Minha ideia era não comentar sobre a Copa das Confederações e
aliás, nem assisti-la, em protesto pelo gasto absurdo de recursos
públicos no evento e na Copa do Mundo de 2014.
Mas no fim de semana, nada restou senão assistir ao recital de
futebol protagonizado pela Seleção Brasileira que, afinal,
descobriu-se que é mesmo do povo, acima das espertezas da CBF, das
jogadas de marketing da poderosa rede de TV e do escândalo que
envolve a FIFA e a organização da Copa 2014. É a tal coisa, em um
lugar onde todo mundo pára para assistir o jogo, de que adianta
querer ser diferente?
O que muita gente não percebeu nesses dias cheios de emoções
durante os quais jogou-se a Copa das Confederações, é que o Rei
Pelé estava certo no seu discurso confuso sobre apoiar a Seleção
Brasileira, “esquecendo” tudo o que rolava no país. Em verdade,
o Rei queria dizer para o povo apoiar a seleção apesar da
revolta justificada contra um estado de coisas que afeta a todos e ao
qual se chegou porque a classe política cansou
de abusar do povo e achava que ia fazê-lo indefinidamente. No final
das contas, protestos e seleção se uniram e o povo brasileiro
distinguiu bem a verdadeira paixão nacional que as camisas amarelas
representam, dos problemas que não foram causados pelos rapazes que
às vestem!
Foi bonito ver os estádio enchendo
o peito para cantar “Pátria Amada, Brasil!”
a despeito do protocolo da FIFA, que não tocava o hino nacional
completo, isso em território brasileiro.
Foi mais bonito ainda, ver que essa
acolhida popular inspirou técnico e jogadores que, vindos de uma
fase negra, talvez a pior da gloriosa história da Seleção
Brasileira que tantas vezes arrebatou o país quase sempre em crise,
mostraram uma superação incrível que eu, particularmente, penso
que foi em homenagem a este povo que resolveu tomar de novo o que é
seu e foi para as ruas lutar por isso. Tanto foi que reconquistou
algo que realmente é seu, que é a Seleção Brasileira de Futebol,
talvez o maior símbolo de brasilidade que exista, apesar de em
muitas ocasiões ser também o símbolo de uma alienação nacional
que, sonham todos os brasileiros de bem, esteja acabando em
definitivo.
A final contra a Espanha pode
mascarar as dificuldades que certamente haverão até a Copa 2014. A
Seleção ainda tem um longo caminho a percorrer se quiser ser
hexa-campeã em casa. Mas foi uma vitória bela, incontestável, uma
vitória categórica contra a melhor seleção do planeta na
atualidade. E se redescobriu durante esta Copa das Confederações
que craque não falta aqui ao sul do Equador na terra onde em se
plantando, tudo dá. Neymar e Fred foram sublimes, simplesmente
fantásticos, sobrenaturais. Ter os dois no mesmo time jogando com a
gana batalhadora que vimos nestes dias é certeza de momentos
inesquecíveis, dos quais destaco o gol deitado de Fred e a jogada de
gênio (algo que o Rei Pelé faria) de Neymar que, impedido, deu 3
passos para trás e voltou a correr em direção ao gol para fugir do
impedimento.
A Seleção Brasileira voltou a ser
grande. Não que a da Espanha tenha se apequenado, não que não se
deva prestar muita atenção
nas verdadeiras
escolas de futebol,
que são a da Itália, da Argentina e da Alemanha e que, com o Brasil
fecham a quadra das seleções que não vivem de uma geração
brilhante, como o que acontece com a Espanha e aconteceu com França,
Inglaterra, Hungria, Holanda e Tcheco-Eslováquia. Penso que esta
geração do futebol espanhol ainda tem muita força acumulada e vai
para 2014 com franco-favorita, o time a ser batido pela eficiência
do seu futebol. Mas é uma geração de um país que se muito, tem 3
clubes fortes: Real, Barcelona e Atletico Madrid e cuja renovação
não se compara à de países como o Brasil, a Argentina e mesmo
Alemanha e Itália.
Vendo tudo isso, cheguei à
conclusão que não é incompatível protestar contra o gasto
exorbitante na Copa e ao mesmo tempo torcer e se emocionar com a
camisa canarinho. Eu mesmo, por debaixo de uma máscara ou ingênua
ou arrogante, pensei que seria simples não torcer pelas camisas
amarelas até a final no Maracanã em julho de 2014. Não é tão
simples assim lutar contra o DNA, e tanto não é simples, que o
sentimento que ficou é que o país acordou, a luta por tornar esta
terra em lugar mais justo continua e será renhida porque há muito o
que consertar... mas o país gigante cujo povo acordou de décadas de
sonolência, nunca deixará de prestar atenção nas telinhas da TV e
abraçar seu filho pródigo que veste 11 camisas e carrega uma
história de emoções belas e superlativas tão importantes mesmo
para quem esteja nas ruas protestando contra as injustiças!
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