O Brasil experimenta uma série de pequenas hipocrisias, uma delas é a de acreditar que elege governadores, prefeitos, deputados e vereadores para mandatos de 4 anos e senadores para 8.
Se no próximo dia 31 o governador do Paraná, Roberto Requião, se desincompatibilizar, terá encerrado o seu terceiro mandato no Palácio Iguaçú completando apenas 10 anos e 6 meses de exercício, quando foi eleito para cumprir 12. Saiu mais cedo em 1998 e deve sair mais cedo agora em 2010 para concorrer ao Senado.
O prefeito de Curitiba, Beto Richa, também deve renunciar para concorrer ao governo estadual. Foi reeleito em 2008 e cumpriu 1 ano e 3 meses do seu segundo mandato, repetindo feito de José Serra e sendo seguido pelo prefeito de Porto Alegre, José Fogaça e por dezenas de prefeitos e governadores pelo Brasil afora, de todos os partidos.
E quantos deputados e vereadores se elegem e tão logo assumem o cargo pedem licença para assumirem ministérios, secretarias ou cargos de comissão? Não vivemos um regime parlamentarista que justifique isto, pelo contrário, essa prática é um acinte, uma desvalia à vontade expressada nas urnas.
Ainda bem que esse fato lamentável não tem ocorrido na prática com o cargo de presidente da república, embora seja possivel pela lei em vigor.
Sinceramente, detesto esse carreirismo.
Tive a sorte de votar em Jaime Lerner por duas vezes ao governo do estado, e a satisfação de vê-lo encerrar seus mandatos na íntegra, exatamente a mesma coisa que ele fez quando eleito prefeito de Curitiba. Pode ser pouco, mas foi um bom exemplo, e ele saiu da vida pública quando entendeu que seu dever estava cumprido.
Esse desapego ao cargo público em prol da carreira pública é, acredite leitor, uma das razões das péssimas praticas administrativas brasileiras, na exata medida em que impõe provisoriedade a algo que deve ser certo e bem determinado.