2 de ago. de 2012

PELO ESCLARECIMENTO DO MENSALÃO


 Inicia-se hoje, depois de longos, penosos e quase inexplicáveis 7 anos, o julgamento da denúncia de corrupção mais grave da história brasileira, que envolve membros do poder executivo e do legislativo, e uso da máquina pública e da legislação de controle para o assalto aos cofres públicos a partir de um esquema cuja finalidade era a de perpetuação no poder de um grupo bem definido interno a um determinado partido. E a denúncia demonstra tudo isso, informando que se desviaram recursos públicos com a finalidade inclusive de manter uma base parlamentar que trataria de providenciar a legislação necessária para este esquema de perpetuação de poder.

À gravidade do esquema desvendado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público, somou-se ainda a constatação do caos do processo penal brasileiro, cujos inúmeros recursos que possibilitam chicanas processuais são reforçados por outro número relevante de medidas cíveis que acabam se entrelaçando e atrasando o processo principal gerando a grave possibilidade de extinção da pretensão punitiva do Estado pela passagem do tempo, a prescrição.

Ou seja, não se trata apenas do julgamento de indivíduos denunciados de corrupção, se trata em essência de colocar a sociedade brasileira à limpo e de se definir de uma vez por todas o que é e o que não é crime nas relações com o Estado e a forma de definição de um conceito de celeridade processual para casos similares, buscando acabar de vez com a facilidade com que corruptos de toda a ordem se livram das punições da Lei após assaltar os cofres públicos.

Não estou pedindo que os 38 réus do mensalão sejam punidos apenas pelo clamor público (até porque este não há, depois de 7 anos, em cada 10000 brasileiros, se muito um lembra do caso), mas pelos fatos apurados e comprovados. Se tiver que haver absolvições, que sejam, mas aos condenados, requer-se todo o rigor da Lei, com cadeia, confisco de bens para compensar os prejuízos causados ao Erário e se necessário for, busca internacional dos que eventualmente se retiraram do país, para que paguem pelos crimes cometidos e sirvam de exemplo para que os casos consequentes tenham a mesma punição por consequência.

E pelo aspecto político da questão, que o STF deixe claro que não vai tolerar esquemas de qualquer ordem que pretendam perpetuar quem quer que seja no poder. Nenhum partido tem o direito de usar o dinheiro dos impostos para se manter no controle da coisa pública. Ninguém tem o direito de se colocar como um semi-deus a monopolizar mesmo que a força as correntes parlamentares, para manipular o processo legislativo em favor próprio.

Trata-se de definir de quem é o Brasil, se do povo ou apenas dos políticos.

11 de jul. de 2012

O CARRO USADO VIROU MICO ATÉ PARA A SOCIEDADE

O brasileiro se acostumou a trocar de carro colocando o veículo antigo no negócio como entrada. Assim tem sido durante décadas, mas parece que agora a situação está mudando em vista da facilidade de adquirir carros zero quilômetro.

Dias atrás eu estava em um feirão, porque uma pessoa próxima pretende trocar de carro e queria aproveitar o desconto do IPI. Fora o vendedor safado que queria vender um carro por um valor 4 mil reais mais alto que o da publicidade, o que me chamou a atenção foi o fato dele reclamar do estoque altíssimo de carros usados que implicava oferecer um valor (bem) baixo para o veículo que entraria no negócio.

É a tal coisa, nessas horas vemos como funciona a ganância do empresário brasileiro. Se o leitor pesquisar bem pela internet, pela tabela FIPE ou mesmo nas lojas de carros usados, verá que o preço deles cai na hora da compra pela concessionária mas, apesar do mercado não lhes ser favorável, não cai na hora da revenda (embora com a redução do IPI isso tenha acontecido para evitar paralisação total do mercado). 

O resultado é simples, na hora de comprar ou trocar de carro o consumidor naturalmente busca o carro zero, porque tudo nele é em tese mais barato, se bem que no final das contas, se colocar veículo usado no negócio, a vantagem será nenhuma.

Não sei se existe quem conte com a distração do consumidor em pesquisar, mas o que se pode ver é carro usado custando mais que carro zero quase igual. E daí os empresários reclamam de seus pátios cheios de veículos e do aluguel que pagam para manter essa estrutura. Mesmo assim, eu pelo menos entendo que não se pode dizer que isso seja uma característica do mercado ou uma situação pontual dele.

Em um mercado saturado de veículos novos, o carro usado naturalmente tem que perder valor e o comerciante por sua vez, tem que ter sua margem de lucro diminuída. Se é justo que as concessionárias recebam veículos usados por valores inferiores ao de mercado e ao da tabela FIPE, por outro lado não é coerente deixar os pátios lotados de veículos que geram custos de manutenção e não oferecê-los por um valor mais acessível ao consumidor mantendo intacto o percentual de lucratividade ou mesmo brigar para que as taxas de juros nesta operações sejam idênticas às do negócio que envolve veículo novo.

Sobre as taxas de juros então não há razão lógica para serem diferenciadas, se o "spread" é determinado pelo risco da operação, se mantida a proporcionalidade de valor, este é exatamente o mesmo para carro novo ou usado, porque o valor financiado é tão menos quanto o valor da garantia, o próprio carro. Se a taxa de juros para adquirir carro usado é maior que a de carro novo, isso é parte da estratégia de marketing das companhias automobilísticas, para quem o carro já não é mais sua responsabilidade uma vez usado por alguém, por mais que carregue sua marca, elas impõe o fato de serem um gigante competindo contra pequenas lojas de veículos multimarcas.

O que parece que os empresários e mesmo as autoridades não percebem é que esse estoque gigantesco de automóveis, se já não está gerando problemas, vai começar a gerá-los. Alguém já parou para pensar no ônus ambiental de um carro parado em um pátio por meses a fio? Ou ainda, no desperdício de recursos naturais que representa um estoque colossal de veículos parados ao passo em que, para produzir mais máquinas novas extrai-se minério de ferro, se produz aço e se gastam outros diversos recursos naturais? 

O Brasil não tem planos de reciclagem desses veículos. Ainda estamos na fase dos ferro-velhos que acumulam estoques mas não se preocupam em efetivamente reciclar peças, armazenando-as em boas condições e recolocando-as no comércio. Por aqui, o veículo fica no ferro velho até ser depenado e quando sobrar apenas a carcaça, se sobrar apenas a carcaça, terá o aço encaminhado para ser derretido e reutilizado. Se as montadoras fossem obrigadas a reciclar um percentual dos veículos que colocam para rodar, e se os impostos fossem progressivos para veículos cada vez mais velhos e sem condições ideais de rodagem, talvez seria possível retirar um percentual relevante de carros velhos das ruas e diminuir o problema da estocagem de outros tantos veículos que os substituiriam. 

O que não pode é carro usado ser vendido a preço de carro zero e os estoques aumentarem exponencialmente gerando um risco ambiental dessa magnitude para a sociedade. Não se trata apenas de uma questão comercial ou mesmo do sonho de consumo de uma pessoa, o carro é um item de consumo que não pode ficar parado e que exige que as autoridades compreendam o grave problema que ele encerra, que vai muito além dos engarrafamentos das grandes cidades.





11 de jun. de 2012

UM MUNDO SUSTENTÁVEL



Não é preciso ser diplomata para saber que os resultados práticos da Rio + 20 serão tímidos ou até nulos.

O problema de órgãos multilaterais como a ONU é que eles dependem que países abram mão de uma parte de sua soberania para que as decisões colegiadas tenham algum efeito e abrangência.

Para um organismo como a ONU traçar diretivas e impor sua aplicação ele teria de ter um mandato deferido pelos países, com o poder de fiscalizar e fazer cumprir, o que pelo menos hoje em dia é impensável por várias razões

A primeira é que os governantes de qualquer lugar têm o hábito de achar que o mundo se resume ao que está em volta do seu umbigo. É praticamente impossível encontrar um estadista que aceite a aplicação de regras transnacionais no território do seu país, violando diretrizes políticas como a manutenção de um crescimento econômico acelerado (caso da China) ou alterar o orçamento do país para gastar menos com programas sociais e mais com programas ambientais (caso do Brasil) ou ainda, limitar emissões que de gases que aumentam os lucros de suas empresas (caso dos EUA), porque além da soberania que ninguém quer violada, há promessas de campanha e programas de governo que muitas vezes são até mesquinhos ante a tarefa de salvar a humanidade preservando o meio-ambiente, mas são por demais afeitas àquele eleitorado, e não serão objeto de negociação porque implicam em um ônus eleitoral para o governante.

Ademais, como a ONU conseguiria fazer colossos militares e econômicos como os EUA e a China, principais emissores de gases do efeito estufa, cumprirem suas regras em detrimento de sua economia interna e em ultima análise, do seu eleitorado? Se pegarmos um tema atual, veremos que não se consegue fazer cumprir diretrizes do Conselho de Segurança na Síria, que é um país minúsculo, o que fazer então se hipoteticamente se descobrisse que a Alemanha viola regras ambientais mundiais?

Logo, contentemo-nos com os resultados pífios obtidos na Rio’ 92, cujas metas do documento final não foram atingidas em nem 5% da lista. Não será diferente na Rio + 20, por mais que o oba-oba em volta do evento seja grande e que para os desavisados seja vendida uma revolução, um pacto de concórdia entre os países para evitarem o desastre ambiental que se anuncia.

Não haverá concórdia, não haverá pacto, no máximo haverá um alerta para que cada país ao menos aumente um pouco os esforços que têm (se é que os tenha) para salvar o meio-ambiente.

-x-x-x-x-x-x-x-

Mas isso não significa que não se deva discutir o problema cada vez mais grave da degradação ambiental que por sua vez é causada pelo pior agente poluidor, o mais implacável, o mais presente e cujo combate é extremamente delicado, o homem!

Sempre digo que não existirá lugar, cidade ou país sustentável sem que o ser humano assim seja. Enquanto vivermos em um mundo que desperdiça alimentos, que é viciado em energia obtida com grave prejuízo ao meio-ambiente. Um mundo que por motivos estéticos ainda não extinguiu uma série de produtos impossíveis de reciclar, um mundo que exige cada vez mais pontos turísticos mesmo que para tanto eles agridam ecossistemas ainda virgens, um mundo que consome de tudo, em grandes quantidades e em velocidade que aumenta exponencialmente. Com esse quadro não haverá sustentabilidade por mais que diplomatas, cientistas e ecologistas se unam na tentativa de apresentar soluções.

O Brasil experimentou nos últimos 10 anos um processo que demonstra muito bem que não adianta um país querer ser sustentável a partir dos discursos do seu governo, se o seu povo não o é. Quando a população brasileira recepcionou uma melhoria econômica ela foi às compras sem nenhuma preocupação com o meio-ambiente. Primeiro importaram-se bugigangas chinesas feitas com material altamente poluente e produzidas com grande prejuízo ao meio-ambiente e mesmo à raça humana, já que muitas vezes frutos de trabalho escravo. Quando a febre dos importados perdeu força, o brasileiro descobriu o automóvel e transformou cidades pacatas em pequenas metrópoles cheias de problemas com trânsito caótico, falta de espaços urbanos e poluição. E por fim, o brasileiro adotou o mais perverso sistema de consumo que é o difundido no mundo pela cultura norte-americana e segundo o qual um produto é feito para durar pouco tempo com enorme pressão social e econômica para ser descartado e/ou trocado, muitas vezes não por não mais servir, mas simplesmente por não estar mais na moda.

O leitor lembra do Traband? O Traband era o sonho de consumo de todo o alemão oriental, ou seja, os habitantes do país socialista que resultou da cisão da Alemanha nazista no pós 2ª Guerra. O Traband rodava mal pra caramba, não dava conforto nenhum para o motorista e tinha um motor poluente que era movido a gasolina com altos índices de chumbo sendo que a instalação de um catalisador provavelmente travaria seu motor. Mesmo assim, se a gente olhar bem, o Traband era mais sustentável que qualquer carro de hoje em dia por uma razão simples - a pessoa que comprava um ficava com ele até o fim da vida - ou seja, havia uma enorme economia de recursos naturais na sua produção e mesmo que a pessoa quisesse trocá-lo, trocaria um antigo por outro mais novo mas na essência sem inovações e na prática, perda de dinheiro!

É óbvio que eu mesmo não quero viver em um mundo tipo Traband, mas se as pessoas consumissem com mais responsabilidade, se aproveitassem a vida útil de seus bens, se os enviassem corretamente para a reciclagem, se jogassem seu lixo no lugar adequado, se deixassem de consumir coisas que sabem que agridem o meio ambiente (quantos milionários adquirem móveis de madeira de lei roubada da Amazônia?) não estaríamos do outro lado do espectro, vivendo em uma sociedade tão opulenta quanto irresponsável, onde a saúde de uma empresa não está nos números consolidados do seu balanço, mas apenas na opinião de operadores ainda imberbes das bolsas de valores que exigem que ela aumente seus lucros todos os anos, apresentando novos produtos “indispensáveis” ou “da moda” para o público consumidor, sob pena de rebaixarem a cotação dos seus papéis.

Dias atrás li algo que me deixou impressionado, um articulista foi direto ao ponto e afirmou de modo bastante lúcido que a salvação do homem não está apenas em preservar os recursos naturais que são finitos, mas sim em promover a criatividade e a inovação do próprio homem, que é infinita. Talvez esteja na hora de transferir esse ânimo em inovar das fábricas de eletroeletrônicos e automóveis para os comportamentos sociais ou para programas de reaproveitamento de matérias-primas, talvez a sustentabilidade que salvará o planeta esteja em aprender a consumir de modo responsável e mais que isso, aprender a recuperar os recursos já despendidos sem perdas ou descartes de qualquer natureza ao meio-ambiente.

O desafio é conter a natureza humana, mas só o próprio homem é capaz disto!



14 de mai. de 2012

IMAGENS DO COXA / TRI-CAMPEÃO 2010/2011/2012


O poster é do portal da GRPCom/RPC-TC/Gazeta do Povo.

Dizem que campeonatos estaduais não valem nada e que são anacrônicos, mas eu não conheço nenhum torcedor que não faça festa ao vencer um. E também não conheço nenhum dirigente de futebol que diga essas coisas, que não reclame de arbitragem ou faça média com sua torcida ao perder um estadual. Todo mundo quer vencer, por mais que valha pouco e a razão é simples: é no estadual que as rivalidades mais próximas são mais evidentes e mais fortes, é neles que se torna possível brincar com o simpatizante do adversário.

Enfim, estaduais valem sim, e tanto valem que mesmo um jogador multi-coroado de glórias como Neymar faz muita festa ao vencer um, como se viu ontem.

E o Coxa? O Coxa arrancou em direção ao título justamente no pior momento do certame, quando foi derrotado pelo Arapongas. Ali, a cobrança da torcida foi transformada em combustível para seus atletas correrem mais e se superarem o que levou a uma evolução impressionante do time não só no campeonato estadual, mas também na preparação para o brasileirão, que será uma pedreira.

Há muito ainda que melhorar, mas o Coritiba vem demonstrando nas últimas 10 partidas uma evolução constante. O toque de bola tem melhorado e a defesa está mais firme, ainda falta consertar o ataque e melhorar a eficiência da saída de bola. É preciso melhorar ainda, porque o brasileirão está em um nível de exigência muito superior, porque enfrentar timaços como o Santos, Internacional e Corinthians será pedreira.

Foi em verdade, o terceiro tri-campeonato da história. O primeiro foi em 1971/1972/1973, o segundo foi na sequência, que levou ao hexa-campeonato, 1974/1975/1976. Mais que isso, o Coritiba foi campeão de 4 dos últimos 5 campeonatos paranaenses, e só não venceu em 2009 por conta de outro regulamento absurdo e destituído de bom senso, tal qual o deste ano, que não previa saldo de gols nas duas partidas da final.

Enfim, mais um time do Coritiba que entra para a história.

30 de abr. de 2012

VAI ACABAR A FARRA DOS DÉFICITS PÚBLICOS?


 O que acontece quando uma pessoa passa muito tempo gastando mais do que ganha sem poupar? Dependendo das condições de renda e de crédito, ela passa um bom tempo mantendo o padrão de vida irreal. Depois, começam as dificuldades porque as taxas de juros começam a subir e apertar o orçamento. Após mais algum tempo, se começa a diminuir suas despesas e cortar supérfluos, mas isso já não é mais suficiente para dar conta do serviço da dívida (as prestações de financiamentos e refinanciamentos, os juros das operações, as taxas de cobrança, os honorários de advogados, as custas judiciais, etc...) até que chega um momento em que ela simplesmente não consegue mais quitar absolutamente nada sem prejuízo da subsistência, ela entra em “default”.

Com países não é muito diferente. É certo que eles aguentam bem mais tempo, que o serviço da sua dívida é em patamares muito menores que o de uma pessoa, que seu poder de legislar e alterar a vida dos cidadãos criando impostos e obrigações facilita a manutenção da dívida e do estado de coisas que ela causa em sua sociedade.

Mas países também quebram.

No início deste século, a Argentina quebrou. Era um país que simplesmente não tinha mais como pagar suas dívidas em razão do acúmulo de déficits por décadas à fio sem que seus políticos populistas abrissem mão de mordomias e gastos financiados por títulos com taxas de juros cada vez mais generosas, títulos estes que as vezes eram saudados com empréstimos de organismos internacionais como o FMI. Um dia, o país encontrou-se em recessão, com receita tributária em queda, atividade econômica estagnada, dívida pública exagerada e sem crédito com organismos internacionais. O resultado foi o “default”, a paralisação de pagamentos da dívida, o pânico entre investidores do mundo todo e a paralisia do Estado como indutor econômico, legando no mínimo 4 anos de terríveis provações ao povo do país a receber serviços públicos ruins ao mesmo tempo em que experimentou achatamento salarial, desemprego, carestia e muitas situações, a fome.

Na Grécia, mesma situação.

Hoje em dia praticamente todos os países relevantes do mundo navegam em águas turbulentas de déficits públicos enormes e sequenciados por décadas. Mesmo países que são considerados exemplo de boa gestão fiscal como a Alemanha acumulam déficits, o que explica o esforço do país da chanceler Ângela Merkel em salvar seus vizinhos europeus mais pobres como a Grécia e Portugal, já que não interessa a ninguém um movimento internacional de resgate de títulos da dívida pública que têm sido rolados por anos à fio mediante a simples troca de papéis. Mesmo países ricos como a Alemanha, os EUA, a França e a Inglaterra não são capazes de saudar nem 20% suas dívidas públicas na eventual negativa do mercado de capitais e valores em rolar tais títulos.

E há países como a Grécia e a Argentina que tentam ou tentaram mascarar suas dívidas e seus indicadores fiscais, alardeando déficits muito inferiores aos reais ou arrecadações muito superiores às efetivas. O caso da Grécia então é sintomático, descobriu-se que seus governantes simplesmente mentiram para que o país fosse aceito membro da União Européia, que por sua vez se deixou enganar até por ser um órgão político, gerido por políticos que dentro de seus respectivos países administram déficits colossais em Estados que não páram de gastar e mantém-se sensíveis demais aos resultados das urnas, o que leva à não exigirem de seus cidadãos um esforço fiscal, até porque os cidadãos sabem que este deve começar com os políticos, mas estes são a parte mais resistente.

A União Européia aprovou há pouco tempo uma norma interna que obriga seus componentes a limitar seus déficits públicos em no máximo 3% do PIB e em médio prazo extinguí-los, incorporando às suas constituições a obrigação de manter seus orçamentos com superávit.
Mas a grita já começou e governantes do continente começam a reclamar do aperto a que deverão sujeitar-se, especialmente os que enfrentam eleições ou vão enfrentá-las em futuro próximo. O caso sintomático é de Nicolas Sarkozy, presidente da França, que até defende o rigorismo fiscal mas não pode alardear isso, já que enfrenta campanha complicada contra o socialista François Hollande, que por sua vez, sabe da necessidade do aperto das contas públicas e provavelmente agirá em contrário do discurso de campanha.

O fato, porém, é que descobriu-se não ser possível a país nenhum manter-se indefinidamente em déficits orçamentários contados em bilhões de dólares, euros ou mesmo reais, que um dia, cedo ou tarde, impactam na vida dos cidadãos, seja por não haver possibilidade de honrar compromissos previdenciários ou de saúde e educação, seja por não haver mais capacidade de investimento para fazer a economia crescer.

Os EUA experimentaram nas década de 90 e início da de 2000 um crescimento econômico substancial porque o governo Bill Clinton zerou o déficit fiscal do país, o que gerou facilidade em oferecer crédito, situação que foi perdida em razão dos déficits colossais patrocinados pelo governo seguinte, de George W. Bush.

O Brasil conseguiu diminuir sua relação dívida X PIB nos últimos 10 anos em razão da queda abrupta das taxas de juros que praticou durante as décadas de 80 e 90, que eram de dois dígitos, rolando as dívidas para pagamento em prazo maior com taxas menores. Mas se não atacar o problema que o déficit representa em si mesmo, em algum momento futuro vai experimentar novamente o mesmo processo de negativa de serviços públicos, investimentos e indução econômica cominado com arroxo salarial e aumento de impostos que viu no passado.

Aliás, se a União Européia mantiver o arroxo e exigir superávits de seus filiados, é provável que o mundo inteiro à siga, o que vai exigir dos políticos brasileiros uma queda substancial dos gastos ruins dos governos daqui, que são representados, por exemplo, por salários de uma horda de funcionários comissionados e/ou em confiança, ou seja, cargos políticos, moedas de troca políticas.

Talvez exista um algo de bom nessa crise econômica global, talvez seja o momento em que os países compreendam a necessidade de não existirem em função de suas dívidas, mas em função de seus cidadãos. Imagine o leitor um mundo bem menos preocupado com o humor das bolsas de valores e dos especuladores, um mundo onde o trabalho seria mais importante que operadores imberbes de mesas de câmbio e valores mobiliários?




14 de abr. de 2012

E OS JUROS, HEIM?

De repente, o clima modorrento do governo Dilma é abalado pela decisão da presidente em determinar um corte substancial nas taxas de juros cobradas pelos bancos públicos, taxas estas que chegaram a índices 35% menores.

Alguém como eu, que há tanto tempo reclama das taxas de juros pornográficas praticadas no Brasil por bancos incompetentes e gananciosos não pode deixar de elogiar a iniciativa. Mas ao mesmo tempo, fico me perguntando porque medida tão simples não foi tomada antes, por exemplo, pelo ex-presidente Lula, que tinha na cadeira de vice nada menos que José Alencar bradando aos quatro ventos contra os abusos financeiros praticados no país, a prejudicar pessoas e negócios e atrapalhar o crescimento da economia.

O fato é que redução substancial das taxas de juros em bancos públicos vai forçar os bancos privados a fazerem o mesmo pela simples razão de que os "spreads" praticados no Brasil são irreais, eles embutem uma lucratividade imoral muito maior que os riscos da operação e da inadimplência da qual os bancos vivem reclamando mesmo emprestando dinheiro sem cadastro prévio, como têm feito no financiamento de veículos nos últimos 8 anos.

Aliás, uma das razões da inadimplência alta no crédito brasileiro é justamente a incompetência visceral dos bancos pátrios, que são mal administrados, que transferem recursos para financeiras que emprestam sem critérios no microcrédito, que contratam escritórios de advocacia ruins que cuidam de suas cobranças sem critérios de qualidade, que cedem a pressões de políticos de raia miúda e que pagam bônus fantásticos para diretores nem sempre honestos e comprometidos com a sanidade das operações das instituições.

E não me venham dizer que isso é passado, porque os bancos brasileiros só não embarcaram na crise que assola a Europa e os EUA porque estão sob rédea curta no Brasil, desde que o PROER do então presidente Fernando Henrique Cardoso saneou o sistema ao custo de uma taxa SELIC de mais de 30%, recessão, dor e sofrimento para todo o povo brasileiro. Os bancos brasileiros só não caíram na farra do sub-prime porque o governo brasileiro que os salvou impediu que fizessem mais essa loucura para inflar os bônus trimestrais de seus diretores, como aconteceu com quem emprestou dinheiro para a epifânia consumista dos norte-americanos, gregos, islandeses e irlandeses.

Mais ainda constatamos que, premidos pela necessidade mercadológica de se adequarem a novos tempos, os mesmos banqueiros ainda tiveram a pachorra de exigir do governo a diminuição do IOF, dos depósitos compulsórios sobre empréstimos e medidas para "conter" a inadimplência que eles mesmos nada fazem para combater. Em outras palavras, eles querem que o governo assuma parte dos seus custos para diminuírem as taxas de juros, praticamente se declararam incapazes ou, pior, de má-vontade em cortar na própria carne gorda e tomarem uma medida de bem para todo o país.

É certo que o impacto da diminuição de taxas dos bancos públicos ainda não foi medido, e que a complexidade do sistema pode fazer com que demore, ainda, para que ocorra uma redução geral de "spreads" na economia. Existe muita burocracia para se trocar de banco no Brasil e agilizar esse processo competitivo, mas é o primeiro passo de algo que é vital para o Brasil, que ainda pratica o segundo maior 'spread" do mundo e que precisa equacionar essa questão em vista de outra muito falada nos dias de hoje, que é a competitividade do país em escala global.

2 de abr. de 2012

ATÉ TÚ, DEMÓSTENES?


Tenho por hábito e consciência não colocar a mão no fogo por político nenhum.


Político, desde o correligionário que cola cartazes e distribui santinhos na esperança de conseguir um cargo de pouco trabalho e boa remuneração, até o cacique poderoso ocupante de cargo eletivo majoritário, sempre deve ser tratado com ressalvas morais na exata medida em que a eleição custa caro, aliás, muitas vezes custa quantias inestimáveis, porque implicam negociar a própria honra.


Mas não significa que eu desacredite de todos os políticos.


Neste Brasil onde a mediocridade da oposição só encontra paralelo na mediocridade da situação que, com todo o poder que acumulou não consegue fazer sequer uma reforma importante para alavancar o progresso do futuro, destacava-se até 2010 a figura de Demóstenes Torres, que era capaz de apontar os defeitos morais do governo Lula e demonstrar ao menos um espasmo de crítica a um governo que de tão popular murchou a oposição a ponto dela apresentar um candidato (Serra) que de tanto medo de Lula, foi incapaz de atacar sua adversária e apresentar-se como opção e não variação do mesmo tema ditado pelo então presidente.


Demóstenes Torres era um senador em que eu punha fé, um ícone da praticamente inexistente oposição no Brasil, cuja mediocridade dá a forte impressão de que, se puder, adere ao governo sem ressalvas, bastando um “veeenha!” partido do Palácio do Planalto.


Ter relações com bicheiros no Brasil só parece algo prosaico e inocente, porque eles são ícones da colossal hipocrisia pátria na medida em que são tratados como “pessoas diferenciadas” da sociedade sofisticada mas desonesta dos salões e das colunas de fofocas “in”, com largos sorrisos no rosto acompanhados de artistas, celebridades e políticos que certamente lhes pedem “contribuições” para campanhas e por esta razão acabam presos a uma amizade que pode ficar inconveniente.


Demóstenes Torres deixou-se seduzir pelo bicheiro sofisticado que ninguém (e quando digo ninguém é NENHUMA autoridade) lembra ser um contraventor que geralmente é icone também de crime organizado, já que contravenção é crime, o que muda é apenas a extensão da punição que, todos sabemos, só vem se o cara pisar na bola com políticos, que foi o caso agora, o que significa que o bicheiro deverá passar por problemas no curto prazo.


Mas até tu, Demóstenes, um procurador de justiça de carreira?


Estamos vivendo um tempo de mediocridade política como jamais vista no Brasil. A dita “situação” detém 70% do Congresso Nacional mas se debate na disputa pelo controle mesquinho de ministérios cheios de cargos em comissão para distribuir para apadrinhados imprestáveis antes de pensar em deixar uma marca que avance no tempo, como as reformas que já citei. E a oposição... bem, a oposição definha, seus ícones caem como um castelo de cartas ao vento porque à ela não sobra nem mais o discurso da moralidade tantas vezes conspurcada pela situação!


Até onde iremos com esse estado de coisas em que a política anda sempre de namoro com o crime?



CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.

No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar ...