Se o Brasil terminar estas olimpíadas com 16 medalhas, terá feito sua melhor campanha na história do evento, certo?
Se dessas 16 medalhas, 5 forem de ouro, terá alcançado a melhor colocação da história, certo também?
Esses números vistos sob uma ótica positiva podem mascarar o que em verdade é um tremendo, um colossal, um espetacular fracasso de planejamento e logística que afeta todo o esporte brasileiro, e que deve ser atribuído essencialmente à nossa classe política notoriamente corrupta e incompetente, com grande parcela de culpa aos dirigentes esportivos, que se revelam corruptos, incompetentes e ineficientes também!
As "autoridades" do esporte diziam que o Brasil sairia de Londres com espetaculares 20 medalhas, projetando uma "vitoriosa" olimpíada em casa, em 2016, com 30 medalhas.
Mas foi um fracasso. E se o Brasil conseguir 30 medalhas em 2016, será um fracasso também, uma vergonha, mais um acinte ao contribuinte que vê a torragem de dinheiro público para o nada, satisfazendo apenas o ego inchado de políticos exibicionistas (sim, Luiz Inácio Lula da Silva o principal deles!) e os interesses paroquiais de "aspones" de raia miúda, empreiteiros e negociantes com o poder público.
Salvo se acontecerem alguns milagres com resultados completamente inesperados até o final da competição, o Brasil deverá fechar com 16 medalhas, se muito 17 (talvez 5 de ouro), o que é um resultado não mais que infimamente melhor que o de Pequim(15 medalhas, 3 de ouro) ou de Atlanta (15 também, 3 de ouro) ou o de Atenas (10 medalhas, 5 de ouro) e que se analisado sob a ótica do quanto se carreia de dinheiro público para o esporte olímpico, não é nem vergonhoso, é para catastrófico, porque temos que considerar que o país sediou o Pan-Americano de 2007 a peso de ouro e sediará as próximas Olimpíadas em 2016 com projeção de gastos enormes tudo sob a desculpa esfarrapada da evolução do esporte no país.
O Brasil empenha bilhões de reais de dinheiro público e está atrás de Jamaica, Romênia, África do Sul, Belarus, Cuba, Irã e Coréia do Norte onde a população nem comida tem para a subsistência! Estamos na frente (por muito pouco) da Etiópia e do Quênia.
Os esportes olímpicos receberam para montar a delegação para Londres os tradicionais recursos das loterias federais, que não são poucos, até porque a receita da Caixa Econômica Federal com jogatina tem crescido anualmente. Mais do que isso, o governo federal coloca dinheiro no esporte por meio de patrocínios de empresas estatais como a Caixa, o Banco do Brasil, Correios, Eletrobrás e Petrobrás, e ainda mantém uma renúncia fiscal de imposto de renda da Lei Agnello-Piva.
São caminhões de dinheiro carreados para confederações esportivas de regra corruptas, dinheiro este que os resultados brasileiros nas olimpíadas demonstram que não chega aos atletas e muito menos à formação deles, que é mais importante até mesmo que os resultados a cada 4 anos. Com menos dinheiro do que o Brasil carreia para o esporte, a Coréia do Sul não só sediou os jogos de 1988, como saiu de nenhuma medalha em Moscou 1980, para uma média de 25 medalhas nos jogos subsequentes. O Brasil ganhou 4 em Moscou e mesmo empenhando dinheiro a rodo até hoje não conseguiu organizar uma verdadeira política esportiva no sentido de atrair o jovem para o esporte, dar condições para ele praticá-lo, relevar talentos e fazê-los ter resultados consistentes para manter o ciclo.
E se considerarmos o dinheiro que os ministérios e secretarias estaduais e municipais da educação e o do esporte têm de empenhar para que se construam equipamentos públicos e/ou nas escolas e universidades que por sua vez, de regra não ensinam esportes nem formam atletas, veremos que não são mais caminhões, são transatlânticos de dinheiro jogado fora, dinheiro este que poderia ser usado para dar educação esportiva para milhares de crianças tirando-as das ruas e naturalmente revelando talentos para destaque olímpico, sem necessidade de se apostar em um ou outro fenômeno isolado como um Diego Hipólyto, uma Maurem Maggi ou uma Fabiana Murer.
O que estamos vendo é que o Brasil vai sediar uma olimpíada em que será coadjuvante, evento este que não vai melhorar em nada a condição do esporte nacional na medida em que concentrará equipamentos na cidade do Rio de Janeiro, enquanto o mais correto seria pegar esse dinheiro todo e construir e manter velódromos, centros de atletismo, de natação, de lutas marciais, de boxe, de remo, de vela, de tênis pelo país inteiro.
É o fracasso olímpico mediato e imediato que se consuma em um círculo vicioso de dinheiro público rasgado enquanto milhões de crianças e adolescentes crescem em meio à violência urbana e as drogas, que seriam muito menos preponderantes em suas formações intelectuais se tivessem a oportunidade de praticar um esporte e conhecer valores saudáveis como disciplina e dedicação. É a farra com o dinheiro público destruindo a vida de milhões de brasileiros e gerando vexames de proporções mundiais para o país.
PS: Depois que publiquei o texto é que me dei conta que a Coréia do Sul não participou de Moscou 1980, porque ela apoiou o boicote dos jogos. Então, melhor dizer que ela saiu de Montreal 1976 com 6 medalhas, do que de Moscou com zero.