Este texto eu escrevi em 2008, quando o Coxa completava 99 anos. Saiu no Globo.com, no tempo em que o blog da torcida do Coritiba ainda era de responsabilidade do Luiz Cláudio Massa. É um texto antigo, mas ainda válido, fica o repeteco e a homenagem ao Coritiba Foot Ball Club:
Frederico “Fritz” Essenfelder trouxe do Rio Grande do Sul a primeira bola de futebol e o entusiasmo para difundir o novo esporte bretão em terras paranaenses. Ele resolveu montar um “team” e agregou à sua volta outros jovens oriundos do Club Ginástico Tuverein (ou Teuto-Brasileiro), todos de origem germânica.
Desafiados Essenfelder e seu grupo de amigos para um jogo a realizar-se em Ponta Grossa, no mesmo dia do convite, ao invés de organizar apenas uma equipe, rapazes como ele, de uma família tradicional que produzia pianos, resolveram fundar um clube que nasceu com a marca de muitos dos nomes mais tradicionais da sociedade paranaense até hoje, como Leopoldo Obladen, Arthur Iwersen, Arthur Hauer, João Vianna Seiler e outros tantos... E nasceu naquele 12 de outubro de 1909, o Coritybano Football Club, a preparar-se para o jogo que se realizaria em 23 de outubro seguinte em Ponta Grossa.
Será que essa decisão de fundar um clube foi tomada por entusiasmo juvenil? Ou será que eles tinham em mente uma vaga idéia de que, ali, naquele momento, plantavam a semente de tudo o que aconteceu nos 99 anos seguintes?
Impossível responder isso, mas eu tenho como palpite que eles planejaram algo efetivamente grande, bem do disciplinado jeito alemão de fazer as coisas olhando sempre ao futuro. Mas mesmo assim fico a me perguntar:
Será que eles sabiam que, de clube de colônia, o depois renomeado Corityba passaria a ser um clube do povo, agregando italianos, poloneses, ucranianos, portugueses, caboclos e negros?
Imaginavam que as cores verde e branca da casa dos Habsburgos teriam suas metas defendidas por gigantes de ébano como Jairo e Edson Bastos? E que na linha, atuariam artistas negros e mulatos como Zé Roberto, Lela “o careta”, Eli Carlos e Tóby? Mais que isso, concebiam que até a colônia japonesa se faria presente nessa história com Kazuoshi Miúra, o Kazu e Pedro Ken?
Teriam eles, a vaga noção de que a idéia agregaria tanta gente à sua volta e seria capaz de criar ídolos marcados nas memórias de gerações de pessoas, como Rafael Camarota, Manga, Oderdan, “capitão” Hidalgo, Pachequinho, Aladim, Pizatinho, Hermes, Lanzoninho, Hamilton Guerra, Bequinha, Miltinho, Neno, Leocádio, Duílio Dias, Paquito, Tião Abatiá, Kosilec, Vilson Tadei, Luiz Freire, Tostão, Keirrison, Henrique Dias e Vanderlei?
O que eles pensariam se soubessem que aquela era e semente da criação de um mito como Fedato, o zagueiro que recusou jogar na época do auge do futebol carioca para continuar defendendo as cores do seu amado alvi-verde? E que o “flecha loira” Krüguer pensaria em dar sua vida pelo ideal, a ponto de enfrentar a morte e voltar a campo para depois aposentar-se e continuar trabalhando por 30 anos no clube, ajudando a formar novos jogadores para a instituição?
E qual seria o seu orgulho, sabendo dos atletas que desfilariam seu futebol pelo mundo, representando o Brasil na seleção brasileira, como Nilo, Dirceu, Alex e Dida?
Isso tudo talvez eles pudessem conceber. Afinal, o esporte agrega valores como estes, de lealdade, doação, garra, patriotismo, honra e tradição. E esporte, enfim, não discrimina ninguém pela cor da pele ou pela origem, o esporte faz aflorar os mais belos sentimentos da alma.
Mas, e se alguém lhes dissesse que da inveja de um adversário contra o zagueiro Hans Egon Breyer nasceria um grito de guerra, um mantra, uma identificação eterna e sincera a ser pronunciada pela eternidade? E que o apelido Coxa-Branca viraria Coxa e seria gritado como Cooooo-Xaaaaa! impondo respeito aos adversários pelo mundo afora?
E o que eles diriam, se soubessem que a instituição que fundaram presumivelmente apenas para uma partida de futebol construiria um dos maiores estádios particulares do país e do mundo? E que neste mesmo templo da fé que eles fundaram, até o “papa do povo”, João Paulo II visitaria dando sua benção?
E como agradeceriam seus vitoriosos sucessores na tarefa de manter viva a chama da ideologia do esporte em alvi-verde, como Antonio do Couto Pereira, Lincoln Hey, Aryon Cornelsen, Miguel Checchia, Bayard Osna, Joel Malucelli e Giovani Gionédis?
E será que prestariam reverência ao maior dos seus “filhos”, o imortal Evangelino da Costa Neves?
Sobre isso, só podemos especular. Deus não nos dá o poder de pedir a opinião dos antigos, Ele nos instrui apenas a agradecer a eles pelo bem que seus atos criaram no futuro.
Por isso eu venho aqui e lhes digo de todo o coração: OBRIGADO!!!
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10 de out. de 2015
11 de out. de 2012
103 ANOS DE LUTAS!
Acompanho
o Coritiba Foot Ball Club desde os meus 6 anos de idade, lá se vão
37 primaveras de uma trajetória de emoções intensas, momentos
marcantes de alegria e dor, de títulos e vicissitudes, de apreensão
e euforia.
O
Coritiba é um clube de lutas!
Das
lutas de uma centena de anos atrás para firmar o futebol como
esporte popular numa província de um país ainda em formação,
passando pelas lutas por construir um patrimônio físico inestimável
representado pelas colunas do estádio Couto Pereira, erguidas com o
mais poderoso dos materiais, a fé e a dedicação da gente
Coxa-Branca, à luta contra o racismo que legou ao clube o seu
apelido, já que sempre batalhou orgulhoso das pernas brancas de seus
jogadores de origem alemã em um clube que desde cedo encarou a
batalha contra o racismo abrigando com orgulho mulatos e negros a
pelejar em suas fileiras. As lutas em campo, mesmo nas derrotas mais
amargas, a luta representada em gols impossíveis e jogadas
inacreditáveis, a luta em cair de pé quando já não era possível
evitar o fracasso, a luta de levantar-se das cinzas e reconstruir-se
por seus próprios méritos, muitas vezes enfrentando os piores
inimigos que são os não-declarados que lutam fora das regras
estabelecidas.
Nestes
103 anos, nós Coxas nos acostumamos à luta!
As
vezes, como generais que exigem o máximo de suas tropas, somos
injustos ali das arquibancadas da Mauá, mas é luta, para nós
futebol é guerra sem inimigos, é batalha sem mortes, mas é guerra!
Por outras vezes, no entanto, somos tão generosos que acabamos nos
iludindo e no entusiasmo pensamos que na luta houve trégua, mas
nossa em nossa luta não há trégua, há apenas os onze soldados
vestidos de camisas brancas e listras verdes incentivados por milhões
de amantes incondicionais de sua história e da certeza que nela
nunca faltará sangue, nem suor, nem lágrimas!
Somos
o Coritiba Foot Ball Club de 103 anos de alma guerreira, de vitórias
e derrotas, de conquistas e tristezas, de craques e jornadas
memoráveis. Mas acima de tudo somos luta em essência, luta sadia,
honrada e se preciso encarniçada. Jamais deixaremos de lutar, nossa
alma guerreira é nosso gene dominante!
25 de out. de 2010
A MARCA IMPLACÁVEL DO TEMPO!
"Pelos caminhos da bola, a marca implacável do tempo!" dizia o locutor Durval Leal quando eu criança, acompanhava os jogos do Coxa ou na Rádio Clube ou na Rádio Independência, ambas de Curitiba.
Na época eu não percebia muito o sentido da frase, porque o tempo só era implacável quando o Coxa estava perdendo. Se não, era doce e passava bondoso na lerdeza da juventude que se divertia com o espetáculo.
Há pouco eu entrei no "you tube" e sem me dar conta, digitei Waldo de Los Rios na procura.
O maestro Waldo de Los Rios é o responsável por eu gostar de música clássica, porque um dia meu pai trouxe para casa dois long-plays comprados nas lojas Hermes Macedo. Um deles, com uma flor estilizada de papel e no centro, uma reprodução do rosto de Mozart, o "Mozartmania". E na capa do outro, uma estátua em mármore com um grande par de fones de ouvido, o "Sinfonias".
Pouco antes meu irmão me mostrara no mesmo you tube um video de outro artista da minha infância, o alemão Heino, interpretando com a orquestra do genial maestro e violinista André Rièu, remetendo direto para as bandinhas alemãs que cresci ouvindo e que sempre me lembram da gaitinha harmônica do tio Waldino, incessantemente tocada nos aniversários da oma* lá em Jaraguá do Sul, que eram a reunião anual da família, com todos os primos dormindo ou tentando dormir no sótão onde a festa ia longe a ponto de em algum momento um adulto subir as escadas para mandar que parássemos ou de rir ou de brigar.
Será o tempo implacável?
Apesar de eu ainda gostar (muito) de Waldo de Los Rios e Heino, e mais ainda do Coritiba que me fazia fã do Durval Leal que era Coxa-Branca como eu, já não me encontro mais anualmente com os primos, e a oma e mesmo o tio Waldino já se foram para o céu, ele há quase dois anos, para tocar sua gaitinha por lá e alegrar a velhinha que recebia os netos com bolachas caseiras de glacê, balas "Sasse" e gasosa de framboesa.
Não sei porquê, mas hoje me dei conta que agora, os adultos somos eu, meus irmãos e meus primos, e nossos pais já são os opas** e e as omas. Fiquei nostálgico, sentindo saudades implacáveis como o tempo, que porém, também é generoso.
De certa forma o tempo me levou à Universidade Federal do Paraná, também de tantas boas lembranças. E foi ele quem me conduziu a assistir um recital da Orquestra Filarmônica de Israel, regida pelo genial Zubin Mehta, presente que recebi de duas amigas queridas ligadas à Universidade Positivo aqui de Curitiba. Foi o tempo que me fez passar pela alegria indescritível dos sofridos títulos do Coxa, pelas minhas namoradas, meus amigos, minhas vitórias e minhas derrotas. Foi o tempo que me trouxe algumas lindas crianças, meus sobrinhos, e que encheu minha retina de imagens ainda nítidas, de alegrias que me fazem chorar e de tristezas que me fazem rir.
O tempo vai passando e deixando suas marcas nas nossas vidas. É implacável, mas quem o faz cruel somos nós mesmos. Eu prefiro encarar o tempo como um grande baú de coisas boas que aberto, exulta a alma e nos ensina a sermos nós mesmos, dando valor para nossa história, nossa vida, nossa caminhada até aqui. O tempo é um baú das imagens e dos sons de nossos entes queridos, das nossas conquistas e derrotas, do nosso aprendizado.
Sua marca é implacável, somos nós mesmos evoluindo e tentando aprender o segredo da vida, que pode ser o de se deixar levar por ele sem nunca esquecer de, de tempo em tempo, abrir o baú para voltar ao que passou.
* vovó, em alemão.
** vovô.
Na época eu não percebia muito o sentido da frase, porque o tempo só era implacável quando o Coxa estava perdendo. Se não, era doce e passava bondoso na lerdeza da juventude que se divertia com o espetáculo.
Há pouco eu entrei no "you tube" e sem me dar conta, digitei Waldo de Los Rios na procura.
O maestro Waldo de Los Rios é o responsável por eu gostar de música clássica, porque um dia meu pai trouxe para casa dois long-plays comprados nas lojas Hermes Macedo. Um deles, com uma flor estilizada de papel e no centro, uma reprodução do rosto de Mozart, o "Mozartmania". E na capa do outro, uma estátua em mármore com um grande par de fones de ouvido, o "Sinfonias".
Pouco antes meu irmão me mostrara no mesmo you tube um video de outro artista da minha infância, o alemão Heino, interpretando com a orquestra do genial maestro e violinista André Rièu, remetendo direto para as bandinhas alemãs que cresci ouvindo e que sempre me lembram da gaitinha harmônica do tio Waldino, incessantemente tocada nos aniversários da oma* lá em Jaraguá do Sul, que eram a reunião anual da família, com todos os primos dormindo ou tentando dormir no sótão onde a festa ia longe a ponto de em algum momento um adulto subir as escadas para mandar que parássemos ou de rir ou de brigar.
Será o tempo implacável?
Apesar de eu ainda gostar (muito) de Waldo de Los Rios e Heino, e mais ainda do Coritiba que me fazia fã do Durval Leal que era Coxa-Branca como eu, já não me encontro mais anualmente com os primos, e a oma e mesmo o tio Waldino já se foram para o céu, ele há quase dois anos, para tocar sua gaitinha por lá e alegrar a velhinha que recebia os netos com bolachas caseiras de glacê, balas "Sasse" e gasosa de framboesa.
Não sei porquê, mas hoje me dei conta que agora, os adultos somos eu, meus irmãos e meus primos, e nossos pais já são os opas** e e as omas. Fiquei nostálgico, sentindo saudades implacáveis como o tempo, que porém, também é generoso.
De certa forma o tempo me levou à Universidade Federal do Paraná, também de tantas boas lembranças. E foi ele quem me conduziu a assistir um recital da Orquestra Filarmônica de Israel, regida pelo genial Zubin Mehta, presente que recebi de duas amigas queridas ligadas à Universidade Positivo aqui de Curitiba. Foi o tempo que me fez passar pela alegria indescritível dos sofridos títulos do Coxa, pelas minhas namoradas, meus amigos, minhas vitórias e minhas derrotas. Foi o tempo que me trouxe algumas lindas crianças, meus sobrinhos, e que encheu minha retina de imagens ainda nítidas, de alegrias que me fazem chorar e de tristezas que me fazem rir.
O tempo vai passando e deixando suas marcas nas nossas vidas. É implacável, mas quem o faz cruel somos nós mesmos. Eu prefiro encarar o tempo como um grande baú de coisas boas que aberto, exulta a alma e nos ensina a sermos nós mesmos, dando valor para nossa história, nossa vida, nossa caminhada até aqui. O tempo é um baú das imagens e dos sons de nossos entes queridos, das nossas conquistas e derrotas, do nosso aprendizado.
Sua marca é implacável, somos nós mesmos evoluindo e tentando aprender o segredo da vida, que pode ser o de se deixar levar por ele sem nunca esquecer de, de tempo em tempo, abrir o baú para voltar ao que passou.
* vovó, em alemão.
** vovô.
19 de abr. de 2010
FÊNIX
6 de dezembro passado foi o início de um calvário para a verdadeira gente Coxa-Branca, essas pessoas que, como eu, torcem de modo saudável pelo clube.
Os atos criminosos de meia dúzia de bêbados marginais travestidos de torcedores feriu gravemente o Coritiba Foot Ball Club, que esteve às portas da morte
Rebaixado para a série B, triturado por uma verdadeira inquisição no STJD, perseguido pela imprensa esportiva bairrista e irreponsável do eixo Rio-São Paulo, abandonado por patrocinadores, com os diretores responsáveis pelo fracasso em campo saindo do clube como ratos de um navio à deriva.
Até o "craque" Marcelinho Paraíba caiu fora na surdina, sem explicar até hoje o anúncio que ele mesmo fez de que teria renovado o contrato até a metade de 2010, muito menos suas atuações medíocres nos últimos 4 jogos do brasileirão de 2009.
Mas como sempre acontece com o Coritiba, o caos o fortalece.
Mesmo com o marasmo que tomou conta da torcida, que pouco compareceu ao estádio (e nisso confesso minha culpa, eu também!) e que mesmo ontem pouco festejou. Mesmo com as imensas dificuldades financeiras e mesmo com o descrédito que lhe foi imposto e que afastou até contratações de jogadores. Mesmo com o julgamento "torquemada" no STJD, que afastou o clube do seu estádio por 6 jogos no campeonato estadual.
Diante de tudo isso, a conquista singela de ontem tem sabor de renascimento, aquele erguer de cabeça que as vezes uma pessoa no fundo do poço encontra forças para fazer.
Não que campeonato paranaense seja um título expressivo. É tão inexpressivo quanto ser campeão paulista ou carioca, na exata medida em que o nível técnico dos campeonatos estaduais é muito baixo, eles servem como pré-temporada para o que vedadeiramente interessa, o campeonato brasileiro!
Mas foi o levantar de um gigante, o renascimento depois da tragégia, porque no futebol, ganhar campeonato de ponta a ponta e encerrá-lo com um jogaço, vencendo o maior rival (que ontem jogou muito e valorizou a conquista alvi-verde) é momento de emoção, que fica marcaddo na memória.
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