2 de abr. de 2012

ATÉ TÚ, DEMÓSTENES?


Tenho por hábito e consciência não colocar a mão no fogo por político nenhum.


Político, desde o correligionário que cola cartazes e distribui santinhos na esperança de conseguir um cargo de pouco trabalho e boa remuneração, até o cacique poderoso ocupante de cargo eletivo majoritário, sempre deve ser tratado com ressalvas morais na exata medida em que a eleição custa caro, aliás, muitas vezes custa quantias inestimáveis, porque implicam negociar a própria honra.


Mas não significa que eu desacredite de todos os políticos.


Neste Brasil onde a mediocridade da oposição só encontra paralelo na mediocridade da situação que, com todo o poder que acumulou não consegue fazer sequer uma reforma importante para alavancar o progresso do futuro, destacava-se até 2010 a figura de Demóstenes Torres, que era capaz de apontar os defeitos morais do governo Lula e demonstrar ao menos um espasmo de crítica a um governo que de tão popular murchou a oposição a ponto dela apresentar um candidato (Serra) que de tanto medo de Lula, foi incapaz de atacar sua adversária e apresentar-se como opção e não variação do mesmo tema ditado pelo então presidente.


Demóstenes Torres era um senador em que eu punha fé, um ícone da praticamente inexistente oposição no Brasil, cuja mediocridade dá a forte impressão de que, se puder, adere ao governo sem ressalvas, bastando um “veeenha!” partido do Palácio do Planalto.


Ter relações com bicheiros no Brasil só parece algo prosaico e inocente, porque eles são ícones da colossal hipocrisia pátria na medida em que são tratados como “pessoas diferenciadas” da sociedade sofisticada mas desonesta dos salões e das colunas de fofocas “in”, com largos sorrisos no rosto acompanhados de artistas, celebridades e políticos que certamente lhes pedem “contribuições” para campanhas e por esta razão acabam presos a uma amizade que pode ficar inconveniente.


Demóstenes Torres deixou-se seduzir pelo bicheiro sofisticado que ninguém (e quando digo ninguém é NENHUMA autoridade) lembra ser um contraventor que geralmente é icone também de crime organizado, já que contravenção é crime, o que muda é apenas a extensão da punição que, todos sabemos, só vem se o cara pisar na bola com políticos, que foi o caso agora, o que significa que o bicheiro deverá passar por problemas no curto prazo.


Mas até tu, Demóstenes, um procurador de justiça de carreira?


Estamos vivendo um tempo de mediocridade política como jamais vista no Brasil. A dita “situação” detém 70% do Congresso Nacional mas se debate na disputa pelo controle mesquinho de ministérios cheios de cargos em comissão para distribuir para apadrinhados imprestáveis antes de pensar em deixar uma marca que avance no tempo, como as reformas que já citei. E a oposição... bem, a oposição definha, seus ícones caem como um castelo de cartas ao vento porque à ela não sobra nem mais o discurso da moralidade tantas vezes conspurcada pela situação!


Até onde iremos com esse estado de coisas em que a política anda sempre de namoro com o crime?



SOCIEDADE DE CASCAS-GROSSAS

É interessante notar o estágio da sociedade brasileira que com quase uma década de estabilidade econômica, adotou a violência, a má-educação e a estupidez como padrão de comportamento.

Para o brasileiro médio de hoje em dia não basta se divertir, tem que incomodar terceiros de alguma forma. Não basta ter amigos se isso não significar beber até ficar de 4. Não basta ter namorado ou namorada, tem que “pegar” o máximo possível de periguetes na balada que toca música sertaneja que incentiva à bebedeira, o sexo irresponsável e o puro e simples agir de modo boçal, ignorando as regras mais elementares de educação, valor que virou coisa de otário.

O Brasil rico também é o lugar onde estudar é coisa de panaca, o que se constata a cada vez que se vê um cantor sertanejo afirmando em meio a sorrisos à sua volta que “deixou a escola, graças a Deus!”, como fez um desses patetas de cabelos oleosos tempos atrás com a vibração do Faustão ao lhe puxar o saco!

Uma sociedade que enriqueceu a olhos vistos e usou isso para propagar maus exemplos em reality shows, rodeios e brigas de rua travestidas de esporte. Os ídolos da juventude de hoje são pessoas que vendem até a mãe para ganhar ganhar reality show da TV ou ao menos conseguir um contrato de nudez em revistas de baixo nivel, e brucutus que cultuam o corpo perfeito mas com o cérebro atrofiado, que se orgulham de suas lutas onde o sangue espirra por todos os lados em meio de uma turba cuja vibração consiste em incentivar a humilhação física e moral do adversário.

Viramos uma sociedade de cascas grossas. Antigamente, cantava-se “olha que coisa mais linda mais cheia de graça” para elogiar uma bela mulher que passava, hoje, fala-se “ai se eu te pego” como que dizendo que uma bela mulher nada mais é que uma mercadoria no supermercado do prazer a qualquer custo, nem que “pegar” signifique violência moral ou física se ela não o quiser.

O resultado desse padrão de comportamento perverso ditado pela obrigação de 'se dar bem” a todo custo é uma sociedade violenta.

Os índices de acidentes de trânsito causados por bêbados e irresponsáveis batem recordes, o número de ocorrências de violência doméstica, idem, os estupros e as violências sexuais contra crianças e adolescentes também, os maus tratos e torturas contra animais são praticamente um padrão de comportamento., sem contar assaltos, formações de quadrilhas, corrupção, trafico e todos os tipos de atentados à humanidade que acontecem todos os dias enquanto muita gente pensa que sua “diversão” em patrocinar brigas, bebedeiras, assédio sexual e perturbação da ordem é inocente.

22 de fev. de 2012

OS JET-SKI DO ANDRÉ BARCINSKI

Na Folha de S.Paulo (leia aqui) , o André Barcinski expôs sua indignação com a morte da garotinha de 3 anos na praia de Guaratuba em Bertioga, afirmando sua antipatia pela máquina jet-ski.

Muita gente escreveu nos comentários, inclusive com o tradicional jeito agressivo que os ignorantes usam quando suas opiniões não são seguidas à risca, que sendo uma máquina, o jet-ski não difere muito do carro ou da moto que geram acidentes e mortes quando pilotados por irresponsáveis. Querem dizer que a situação é a mesma - um piloto irresponsável de jet-ski equivale a um motorista bêbado ou a um motociclista arrojado demais.

Faz sentido, é verdade, mas mesmo assim eu concordo com o Barcinski.

Jet-ski devia ser como avião de caça, tanque de guerra, metralhadora ou canhão, ou seja, de uso exclusivo do Estado, para a Marinha, para uma Guarda-Costeira, para Bombeiros e para Polícia, e só.

É certo que no Brasil existe o componente da impunidade. Um idiota dono de um jet-ski não raro usa-o para exibicionismo e simplesmente ignora qualquer regra básica de segurança, que dizer as regras de bom senso no uso da coisa.

Aliás, é incrível como o bom senso no Brasil anda fora de moda. Qualquer ameba percebe que um garoto de 14 anos não pode sequer acionar um jet-ski ou dirigir um carro, mesmo assim, pais liberam as máquinas com a mesma facilidade que toleram que o filhote encha a cara de álcool e quando perguntados sobre a situação dizem não saber o que fazer ou ter medo de ferir os sentimentos do monstrinho e prejudicar seu desenvolvimento.

Nem pensam que ao dar tudo o que ele quer e aceitar tudo o que ele pensa, já desmontaram o desenvolvimento dele como cidadão, o transformaram em um boçal.

Bom senso é palavrão neste país onde pais pegam filhos na escola em fila tripla e aceitam que eles recebam uma formação altamente consumista em colégios que promovem o exibicionismo com suas coleções de uniformes e acessórios e festas juninas cheias de concursos para eleger o mais isso ou a mais aquilo. O bom senso sucumbiu ante a paranóia de fazer as crianças aparecerem a qualquer custo como as mais belas, as mais elegantes ou as mais descoladas. Dar uma formação coletivista (o que não significa comunista), para que elas aprendam a viver em sociedade sem prejudicar o próximo, nem pensar! Isso, combinado com pais sem pulso e incapazes de legar valores aos seus filhotes, causou essa geração de irresponsáveis que vemos cometendo as piores barbaridades com a desculpa da juventude.

Mas voltando ao jet-ski, o fato da Justiça brasileira ser lerda e elitista, porque é pesada para o pobre e branda para o rico, leva à esta necessidade boba de tirar das mãos da sociedade alguns instrumentos que causam problemas.

Um deles poderia ser o jet-ski. Outro, a título de exemplo, as garrafas long-neck que a rapaziada leva no porta-malas do carro e depois quebra em praça pública legando um problema ambiental além da própria manguaça ao volante!

O jet-ski não é essencial para o dia a dia de quase ninguém. O uso dele ou é por órgãos públicos ou é por exibicionistas, muito raramente trata-se do modo de locomoção de algum ribeirinho. Logo, tirado de circulação, só alivia o mundo de uma oportunidade que os imbecis usam para se mostrarem e se dizerem mais que os outros.

É ruim, concordo, mas é melhor que assistir à toda hora notícias sobre acidentes causados por patetas que a Justiça não coíbe por não ter firmeza de afrontar bons advogados e punir os pares de mesma classe social dos juízes. A verdade é esta, a justiça olha para ricos que tem dinheiro para ter jet-ski, com uma benevolência que não tem para os pobres e principalmente para as vítimas de quem usa uma máquina perigosa e potente como um brinquedo que inclusive pode ser repassado para uma criança mimada de 14 anos.

Pegue todos os jet-ski privados do país e suma com eles, que ninguém vai sentir a diferença. Mesmo os usuários deles vão encontrar outro meio menos perigoso para terceiros de se exibirem como pavões. Não seria a mesma coisa que eliminar todas as motos e automóveis privados, porque isto geraria o caos nos transportes públicos.

É um paliativo. Bobo, é verdade, mas se a gente pensar bem, quer bobeira maior que a epidemia de babaquice, irresponsabilidade e impunidade que vivemos hoje em dia?

Essa história de que a máquina não pode responder pela irresponsabilidade do dono também é relativa. É claro que o Brasil não vai chegar a proibir jet-ski, isso é alegoria que usei para justificar o porquê de concordar com o André Barcinski, mas esse raciocínio não muito inteligente é decorrência da impunidade que permeia todas as relações sociais no Brasil, onde a Justiça não é justa e onde o infrator sempre tenta e não raro consegue transferir sua culpa e responsabilidade para a vítima.

Esse garoto de 14 anos, eventualmente vai ficar uma temporada numa casa de correção e depois voltar aos braços dos pais que alegremente lhe darão um jet-ski novo aos 18 anos. Pelo histórico da Justiça brasileira, é provável que os adultos responsáveis pela tragédia nunca sejam punidos... estou errado?

CADERNOS DE VIAGEM - 16 - APARECIDA/SP

É chover no molhado falar da emoção que uma pessoa normal sente ao deparar com tanta fé estampada nos rostos das pessoas, nos cumprimentos das promessas, nas oferendas acumuladas na sala dos milagres, no trabalho incessante de construção da Basílica que levará centenas de anos para estar pronta e quem sabe, nunca chegue a tanto.

Dizer que chorou ao encarar a imagem da santa é apenas constatar ser humano. Todos choram, todos se emocionam, é impossível adentrar a um recinto de energias tão boas e poderosas sem sentir a presença de Deus e sem imaginar o quanto o homem é pequeno e limitado, um grão de areia em um oceano.

Mas muito há que se falar da grandiosidade, da arquitetura de tirar o fôlego, do bom gosto das estátuas, do bom atendimento ao romeiro, da preocupação com o bem estar de quem lá vai em busca da proximidade com Deus.

Tudo na Basílica remete ao trabalho duro do homem inspirado por Deus, em tudo, sentimos a presença d'Ele.

A beleza das fotos que seguem é apenas reflexo do que se vê em Aparecida. Mas não há palavras para descrever o que se sente no lugar!



São Pedro, na fachada da Basílica.



Interior da Basílica, ao fundo, no quadrado dourado, a imagem da Santa, padroeira do Brasil.



A torre onde situa-se o museu. Um prédio colossal que visto de fora nem parece ter o tamanho que tem.



As muitas promessas cumpridas pelas graças recebidas.




A nova Basílica em toda sua grandiosidade. E mesmo a foto, não demonstra o quanto ela é imponente.




A antiga Basílica, outro espetáculo de arquitetura, beleza e fé!

Clique na imagens para ampliá-las.

Todas as fotos são de minha autoria, o uso na internet é livre, citada a fonte.

8 de fev. de 2012

A RADICALIZAÇÃO NOSSA DE CADA DIA

Imagem: Carlos Lacerda - esquerdista radical e intolerante na juventude, direitista radical e intolerante na idade adulta.


Parece que os políticos brasileiros, especialmente os do PT e aliados, ainda não aprenderam a lição que eles mesmos martelavam na cabeça do povão quando eram oposição: ano eleitoral é ano de lutas e radicalizações, é momento de fazer barulho, de incomodar, de acusar as autoridades de fascistas, de explorar a cantilena dos movimentos sociais, de dizer que o mundo é injusto e que os governos não querem negociar. É hora de afrontar a autoridade e fazer com que ela tenha vergonha de si mesma porque o efeito é sempre favorável a quem protesta - se aplicada gera mártires entre baderneiros e imagens chorosas para a TV, se não, gera uma impopularidade idêntica partida de quem defende a ordem e não aceita a omissão em cumprir a Lei.


Em outras palavras, a intenção de quem protesta é chamar a atenção para sua causa e constranger a classe política, de modo que a atitude dos PM(s) baianos não é diferente da dos invasores do Pinheirinho em São José dos Campos. E se o momento é propício, como o atual, onde os governos do Brasil afora torram dinheiro com Copa do Mundo, tanto melhor.


Os policiais da Bahia estão exigindo a mesma prioridade que é dada à Copa do Mundo. Como os policiais e bombeiros do Rio de Janeiro já fizeram e ameaçam repetir, como é provável que aconteça pelo país afora em outros estados e como tem sido comum nos canteiros de obras do evento, que volta e meia são paralisados por greves por melhores salários e melhores condições de trabalho, e tudo isso sem que os governos (e daí, bem dito de todos os partidos) aceitem reconhecer que gastam dinheiro público com coisas quase inúteis, mas se recusam a melhorar as condições de saúde, segurança e educação.


Se o governo da Bahia pode gastar quase 700 milhões para construir um estádio, como o Rio de Janeiro gasta 1 bilhão para reformar o Maracanã, então deve ter dinheiro para remunerar dignamente os profissionais da segurança pública, cujas atividades são muito mais relevantes e indispensáveis que a construção de estádios que, com exceção do Maracanã, estarão sub-utilizados na maior parte de sua existência.


No Brasil há uma tendência em encarar a radicalização de movimentos como casos isolados, quando em verdade eles são parte do processo político.


O petistas taxaram as ações na Cracolândia em São Paulo de higienistas e a reintegração judicial de posse do Pinheirinho de fascista mas não hesitaram em chamar o Exército e a Força Nacional na Bahia para prender lideres da classe policial. Fizeram em casa o que não aceitam que se faça em estados que não governam, sendo que os motivos em todos os lugares, inclusive na Bahia, são válidos, de resguardar a Lei pela Lei, como todo político deve fazer sempre.


O processo político e a aplicação da Lei estão acima dos partidos e ideologias. Não deixará de haver radicalização, protestos, piquetes, atos violentos ou pacíficos apenas porque um partido dito de “esquerda” está no poder, até porque uma vez no poder, descobre-se que as soluções para os problemas e as reivindicações não são tão simples quanto as palavras de ordem gritadas em passeatas.

Políticos tem leis a cumprir, suas ações não são simplistas e contra eles existe o fato de que sempre há dois outros poderes constituídos que devem ser ouvidos em praticamente todas as decisões. O manifestante de rua acha que se chegar ao poder, a força de sua ideologia será suficiente para atender todas as demandas, mas só quem já passou pelo poder aprende que isso é utopia.

1 de fev. de 2012

SERÁ QUE O DIREITO À PRIVACIDADE ACABOU?

De uns tempos para cá, com o aparecimento dos blogs e depois das redes sociais, a impressão que temos é que as pessoas estão abdicando da sua privacidade, escancarando suas qualidades e defeitos (principalmente eles), contando vantagem de ter ido a este ou àquele lugar, mostrando o carro novo, o celular novo, o novo apartamento e expondo crianças aos perigos da pedofilia cada vez mais presente na sociedade, alimentada pela incapacidade de pais que não sabem exatamente o limite da exposição que devem dar a seus filhos, que são tratados como mercadorias a serem exibidas ao mundo como prova da felicidade da família, que nem sempre é real que dizer constante, como parecem mostrar as fotos sorridentes que todas as pessoas (inclusive este que vos escreve) divulgam na internet.


Artistas, quase artistas, celebridades e sub-celebridades chegam a informar em que hora se dirigem ao mictório e não raro exibem crianças com a real intenção de transformá-las em fonte de faturamento. Pessoas ditas “públicas” que buscam alimentar uma opulência geralmente falsa, uma vida de compromissos sociais intensos que não condiz com suas posses materiais. E há inclusive, quem resolve divulgar sua decadência material para ser se consegue ser objeto de pena da sociedade para obter um sucesso redivivo, mesmo fugaz.


Também há os que partem para a briga, usam a internet para distribuir farpas, alimentar polêmicas, se fazerem de vítimas de uma injustiça falsa alimentada pela própria sanha em aparecer a qualquer custo para tentar faturar alguma coisa com o fato.


Some-se a isto a mania dos “reality shows” que evidenciam o pior lado de psiqué humana, generosamente exibindo corpos sãos em mentes adoentadas vendendo o corpo para satisfazer o desejo paranóico por fama e exposição, quase sempre não acompanhadas de progresso material, mas apenas de decepções. São programas em que o espectador anseia ver o que sabe que não verá e nos quais os participantes mostram a única mercadoria que lhes sobra para ficarem famosos sem talento e/ou capacidade intelectual, seus belos corpos generosamente exibidos numa postura sexista exagerada, até porque, é histórico que sexo é a mercadoria mais fácil de vender desde tempos imemoriais.


Isso reflete na sociedade. Não há um dia sequer em que, ao abrir a internet, não deparemos com alguma imagem bisonha postada em um facebook ou um orkut, de um indivíduo exibindo notas de vinte reais do salário recebido no dia ou outra usando biquini numa caixa dágua, isso quando algum marginal não exibe o produto de seus crimes e acaba preso em razão de sua estupidez extrema em se mostrar para os “amigos” como alguém bem sucedido.


É interessante para a imprensa dos nossos dias que a privacidade desapareça e que se possa devassar a vida alheia ao sabor da necessidade de preencher espaços em portais de internet com notícias bombásticas de apelo popular. É o sonho dourado de editores que precisam desesperadamente de fatos que chamem a atenção do grande público (e não do público qualificado, este pouco interessa para a internet) cujo interesse é fofocar sobre a vida de jogadores de futebol, atores de novela, modelos e gente da alta sociedade.


Mesmo assim, o direito à privacidade não acabou justamente pelo fato já comprovado de que só abre mão dela quem tem interesses econômicos imediatistas e quem não tem arcabouço intelectual suficiente para entender que seu exibicionismo não passa de uma piada pela qual a imensa maioria das pessoas vai rir pelas suas costas, os bôbos da côrte em versão de massa, cujos atos ridículos expostos na internet, servem para o entretenimento de milhões de pessoas que zombam da atitude pouco inteligente de se dar ao ridículo achando estar a caminho do sucesso com amigos e com desconhecidos.

O direito à privacidade, arduamente conquistado depois de centenas de anos de lutas por democracia e contra o absolutismo dos governantes é recente, ele remonta a meados do século XIX, tempo em que se consolidaram muitas das interpretações sobre direitos individuais havidas desde a Guerra da Independência dos EUA e da Revolução Francesa. E há quem diga ainda, que ele só grande valor por um curtíssimo período de tempo que ocorreu entre o fim do Macarthismo (a Caça às Bruxas nos EUA) e o 11/9/2001, quando passou a ser limitado em razão da necessidade de lutar contra as ditas forças assimétricas do terrorismo. Mais especificamente no Brasil, o direito à privacidade foi duramente golpeado com a possibilidade de quebra administrativa do sigilo bancário em favor do combate à corrupção e à sonegação fiscal, uma necessidade nacional que mesmo existindo legalmente, ainda assim é usada com muito critério a ponto de não virar, salvo episódios isolados, uma violação flagrante.


Mas a grande verdade é que o direito à privacidade só parece ter acabado, ele mantém-se firme a partir da atitude das pessoas. Uma famosa atriz de novelas conseguiu na Justiça uma decisão que impõe a certo programa de TV a manutenção de um perímetro de segurança tal que não possam atentar contra sua privacidade como tentaram por dezenas de vezes. Um renomado humorista simplesmente ignorou a pressão que o mesmo programa de TV lhe fez e simplesmente não deu atenção para a suposta polêmica de ter sido “mal educado”, de tal modo que o assunto simplesmente se esvaiu, desapareceu. A atitude de quem não quer sua vida esmiuçada em bocas de lavadeiras mantém firme e forte o direito à privacidade.


Nota-se nitidamente na sociedade atual uma divisão entre as pessoas que mantém os limites de sua privacidade, geralmente as mais capacitadas que não dependem de exposição pública, e as que transformam suas vidas em shows inverossímeis do tipo “acredite se quiser”. Com exceções (é claro), artistas, políticos e figuras públicas intelectualmente qualificadas mantém a postura sóbria de promover sua privacidade acima dos interesses em devassá-la, os (com exceções) desqualificados por sua vez, buscam a exposição a qualquer preço, por mais que ela lhe cause problemas futuros de falsa imagem mitificada, assumindo o risco de serem taxados o resto da vida como isso ou aquilo, em razão de não terem preservado sua imagem ao tempo certo.


Isso também vale para a sociedade no geral. Basta verificar no seu orkut ou facebook quem exagera nas poses sensuais das fotos ou mesmo na quantidade de imagens que expõe lá, ou, pior, na quantidade de informações pessoais absolutamente inúteis que desata a relatar como que tentando demonstrar uma vida num “glamour” que todos seus conhecidos sabem que não é verdadeira. É a uma busca pela fama fundada na esperança da “descoberta” por alguém, a tentativa de ser o que não é ou de mostrar que se insere em um meio que não é o seu. Isso é humano, há pessoas que têm essa necessidade de se mostrarem sempre exuberantemente felizes e com sucesso, mesmo que não seja humana uma vida de eterna felicidade e opulência.


Mas não significa nem de longe que o direito à privacidade acabou, na exata medida em que ela pode (e deve) ser defendida a partir de arcabouços legais ainda não revogados. A privacidade não acabou, o que acontece é que, agora, ela é uma construção intelectual e, como tudo o que depende de gente que pensa de verdade, demora para ser assimilada pelas massas, daí a falsa impressão geral de que a vida é um livro aberto.

30 de jan. de 2012

O GOSTO BRASILEIRO POR MARGINALIDADE

Imagem: Irresponsabilidade de bebum.

Que no Brasil não se respeita a lei a gente já sabia, mas a impressão é que, de tempos para cá, agora resolveu-se ir mais além, agora também não há respeito às ações do Estado em prol da ordem e dos bons costumes.

Em Curitiba um grupo de policiais estourou um cassino de luxo que também era usado como casa de prostituição e agora assistimos uma tentativa velada de setores da elite política paranaense (segundo consta, useira e vezeira do local) em incriminar os agentes da lei porque não planejaram a operação antes, como se a um policial fosse proibido prender um indivíduo delinqüindo às suas vistas. Queriam no mínimo que os figurões da cidade fossem avisados antes para a operação não gerar constrangimentos nas altas rodas cheias de políticos de raia miúda que de chiques só tem a aparência e o lugar cativo em colunas sociais jecas da imprensa local.

Negócio agora é desqualificar os policiais dizendo que, ao invés de terem estourado uma fortaleza do jogo que roubava os usuários, estavam praticando política sindical e constrangendo o governo por melhores salários ao não se fazerem acompanhar por um delegado.

Em São Paulo, a ação do governo em atacar o problema da Cracolândia foi tratada como higienista e nazista e ainda se apelou para o sentimentalismo barato de perguntar para onde aquela horda de viciados e traficantes iria, uma vez que teve desmontadas parte das estruturas precárias onde praticavam o vício e supostamente viviam. Falou-se todo tipo de palavra de ordem, levantou-se todo tipo de demagogia barata, mas nenhum dos tais grupos de "direitos humanos" se preocupou com as pessoas que tiveram imóveis invadidos e destruídos pelo tráfico de drogas e o consumo delas na região, ou com os milhares de assaltos à luz do dia que ali aconteciam, ou com as brigas e contendas entre viciados que ceifavam vidas na mais pura violência patrocinada por barões do tráfico que tomaram aquela parte da cidade para si e seus interesses. Os grupos de "direitos humanos" têm a mania de apontar o dedo sujo para qualquer autoridade que tome providências práticas, mas fazem vistas grossas para as vítimas do tráfico, pessoas que perdem familiares mortos ou desaparecidos, pessoas furtadas, roubadas, assassinadas e violentadas, pessoas sujeitas a todo tipo de violência praticada por usuários que na maioria das vezes simplesmente nem querem se tratar e por traficantes que no mínimo, financiam grupos de "direitos humanos" que maliciosamente usam como "escudos" para suas ações criminosas.

Vale tudo para desqualificar a operação, inclusive afrontar policiais e dizer que prisão por crime de desacato é arbitrariedade, sem se preocupar sequer em lembrar que desacato é crime tão punível quanto o tráfico e mesmo o consumo de drogas, especialmente quando este consumo não raro é financiado pelo crime de raia miúda, o ladrão de galinha que precisa desesperadamente de 20 reais por dia para se manter no vício. A cidade pode perder um espaço público, proprietários podem perder imóveis, pessoas podem perder bens materiais e imateriais, podem perder partes dos corpos e até a vida, para que demagogos defensores de marginais gritem palavras de ordem e fiquem do lado errado da questão, apenas pelo prazer de afrontar as autoridades constituídas que mal ou bem ainda defendem a ordem!

Em São José dos Campos a Justiça determinou a reintegração de posse de um terreno invadido, e até secretário do ministro das cidades apareceu lá para tentar impedir a operação, como enviado do partido de um governo que teve 8 longos anos para buscar uma solução que alocasse os invasores no local e indenizasse os proprietários do terreno, mas que nada fez a não ser demagogia barata a partir do discurso imbecil de que os invasores não tinham para onde ir, como se isso fosse problema do autor da ação de reintegração, que além de esperar o Judiciário paquidérmico levar 8 anos para decidir que seu terreno é seu mesmo e depois mandar a polícia (que não acompanha nenhuma ação de desforço necessário de posse imediata, como manda o Código Civil) efetivar a ordem conseguida a duríssimas penas depois de uma batalha onde os personagens vão desde juízes que pouco trabalham, assessores incompetentes, advogados malandros e um Estado disfuncional que não garante a propriedade de ninguém, muito menos a vida de quem quer que seja e que quando acaba o fazendo, é afrontado por grupos armados de defesa do errado, da baderna e do vale-tudo.

Pois bem, além de terem invadido o imóvel sabendo que ele não era público nem estava à disposição de programas de moradia popular, os invasores organizaram milícias munidas de capacetes, paus, pedras e vontade férrea em criar um confronto para serem taxados de "vítimas" do sistema, sendo justamente o contrário, pois não é aceitável vitimizar quem simplesmente ignora a lei quando ela não lhe é conveniente.

Parece que o negócio no Brasil, especialmente em época de eleições, é defender o bandido e o marginal a qualquer custo. Parece que são o bandido, o marginal e o mau-caráter que representam a sociedade contra os governos e polícias e não o contrário. Parece que os grupos de "direitos humanos" só se preocupam com o bem estar de minorias de irresponsáveis violentos e desapegados a regras, sem preocupação alguma com as vítimas deles, as pessoas honestas (e mesmo as não honestas) e (ou mas) protegidas pela Lei, e que só podem ser afrontadas ou perder seus bens mediante sentença judicial, e não ordem de algum líder popular disposto a afrontar o Estado para depois se eleger vereador ou prefeito e gozar das doces mordomias do poder, em que todo o demagogo é viciado.

É certo que no Brasil os marginais nunca foram tão idolatrados.

É assassino italiano que recebe asilo político com o abraço até de presidente da república, são "musas" de reality shows que vendem o corpo feito mercadoria para se darem bem, são funkeiros que incentivam o crime, a afronta aos bons costumes, são sertanejos que viram sucesso alardeando "pegar" mulheres como se elas fossem coisas materiais na prateleira se um supermercado. No Brasil, o criminoso sempre se faz de vítima. Quem bebe e dirige se faz de vítima para não fazer bafômetro ou, se o faz, diz que seus direitos foram violados para não responder sequer por assassinatos a mão armada de carrões potentes e largas doses de álcool, e é vítima também quem vende a bebida para menores e os pais que colocam idiotinhas no mundo para incomodar a terceiros e depois alegam não saber das atividades estúpidas de seus filhinhos boçais, consumistas e malcriados por escolas que prometem muito, mas são incapazes (como qualquer uma) de substituir a ética que deveria partir dos pais que são igualmente boçais e cujos comportamentos são imitados pelos filhos sem freios!

Ninguém no Brasil quer ser responsável por nada, estamos vivendo a era da marginalidade onde todos se acham oprimidos pelo Estado mesmo não observando a lei e princípios éticos óbvios. Todos levantam a voz para gritar contra as arbitrariedades... desde que elas não sejam de sua própria autoria!

CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.

No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar ...