A impressão que tenho é que
os próceres do PT pensavam que por ser composto em sua maioria por
ministros indicados pelo ex-presidente Lula e pela presidenta Dilma,
o STF seria leniente com a bandalheira que foi o mensalão, esquema
que não só desviou dinheiro público mas buscou a subversão das
instituições por motivos meramente eleitoreiros em um esquema
capitaneado dentro do Palácio do Planalto.
O Brasil empreendeu desde 1988
várias medidas de reforma política. A mais grave delas e que mais
gerou efeitos nefastos foi a criação da regra de reeleição para o
poder executivo, que teve como efeito colateral justamente a troca de
praticamente 80% do STF por ministros indicados por um único
presidente, e que só não gerou uma crise gigantesca, porque as escolhas deste foram institucionais, feitas a
partir do bom senso e do conhecimento jurídico do então
ministro da Justiça, Marcio Thomás Bastos, que levou à escolha de
ótimos ministros, por mais que eventualmente não concordemos
com suas opiniões, e me refiro especialmente a Ricardo Lewandovski
sem entrar no mérito do que penso sobre Dias Tóffoli, cuja
indicação não foi institucional, mas meramente política, numa
altura dos acontecimentos em que Bastos já não estava mais
respondendo pela pasta da Justiça.
O que se conclui do julgamento do mensalão é que o Brasil precisa de reformas
políticas amplas. Não basta alterar regras sensíveis da
Constituição sem adequar seus efeitos colaterais. Não basta apenar
7 anos depois alguns políticos acusados de desviar dinheiro público
com finalidade específica de financiar campanhas. Não basta proibir
brindes e showmícios para diminuir o custo das campanhas se os
candidatos transferem o dinheiro disto para santinhos que espalham
pelas ruas e musiquinhas tornadas onipresentes por carros de som. Não
basta exigir ficha limpa de ninguém se o Judiciário é incapaz de
julgar as situações antes dos pleitos abrindo a brecha para
confundir o eleitor com renúncias de última hora em favor de
filhos, esposas ou amigos que garantam a manutenção do poder do
grupo político cujo cabeça eventualmente já foi condenado em
segunda instância.
O mensalão foi apenas o ápice
de um processo de degeneração dos costumes políticos, causado pelo
Estado por demais paternalista e por de menos profissional, onde os
políticos se acostumaram a trocar apoios por cargos e benesses e
serem eleitos sem contato com o povo em razão de campanhas
midiáticas e milionárias que se repetem desde candidaturas de
vereadores em grotões do interior até às de presidentes que se
limitam a articular alianças espúrias em razão da acumulação do
tempo de TV que por sua vez, não os faz buscar apoios reais nos
estados e municípios, mas mera aproximação com caciques de
partidos que só existem justamente para isto – faturar -
com a venda de seus espaços de mídia!
O mensalão foi
apenas o maior esquema de muitos, de centenas deles que se repetem
todos os dias em todas as esferas do poder em maior ou menor grau
financeiro com finalidade específica de carrear recursos para
campanhas assim, subvertendo a verdadeira vontade popular e sabendo
que as instituições jamais terão
capacidade de apurar e julgar todos os delitos.
Reforma política passa, em verdade, por adequar a regra de
aposentadoria do STF eliminando o afastamento compulsório aos 70
anos, porque não é implausível que no futuro, um presidente não
seja assim tão coerente quanto foram FHC e Lula e é Dilma, em não
indicar apenas por motivação meramente política. Passa também por
adequar os prazos para a aplicação de leis eleitorais, de modo tal
que o TSE julgue todos os recursos antes do início das campanhas,
nem que as convenções partidárias tenham que ser feitas em
dezembro do ano anterior para dar tempo que elas iniciem com os candidatos já homologados, sem chances de empreenderem
manobras ou entregarem suas candidaturas a terceiros, mesmo
aparecendo seus rostos nas urnas eletrônicas. E por óbvio, passa
por alterar a estrutura da campanha de TV e rádio, de modo a impedir
a existência de partidos de fachada a vender seus tempos, ao mesmo
tempo em que se força o candidato a ir para as ruas e pedir seus
votos para as pessoas, proibindo, por exemplo, as placas fixas e
móveis, os santinhos de candidatos e os carros de som nas campanhas
de vereadores e deputados.
O
julgamento do mensalão coincidiu com eleições e isso demonstrou de
uma vez só os tremendos defeitos de nosso sistema político. Se o
Brasil quiser, o conjunto dos fatos alardeados pela mídia podem lhe
ensinar o caminho de uma reforma política eficiente que devolva ao
povo a decisão de eleger alguém e acabe com essa situação grave,
de a cada 2 anos termos que esperar para que os tribunais decidam o
resultado final da eleição bem depois dela, ou ainda, leve 7 anos
para punir quem tentou subverter o processo democrático.