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7 de fev. de 2019

AS TRAGÉDIAS DE UM BRASIL QUE NÃO APRENDE



O Césio 137 causou um problema gravíssimo, tanto de infra-estrutura quanto de saúde pública, mas há poucos dias, outro aparelho de raio-x foi encontrado em um ferro-velho. A mesma prática irresponsável, a mesma ausência de fiscalização, a mesma temeridade e provavelmente, a mesma ignorância de não atentar que um aparelho dessa natureza não pode ser descartado de modo tão simples.

É praticamente anual uma temporada de chuvas que cause desabamentos e mortes na cidade do Rio de Janeiro. Eu lembro bem de um carnaval 20 anos atrás, em que o Joaozinho Trinta chegou até a fazer uma alegoria que pedia chuva para um orixá que só atendia os pedidos em contrário. O fato é que, maiores ou menores, praticamente todos os anos o Rio de Janeiro experimenta tragédias nas encostas e nas suas muitas favelas. E nem por isso se faz absolutamente nada para corrigir o problema e conter o adensamento urbano irregular e desenfreado. Décadas perdidas sem nenhum programa eficiente de habitação popular e urbanização, coisas que o prefeito Negrão de Lima já defendia na década de 60. Em contrário, a favela virou até atração, com direito a trégua dos traficantes quando aparecem ônibus de turismo.

Na tragédia da Serra Fluminense em 2011, também. Naquele conjunto perverso de condições climáticas desfavoráveis e ocupação urbana desordenada e irresponsável morreram quase mil pessoas e 30 mil ficaram desabrigadas, sendo que ainda há gente nesta situação, passados mais de 8 anos. Quase uma década sem nenhuma política de segurança e, pior, roubalheira e corrupção generalizada nas obras públicas que seguiram para reparar os danos, desvios ou simples esquecimento de donativos em depósitos.

O Morro do Bumba, episódio de ganância imobiliária misturada com ocupação urbana desordenada e irresponsável morreram 267 pessoas. Passados quase 9 anos não há um marco regulatório eficaz sobre aterros sanitários e lixões, que continuam sendo utilizados para adensamentos urbanos tão logo sejam desativados como destinos de lixo.

Na Boate Kiss morreram 242 pessoas e, passados quase 6 anos, não há nenhum condenado, não há nenhum indenizado. Daquela carnificina o que seguiu foi uma obrigatoriedade vexatória de placas verdes na frente de todos os estabelecimentos comerciais, mas de ação prática efetiva para que não se repita, quase nada. E ali manifestou-se outro defeito visceral do Brasil, o autoritarismo de agentes que deveriam proteger os cidadãos, como um promotor que processou um pai de vítima, único condenado até agora, por danos morais decorrentes de supostas ofensas em face da demora no trato da questão.

Na tragédia ambiental de Mariana, além de morrerem 19 pessoas foram milhares de animais domésticos e silvestres, além de uma perda colossal de biodiversidade com a morte de um rio, comprometendo uma bacia hidrográfica inteira. É possível que dali, tenham partido os surtos de febre amarela e chicungunha que estão levando a situação sanitária do país para algo parecido com a do início do século XX. Sem nenhuma consequência criminal, não há presos, as ações mitigadoras dos danos foram mínimas e o marco regulatório simplesmente não saiu do lugar. Os peixes voltaram ao Rio Doce, mas a pesca nele praticamente acabou em razão da contaminação, apesar da vida insistir em voltar ao rio, os bancos de areia de sedimentos tóxicos vão se transformando em ilhas. O então Departamento Nacional da Produção Mineral passou a exigir um relatório anual sobre o estado de represas de rejeitos e tudo ficou nisso mesmo, nada mais se fez, nada mais se disse até que aconteceu Brumadinho.

Em todos estes casos há componentes comuns: 

O problema aparece e não é atacado. Nada se resolve, no máximo se discutem leis poéticas e idealizadas que não são cumpridas porque exigem uma burocracia tão grande que o Estado não consegue operá-las, como, aliás, é incapaz de operar até a legislação que já existe, cujo rigor é imenso, mas apenas para acumular papéis.

Ausência completa de fiscalização e atuação pró-ativa do Estado. A legislação existe, existem diversos órgãos capazes de fazer verificações, mas na prática, alega-se falta de competência, de pessoal e de condições materiais. E o Estado continua existindo apenas como mantenedor de si mesmo, sem que as 3 esferas se conversem, como se municípios e estados não estivessem inseridos em uma federação.

Pior é o festival de politicagem. Deputados e senadores criam CPI(s) e fazem discursos inflamados contra o governo de plantão, exigem providências e dizem que vão instituir o rigor da Lei. Tudo jogado ao vento, esquecido tão logo a mídia passa para outro item da pauta macabra do dia a dia nacional. 

Há quem diga que o Brasil sofre um castigo de Deus, mas se olharmos os muitos episódios agudos e os milhares de episódios diários que são representados por quase 120 mil mortes violentas por ano, que incluem homicídios, acidentes de trânsito, acidentes de trabalho e doenças decorrentes de atividades, a única constatação objetiva é de que somos irresponsáveis, não aprendemos com nossos erros, continuamos achando que leis poéticas resolvem problemas que precisam de ações práticas.

Aliás, o fetiche brasileiro por leis é algo sintomático de nossa sociedade. Para tudo há lei, para tudo há regulamento, mas nada é solucionado porque na mesma proporção em que se legisla, se abrem brechas para a proteção processual dos desonestos e dos malandros. Quando constatamos que ladrões contumazes de dinheiro público apostam sua liberdade na discussão de prisão somente após o trânsito em julgado, quando olhamos os números que demonstram que 90% das multas ambientais simplesmente não são pagas, quando indignados ouvimos falar da troca de punições por termos de ajustamentos de conduta, tudo isso nos remete a leis que não protegem a sociedade nem às coisas que ela deve prezar, mas somente às elites políticas, econômicas e intelectuais, todas elas sempre agraciadas com algum tipo de benesse que é negado para a maior parte da população.

Quando generalizo assim, é óbvio que a culpa recai sobre a classe política, afinal, é dela que se espera que se tomem as iniciativas mais importantes para enfrentar problemas. Mas não é um problema apenas da classe política, é um problema nosso, como país incapaz de cobrar de seus governantes uma atuação mínima que aprenda com os erros no pranto das tragédias, para que elas não se repitam.

Enquanto nós, brasileiros, não aprendermos que uma única morte violenta, qualquer que seja o motivo, é vergonhosa e aviltante à nossa condição de cidadãos, nunca sairemos deste circulo vicioso de tragédia-indignação-falatório-nova tragédia. Enquanto não colocarmos a Lei para punir os criminosos ao invés de dar-lhes razões de defesa e obtenção de prazos processuais protelatórios continuaremos a ser a pátria das tragédias, das mortes estúpidas, da vida que não vale nada se for de um cidadão comum que não tenha relações privilegiadas com o Estado.



22 de jun. de 2016

MALDITA TOCHA OLÍMPICA

A promessa era de uma olimpíada ecológica. 

O Rio seria ressuscitado da morte causada por décadas a fio de desrespeito às mais óbvias regras de preservação do meio ambiente. A baía de Guanabara seria despoluída, receberia 12 estações de tratamento de esgoto, desativaria lixões e recuperaria mangues. Mais do que isso, o ambiente em que se daria os jogos seria servido de transporte público eficiente e de qualidade para que o carioca pudesse evitar o carro. Seriam criadas ciclovias, parques e praças que atenderiam o público.

Se passaram 9 anos desde aquela comemoração do senhores Lula e Nuzmann, que então prometiam uma olimpíada sem dinheiro público, que resgataria a bela cidade do Rio de Janeiro e mostraria um país pujante e rico, capaz de adentrar ao primeiro mundo e virar exemplo de progresso.

Nove anos passados o que vemos é o caos completo, a iniciar pelo fato de que o dinheiro para promover o evento foi essencialmente público.

O estado do Rio de Janeiro financeiramente quebrado, sem dinheiro sequer para pagar em dia o funcionalismo, que dizer para investir em saúde e educação. A segurança pública abandonada e em estado caótico. As obras do evento atrasadas. As obras de infra-estrutura urbana em sua maioria canceladas, as ciclovias construídas sem qualquer critério, caindo e matando pessoas inocentes. Alertas internacionais de saúde para que turistas tomem cuidados se vierem ao evento.

E do ponto de vista ecológico, o mais completo fracasso, uma verdadeira vergonha para um país que tem a mania de arrotar para o mundo que tem a natureza exuberante, a mesma natureza que o povo brasileiro despreza, porque é mesquinho, desonesto e simplesmente incapaz de entender o conceito de viver em harmonia com o meio-ambiente, bem como preservá-lo.

A baía de Guanabara está mais suja, podre e infecta do que nunca.  Das obras de despoluição prometidas, apenas duas estações de tratamento de esgoto. Os lixões continuam lá, intactos. Os mangues continuam sendo atacados por invasões e especuladores imobiliários. O lixo continua boiando por todos os lados, as lagoas da cidade do Rio de Janeiro fedem e apresentam as margens cheias de entulhos que vão de material fecal a geladeiras e televisores descartados de qualquer jeito por um povo preguiçoso que não quer se dar ao trabalho de levar o aparelho em desuso para um lugar de descarte correto. 

E a cereja do bolo da incompetência e desonestidade, do oba-oba de um povo exibicionista que só pensa no próprio umbigo e nos interesses meramente pessoais, foi o extermínio de um animal selvagem exibido como troféu na passagem da maldita tocha olímpica, cujo desfile pelo país tem sido caracterizado pelos excessos de gente que quer seus egos afagados, pelo foguetório, pela gritaria, pelos carros de som em volumes insuportáveis, pelos políticos de raia miúda querendo aparecer em ano eleitoral e especialmente por um bando de gente estúpida sem relação alguma com o esporte, ostentando como jóia da coleção pessoal um objeto que, até vir para o Brasil, simbolizava a união e a concórdia dos povos.

A tocha olímpica virou o símbolo de um evento amaldiçoado de um país que não podia sediá-lo, que gastou o que não tinha para parecer ser o que nunca foi e que, de quebra, mostrou ao mundo a verdadeiro índole do brasileiro, um povo preguiçoso que despreza regras e que encara o meio-ambiente como um predador  insaciável que não vai descansar enquanto não extinguir todas as raças de animais e não derrubar a última árvore da última floresta.

Eu bem desejei que esses jogos fossem um sucesso, até imaginei que o Brasil e seu povo tomariam consciência da importância de mostrar que aprenderiam alguma coisa. Mas o fato é que o Brasil não quis aprender nada, o Brasil preferiu continuar sendo o país de sempre, com as mesmas práticas políticas, os mesmos assaltos aos cofres públicos e a mesma falta de consciência ecológica de sempre.


17 de nov. de 2015

NÃO FOI A PRIVATIZAÇÃO QUE CAUSOU A TRAGÉDIA DE MARIANA

O DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral), é o órgão federal responsável por autorizar e fiscalizar as atividades minerárias em todo o Brasil. Ele não só autorizou por portaria a extração de minério de ferro, como sabe exatamente quanto foi retirado e quanto resíduo foi resultante disto, já que anualmente recebe uma coisa chamada Relatório Anual de Lavra.

Além disso, o DNPM recebe royalties da extração, correspondentes a um percentual de 2 a 4% sobre o valor do minério bruto com custo apurado na boca da mina, o que é dividido com estados e municípios. Mensalmente, toda empresa de mineração tem que pagar esse imposto.

Ou seja: o DNPM é um órgão federal, com poder de fiscalização, leis específicas e com verba que, por princípio, tem de ser usada para financiar suas atividades. Mas não às praticou de modo eficiente em Mariana e alegou falta de pessoal, estrutura e verba para fiscalizar a contento.

O licenciamento ambiental brasileiro é feito em três níveis: federal pelo IBAMA, estadual com os órgãos que cada unidade federativa cria, e municipal, geralmente à cargo das secretarias de meio-ambiente de cada cidade. No caso de Mariana, TODOS falharam desde o primeiro momento do processo. Um empurrou para o outro a tarefa de vistoriar periodicamente as barragens, de impor compensações ambientais e planos de manejo ou mesmo de conferir os planos de emergência e contingência exigidos por lei. 

Se no momento do licenciamento ambiental da atividade minerária, a fiscalização tivesse engrossado o discurso e requisitado a especificação de medidas mais rigorosas que as usuais para aliviar o impacto ambiental, ou mesmo para controlar a pressão das barragens trabalhando com a água acumulada nelas, ou ainda, exigido e dimensionado corretamente os planos de emergência e contingência, no mínimo teria havido menos mortes, e, quem sabe, poderia ter salvado o Rio Doce. 

Ou seja, os órgãos públicos de fiscalização ambiental falharam e não foram eficientes, se é que em algum momento avaliaram de modo correto o que efetivamente seria necessário para evitar uma tragédia como a ocorrida, que não é nem um pouco imprevisível, especialmente em um ambiente de extração massiva, como o existente nos últimos 10 anos.

Os governantes brasileiros sempre exaltaram o aumento da exportações e, consequentemente, o aumento da entrada de dólares no Brasil. Para eles, pouco importou durante esse tempo todo, que o Brasil estava enviando minérios de todas as naturezas para a China à preço de banana, o negócio era anunciar de modo retumbante o superávit na balança comercial e a quotação baixa do dólar, que permitia aos brasileiros adquirirem bugigangas eletrônicas baratas e viajarem para o exterior.

E daí, acontecida a tragédia, os mesmos apoiadores destes mesmos governos que eu citei aí em cima, dizem que a culpa é da privatização da Vale, do capitalismo e da ganância. Só esquecem que os governos também foram gananciosos e pior que isso, foram incompetentes em sua função precípua de regular e fiscalizar a atividade econômica, apesar da burocracia insana que existe em absolutamente tudo que o brasileiro faz.

Se a SAMARCO fosse subsidiária de uma Vale estatal, provavelmente estaria corroída por corrupção endêmica idêntica à da Petrobrás, e não teria dinheiro nem para prover essa ESMOLA de 1 bilhão para o início dos trabalhos de recuperação do Rio Doce. Mais que isso, se a empresa fosse estatal, a tendência do governo federal seria simplesmente esconder a tragédia, já que a responsabilidade política seria muito mais grave do que já é, e teria ministros, senadores, deputados e governadores envolvidos até o pescoço em nomeações de incompetentes para diretorias, tal qual o que está provado que aconteceu na Petrobrás.

A SAMARCO (e a Vale) tem responsabilidades, sim! Devem ser cobradas por elas, devem indenizar as famílias e assumir os custos da recuperação dos rios mortos com esse desastre. Seus diretores devem ser chamados aos tribunais e inclusive, condenados e presos. Mas não é o fato de serem empresas privadas que autoriza não responsabilizar também os agentes públicos, como os do DNPM e dos órgãos ambientais, ou ainda os do SISCOMEX (controle de comércio exterior) ou mesmo do BNDES, que sempre deferiu crédito fácil para mineradores alavancarem suas exportações de comoditties para a China, a preços de mercado, é verdade, mas que nunca consideraram o passivo ambiental que ficou aqui, no Brasil, para ser um dia assumido por nós, brasileiros.

A discussão não está na privatização de coisa alguma. A discussão verdadeira é: porque nós, brasileiros, pagamos tantos impostos, contribuições, compensações, taxas, contribuições de melhoria, emolumentos, autenticações, reconhecimentos e despesas de todas as ordens, se os órgãos  públicos simplesmente não funcionam e alegam não ter pessoal, nem estrutura, nem verbas, mesmo tendo receitas próprias, como o DNPM e os órgãos ambientais têm?

A privatização não pode ser desculpa para a negligência de órgãos públicos em cumprir suas funções. No caso, vivenciamos uma equação perversa de governo que queria exportar a qualquer custo, mais uma empresa ávida por lucros fáceis, mais outra face do governo, que deveria fiscalizar e regular, mas não fez nada disso, porque o Estado brasileiro gasta demais pagando aviões, mordomias e funcionários sem concurso, perdendo dinheiro em licitações fraudulentas e contingenciando o orçamento em tudo aquilo que realmente é obrigação governamental, como fiscalizar mineração e meio ambiente, e exigir a observância de regras.

Bradar contra a privatização não adianta absolutamente nada se o Estado não cumpre o mínimo que se espera de uma máquina gigantesca, caríssima, cuja chefia é disputada em eleições milionárias por grupelhos de gente que só quer um cargo em confiança e sem concurso para ser bem remunerado e trabalhar pouco.

12 de nov. de 2015

MARIANA: QUEM SÃO OS RESPONSÁVEIS?

A tragédia de Mariana é humana, de dimensões tão grandes que matou até quem sobreviveu, porque lhe roubou tudo, desde objetos pessoais até lembranças de infância nas ruazinhas de Bento Rodrigues, que desapareceu do mapa.  Também é uma tragédia ambiental. O Rio Doce morreu de vez, a lama tóxica desceu o leito matando toda a vida aquática e às margens, e, ao chegar ao oceano, aquela vermelhidão pavorosa vai destruir biomas importantes, prejudicando sua recuperação por décadas, talvez séculos, porque o os dejetos acumulados sobre a cidade vão escorrer lentamente a cada chuva, renovando periodicamente um ciclo de morte, distribuindo produtos tóxicos no curso do rio. E é uma tragédia econômica e social, na medida em que prejudica a geração de energia em usinas elétricas e o abastecimento de água de várias cidades, isso sem contar, ainda, o que será necessário para adequar estações de tratamento de água ao lixo tóxico que terão que tirar dela.

Com todo esse quadro trágico, é preciso perguntar quem são os responsáveis por tudo isso.

A Samarco é uma joint venture entre a Vale e a BHP, que é a maior empresa mineradora do mundo. A Vale é controlada pela PREVI - Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil, influenciada politicamente pelo governo federal, que por sua vez elege a diretoria. Logo, se há responsabilidade por ato de gestão, então essa turma toda está envolvida em maior ou menor grau, há uma verdadeira cadeia de responsáveis, por mais que se diga que a responsabilidade é mesmo de quem privatizou a companhia, como se a Petrobrás não estivesse aí para demonstrar que empresa estatal é terreno fértil para todo tipo de irresponsabilidade, para não dizer outras coisas.

Também não se excluam de culpa os órgãos ambientais e de controle da atividade, como o DNPM - Departamento Nacional da Produção Mineral, o IBAMA, o órgão ambiental de Minas Gerais e a prefeitura municipal do lugar, pois todos eles negligenciaram a fiscalização e o controle sobre as barragens. Fico aqui imaginando, dentro do meu pouco conhecimento sobre o assunto, porque será que nunca ninguém sequer pensou em um plano de manejo da água acumulada com aqueles resíduos, para que sofresse tratamento e fosse devolvida ao rio, ao mesmo tempo em que diminuiria a pressão sobre a barragem. Simplesmente deixaram os detritos acumulados lá, sem exigência de grandes compensações ambientais, como manda a lei.

A culpa também está nas leis ambientais absurdamente rígidas e burocráticas, como eu já escrevi aqui no blog. Há leis demais, regras demais, obrigações demais, regulamentações demais, que tornam um processo de licenciamento ambiental uma verdadeira epopéia que demora anos e por assim ser, não deixa nem tempo, nem pessoal livre para fiscalizar de modo correto e periódico as construções que por definição geram enormes riscos para a sociedade. Além de complexas, as leis ambientais são interpretadas livremente por qualquer agente público que funcione no processo, ou seja, dá-se tanta discricionariedade que os processos não andam e inclusive, dá-se discricionariedade para o agente fiscalizador concluir por seus próprios meios, que não há problema mesmo havendo problema. É um aparato legal que impõe dificuldades, mas também ajuda a vender facilidades, e as tragédias vão se repetindo em maior ou menor grau, e o meio-ambiente vai sendo destruído com efeito único: piora das condições de vida de cidadãos comuns. Já disse e repito: leis mais objetivas mas bem fiscalizadas são muito melhores que aparatos poéticos de proteção idealizada, que na prática não se efetivam por falta de fiscais ou de ações fiscalizatórias.

A tragédia de Mariana é responsabilidade não apenas de pessoas, ela encerra um problema sistêmico do direito e da administração pública do país. Simplesmente dizer que vão se indenizar pessoas, dando-lhes casas novas e renda temporária não extingue a responsabilidade pelo que aconteceu ao meio-ambiente, porque o fato é que ninguém sabe o que o futuro reserva com tanta extração de minério vendido a preço competitivo para a China, deixando outras centenas de barragens como as que romperam, sabe Deus em que condições de segurança, já que a fiscalização é precária e a lei, rígida para emitir documentos, mas frouxa para exigir providências.




11 de jun. de 2012

UM MUNDO SUSTENTÁVEL



Não é preciso ser diplomata para saber que os resultados práticos da Rio + 20 serão tímidos ou até nulos.

O problema de órgãos multilaterais como a ONU é que eles dependem que países abram mão de uma parte de sua soberania para que as decisões colegiadas tenham algum efeito e abrangência.

Para um organismo como a ONU traçar diretivas e impor sua aplicação ele teria de ter um mandato deferido pelos países, com o poder de fiscalizar e fazer cumprir, o que pelo menos hoje em dia é impensável por várias razões

A primeira é que os governantes de qualquer lugar têm o hábito de achar que o mundo se resume ao que está em volta do seu umbigo. É praticamente impossível encontrar um estadista que aceite a aplicação de regras transnacionais no território do seu país, violando diretrizes políticas como a manutenção de um crescimento econômico acelerado (caso da China) ou alterar o orçamento do país para gastar menos com programas sociais e mais com programas ambientais (caso do Brasil) ou ainda, limitar emissões que de gases que aumentam os lucros de suas empresas (caso dos EUA), porque além da soberania que ninguém quer violada, há promessas de campanha e programas de governo que muitas vezes são até mesquinhos ante a tarefa de salvar a humanidade preservando o meio-ambiente, mas são por demais afeitas àquele eleitorado, e não serão objeto de negociação porque implicam em um ônus eleitoral para o governante.

Ademais, como a ONU conseguiria fazer colossos militares e econômicos como os EUA e a China, principais emissores de gases do efeito estufa, cumprirem suas regras em detrimento de sua economia interna e em ultima análise, do seu eleitorado? Se pegarmos um tema atual, veremos que não se consegue fazer cumprir diretrizes do Conselho de Segurança na Síria, que é um país minúsculo, o que fazer então se hipoteticamente se descobrisse que a Alemanha viola regras ambientais mundiais?

Logo, contentemo-nos com os resultados pífios obtidos na Rio’ 92, cujas metas do documento final não foram atingidas em nem 5% da lista. Não será diferente na Rio + 20, por mais que o oba-oba em volta do evento seja grande e que para os desavisados seja vendida uma revolução, um pacto de concórdia entre os países para evitarem o desastre ambiental que se anuncia.

Não haverá concórdia, não haverá pacto, no máximo haverá um alerta para que cada país ao menos aumente um pouco os esforços que têm (se é que os tenha) para salvar o meio-ambiente.

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Mas isso não significa que não se deva discutir o problema cada vez mais grave da degradação ambiental que por sua vez é causada pelo pior agente poluidor, o mais implacável, o mais presente e cujo combate é extremamente delicado, o homem!

Sempre digo que não existirá lugar, cidade ou país sustentável sem que o ser humano assim seja. Enquanto vivermos em um mundo que desperdiça alimentos, que é viciado em energia obtida com grave prejuízo ao meio-ambiente. Um mundo que por motivos estéticos ainda não extinguiu uma série de produtos impossíveis de reciclar, um mundo que exige cada vez mais pontos turísticos mesmo que para tanto eles agridam ecossistemas ainda virgens, um mundo que consome de tudo, em grandes quantidades e em velocidade que aumenta exponencialmente. Com esse quadro não haverá sustentabilidade por mais que diplomatas, cientistas e ecologistas se unam na tentativa de apresentar soluções.

O Brasil experimentou nos últimos 10 anos um processo que demonstra muito bem que não adianta um país querer ser sustentável a partir dos discursos do seu governo, se o seu povo não o é. Quando a população brasileira recepcionou uma melhoria econômica ela foi às compras sem nenhuma preocupação com o meio-ambiente. Primeiro importaram-se bugigangas chinesas feitas com material altamente poluente e produzidas com grande prejuízo ao meio-ambiente e mesmo à raça humana, já que muitas vezes frutos de trabalho escravo. Quando a febre dos importados perdeu força, o brasileiro descobriu o automóvel e transformou cidades pacatas em pequenas metrópoles cheias de problemas com trânsito caótico, falta de espaços urbanos e poluição. E por fim, o brasileiro adotou o mais perverso sistema de consumo que é o difundido no mundo pela cultura norte-americana e segundo o qual um produto é feito para durar pouco tempo com enorme pressão social e econômica para ser descartado e/ou trocado, muitas vezes não por não mais servir, mas simplesmente por não estar mais na moda.

O leitor lembra do Traband? O Traband era o sonho de consumo de todo o alemão oriental, ou seja, os habitantes do país socialista que resultou da cisão da Alemanha nazista no pós 2ª Guerra. O Traband rodava mal pra caramba, não dava conforto nenhum para o motorista e tinha um motor poluente que era movido a gasolina com altos índices de chumbo sendo que a instalação de um catalisador provavelmente travaria seu motor. Mesmo assim, se a gente olhar bem, o Traband era mais sustentável que qualquer carro de hoje em dia por uma razão simples - a pessoa que comprava um ficava com ele até o fim da vida - ou seja, havia uma enorme economia de recursos naturais na sua produção e mesmo que a pessoa quisesse trocá-lo, trocaria um antigo por outro mais novo mas na essência sem inovações e na prática, perda de dinheiro!

É óbvio que eu mesmo não quero viver em um mundo tipo Traband, mas se as pessoas consumissem com mais responsabilidade, se aproveitassem a vida útil de seus bens, se os enviassem corretamente para a reciclagem, se jogassem seu lixo no lugar adequado, se deixassem de consumir coisas que sabem que agridem o meio ambiente (quantos milionários adquirem móveis de madeira de lei roubada da Amazônia?) não estaríamos do outro lado do espectro, vivendo em uma sociedade tão opulenta quanto irresponsável, onde a saúde de uma empresa não está nos números consolidados do seu balanço, mas apenas na opinião de operadores ainda imberbes das bolsas de valores que exigem que ela aumente seus lucros todos os anos, apresentando novos produtos “indispensáveis” ou “da moda” para o público consumidor, sob pena de rebaixarem a cotação dos seus papéis.

Dias atrás li algo que me deixou impressionado, um articulista foi direto ao ponto e afirmou de modo bastante lúcido que a salvação do homem não está apenas em preservar os recursos naturais que são finitos, mas sim em promover a criatividade e a inovação do próprio homem, que é infinita. Talvez esteja na hora de transferir esse ânimo em inovar das fábricas de eletroeletrônicos e automóveis para os comportamentos sociais ou para programas de reaproveitamento de matérias-primas, talvez a sustentabilidade que salvará o planeta esteja em aprender a consumir de modo responsável e mais que isso, aprender a recuperar os recursos já despendidos sem perdas ou descartes de qualquer natureza ao meio-ambiente.

O desafio é conter a natureza humana, mas só o próprio homem é capaz disto!



2 de jun. de 2010

MARINA SILVA, EXEMPLO DE CORAGEM NA POLÍTICA


Marina Silva sabe que não tem chances de ser eleita. Ela não tem máquina partidária nem os acordos espúrios e anti-programáticos aceitos pelo PT e pelo PSDB. Ela não terá palanques "fortes" nos estados. Os candidatos que apoiar aos governos, com raras exceções também serão coadjuvantes na disputa que se dará entre o PT e o PSDB e seus respectivos apoiadores, com o PMDB apoiando ora um, ora outro.

Mas o fato é que sua presença na campanha presidencial levanta a discussão sobre o meio-ambiente e o desenvolvimento sustentável, o que é uma novidade em um país onde as discussões políticas são sempre as mesmas: reforma tributária que todo mundo defende e ninguém quer fazer, programas sociais que viciam o eleitor, gastos públicos, dívida externa e taxas de juros.

Pela primeira vez na história do Brasil, uma candidata relevante vai levantar a discussão sobre os temas afeitos ao mundo moderno, tais como o papel do homem perante o meio-ambiente e a modificação de práticas danosas à ele e que impõem sacrifícios a TODOS, independentemente de sua situação social. A sustentabilidade deixará de ser tema de congressos e seminários empresariais e técnicos, para entrar na agenda e na discussão política. Quem sabe, já a partir de 2012, candidatos a prefeitos e vereadores também entrem no assunto e levem para as cidades, especialmente as menores (onde a devastação ambiental é tolerada pelo poder público municipal de regra corrupto a atender ladrões de galinha) e a discussão ganhe se alastre de modo sadio.

Só a coragem e a força de um ideal faz uma pessoa deixar a posição cômoda de ser reeleita senadora da república por mais 8 anos, para candidatar-se a um cargo que sabe que não vai alcançar apenas e tão somente para trazer à baila uma discussão importante para o mundo em que vivemos.

Não sei se votarei nela. Não estou cabalando votos para ela e boa parte das idéias que ela e seu partido defendem, como um socialismo retrógrado, não me agradam.

Porém, deixo minha admiração por esta senhora de modos serenos e cuja história de vida é admirável: Nasceu pobre em um grotão da amazônia. Extremamente doente e analfabeta, a partir dos 15 anos estudou e adquiriu formação superior. Virou professora e sindicalista. Adentrou à politica e foi vereadora, deputada estadual, senadora da república por duas vezes e uma ministra do meio-ambiente intransigente com o "jeitinho" e os acertos usados para burlar a Lei. Quando deixou de ser ministra, teve novamente a coragem de deixar um governo extremamente popular e fazer-lhe oposição centrada e coerente.

Marina Silva é a novidade do processo político de 2010, aliando ideologia, opinião, história de vida, ascensão social, cultura e discernimento. Uma política brasileira de quem se orgulhar, independentemente de concordar ou não com suas idéias.

CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.

No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar ...