Poucas pessoas públicas conseguem falar tantas asneiras quanto o deputado Jair Bolsonaro, e isso não exclui a possibilidade dele ter mesmo se enganado ao responder a cantora Preta Gil, se bem que não acredito nisso.
O problema é que o Congresso Nacional passa a mão na cabeça deste senhor já há bastante tempo, e deixa que, sob o manto da imunidade parlamentar ele cometa insultos contra autoridades da República, raças, credos e opções sexuais.
Em um sistema em que cada parlamentar representa a Câmara dos Deputados ou o Senado, convivemos com manifestações "casca-grossa", descoladas da realidade que o Congresso Nacional tem a obrigação de conhecer na sua função precípua de representar o conjunto da sociedade.
As manifestações do deputado Bolsonaro são, por exemplo, muito piores e mais injustificadas que as de outro radical famoso, o francês Jean Marie Le Pen, cujo grupo político ao menos tem algum tipo de representatividade no que eles consideram uma luta contra a imigração ilegal, que não deixa de ser um movimento legítimo, embora sirva de fachada para ações racistas, xenófobas e preconceituosas.
Já Bolsonaro, oriundo das forças armadas, não representa nada nem ninguém, porque no Brasil não existem as tensões raciais da França, nem problemas relevantes com imigração ilegal.
Existe no Brasil um problema sério, um movimento governamental insistente que vem desde 1985 no sentido de destruir completamente as estruturas militares do país, negando ao Exército, à Marinha e a Força Aérea um reequipamento compatível com a grandeza do país e os desafios geopolíticos que ele quer enfrentar, até por virar exportador de petróleo com o advento do pré-sal.
Sobre isto, pouco se ouve declarações bombásticas de Jair Bolsonaro. É certo que ele se manifesta, mas ninguém jamais viu tanta veemência dele para tratar desse problema, quanto a usada para falar de negros e homossexuais.
Enfim, parlamentares, mesmo os mais radicais, tem obrigação de preservar o decoro, porque o decoro deles é o da própria casa legislativa. Será que mais uma vez, Jair Bolsonaro vai desrespeitar o país e as instituições e ficar impune?