20 de mai. de 2010

O QUADRO POLÍTICO NÃO MUDOU

Não sei porque a surpresa em torno dos números de pesquisas eleitorais nos últimos dias. Eu venho dizendo aqui no blog há pelo menos um ano e meio, que quando Dilma Roussef entrasse na campanha, viraria favorita na disputa por contar com o presidente ao seu lado.(Leia: 1, 2, 3, 4, 5, 6)

Aliás, se o presidente quisesse colocar Severino Cavalcanti como candidato à sua sucessão, no mínimo conseguiria levá-lo para o segundo turno, sua popularidade é grande e mesmo que transfira apenas 30% dos seus votos, ainda assim seria suficiente para isto.

Absolutamente nada mudou no quadro político brasileiro.

Seria ingenuidade demais da oposição achar que o governo não trabalharia para vencer sua sucessão e não atrelaria a imagem do seu (ou sua) candidato(a) à do presidente.

Eu pelo menos já imaginava Dilma Roussef entrando na campanha com favorita e isso me leva à outra constatação: a campanha de 2010 será suja, cheia de ataques pessoais e denúncias, mas desta vez com os atores invertidos, o PSDB jogando pedras o PT tentando evitá-las.

Seria uma repetição das batalhas midiáticas havidas em 1989 e 1994, já que as campanhas de 1998, 2002 e 2006 foram mornas, na exata medida em que seu resultado era previsível: existia um favorito disparado, FHC em 98 e Lula em 2002 e 2006 e um governo altamente desgastado, FHC em 2002 ou governos muito bem avaliados, FHC em 1998, Lula em 2006.

Em 1998, FHC reelegeu-se em primeiro turno porque soube imputar ao PT e a Lula a pecha de "anti-Plano Real" (e o PT foi contra o Plano Real mesmo!). Em 2010, o PT tentará imputar a Serra a pecha de "anti-Bolsa Família" única chance de liquidar a fatura no primeiro turno.

Os números das pesquisas agora são reais, são números de campanha que já consideram um quadro estável: Dilma, Serra e Marina Silva são os candidatos principais, mas apenas os dois primeiros têm chances de vitória (e Dilma, favorita), que será suada, duvido que algum deles dispare mais de 6 pontos percentuais à frente do outro.

Marina Silva, por sua vez, atrapalha Serra, rouba-lhe votos de pessoas de esquerda descontentes com o PT, mas que migrarão em maioria para Dilma em um segundo turno.

Não será a barbada sonhada pelos tucanos mais otimistas há 3 meses, nem a festa em torno a popularidade do presidente Lula, imaginada pelos petistas. Será uma eleição parelha.

19 de mai. de 2010

FICHAS SUJAS: O LOBBY PRECISA CONTINUAR!

Sou da opinião que essa lei aprovada hoje pelo Senado é redundante, porque se o Brasil fosse efetivamente um país sério, fichas sujas já estariam banidos de nosso sistema político há muito tempo sem necessidade de enumerar exatamente as situações em que eles podem perder a chance de conseguir uma generosa"teta" pública.

Não considero a regra do artigo 5o., LVII, aquela que diz que ninguém é considerado culpado antes do trânsito em julgado da sentença, como de interpretação literal.

Existe uma diferença sensível entre o culpado citado na norma e o processado por um determinado delito.

O culpado receberá o apenamento legal (a prisão, a multa, a cominação alternativa) que só é possível com o trânsito em julgado.

Mas restrições à vida civil de uma pessoa acontecem desde a aceitação da denúncia ou às vezes, desde que alguém foi à delegacia dar queixa de alguma coisa contra ela. Acontece coisa parecida quando você atrasa um imposto - pode até discutir e eximir-se da culpa que implica em multa (que é uma pena), mas enquanto não chegar a esse ponto, fica com o nome inscrito e um cadastro de inadimplentes, perdendo o direito às certidões negativas, com restrições à sua vida civil.

O processado não pode ausentar-se da comarca sem informar ao juízo. Ele também passa a constar de certidões positivas de distribuição, usadas para os mais variados fins, como a procura de emprego e o exercício profissional.

Ou seja, se alguém tem uma distribuição anotada, terá no mínimo que explicá-la se estiver se candidatar-se a um emprego ou trabalho, isso se a parte que levantar a restrição quiser ouvi-lo!

Mas um candidato à eleição pode apresentar uma ficha mais suja que pau de galinheiro mas sempre haverá um juiz ou um tribunal disposto a deferir-lhe uma liminar com velocidade impressionante!

Veja a diferença: se o pobre mortal que chegou às vias de fato com o vizinho arruaceiro e acabou processado resolver fazer concurso, provavelmente será humilhado, porque é provável que o órgão público não vá aceitar sua inscrição ou contratação ou, no mínimo, pedirá explicações que podem ou não ser aceitas. E se insistir e ir ao Judiciário, vai penar com falta de celeridade e eventualmente contentar-se com a sorte de ter seu pedido de liminar analisado dias ou horas antes do certame ou da data final, porque o Judiciário não é benevolente com o cidadão comum, como é com um ficha encracada que pretende ser vereador, prefeito, deputado, senador, governador ou presidente, de quem não se pedem explicações por suas certidões positivas, desde que não haja sentença definitiva.

São dois pesos e duas medidas: o processado pode não conseguir um emprego de gari, mas é capaz de eleger-se senador!

Ademais, o Judiciário brasileiro tem um histórico vergonhoso de leniência com as más práticas políticas.

Políticos que terminaram seus mandatos na base de sucessivas liminares conseguidas com velocidade e facilidade impressionantes. Gente condenada por roubar dinheiro público, que usou do mesmo dinheiro para eleger o filho ou a esposa e continuar nas práticas delituosas por procuração, sem que se tenha conseguido um bloqueio liminar de bens para assegurar uma execução para devolução do dinheiro ao erário. Julgamentos lentos, pedidos de vistas sem argumentações complementares, aceitação de recursos redundantes e já decididos, tudo é possivel quando o assunto envolve eleições, é fácil constatar isso, basta olhar o noticiário e acompanhar alguns casos nos tribunais eleitorais.

Que a Lei sobre os fichas sujas é um avanço extraordinário se for aplicada, eu concordo. Aplaudo a opinião pública e o movimento cívico que conseguiu o que se pensava impossivel - uma votação no Congresso, em que parlamentares votaram contra seus próprios interesses.

Mas não consigo dissociar a aplicação da Lei da interpretação do Judiciário, historicamente ruim quando se trata de moralizar as práticas políticas. Nada impede que juízes defiram candidaturas medonhas de sujas alegando as mesmas inconstitucionalidades alegadas hoje em dia.

Ou seja, acabou o "lobby" cívico no Congresso Nacional. No momento em que o presidente sancionar a Lei, o movimento pela ética na política deverá voltar suas atenções ao Supremo Tribunal Federal e se possível impetrando Ação Declaratória de Constitucionalidade no dia seguinte à sanção.

Se assim nao for, corremos o risco de manter tudo do mesmo jeito.

11 de mai. de 2010

OS ACERTOS DO DUNGA


Desde que acompanho as copas do mundo é sempre a mesma coisa. Após a convocação final o técnico da seleção é chamado de burro e criticado por não levar para o evento algum jogador da preferência da imprensa paulista e/ou carioca.

E Dunga entrou pro mesmo time de vilões nacionais do qual fazem parte figuras vencedoras como Zagallo, Carlos Alberto Parreira, Felipão e Telê Santana. Neste ano, o a chiadeira se deu por conta da dupla Neymar e Ganso do Santos e de Ronaldinho Gaúcho que joga no Milan.

A seleção brasileira é a primeira experîência de Dunga como técnico, é verdade. Mas parece que todo mundo esqueceu que ele foi capitão de todas as equipes em que jogou antes de aposentar a braçadeira, de modo que era ele quem às organizava dentro de campo mediante as determinações de seus técnicos. Ou seja, ele entende, sim, de tática, de posicionamento e de disciplina e tem plenas condições de montar uma equipe vencedora.

E por isso foi campeão da Copa América numa final contra a Argentina, campeão da Copa das Confederações e campeão da Eliminatórias (quando venceu duas vezes a seleção argentina). Será que ele é mesmo tão ruim e inexperiente quando estão falando?

Não, não é! Nas últimas 5 partidas das Eliminatórias, a seleção brasileira jogou de modo brilhante um futebol moderno, pragmático. Sem as firulas de Ronaldinho Gaúcho mas com a alta capacidade de Kaká. Sem a explosão de Ronado Fenômeno, mas com a presença de Luis Fabiano. Dunga não cedeu às tentações de fazer dezenas de experiências que só beneficiariam empresários loucos para ter pupilos se apresentando com a camisa amarela e valorizando seus passes. Testou quem tinha que testar (inclusive Ronaldinho Gaúcho) e chegou a um time base bem definido. Mandou pro chuveiro quem não agiu com o espírito de disciplina, doação e garra que se exige de uma seleção brasileira.

Essa campanha sórdida que vimos nos últimos meses tentando impor a convocação Ronaldinho Gaúcho, Neymar e Ganso foi injusta com Dunga e com os jogadores da base de sua seleção, que venceram os torneios que citei.

Ronaldinho Gaúcho já provou que é craque e já foi campeão mundial. Mas em 2006 ele simplesmente não jogou nada e foi um dos artífices do clima de "oba-oba" que Carlos Alberto Parreira não conseguiu controlar. Por mais que seu futebol seja brilhante, já está provado que ele não precisa mais da camisa amarela, ele já está na história, mais uma copa pouco lhe acrescenta ao currículo.

Neymar e Ganso, por sua vez, são inexperientes e os "shows" que patrocinaram no Santos não são base para auferir toda a sua capacidade. Em 2010, o Santos enfrentou São Paulo e Corinthians despreocupados no campeonato paulista e o Palmeiras em crise técnica. As "provas de fogo" dos "meninos da vila" este ano, foram o jogo final do paulistão contra o Santo André e os embates contra o Atlético Mineiro. Pouco para se auferir a capacidade dos garotos em enfrentar uma Copa do Mundo. Ademais são jovens e com 3 ou 4 Copas do Mundo pela frente.

Portanto, Dunga está certo. Ele convocou os jogadores que se encaixam melhor na sua filosofia de trabalho e não deu bola para o besteirol de repórteres, comentaristas e locutores. Talvez seja campeão, talvez não, mas acredito que fará uma grande campanha, lembrando sempre que seleções brilhantes como o Brasil em 82, Hungria em 54 e Holanda em 74 e 78 não foram campeãs.

Ser campeão em Copa do Mundo é detalhe, mas que eu lembre, sempre que o Brasil aderiu ao "oba-oba" voltou de mãos abanando...

5 de mai. de 2010

A CRISE DO FUTEBOL


Em meio às finais das copas e campeonatos europeus, dos grandes jogos eliminatórios da Libertadores e da Copa do Brasil e da expectativa em torno da Copa da África, pouca gente percebe a crise que vem tomando conta gradual do esporte mais popular do planeta.

Os seus custos estão cada vez maiores.

Os salários são inflacionados por empresários de um lado e pela má gestão financeira dos clubes do outro. Clubes pequenos mantém em suas folhas de pagamento jogadores que em início de carreira ganham mais que profissionais de nível superior em vias de aposentadoria, cedendo à pressão de empresários, de modo que não conseguem a manutenção dos atletas, tampouco o ganho na sua negociação.

Banalizou-se o termo "craque" para facilitar o recebimento de comissões sobre o passe de atletas que, as vezes adquiridos por alguma grande força, sequer são utilizados. O exemplo de Keirrison, jogador formado no Coritiba, que foi levado ao Palmeiras sem deixar um centavo no clube paranaense e depois vendido para o Barcelona com compensação mínima ao clube paulista, e logo depois emprestado ao Benfica e depois, à Fiorentina. O Barcelona pagou 30 milhões de reais por um jogador que nao vestiu, como provavelmente jamais vestirá sua camisa.

Sob outro aspecto, a pressão da FIFA e da UEFA na adequação de estádios a cadernos draconianos de encargos que são inviáveis na maioria das cidades do mundo. Clubes que obrigam-se a gastos extraordinários para jogar torneios nacionais e internacionais, gastos estes nem sempre ligados à segurança dos torcedores, mas apenas aos critérios vagos de funcionalidade imposto pelas entidades.

E a partir disto, se constatam alguns fatos que levam pouco destaque na mídia, mas são relevantes para demonstrar que a escalada de custos está afetando o esporte:

a) Um movimento grevista na riquíssima Liga Espanhola. Muitos jogadores do país reclamando dos atrasos sistemáticos de salários por times das principais divisões do país. Leia aqui;

b) Leia aqui, sobre a crise dos grandes clubes do futebol argentino. Boca Juniors e River Plate em meio a risco de rebaixamento por conta da necessidade imperiosa de desfazer-se de bons jogadores que vão para a Europa;

c) O rebaixamento, na última década, de grandes clubes brasileiros, como o Corinthians, O Vasco da Gama, o Fluminense, o Botafogo e o Palmeiras, constatando-se em todos eles situações semelhantes: grandes dívidas mal administradas, atrasos salariais, contratações equivocadas;

d) Dificuldades financeiras num dos maiores clubes do mundo, o AC Milan da Itália, que você pode ler aqui;

e) Hoje, no jornal A Tribuna do Paraná uma extensa matéria sobre a derrocada financeira do Paraná Clube, um dos mais vitoriosos do estado, cujo patrimônio imobiliário era o maior o hemisfério sul na sua fundação em 1989, fruto da fusão de dois clubes tradicionais de Curitiba, o Colorado e o Pinheiros.

Está se aceitando uma idéia errada de que os títulos e as glórias do futebol devem ficar concentrados em grandes clubes que por sua vez, deterão sempre o poder financeiro. A divisão do bolo das verbas de TV no mundo todo tem privilegiado os clubes mais tradicionais de cada país, sem que isso diminua o custos dos clubes médios e pequenos que estão em rota de extinção, porque se endividam para fazer frente à clubes contra os quais não tem chances, pois a maioria dos torneios nacionais hoje é vencida ora por um, ora por outro de dois ou três grandes detentores de verbas, e só!

Enquanto Real Madrid, Barcelona, Manchester Unidet, Arsenal, Chelsea, Milan, Internazionale, Juventus, Flamengo, Corinthians, Boca Juniors e River Plate concentram as verbas de TV e não necessariamente apresentam saúde financeira (Milan, Boca e River demonstram isso), impõem prejuízos aos pequenos e médios clubes que são alijados da disputa por títulos vendo suas revelações contrabandeadas para dar lucro a empresários.

Um círculo vicioso que está destruindo o futebol regional. Quantos clubes tradicionais do Brasil disputam com dificuldade ou não disputam mais nem os torneios de seus estados para vencer? Vejam a lista: CSA-AL, CRB-AL, ABC-RN, América-RN, América-RJ, Juventus-SP, Juventude-RS, Operário-MT, Ferrovário-CE, Criciuma-SC, Joinvile-SC, etc...

As liga esportivas americanas já descobriram há décadas que é financeiramente suicida que se concentrem os títulos e receitas em apenas um clube ou franquia. Lá as negociações de atletas são limitadas, existindo um critério de escolha deles que favorece os clubes com colocações piores nos torneios, para equilibrar as disputas, e as verbas de TV e marketing são divididas de modo muito mais equilibrado como forma de valorizar os espetáculos.

Se o futebol não descobrir um caminho como o americano, ou vai acabar ou forçará a criação de uma liga mundial de clubes, uma Fórmula 1 do futebol com custos astronômicos, que será proibitiva para pessoas comuns assistirem todos os domingos. Fico imaginando se isso será bom ou ruim para o esporte, não consigo ver aspectos positivos.

3 de mai. de 2010

A ENROLAÇÃO DA COPA 2014

Eu vou escrever sobre isto e continuar incomodando, por mais que pareça chato ou radical.

Estamos em 3 de maio de 2010, o Brasil foi oficialmente escolhido em 2007 pra sediar a Copa de 2014, sendo que sabia desde 2006 que, na disputa pelo direito de sediar o evento, não teria concorrentes.

Ou seja, as autoridades brasileiras, os clubes proprietários de estádios, as prefeituras das principais cidades (Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre) já sabiam desde 2006 que teriam pela frente o desafio de fazer obras de mobilidade urbana e estádios.

O Brasil está enrolando a FIFA há 4 anos!

E os políticos brasileiros e os empreiteiros que os apóiam esfregam as mãos, sabendo que quanto mais atraso houver, mais provável que as obras corram com dispensa de licitação e sem limitação de custos, o que vai enriquecer corruptos de todos os matizes e legar dívidas astronômicas para o país, além das já tradicionais faltas de saúde, de educação e segurança pública.

No mês passado, as chuvas deslindaram o caos decorrente da falta de política habitacional e da burocracia insana do país, e também da irresponsabilidade dos políticos brasileiros. CENTENAS de mortos cujas famílias são gozadas por políticos que querem construir estádios de R$ 1 bilhão (caso do Maracanã e do elefante branco de Brasilia) mas se recusam a construir casas que custariam no máximo R$ 50 mil por unidade (20 mil casas populares), para atender um povo que mora se equilibrando em favelas nos morros e que não terá dinheiro nem para assistir um Argélia X Costa Rica do evento que eles tanto defendem que seja feito à custa exclusiva do dinheiro público, porque já está claro que nenhum investidor privado tem interesse em erguer estádios no país, salvo se conseguir isenção total de impostos e empréstimos a fundo perdido do BNDES.

Uma vergonha nacional.

30 de abr. de 2010

PORTUGAL E A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS


Fábio Max Marschner Mayer
Advogado, Contabilista
Especialista em Direito Empresarial


I – Introdução:

Prédica e História é uma página de ensaios e comentários sobre história. Não tenho a pretensão de exaurir assunto nenhum, pelo contrário, como todos os textos são opinativos, abre-se a oportunidade do leitor comentar, acrescentar dados ou mesmo corrigir aquilo em que eventualmente eu tenha me equivocado.

Assim, resolvi instigar meus (poucos) leitores, especialmente os de Portugal, com esta matéria sobre a Revolução dos Cravos, embora o interesse seja geral à todos que gostem de entender o mundo em que vivemos.

II – Oliveira Salazar, governante “sui generis”:

Oliveira Salazar foi um governante “sui generis”, sua história é incomum.

Em Portugal há quem diga que foi ditador, mas também há quem o defenda como o pai de uma pátria moderna e democrática, até porque ele só ocupou interinamente o suposto o cargo político máximo do país, sempre manteve-se na chefia do Conselho de Ministros de um parlamento para o qual sempre teria sido eleito.

Catedrático de Economia Política da Universidade de Coimbra, portanto, formado em Direito, iniciou sua carreira política no Centro Acadêmico da Democracia Cristã. Exercendo sua cátedra entre as lides políticas da então nóvel república portuguesa, declarada em 5 de outubro de 1910.

Em determinado momento foi chamado a assumir a gestão das contas públicas, cargo ao qual renunciou poucos dias depois por não receber os poderes que entendia necessários para enfrentar a tarefa. Retornando ao cargo, desta vez com a carta branca que exigira, promoveu uma exitosa gestão de contas nacionais, considerada por muitos como um verdadeiro processo de salvação de uma república incipiente, cuja fraqueza ameaçava a nação da perda do império colonial, processo que já acontecia com os muito mais poderosos Alemanha, Holanda, França, Itália e Inglaterra, acelerado em decorrência da I Guerra Mundial.

O êxito acabou alçando-o à condição de chefe de governo em 1928, o que por fim transformou-se em chefia informal também de Estado. Situação incomum, caso histórico raro alguém que tenha cortado gastos públicos e imposto graves sacrifícios ao seu país, que acabou alçado a um poder supremo e perene que durou décadas e resistiu ainda por alguns anos depois de sua morte. Que fique claro, esse poder decorreu essencialmente do sucesso da gestão econômica que empreendeu, e que perdurou, embora em grau menor na passagem dos anos, praticamente até o seu falecimento.

Salazar, além de eminentemente fascista, concebeu e desenvolveu um regime de asteridade fiscal, tradicionalista do ponto de vista religioso e pregando sempre a defesa do “Portugal Ultramar”. Um Estado dito “pluricontinental e multirracial”, no sentido de plenamente integrado às colônias e vice-versa, embora na prática isso jamais tenha sido alcançado.

Por mais que muitas pessoas assim não concordem, entendo o salazarismo como uma ditadura, e isto está no campo da opinião, sem no entanto, roubar os méritos do regime.

E foi uma ditadura que oprimiu seus opositores tanto na metrópole quanto no ultramar, inclusive com uso de campos de concentração de insurgentes (no caso, na Ilha da Madeira) ao mesmo tempo em que pregava conceitos como o isolacionismo, o protecionismo fiscal, tarifário e alfandegário, o nacionalismo e o anti-comunismo, estes últimos tão em voga durante quase oito décadas do século XX, embora não excludentes entre si.

“sui generis”, é verdade, mas ditadura.

III – O Colonialismo Português no século XX.

Todo o século XX foi marcado pelo fim gradual, as vezes pacífico, as vezes violento, dos impérios coloniais. O processo iniciado no século XIX, agravou no século seguinte, quando duas guerras mundiais e depois a Guerra Fria tomaram as colônias também como palcos dos embates materiais, mas principalmente dos ideológicos, com o financiamento de grupos armados apoiados ora pelos EUA, ora pela URSS.

O império inglês ruiu em definitivo com a independência da Índia em 1947, o francês experimentou seguidas crises com a Indochina e a Argélia, sendo que já antes, ao eclodir a II Guerra Mundial, a Itália e a Holanda já não possuíam mais possessões relevantes, coisa que a Alemanha não tinha desde que derrotada em 1919.

Ao final da década de 60, apenas Portugal ainda podia se considerar um império colonial mesmo precário, mas seu destino não foi diferente dos demais.

O salazarismo pregava uma suposta integração com as colônias dentro de um contexto isolacionista e nacionalista. Isso fazia que a metrópole portuguesa dependesse muito de suas colônias, que não eram efetivamente integradas, com um nível sócio-econômico muito inferior ao da metrópole, que monopolizava seu comércio e ficava com as benesses disto.

O conjunto de uma relação injusta com a metrópole, guerra fria e o conceito de autodeterminação dos povos tão divulgado após a criação da ONU no pós-guerra, não demorou a causar problemas para Portugal, que era, repita-se, uma ditadura que também coibia com violência os movimentos independentistas, se bem que não diferente (por exemplo) das “democráticas” metrópoles dos impérios inglês e francês.

No início da década de 60 Angola se rebela e inicia-se uma guerra colonial que logo se espalha para a Guiné e Moçambique, com o regime português reagindo na defendida linha da manutenção à qualquer custo do “Portugal Ultramar”, enviando tropas e empreendendo guerras contra os movimentos independentistas.

Buscava-se manter o “status” de Pátria-Mãe a exportar produtos e importar matérias-primas com exclusividade ou grande preferência, mas não se dava conta de que mesmo a metrópole (ainda) era um país pobre e predominantemente rural, apesar do salazarismo entender que mesmo assim o país era um sucesso econômico, e mesmo fazendo parte da OTAN e da Associação Européia de Comércio Livre, um dos embriões da moderna união política continental de lá. Mesmo que quisesse, Portugal pouco podia oferecer em produtos e serviços às suas colônias, que por sua vez alimentavam o desejo de independência e internacionalização com vias ao progresso, descontados os interesses políticos locais, que depois causaram sucessivas guerras civis.

O fato é que até a morte de Salazar, o país experimentava um crescimento econômico consistente, mas insuficiente para torná-lo potência econômica. Na década de 70, especialmente ao eclodir a primeira crise do petróleo esse quadro mudou e, mantendo guerras que lhe exauriam o tesouro, Portugal passou a não mais experimentar um equilíbrio de contas públicas, de modo que à época da revolução, a metrópole encontrava-se estagnada a enviar jovens (força de trabalho, inclusive) para suas guerras coloniais, o que foi um conjunto importante de fatores.

Portugal errou duplamente ao não reconhecer o fim do colonialismo e ao mantê-lo em detrimento de seu próprio progresso econômico. Assistiu os erros colossais da Inglaterra e da França, o acirramento dos ânimos na Índia e na Indochina, guerras perdidas por potências muito mais poderosas. Não se deu conta que o mundo mudara, que a Guerra Fria era lutada em seus territórios e que a perda do status de metrópole era irreversível, numa época em que Estados como a Alemanha, a Holanda e a Itália, destituídos de seus impérios coloniais progrediam e alcançavam grande sucesso econômico, apesar do tropeço que também experimentaram na crise petrolífera.

IV – A revolução.

Os jovens portugueses não sabiam pelo que lutavam nas colônias.

A metrópole, apesar dos anos Salazaristas à terem melhorado, ainda era pobre, isolada do mundo e ditatorial. Dela pouco se esperava dela em termos de melhoria desse quadro, o que teve por resultado a deserção em massa de soldados nos “fronts”, sem contar os movimentos ocultos dentro das forças armadas, especialmente entre o oficialato menor e médio (e, óbvio, mais jovem), que culminaram com a revolução.

Impedir a independência das colônias pouco afetaria a vida destes jovens em um país economicamente estagnado e isso foi o fator preponderante para a revolução. Óbvio que se as colônias representassem a manutenção de uma economia estável e progressista, talvez o regime não tivesse caído.

Também havia um quadro de paralisia política. Marcelo Caetano, sucessor de Salazar, igualmente jurista e que governou com os mesmos conceitos do antecessor, até conseguiu alguns sucessos econômicos internos em meio à crise mundial, mas nada fez para abrir o regime, que o conservador presidente de direito, Américo Tomás, também negava.

Havia às escondidas do regime um movimento democrático português, que pregava a abertura do ensimesmado Portugal ao mundo. O país já era assim desde muito antes da perda do Brasil em 1822, fato já alertado por muitas figuras ilustres do país desde o século XIX.

E esse movimento democrático soube unir o protesto econômico, as greves de trabalhadores urbanos e rurais violentamente reprimidas, com a insatisfação da juventude em não querer ir à guerra estéril contra às colônias. Este movimento soube aproveitar o melhor momento para agir e eclodir o movimento.

“Grândola, vila morena” música censurada pelo regime com uma estrofe que diz que “o povo é que mais ordena” foi a senha para tomar as ruas e praticamente não houve resistência. Floristas ornaram com cravos os fuzis de soldados que guardavam os prédios públicos, de onde veio o nome dado à revolução.

A partir de três conceitos: democratizar, descolonizar e desenvolver, o país entrou então em um processo que culminou com a sólida democracia de nossos dias, apesar de um primeiro momento de exacerbado anti-comunismo e também de perseguição aos integrantes do antigo regime (Marcelo Caetano, sucessor de Salazar por exemplo, exilou-se no Brasil), reflexo direto da situação mundial da época. As colônias obtiveram suas independências: Angola e Moçambique em 1975, sendo que a Guiné a declarou em 1973 e a teve reconhecida pela metrópole também em 1975.

Apesar do anti-comunismo político, a primeira constituição do país após o movimento foi de forte viés socialista, o que, dizem, contribuiu para mantê-lo atrasado ainda por muito tempo, apesar do país ter posteriormente obtido a integração com o resto do continente.

V - Conclusão:


Enfim, a Revolução dos Cravos marcou o início de um Portugal pluralista, democrático e integrado economicamente com o mundo, após o que chegou inclusive a presidir a União Européia. Foi uma ruptura história com regimes que sucederam-se em torno de isolacionismo gestadas alguns séculos antes e mantidas tanto por monarcas quanto por republicanos.

28 de abr. de 2010

A TAXA DE JUROS MAIS ALTA DO PLANETA

O COPOM aumentou hoje a taxa de juros básica para 9,5%, que é a mais alta do mundo, sob a justificativa de que são grandes as pressões inflacionárias.

É certo que a inflação está em alta no país, causada pelo excesso de demanda principalmente nas áreas imobiliária, automotiva e eletro-eletrônica. O brasileiro foi às compras acreditando no crédito "barato" que não existe nem nunca existiu entre nós. A melhoria da renda experimentada nos últimos anos levou a um aumento significativo das vendas nestes setores, o que nem de longe é ruim, na exata medida em que as pessoas tem o direito de comprar o que quiserem e usarem seu dinheiro pelo prazer pessoal.

Ruim é a constatação de que o brasileiro não sabe comprar.

Porque compra agora à custa de juros extorsivos, o que poderia comprar em alguns meses economizando, ou o que poderia comprar um pouco mais tarde economizando para uma entrada maior que reflita em juros menores ao final do negócio.

Uma familia que receba R$ 90 mensais do bolsa-familia poderia comprar uma geladeira de R$ 900 guardando o dinheiro por 10 meses. Mas se compra a mesma geladeira em 24 prestações de 60 reais, pagará acréscimo de mais de 50%. A conta é simples, mas as pessoas simplesmente preferem esquecê-la e com isto, alimentam a inflação.

O brasileiro se acostumou com juros extorsivos. Quem vivia numa socedade que chegou a manter uma taxa básica de quase 30% entre 1997 e 2002, acha o melhor dos mundos uma taxa "pequena" de 9,5%, mas o fato é que isso não é muito inteligente. A taxa de 9,5% não é baixa, como, aliás, a taxa de 8,75% que vegia até hoje, também não. Mesmo assim, o brasileiro abraçou a idéia do crédito fácil e do juro baixo, o que não é Bom para a sociedade como um todo. Melhor seria se tivéssemos mais parcimônia ao entrar numa loja.

Aqui, as taxas de juros são exorbitantes porque o governo não faz sua parte combatendo o gasto público ruim, como o exército de cargos em comissão e confiança na administração direta, o excesso de diretorias e conselhos nas empresas estatais e o descontrole das obras públicas que por incompetência, má-gestão e roubalheira pura e simples são quase sempre superfaturadas.

Combate-se inflação no Brasil com juros desde a década de 50, quando o país experimentou a primeira espiral inflacionária causada por gastos públicos em descontrole. Prefere-se tungar o setor privado e diminuir o emprego contendo a demanda de consumo do que controlar os gastos públicos. Joga-se a culpa sempre no consumo, e é certo que o brasileiro comum tem responsabilidade sobre isso, mas o maior gastador a irresponsável do país é o governo, que nunca faz efetivamente a sua parte, quase sempre por razões políticas.

O fato é que ambos, povo e governo, precisam mudar de atitude, mas o governo principalmente, e não se tenha isso como crítica aos atuais mandatários da nação, mas também aos do passado.

CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.

No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar ...