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12 de jan. de 2009

O PREÇO DO CARRO USADO DESPENCOU

Com a redução de IPI que o governo promoveu no fim do ano passado, caiu o movimento das concessionárias de carros usados, cujos preços despencaram e que levam, indiretamente, a uma recuperação não tão boa do mercado de zero quilômetros.

Isso porque o carro usado geralmente entra como entrada no negócio do carro zero quilômetro. E se a entrada é menor, a prestação consequente será maior e não necessariamente estará dentro do orçamento do interessado, ainda mais em época de aperto de cinto, como a que vivemos.

O governo sabia que isso aconteceria, tanto é que também promoveu a redução do IOF, justamente para melhorar as prestações do negócio, apostando no fascínio natural que quase toda pessoa tem por um carro com cheirinho de novo.

Mas hoje, se o comprador não fizer a troca de veículo e pagar em dinheiro ou mesmo financiando, o carro usado pode ser muito vantajoso, mas o fato é que essa hipótese não é a preponderante no mercado, sem contar que a tentativa de fazer valer essa vantagem implica em outra obrigação, a de pesquisar bem, pois certamente tem muita gente só dizendo que o preço que pratica diminuiu.

O leitor bem sabe que sou favorável a toda e qualquer desoneração tributária.

Não estou dizendo aqui que o governo errou, pelo contrário, ele acertou mas essa situação do mercado automobilístico demonstra com clareza que uma crise como a que se afigura não se combate apenas com medidas pontuais.

Toda a economia está apresentando sinais de desaceleração, de modo que não é apenas um setor (o automobilístico, no caso) que merece ser analisado.

4 de dez. de 2008

INJEÇÃO DE PESSIMISMO

Tudo bem que se deve exigir do governo que tome medidas para evitar o agravamento da crise. Mais cedo ou mais tarde ela chegaria ao Brasil, de modo que deve-se cobrar do governo mais sensatez ao fazer declarações sobre a matéria, fugindo de bravatas como a marola declarada pelo presidente Lula.

Mas isso não se confunde com o que tenho sentido nos últimos dias.

Ligo as rádios de notícias e ouço 4 vezes por hora a quotação da bolsa, especialmente quando ela está em baixa. E a Petrobrás é acusada de ter problemas por pedir um empréstimo de capital de giro. E comentam-se índices de desemprego na Ásia, na Oceânia, na Europa e nos EUA. E deixa-se a entender que o cataclismas financeiro global é o culpado pelas situação delicada da indústria automobilística (tanto dos EUA quanto do resto do mundo). E comentários ridículos são sobre índices que nunca dantes foram comentados e sobre classificações extremamente pessimistas de agências de rating. E por fim, previsões de não crescimento na economia brasileira.

Um leitor meu (o Tony) bem disse que
...a crise está "agravante" mais por culpa da especulação do que pelos fatos. Sem contar que o impacto seria bem menor no Brasil, se ela não estivesse sendo [im]plantada via noticiário. Todo mundo preocupado, mas dá uma olhada no varejo...


Não que eu concorde com tudo o que o Tony escreveu mas, há, sim, certo exagero na cobertura dada pelos órgãos de imprensa. Parece que eles fazem exatamente aquilo que os especuladores querem, que é pintar o fim do mundo e injetar pessimismo, fazer com que mesmo as pessoas (ainda ou que não serão) não alcançadas por ela sintam-se mal.

Ora, as montadoras americanas estão em crise por má gestão e problemas trabalhistas sérios.

As brasileiras, porque o mercado foi saturado de novos veículos e o mercado de usados também. Lojas entupidas de veículos parados pela inexistência de dinâmica de mercado, pois seus preços não caem e passada a febre do financiamento, o consumidor não pensa em adquiri-los. Porque financiamento não deixou de existir.

E esses índices e classificações de rating ridículos, que foram incapazes de vislumbrar a crise, agora são divulgados como a previsão perfeita do desastre. Quando tais índices eram bons, ninguém lhes dava bola salvo quando miravam em alguma economia emergente, agora, ruins, ficaram importantes.

Mais estúpidas ainda as previsões sobre o não crescimento da economia brasileira. Claro que haverá setores afetados, mas salvo anos atípicos, em que os governos brasileiros fizeram o impensável em economia para se darem bem na política, como a moratória estúpida de José Sarney e a retenção criminosa de liquidez de Collor, o Brasil nunca deixou de crescer no mínimo 2,5% do PIB, seria agora que iria despencar, justamente em meio a políticas econômicas ortodoxas e altamente conservadoras no curso contínuo de 14 anos?

Enfim, alarmismo. Uma despudorada injeção de pessimismo, seja por sensacionalismo jornalístico, seja por interesses mesquinhos que se escondem apostando no quanto pior melhor.

Claro que a crise atinge o Brasil. Impossível seria não atingir, mas carrega-se demais nas tintas e só acelera um carro que mal saiu do ponto morto, o carro da crise.

14 de out. de 2008

QUANDO A CRISE ARREFECER...

Não teve jeito e os governos pelo mundo afora desembolsaram trilhões de dólares para salvar o mercado financeiro do caos.

Ruim com os tubarões de Wall Street ou da City de Londres, pior sem eles, porque o crédito é um dos pilares de toda a economia mundial e não há Estado nacional que o supra ou mesmo substitua, salvo na cabeça de quem vaticinou o fim do capitalismo e mesmo do liberalismo, apostando na volta do Estado provedor, o mesmo que renega cubanos e norte-coreanos à pior das misérias.

Sem crédito, a tendência de uma economia é estagnar, de modo que os Estados nacionais trataram de salvar o sistema por razões como a sua própria salvação, afinal, eles também dependem de crédito para manter suas atividades, e para a salvação dos políticos que os governam, porque qualquer crise econômica respinga neles, especialmente nos países democráticos, sonciderando que não existe político que não nutra o sentimento de continuísmo.

Logo, o Estado tratará de salvar os tubarões e restituir o crédito do mundo.

Mas o fato é que uma nova legislação e atitude em relação aos mercados financeiros será o resultado dessa crise que, como todas as outras, é passageira. Isso porque no noticiário sobre a crise, pelo menos para mim, com parcos conhecimentos em teoria econômica, é estarrecedor:

Instituições financeiras gigantescas que não seguiram a regra básica de não concentrar investimentos em apenas um negócio afundaram no sub-prime americano. Pior que isso, instituições menores que, descobriu-se, dependiam de empréstimos das maiores para ganhar dinheiro nas diferenças de "spread" e que ficaram impedidas de operar do dia para a noite. E fora do ramo financeiro, empresas que acreditando no crédito barato, resolveram negligenciar a geração de caixa próprio tomando capital de giro nos bancos e outras, ainda, que passaram a negociar papéis em bolsa não para conseguir recursos para investimentos, mas também para substituir geração de caixa.

E isso em escala global, com incentivo dos generosos índices que vemos diariamente nos telejornais, que relatam desde os 50 mil pontos do Ibovespa até a taxa de crescimento econômico da Malásia.

A crise, então, tem efeito educativo. Penso que a partir da atual, formar-se-á um consenso no sentido de que os Estados acompanhem mais de perto as intrincadas operações financeiras, com os bancos centrais adquirindo muito mais poder sobre as instituições agindo como um contra-peso ao entusiasmo dos operadores privados, sempre ávidos por lucros cada vez maiores e mais rápidos, pouco se importando com o risco inerente.

Enfim, é um fato que se apresenta no horizonte.

Mas eu penso que nesse processo chegará uma hora em que, calmo o quadro geral, será o caso de deixar bem claro que o sistema foi salvo com dinheiro público, impostos pagos pelos cidadãos pelo globo afora, e que isso implica uma faceta penal,no sentido de punir com sanções econômicas e criminais aqueles executivos arrojados que ganharam bônus generosos apostando em negócios sem qualquer tipo de cautela, mesmo sabendo o que o sistema financeiro representa para um mundo globalizado.

Chegará um momento, quando a crise arrefecer, que os tribunais deverão colocar alguns pingos nos "is" e enviar uma mensagem de que cautela e responsabilidade são valores que afetam a todos, mesmo a uns quase deuses empoleirados em salas luxuosas de prédios envidraçados a movimentar dinheiro em escala global, sem lembrar que isso tem efeitos no mundo real.

8 de out. de 2008

NÃO É POR NADA... MAS ESTAMOS EM CRISE!

Nessa questão da crise financeira internacional, já ouvimos de tudo aqui no Brasil.

Primeiro o presidente Lula fez bravata e disse que era um problema do seu amigo George W. Bush e que ligando para ele, trataria de evitar que a crise chegasse aqui.

Depois, que o Brasil era imune e que nossas reservas em dólar garantiriam a estabilidade financeira.

Semana passada a ministra-candidata Dilma Roussef disse que o Brasil teria algo como uma pequena gripe, por conta do fordúncio internacional. Vejam bem: gripe, não resfriado.

Na segunda-feira, em meio ao pânico nos mercados financeiros, o ministro da Fazenda, Guido Mantegna e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, trataram de anunciar medidas pontuais para fazer frente à nova realidade, evitando falar em crise, mesmo convocando uma incomum entrevista coletiva conjunta.

Mas a FIAT e a GM já anunciaram férias coletivas e hoje a Volkswagen anunciou que vai paralisar suas fábricas por alguns dias alternados. Mais que isso, alguns bancos suspenderam todas as operações de Crédito Direto ao Consumidor, especialmente o destinado à aquisição de veículos, que até então eram financiados até sem entrada em parcelas que chegavam a 6 anos para pagar. Agora mesmo, li que o Banco do Brasil e a CEF foram convocados a ajudar instituições financeiras menores.

Estamos em crise.

Uma coisa é o fato de que o Brasil está mais preparado para enfrentar uma crise financeira do que no passado, isso porque diminuiu sensivelmente seu endividamento em dólar e ao mesmo tempo, manteve a política de fazer superávits primários nos níveis exigidos pelo FMI, mesmo não devendo mais nada para ele. Mérito inegável do governo Lula.

Outra é achar que as reservas em moeda forte são suficientes para blindar nossa economia de problemas. O Brasil deteve reservas bilionárias (algo em torno de US$ 75 bilhões) em moeda forte na década de 90, e quando iniciaram os ataques especulativos não deu um mês, foi ao FMI pedir empréstimo e garantias adicionais.

A sensação que dá é que o governo está protelando medidas mais duras por conta das eleições. Se isso é algo normal e aconteceria em qualquer país do mundo, por outro lado, há que se informar que o governo já as venceu, e com folgas, de modo que deveria entrar com mais força na arena econômica e tratar de fechar os buracos.

O próprio assessor (informal, é verdade) de economia da presidência da república, Delfin Neto, afirmou ontem na CBN que se existem reservas, elas devem ser usadas rapidamente para conter os problemas, economizá-las só vai aumentar seu gasto posterior.

Eu prefiro que o presidente venha a público e informe de modo sincero que o Brasil é gravemente afetado pela crise, que é mundial e, portanto, não é culpa de ninguém aqui do Brasil (muito menos dele), mas que precisa ser enfrentada sob pena de agravamento. Fazendo isso, ele pode até perder alguma popularidade, mas preserva-se como líder e ao mesmo tempo volta os olhares de seu governo para questões que podem afetar muito o país no prolongamento de uma situação internacional atípica.

30 de set. de 2008

CONGRESSISTAS E ESPECULADORES

E o "Plano Paulson" foi rejeitado pelo Congresso dos EUA.

É certo que dado o processo eleitoral daquele país, a discussão da matéria foi acirrada e dotada de grande carga ideológica. Muitos republicanos imaginaram que, aceitando a intervenção bilionária do Estado na economia, estariam dando fôlego aos democratas não só para levar Barack Obama para a Casa Branca, como para ele continuar nela em 2012 e ainda fazer o sucessor.

Isso porque a solução proposta pelo governo Bush vai radicalmente contra todo o ideário republicano, sempre mais liberal, menos intervencionista e distante daquele Estado mais centralizador pregado pelos democratas, embora mesmo estes não sejam adeptos do intervencionismo que constatamos aqui no Brasil e mesmo em alguns países europeus.

De qualquer modo, empenhar neste momento 750 bilhões de dólares para salvar empresas financeiras teria o efeito de deixar os republicanos sem discurso por décadas, causando-lhes sérios problemas eleitorais, vez que em boa parte do país, é o viés ideológico que define as votações, o que explica o sucesso que os democratas fazem nos centros urbanos mais desenvolvidos e o dos republicanos, nos estados de economia agrícola.

Se estivéssemos longe das eleições dos EUA, provavelmente o plano seria aprovado, mas mesmo assim, com alterações profundas, porque quando levado a votação, os líderes do Congresso americano já haviam decidido não empenhar 750 bilhões numa tacada só, contingenciando 450, 100 para uma eventual segunda parcela e 350 apenas e tão somente se as duas primeiras tivessem efeito visível nas relações econômicas.

Eu encarei a decisão como um voto de confiança do Congresso na economia do país e nos seus agentes econômicos. Ficou bem claro que entenderam que o estrago está feito, e que remendar não necessariamente soluciona a questão, que dizer entregando 750 bilhões que seriam melhor usados em desonerações tributárias que geram crescimento econômico, por afetarem a economia real.

Engana-se quem pensa que a histeria nas bolsas de valores afeta a opinião dos congressistas dos EUA. Não que eles sejam imunes ao clamor popular, mas o fato é que eles distinguem direitinho esse clamor de um movimento especulativo. Mais que isso, o fato do plano ter partido do governo Bush foi encarado apenas como uma obrigação de quem errou tanto em diversos setores da administração. Nem que tivesse maioria no Congresso, Bush conseguiria impor o seu plano, encarado como imediatista à guisa do discurso de catástrofe tão comum nos lábios de quem vive de valorizar e desvalorizar ações contando com a manchetes dos jornais.

Devemos lembrar que o mercado de ações nos EUA é uma tradição de século e meio. Aquele país está acostumado a presenciar corretores se descabelando, porque sabe que na arena das finanças, nem sempre histeria e desespero são sinais de quebradeira.

Fiquei com impressão que o Congresso dos EUA levou isso em consideração, pelo menos num primeiro momento.

Em tempo:

Há tempos atrás se reclamava muito no Brasil do dólar barato demais, que diminuía a retabilidade das exportações. Hoje, abri o jornal e li que praticamente os mesmos grupos de empresas e pessoas que falavam isso, mostram-se "preocupados" com a valorização do dólar. No Brasil, a especulação tem uma cara-de-pau que nem precisa de óleo de peroba!

28 de set. de 2008

PREOCUPANTE

Não sou economista, mas já levantei aqui neste blog, algumas questões que o ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa citou na matéria que você pode ler no DEFESANET:

"O dólar acabou"

Eu não torço por uma crise, muito menos se ela afetar o atual governo, porque o Brasil já elegeu em meio a uma crise severa, um senhor chamado Fernando Collor e deu no que deu.

Mas não custa alertar e lembrar que Carlos Lessa é um petista histórico, gente que estava na gênese do partido do presidente Lula. E ele faz alertas importantes, fugindo da "maris tranquilitatis" dos discursos oficiais.

15 de set. de 2008

CRISE

Essa crise financeira dos EUA é o resultado do excesso de otimismo nos mercados financeiros, porque o negócio de financiamento imobiliário de lá era altamente lucrativo e todas as instituições entraram pesado nele, acreditando na garantia real (o imóvel) que reduziria o risco de perdas.

Uma blogueira me explicou que o cerne da crise é justamente esse. Um indivíduo comprava um imóvel por 500 mil dólares e o dava em garantia. Após certo tempo, paga uma parte da hipoteca, ele refinanciava o saldo e pegava mais dinheiro, o que ele havia pago até então, fechando 500 mil dólares.

A dívida sempre refinanciada se mantinha e o indivíduo, aproveitando a garantia real, comprava carro, viajava e de modo geral consumia. Uma farra de dinheiro fácil com taxas de juros boas, porque, afinal, os bancos achavam ter o imóvel como garantia, e ele dificilmente perderia valor.

Essa história é nebulosa e difícil de explicar até para economistas, de modo que eu escrevo apenas a título de palpite.

Quando o preço do petróleo começou a subir, os americanos sofreram impacto imediato no bolso. E de repente, milhares de pessoas resolveram entregar seus imóveis e diminuir seu endividamento, de modo que as instituições ficaram com milhares de bens com valor nominal alto mas que, pelo excesso de oferta que seguiu, não conseguem ser vendidos sem uma perda considerável.

Pura oferta e procura, mas ninguém previu tantos imóveis postos à venda ao mesmo tempo.

A crise já vinha se arrastando há tempos, mas hoje ela consolidou-se. O 4º maior banco de investimentos dos EUA, o Lehman Brothers, anunciou perdas gigantescas e declarou pedido de concordata que, para um banco, equivale a pedir falência.

Bem, bancos quebrados significam algo como:

a) Diminuição global de crédito;
b) Aumento da taxa de juros pelo mundo afora, porque os governos terão de intervir no sistema financeiro e, portanto, captar dinheiro para financiar a salvação do sistema;
c) Queda generalizada da atividade econômica. Até porque, a economia americana reflete no mundo todo.

Vai chegar ao Brasil?

Claro que vai.

O país efetivamente está mais preparado para enfrentá-la, e há fatores que indicam que, desta vez, a crise não será tão danosa por aqui, tais como:

a) Ela é nos EUA, país cujos títulos da dívida pública sempre foram a táboa de salvação dos investidores internacionais fugídios de economias terceiro-mundistas em crise, como a Rússia ou os da Ásia;

b) Boas reservas em moeda forte;

c) Consumo interno acelerado e cuja tendência é manter-se, porque a demanda estava reprimida há décadas. Isso pode compensar em parte, a perda de investimentos estrangeiros;

d) A economia interna do Brasil, ainda paga as taxas de juros mais pornográficas do mundo. Uma TV de Plasma comprada no hipermercado em 48 prestações cobra uma taxa mensal de no mínimo 5%. Se os juros subirem nos mercados internacionais, o consumidor brasileiro não sentirá tanta diferença, porque ele sempre pagou taxas absurdamente mais altas que o resto da humanidade.

Mas é impossível que uma sociedade exportadora de commodities como a nossa, não sinta o reflexo da desaceleração mundial, ainda mais porque o Estado brasileiro ainda é extremamente deficitário (a gigantesca horda de funcionários em cargos em comissão, milhares inúteis, pode cobrar o seu preço agora) e qualquer mínima perda de receita tributária pode ter consequências que vão além do discurso oficial otimista.

Na primeira crise do petróleo, em 1974, o Brasil optou por manter-se em crescimento acelerado e encarar a crise apostando que ele compensaria os problemas. Não deu certo e isso levou o país a 20 anos de descontrole.

Guardadas as proporções, e considerando os fatores positivos, penso que o Brasil adotará desta vez uma solução menos radical: as taxas de juros continuarão subindo, haverá arroxo de crédito e consumo, mas nada tão radical que cause recessão grave, de tal modo que medidas mais duras só ocorrerão em situações extremas que afetem o país.

É um palpite meu. Mas se em contrário o Brasil resolver acelerar e encarar a crise novamente como fez na década de 70, arrisca ver a vaca ir pro brejo por mais 20 anos.

E escrevo tudo isso desconsiderando um fator que entre nós é sempre preponderante nas decisões econômicas: o custo político.

26 de ago. de 2008

FUNDO SOBERANO

Um Fundo Soberano nada mais é que uma reserva de dinheiro de um país, usado para investimentos produtivos privados dentro ou fora de seu território, algo como uma carteira de ações com dupla função:

a) facilitar negócios interessantes ao país;
b) gerar lucros com destinação específica.

Na prática, economizar recursos públicos em um determinado momento, para depois passar a adquirir participações em empresas e negócios que gerem dividendos, tal qual faz uma instituição financeira, quando capta dinheiro de seus clientes para administrar carteiras de ações.

A diferença é que, quando um país faz isso, atua em escala global e utiliza a lucratividade gerada para funções públicas.

Imaginemos um governo adquirindo milhões em ações de determinada empresa, desde que ela se comprometa a montar uma unidade de produção ou de negócios no seu território.

Ou, ainda, ditos "off-set", que são comuns em operações de venda de produtos bélicos - um país vende uma quantidade "x" de aviões para outro, que por sua vez, comprando-os, recebe investimentos do fundo em igual valor, dentro do seu território.

A Noruega, a China, o Kwait e alguns outros países o têm, usando-o para alavancar sua economia e fazer reservas e como contra-partida, obtendo investimentos estrangeiros.

E a destinação do dinheiro que advém do lucro serve para diversas finalidades, tais como melhorar a infra-estrutura, programas sociais e algo que me chama especial atenção, financiar sua Previdência Social.

A Previdência é um problema global, causado pela diminuição do número de contribuintes. Ela tanto será mais problemática, quanto mais idosa a população do planeta, colocando nessa equação outro problema ainda mais sério: o planeta agüenta o aumento exponencial da população por quanto tempo? Os sistemas previdenciários criados na metade do século XIX, e em funcionamento até hoje, são calcados na contribuição dos ativos, que paga a aposentadoria dos inativos. No Brasil, houve época em que 20 ativos contribuíam para manter um inativo. Hoje, essa proporção é de 4 x 1 e caindo. Portanto, todos os sistemas calcados na contribuição estão fadados a falir, porque a população não crescerá aos níveis do passado e tende a estabilizar e envelhecer, e é nesse momento em que entram os fundos financeiros, porque eles são capazes (em teoria) de gerar recursos advindos de lucratividade para financiar aposentadorias.

Penso que os fundos soberanos acabarão financiando a previdência de muitos países, desde, claro, que bem administrados. Eles seriam a versão estatal dos fundos privados de previdência, compensando, em parte, a perda de receita decorrente da estabilidade dos índices demográficos.

É por essa, e outras razões, que não acho ruim a idéia de criação de um fundo brasileiro. Ele poderia ser utilizado para diminuir o déficit previdenciário, fazendo parte do financiamento do sistema, além, claro, das outras vantagens citadas, como a de ser utilizado para atrair investimentos estrangeiros ou vender produtos brasileiros.

No entanto, é óbvio que é preciso discutir a questão com a sociedade.

Se por um lado é interessante que o governo contingencie parte do orçamento para alavancar um fundo, por outro, me assusta, e muito, que a administração disso ficará nas mãos dos políticos nacionais, sempre instáveis e pouco afeitos a não ceder à tentação de usar os recursos para fazer demagogia eleitoreira.

Um Fundo Soberano é um instrumento absolutamente capitalista, que depende do capitalismo e do seu principal elemento, o lucro, para ter sucesso. Se um governante resolver utilizar seus recursos para fazer política social (e eleitoral) a fundo perdido, se aplicar o dinheiro em investimentos duvidosos (ou superfaturados) de infra-estrutura ou se intervir em sua administração para torná-la mais próxima de seus interesses políticos (nomeando parentes, por exemplo), o sistema pode desabar feito castelo de cartas e o dinheiro pode ir para um ralo ainda mais voraz que o da administração pública comum, porque o mercado de ações, por exemplo, tem surtos de histeria que acabam com fortunas inteiras em dias, sendo que todos os passos dentro dele devem ser muito bem pensados.

Outro aspecto importante é de onde sairão os recursos para formá-lo. O dinheiro de impostos não pode ser utilizado, mesmo com contigenciamento orçamentário, porque são verbas carimbadas, com destinação específica determinada na Constituição e nas Leis do país, operadas via orçamento. Uma das idéias é utilizar-se dos recursos ainda não certos da exploração de petróleo da camada pré-sal, e ainda, partes dos lucros de empresas estatais e retenção de royalties.

Enfim, a idéia é boa, mas a administração é complexa. Acho que não devemos descartar a hipótese, mas ao mesmo tempo, devemos debater o tema com profundidade e principalmente, criar mecanismos de fiscalização.

30 de jul. de 2008

A RODADA DOHA FOI PRO VINAGRE.... E EU COM ISSO?

A Rodada Doha pretende (ou pretendia) conseguir uma diminuição global de tarifas de importação, com vias a ampliar o comércio diminuindo as barreiras alfandegárias e aumentando a possibilidade de todo o planeta ter acesso a bens de consumo e alimentos mais baratos.

Em teoria, uma medida globalizante com boas intenções, embora na prática a coisa não seja bem assim.

O acordo no âmbito da Organização Mundial do Comércio só pode ser obtido mediante consenso, ou seja, a unanimidade dos países em aceitar a regulamentação.

Mas quando expirou o prazo do "fast-track", uma autorização dada ao Poder Executivo americano para que ele celebrasse um eventual acordo na OMC observando certos parâmetros e sem necessidade de nova apreciação pelo Legislativo daquele país, houve quem disse que a Rodada Doha estava encerrada. E isso porque o Congresso norte-americano é extremamente sensível a lobby econômico, especialmente o rural, que nos EUA é organizado e com enorme poder político, até porque trata-se de um país que adota voto distrital.

Portanto, existe um enorme componente de política interno nas negociações da Rodada. Os EUA comprovam isso, ela não trata apenas de comércio global, mas também de interesses paroquiais.

E não se culpe apenas os EUA, porque a situação não é diferente na Europa com seus agricultores extremamente subsidiados (Jean Bovè, o famoso ativista amado pela esquerdofrenia brasileira, que o diga), ou ainda pelos interesses pontuais de países como a China e o Japão, que têm severas restrições ao comércio global de arroz, sem contar a preocupação de outros, como Brasil e Índia, em preservarem seus parques industriais de uma eventual enxurrada de importações que uma liberdade global de comércio poderia causar.

Na verdade, o que se viu em todas as reuniões sobre a Rodada Doha, foi o conjunto dos países industrializados tentando obter a abertura geral dos mercados sem rever os enormes subsídios agrícolas que mantém. Na prática isso significaria que eles, os industrializados, poderiam vender seus manufaturados no mundo inteiro, competindo em condição de igualdade em qualquer mercado mesmo que ele viesse a produzir iguais ou similares. Mas nos produtos agrícolas isso não aconteceria, porque os países que não dão subsídios não teriam como competir dentro dos países industrialiados que são generosos com seus ruralistas.

É um impasse que dificilmente será solucionado.

Em lugares como os EUA e a França, se alguém aventar a diminuição de subsídios agrícolas a confusão está armada. Os ruralistas vão às ruas, os preços dos alimentos disparam e os governos se obrigam a ceder.

E em países como o Brasil, liberalizar o comércio sem que isso fortaleça sua economia agrícola não é algo aconselhável. No nosso caso, com carga tributária alta, nenhum produto manufaturado aqui teria competições de competir com produtos importados que não paguem tarifas alfandegárias. E ao mesmo tempo nossa agricultura não sofreria grande evolução, porque não poderia competir com os subsídios dos países ricos, ela não compensaria uma eventual perda de mercado nos manufaturados.

Na década de 90, países como Brasil, Argentina, Índia e México sofreram uma quebradeira de manufaturas causadas numa "onda" de abertura comercial. Empresas norte-americanas e européias se instalaram na Ásia, e foram copiadas por outras, chinesas, coreanas e japonesas. Contando com as baixas cargas tributárias e mão-de-obra baratíssima, invadiram os mercados de outros países dizendo "competir" quando em verdade, nada mais faziam que aproveitar-se do desespero dos políticos desses lugares em combater surtos inflacionários ou mesmo erros de estratégia em acreditar no comércio sem barreiras, as vezes até imposto por órgãos internacionais como o FMI, como condição de rolagem de empréstimos.

Por outro lado, todos os países sabem que não basta criar regras para flexibilização, porque o mais difícil é fazer com que elas sejam cumpridas. Alguém acredita que a China deixará de fazer dumping criminoso de produtos obtidos com trabalho escravo? Alguém acha que a França deixará mesmo de subsidiar seus agricultores? Será que os EUA não apelarão às armas para manter seus enormes interesses comerciais globais?

Eu acredito que não, razão pela qual só me resta dar risada da decepção demonstrada pelo ministro Celso Amorim ao admitir o fracasso nas negociações. Todos os países mandaram representantes à Genebra sabendo que a reunião não resolveria coisa alguma, até porque é impossível compatibilizar tantos interesses locais em uma legislação supra-nacional dependente de chancela de parlamentos do mundo todo e que ninguém sabe se será observada.

Sem contar que o Brasil não é o país mais indicado para tratar de livre comércio, pois não o pratica nem internamente. Se verificarmos bem o que acontece por aqui, a reforma tributária não sai porque nenhum estado pretende perder receita no comércio interestadual e a União não vê com bons olhos a possibilidade de compensar um ou outro estado se isso acontecer. A guerra fiscal praticada dentro do Brasil, entre estados e municípios, não é diferente da que existe entre os países no âmbito da OMC.

Enfim, se a Rodada Doha já era ou foi pro vinagre, pouco efeito isso causa. Só fico me perguntando para que lamentar por algo que não tem a menor chance de dar certo.

30 de abr. de 2008

O DRAGÃO PÔS O FOCINHO FORA DA TOCA

Já há sinais de uma crise mundial. O aumento exponencial do preço do petróleo, causado pela política externa equivocada do governo de George W.Bush, pela ganância de populistas como Hugo Chaves, pelo "boom" econômico da China e pelo enfraquecimento global do dólar americano, levou ao aumento de preço dos alimentos (não se culpe o etanol brasileiro por isso, é mentira!) e arroxou as economias mais pobres.

O primeiro país a sentir essa crise foi justamente os EUA, basicamente porque os americanos são as pessoas mais endividadas do planeta, e as que mais consomem alimentos e combustíveis.

E no rastro da crise, os brasileiros podem se reencontrar com uma velha conhecida, a inflação.

Para combater a inflação, taxas básicas de juros do Brasil estiveram (e ainda estão) sempre entre as maiores do mundo nos últimos 30 anos.

E a carga tributária pulou de 22% do PIB em 1985, para os 36,8% atuais, considerando que dependendo da forma de cálculo, ultrapassa 40%.

Pior que isso, aposentadorias da iniciativa privada sofreram achatamentos nem sempre por meio de leis constitucionais, sem contar que os serviços do Estado foram negligenciados, porque a classe política negou-se a mexer nos privilégios de certas áreas do funcionalismo público que se aposentam ganhando mais que na ativa, num contexto em que o déficit previdenciário cresce todos os anos por culpa apenas e tão somente do setor público.

O resultado foi, de um lado, uma retração econômica causada pela perda de poder aquisitivo do setor privado, e de outro, o caos administrativo, pois em certas áreas do serviço público não houve reposição de funcionários que se aposentavam, o que prejudicou muitas atividades vitais ao Estado e à cidadania.

Mas após uma série de governos arbitrários e doses cavalares de remédios tortuosos, ineficientes e cruéis que incluíram inclusive refazer a Constituição de 1988 retirando-lhe todas as bondades para com a população, a inflação foi domada, e isso causou um enorme impacto positivo nas contas públicas e mesmo na vida dos cidadãos comuns, porque uma moeda estável é garantia de menos pobreza, ainda mais quando essa pobreza aumentou pelo arroxo no combate ao próprio vilão.

A questão primordial, porém, é que esse processo deixou claro que o verdadeiros vilões da inflação brasileira são um Estado ineficiente que gasta demais e uma classe política que, por ter excessivas relações (e na maior parte das vezes, corruptas) com esse mesmo Estado, resiste em reformá-lo, porque isso representa a perda de privilégios.

Escrevo tudo isso porque é visível a preocupação do governo brasileiro e das autoridades monetárias em relação à inflação.

Sabe-se que nossas contas públicas não estão exatamente sob controle, de tal modo que é sombria a perspectiva, mesmo que remota, de um processo de inflação conjugado com estagnação econômica. Seria algo catastrófico não apenas em termos econômicos, mas também em termos políticos para um governo que navega em águas calmas, mas que não tem certeza se terá um candidato forte para suceder seu carismático presidente.

A partir disso o IOF subiu no início do ano não apenas para repor a CPMF, mas também para conter o crédito e consequentemente o consumo. Na semana retrasada o COPOM aumentou a taxa básica de juro e nesta semana, a Petrobrás analisa a efetiva possibilidade de aumentar o preço dos combustíveis, isso com o aval do Presidente da República, que declarou que não pratica correção desses valores desde 2005 ao mesmo tempo em que divulga em eventos pelo país, sua preocupação com a volta da inflação.

A gênese dessa volta estaria no impacto global do preço do petróleo, que influencia todos os preços no planeta. Mas a perspectiva de aumentar sequencialmente a taxa de juros e forçar o Tesouro Nacional a arcar com bilhões de reais para honrá-la, isso com um Estado ainda inchado, problemático e ineficiente, é o que basta para o governo deixar de lado o discurso de que o Brasil está alheio à crise internacional.

É o que eu já escrevi antes aqui. O "sub-prime" brasileiro pode ter 4 rodas, porque pode acontecer de nossos bancos ficarem com milhões de veículos sub-valorizados em financiamentos não pagos. E se isso acontecer, a pressão sobre as contas públicas, causada pela queda da receita tributária e mesmo pelo aumento da despesa pública na demanda por programas como o bolsa família, além do pagamento de juros adicionais, pode ser desastrosa do ponto de vista da estabilidade da moeda e dos índices inflacionários.

Na dúvida, é melhor cutucar o dragão desde já, para que não saia da toca.


PS: A imagem é do www.aguiareal.com.br

6 de jan. de 2008

PÉ NO FREIO?


Certa feita, o presidente Lula afirmou que o Brasil não tem pressa em alcançar índices maiores de crescimento econômico.

Penso que na época ele foi mal interpretado porque, por motivos eleitorais, usou as palavras erradas.

O que eu entendi foi uma sinalização no sentido de que o Brasil não teria condições fiscais, infra-estrutura e parque industrial para manter um crescimento contínuo em índices chineses (8% a 10%), de um tal modo que, para evitar um surto inflacionário, as autoridades monetárias trataram de manter os juros em patamares altos, contendo o crescimento do PIB em percentuais entre 3 e 5%.

Quando o presidente fez aquela declaração, eu imediatamente lembrei das aulas de Economia Política na faculdade, quando se dizia abertamente que o crescimento do PIB não compensava o aumento da população brasileira.

Com efeito, na década de 80 (chamada de "década perdida") a população crescia em torno de 3,5% ao ano ou mais. Naquela década, o crescimento médio do PIB foi de 3%.

Daí veio a década de 90, quando o crescimento populacional ficou entre 2,5 e 2,8%, mas o crescimento médio do PIB foi de 1,46% (Chamar como? Década Catastrófica?).

Ou seja, o Brasil entrou no século XXI com a obrigação de compensar décadas de crescimento populacional maior que o econômico, que acumularam demandas sociais e taxas de desemprego que mesmo com o crescimento médio de 3,4% desde 2000 não sofreram grandes baixas. A diferença é que a taxa de crescimento demográfico desta década está em torno de 2,2%, o que explica a melhoria contínua, embora tímida, de índices econômicos em todas as áreas de estudos, mas ainda não suficiente para compensar os desastres passados.

Quando o presidente deu aquela declaração, fiquei com a impressão que o governo joga com uma conta simples: se o crescimento do PIB for sempre maior que o da população, haverá compensação gradual dos problemas acumulados no passado, o que poderia ser chamado de crescimento sustentável por aliviar as demandas sociais de um lado e pelo outro, impedir surtos inflacionários que ponham tudo a perder. Talvez seja por isso que os juros caiam em ritmo lento.

A taxa básica de juros no Brasil ainda é das mais altas do mundo de tal modo que o país não pode se dar ao luxo de ceder a pressões inflacionárias. Por outro lado, se a taxa de juros não baixar gradualmente, corremos o risco de um surto inflacionario por aumento excessivo da demanda.

O que eu entendi dessa discussão toda é que o Brasil só poderá pensar em índices de crescimento chineses e o consequente risco de inflação em que eles implicam mediante certas condições, uma delas, ter uma taxa de juros em patamares internacionais de tal modo que seu aumento contenha a inflação e ao mesmo tempo não cause um ônus demasiado às contas públicas, o que não é possivel hoje.

Mediante contas simplistas de um não-economista, e em vista dos números do PIB divulgados pelo IBGE e publicados na internet, apurei que no governo Figueiredo o crescimento médio do PIB foi de 1,66%. No de Sarney (pasme!), 4,38%, o que explica em parte os índices de inflação da época, mistos de um Estado dramaticamente deficitário com grande demanda por produtos e serviços. Collor, (-)2,28%. Itamar, 5,38%. FHC, 2,45% e Lula 3,70%.

Vale lembrar que a política econômica sofreu continuidade entre 1992 e 2007, calcada em combate à inflação e ajuste fiscal por meio de carga tributária (que é aumento de alíquotas mais eficiência de arrecadação) e que possibilitou ao atual governo mostrar bons índices em todas as áreas, até porque foi feliz em receber uma situação internacional muito favorável.

Daí leio no Estadão de hoje uma especulação sobre o intuito do governo em aumentar o IOF não só para compensar parte da perda da CPMF, mas também para conter o consumo e evitar qualquer movimento no sentido de aumentar os juros.

Talvez seja uma espécie de freio ao crescimento econômico. Mantê-lo na faixa de 4,5 a 5%, dando tempo para o setor de infra-estrutura respirar e mesmo para o parque industrial aumentar sua capacidade antes que a demanda crie pressão inflacionária e haja necessidade de aumentar os juros. E ao mesmo tempo, diminuindo o passivo histórico de exclusão social. Cumpre lembrar que esse passivo é de séculos, não só das décadas de 80 e 90, cujos números usei para esta explicação em vista das décadas de 60 e 70 terem tido números ótimos.

O que quero dizer com tudo isso?

A política econômica iniciada em 1992 não mudou. Ela tem sido de recuperação gradual das contas públicas e contenção de demanda que evite inflação. E se assim é, fico aqui especulando se não haveria, em 2008, um aumento do IOF mesmo com a aprovação da CPMF. Ele teria o condão de desacelerar a demanda apenas para manter o crescimento econômico em índices pré-determinados por mais tempo.

Outro sinal nesse sentido, foi uma discussão havida dias atrás, acerca do IPI sobre carros populares. Há no governo quem discuta se a alíquota de 7% deve se aplicar para veículos 1.0 cheios de acessórios. Em outras palavras, outra discussão no sentido de conter demanda.

Não chego a conclusão nenhuma, deixo a discussão em aberto, lembrando que nela há, ainda, muitas variáveis, tais como a quantidade de gastos do setor público especialmente no atual governo ou ainda os saldos comerciais externos, o enfraquecimento do dólar, etc...

Gostaria da opinião do leitor, principalmente dos economistas.

19 de nov. de 2007

A SOBERBA...DO COXA E DO BRASIL

Acho que o "já ganhou" é parte da cultura nacional. Aqui em Curitiba, meu time foi jogar para 43 mil Coxas-Brancas precisando de uma vitória para ser campeão da Série B, por ter 5 pontos de diferença pro segundo colocado. Perdeu e agora deverá perder o título pro Ipatinga, porque dificilmente vencerá o rebaixado Santa Cruz lá no Recife.

Mas o assunto desta nota não é exatamente o Coxa.

Semana retrasada a Petrobrás anunciou a existência de campos petrolíferos de águas profundas com potencial de transformar o Brasil num exportador de petróleo. O presidente Lula fez um chiste, uma piada, nada mais que um comentário jocoso acerca do país entrar para a OPEP e o tradicional clima de "oba-oba" tomou conta do país.

De repente o Brasil virou exportador de petróleo, vai entrar para a OPEP e fazer parte daqueles países que usam a commoditie para arrancar benesses dos EUA e fazer política rasteira como a da Venezuela. A parte da imprensa favorável ao governo age como se o petróleo não estivesse lá antes de 2003 e a parte desfavorável, alerta que a bonança petrolífera vai prejudicar o programa de bio-combustíveis, já tratando como certo, o que é potencial.

Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. A existência de campos petrolíferos em águas profundas, com necessidade de perfurações de até 7 mil metros é um desafio tecnológico muito mais que extrativo, e demandará ainda pelo menos 5 anos de trabalho para que o Brasil sonhe em virar "player" internacional na área, se bem que são uma espécie de reserva de estabilidade para o país, porque fortalecem potencialmente as contas públicas. Ou seja, não é o paraíso, mas não deixa de ser bom para o país.

Mas o "oba-oba" contagiou até a imprensa do exterior, como o New York Times.

Esse "oba-oba", parte da cultura brasileira de se esforçar pouco e gargantear muito tem resultados mais visíveis no esporte. Seleções de futebol que dão fiascos e atletas olímpicos com ouro certo, mas derrotados nas quadras. Mas tem resultados também nas áreas da política e da economia.

Na ansia de se achar a nova potência global em meados da década de 70, o "país do futuro" não atentou para a crise do petróleo e entrou os anos 80 endividado, com um Estado gigante e falido e uma economia que não era nem dirigida pelos governos, nem administrada pela iniciativa privada. O "oba-oba" custou caro, achávamos que virar país desenvolvido era fácil, bastava querer e nem precisava atentar para a crise fiscal e adnministrativa do Estado, que perdura até hoje, se bem que em menor grau.

Em 1985, veio o "Plano Cruzado" e o Brasil entrou novamente na onda. Preços congelados e salários aumentados, a irresponsabilidade e o "já ganhou" tomaram conta do país. O PMDB com o discurso de que acabou com a inflação, venceu as eleições em 25 estados e o povão saiu às compras e se endividou até o osso, causando o ágio e uma quebradeira generalizada tempos depois, quando o próprio PMDD tratou de arrebentar o povão para salvar seus governadores ruins, o que pôs o país nas garras do FMI.

E hoje a euforia é a mesma. A bonança econômica dos anos Lula, carreada pelo micro-crédito e por programas sociais abrangentes em conjunto com a estabilidade monetária conquistada no governo FHC passam a idéia geral de que o Brasil já é uma superpotência e agora, também um exportador de petróleo, se bem que da boca do presidente Lula, repito, o que saiu foi uma brincadeira, porque ele nunca declarou que o país agora é a Arábia Saudita das américas.

Só que as contas públicas continuam desajustadas e tanto é assim, que o governo não consegue abrir mão de um imposto provisório como a CPMF.

Ora, política tributária funciona da seguinte maneira em qualquer país sério: Tempo de bonança, menos impostos. Tempo de crise, mais impostos. Mas no Brasil a receita é sempre de mais impostos, por mais que isso mate a galinha dos ovos de ouro, o povão que os paga.

Com esse desajuste das contas públicas, com essa carga tributária destrutiva e com o altíssimo nível de endividamento da população brasileira, uma crise fiscal vinda de qualquer canto do mundo que nos afete, pode ter efeitos desastrosos, e daí, o "já ganhou" cobrará sua conta novamente.

É óbvio que ninguém quer crise econômica, eu não torço por isso. Pelo contrário, tomara que essa bonança dure por anos e anos, mas a realidade da economia não é essa, ela pode mudar de momento para outro e do jeito que as coisas se apresentam no Brasil, não sei se o Estado, os políticos e a população estão prontos para enfrentá-la, justamente porque esse clima de tudo ok, onde já se discute inclusive a sucessão do atual presidente, dá a impressão de um descolamento da realidade. Vivemos num mundo ideal, vencemos, não há mais nada que nos prejudique! Será?

Seria melhor ao Brasil ter mais desconfiança sobre tudo e festejar algo só depois de consumada a alegria, senão arrisca dar vexame igual ao do Coritiba Foot Ball Club.

13 de nov. de 2007

MAIS SOBRE BUROCRACIA

Coincidindo com minha matéria da semana passada, esta saiu ontem no Financial Times:

"...no Brasil 'complicadas barreiras burocráticas e algumas das regras tributárias mais punitivas do mundo tornam a vida difícil para os possíveis empreendedores'.
O jornal cita um estudo que diz que para abrir uma empresa no Brasil é necessário preencher 18 formulários diferentes e esperar em média 152 dias, enquanto nos Estados Unidos o processo leva seis dias e exige o preenchimento de seis formulários..."

Você pode conferir no Portal Terra/Invertia, aqui.

20 de ago. de 2007

NÃO CHEGOU, NEM VAI CHEGAR ATÉ PORQUE NUNCA FOI EMBORA...

Me perguntam sobre essa crise nas bolsas internacionais. Na verdade, não entendo quase nada de economia mas, me desculpem os especialistas, sou da opinião que essa crise não chega à economia real do Brasil, como, aliás, as crises externas anteriores tiveram pouco efeito prático também.

Explico. Quando ocorreu aquele estouro de bolha das pontocom (ou foi a da Rússia?), o governo FHC estava em campanha pela reeleição e a crise da dívida só aconteceu porque se manteve a paridade real-dólar de modo artificial e isso torrou as reservas financeiras do país, que foi alvo do maior ataque especulativo da história com o aval do Banco Central da época. O fato é que FHC não queria se arriscar a perder eleitores descontentes em não poder comprar bugigangas chinesas nas lojas de 1,99 e ver um índice de inflação alto entre julho e novembro daquele ano. Daí,torrou as reservas para garantir sua estadia no Planalto e depois foi de pires na mão pedir "peloamordeDeus" pro FMI.

Se o governo da época fosse responsável e tivesse liberado o câmbio, o Brasil teria passado por uma crise inflacionária temporária e limitada e as coisas se ajeitariam, como se ajeitaram logo depois, quando, reeleito, o governo fez o que tinha que fazer. Em 2002 houve um repique da crise e o dólar chegou a R$ 4 porque os investidores não queriam Lula, mas tão logo este assumiu, a situação voltou a ser exatamente a que existia antes, porque o país tem honrado seus compromissos e acumulado reservas desde o início da década de 90. Em outras palavras, a aventura reeleitoral custou ao país uns dois anos de normalidade.

Fora isso, noto que o mercado creditício no Brasil está aquecido por conta da venda de carros e eletrodomésticos. O crédito imobiliário brasileiro é uma verdadeira piada que sujeita suas vítimas a taxas de correção superiores à inflação, tabelas price e o diabo a quatro. Por isso, quem tem dinheiro para comprar imóvel, geralmente o faz a vista e, quem não tem, assume o ônus da precariedade documental e de construir aos pouquinhos (o leitor vá a qualquer bairro pobre de qualquer cidade e conte a quantidade de lojas de materiais de construção, para constatar isso).

O problema americano está no mercado de hipotecas, coisa que não existe aqui. E mais que isso, crédito de automóvel e eletrodomésticos é altamente seguro, porque o carro garante a conta e porque eletrodoméstico se paga em prazo curto, mesmo com inadimplência, sem contar que, neste caso, os valores não são altos. Portanto, pelo menos eu penso assim, o risco para o mercado de crédito no Brasil é baixíssimo, até porque os bancos daqui são altamente lucrativos mesmo praticando as taxas de juros mais altas do planeta. Por outro lado, dizer que a crise externa ameaça as exportações é bobagem, porque elas representam pouquíssimo da economia do país, como aliás, pouquíssimo representam as bolsas de valores num país acostumado a não poupar absolutamente nada e onde a maioria das empresas com ações valorizadas é do governo ou trabalham para ele. Se afetar em algo, o efeito não será assim tão desastroso.

Agora, crise o Brasil vive uma só desde que me conheço por gente. Se assim não fosse, o orçamento da União não estaria eternamente contingenciado para fazer superávit primário de 4,75% do PIB. Se assim não fosse, o índice de desemprego teria caído drasticamente nos últimos anos de "bonança", mas isso não aconteceu, ele se manteve nos mesmos patamares, com pouquíssima variação para baixo. Se assim não fosse, o governo não moveria céus e terras para aprovar a renovação da CPMF e aumentar impostos por meio do Super Simples e outras medidas. Se assim não fosse, o índice de crescimento do PIB estaria nos patamares dos demais países emergentes e, óbvio, não está.

Pode haver muita safadeza política no Brasil, mas tem coisas que só acontecem porque a crise econômica aqui é perene, por mais que governos afirmem estar tudo 100%. O Brasil está sempre em crise porque sua classe política não reforma o Estado que é gigantesco e ineficiente. Se acontecer um cataclisma externo, o máximo que aconteceria ao Brasil é voltar ao crescimento econômico de 3% do PIB, ou seja, exatamente a média dos últimos 40 anos. Isso, pelo menos para mim, não seria crise, mas a normalidade que FHC nos roubou em 1998 e que o excepcional cenário externo tratou de atenuar desde 2003.

Daí, acho que esta crise que tanto se comenta não chegou, nem chegará... porque a verdadeira crise nunca foi embora.

CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.

No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar ...