiro mandato num partido cujas divisões internas são grandes, muitas vezes implicando posições irreconciliáveis que já implicaram na derrota em várias eleições presidenciais. Apesar de sua sólida formação acadêmica (Colúmbia e Harvard), Obama terá dificuldades em lidar com isso, até por ser um representante de minorias raciais, o que certamente aumentará o tom dos debates internos no partido Democrata.

Já McCain tem duas pedras no sapato. Sua idade avançada e a candidata a vice, Sarah Palin. Ela é uma radical "neocon" que lhe foi imposta na tentativa de reagregar o partido que tradicionalmente entra unido no pleito presidencial, mas que em 2008 está dividido, em razão dos equívocos das políticas interna e externa do governo George W.Bush. Os analistas entendem que, dada a idade de McCain, aumenta a probabilidade de Palin assumir suas funções, o que preocupa boa parte do eleitorado, dado sua pouca experiência aliada justamente ao radicalismo do seu discurso tanto sobre direitos civis, quanto política econômica interna e política externa.

Amanhã, os americanos decidirão quem vai governá-los durante uma tormenta em que sua influência global é seriamente contestada. Além disso, a própria candidatura de Obama indica a efervescência das tensões raciais de um país multiculturalista, que aceitou imigrantes de todas as partes do globo, mas que nem sempre lhes deferiu poderes políticos, apesar de contar com sua força de trabalho na construção da superpotência que é. Os EUA votam durante um hiato, em que tanto podem reafirmar sua liderança econômica, política e militar do mundo, quanto podem começar a repassá-la para a China.

CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.

No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar ...