Parece que os políticos brasileiros, especialmente os do PT e aliados, ainda não aprenderam a lição que eles mesmos martelavam na cabeça do povão quando eram oposição: ano eleitoral é ano de lutas e radicalizações, é momento de fazer barulho, de incomodar, de acusar as autoridades de fascistas, de explorar a cantilena dos movimentos sociais, de dizer que o mundo é injusto e que os governos não querem negociar. É hora de afrontar a autoridade e fazer com que ela tenha vergonha de si mesma porque o efeito é sempre favorável a quem protesta - se aplicada gera mártires entre baderneiros e imagens chorosas para a TV, se não, gera uma impopularidade idêntica partida de quem defende a ordem e não aceita a omissão em cumprir a Lei.
Em outras palavras, a intenção de quem protesta é chamar a atenção para sua causa e constranger a classe política, de modo que a atitude dos PM(s) baianos não é diferente da dos invasores do Pinheirinho em São José dos Campos. E se o momento é propício, como o atual, onde os governos do Brasil afora torram dinheiro com Copa do Mundo, tanto melhor.
Os policiais da Bahia estão exigindo a mesma prioridade que é dada à Copa do Mundo. Como os policiais e bombeiros do Rio de Janeiro já fizeram e ameaçam repetir, como é provável que aconteça pelo país afora em outros estados e como tem sido comum nos canteiros de obras do evento, que volta e meia são paralisados por greves por melhores salários e melhores condições de trabalho, e tudo isso sem que os governos (e daí, bem dito de todos os partidos) aceitem reconhecer que gastam dinheiro público com coisas quase inúteis, mas se recusam a melhorar as condições de saúde, segurança e educação.
Se o governo da Bahia pode gastar quase 700 milhões para construir um estádio, como o Rio de Janeiro gasta 1 bilhão para reformar o Maracanã, então deve ter dinheiro para remunerar dignamente os profissionais da segurança pública, cujas atividades são muito mais relevantes e indispensáveis que a construção de estádios que, com exceção do Maracanã, estarão sub-utilizados na maior parte de sua existência.
No Brasil há uma tendência em encarar a radicalização de movimentos como casos isolados, quando em verdade eles são parte do processo político.
O petistas taxaram as ações na Cracolândia em São Paulo de higienistas e a reintegração judicial de posse do Pinheirinho de fascista mas não hesitaram em chamar o Exército e a Força Nacional na Bahia para prender lideres da classe policial. Fizeram em casa o que não aceitam que se faça em estados que não governam, sendo que os motivos em todos os lugares, inclusive na Bahia, são válidos, de resguardar a Lei pela Lei, como todo político deve fazer sempre.
O processo político e a aplicação da Lei estão acima dos partidos e ideologias. Não deixará de haver radicalização, protestos, piquetes, atos violentos ou pacíficos apenas porque um partido dito de “esquerda” está no poder, até porque uma vez no poder, descobre-se que as soluções para os problemas e as reivindicações não são tão simples quanto as palavras de ordem gritadas em passeatas.
Políticos tem leis a cumprir, suas ações não são simplistas e contra eles existe o fato de que sempre há dois outros poderes constituídos que devem ser ouvidos em praticamente todas as decisões. O manifestante de rua acha que se chegar ao poder, a força de sua ideologia será suficiente para atender todas as demandas, mas só quem já passou pelo poder aprende que isso é utopia.
Não há como concordar com esta afirmação:
ResponderExcluir"...de modo que a atitude dos PM(s) baianos não é diferente da dos invasores do Pinheirinho em São José dos Campos"
São iguais em que? Um grupo de grevista que ocupou a Assembléia Legislativa é diferente do invasores do Pinheirinho que ocuparam aquilo lá faz muito tempo, e lá permaneceram enquanto a questão rolava na justiça.
O objetivo do paragrafo sei, foi afirmar o radicalismo. Neste caso, a ação no Pinheirinhos vai de encontro a situação, a menos, que se advogue que a desocupação agora, neste ano eleitoral foi provocada para exatamente, provocar ação do governo de SP, no entanto, a ação foi mais judicial do que política.
Penso que são aspecto da mesma radicalização, Adão;
ResponderExcluirO pessoal do Pinheirinho, instigado por "lideranças populares" protestou sabendo estar errado, afinal, eram invasores, estavam lá ao arrepio da lei e pior que isso, protestando contra a aplicação da lei.
Os PM(s) da Bahia sabem estar errados, eles sabem que a Constituição lhes veda direito de greve.
Em ambos os casos as demandas são justas, moradia digna para uns (e moradia digna está longe de ser aqueles barracos do Pinheirinho), salários dignos para outros. Mas radicalizaram porque sabem exatamente que em ano eleitoral, o efeito de mídia é potencializado.
Concordo com sua tese e vejo que para conseguir melhorias aqui no país é necessária, de fato, a mobilização e o protesto. Era para ser diferente, mas não é. Infelizmente, é só assim que os "direitos dos pequenos" funciona - e quando funciona...
ResponderExcluirMas discordo de sua opinião quando diz "Se o governo da Bahia pode gastar quase 700 milhões para construir um estádio, como o Rio de Janeiro gasta 1 bilhão para reformar o Maracanã, então deve ter dinheiro para remunerar dignamente os profissionais da segurança pública"...
Olha, você conhece a PEC 300? Leu sobre ela?
Gastar 700 ou um bilhão num estádio para a copa ou fazendo uma reforma é mesmo um acinte, concordo, mas compará-la ao ganho salarial de policiais e seguranças (que merecem, óbvio, um bom salário, e mesmo assim não termina com a corrupção que sempre existem entre eles) não dá para comparar. Fazer uma folha salarial significa que estes gastos terão que ser mensais e as despesas terão que ser contabilizadas anualmente, portanto, não é algo que se possa comparar aos "gastos de um evento sazonal" - e único - como esta Copa do Mundo no Brasil.
Eu entendo quando diz que o Brasil dispõe de dinheiro em caixa, sim claro, dispõe realmente. Mas criar despesas orçamentárias para um determinado grupo social neste momento abriria o pressuposto de ter que fazer para muitos outras categorias também e, desta forma, alimentaria a já conhecida ciranda financeira da inflação.
Os policiais e seguranças merecem realmente um bom salário, mas é preciso cautela. Não dá para comparar gastos 'extraordinários' com gastos 'efetivos e duradouros' ano após ano, definido por lei.
Abraço!
Neto,
ResponderExcluirVocê tem razão do ponto de vista financeiro, mas não estamos falando dele, estamos falando de JUSTIÇA!
A Copa do Mundo é SUPÉRFLUA. Com o dinheiro gasto nela, o Brasil poderia injetar desenvolvimento econômico idêntico sem JOGAR DINHEIRO FORA em estádios. Só que está se gastando em estádios, daria para gerar um amplo programa de desfavelização e moradia, que iria alavancar a construção civil e retornar aos cofres públicos na forma de impostos. Da mesma forma, se remunerar melhor a professores, policiais, etc... parte substancial do dinheiro retorna em impostos e contribuições.
Mas estádios são apenas gasto que não retornará.
Se fizermos as contas certinho, dando aumentos que impactem 100 milhões por ano por 7 anos para o funcionalismo baiano, injetaria na economia do estado esse dinheiro todo que retornaria fácil, fácil... mas não, o político brasileiro quer torrar dinheiro para inglês ver, para financiar empreiteiros que escondem propinas em bancos suiços, para financiar campanhas eleitorais que elegem vagabundos, de modo que a prioridade é construir estádios, por mais que policiais ponham a cabeça à prêmio todos os dias ganhando dois salários mínimos, ou pessoas ainda morram de leptospirose e tuberculose por falta de moradia digna.
Moradia e salário digno não dão publicidade para vagabundos! Copa do Mundo dá!
Ah sim, caros leitores!
ResponderExcluirSou RADICAL e INTOLERANTE quando o assunto é Copa do Mundo.
Me dou ao direito de radicalizar quando vejo o país inteiro sendo enganado...
Se notarem bem os termos do texto, eu não considero a radicalização algo de todo ruim, ela é parte da vida e da dinâmica social e muitas vezes sem ela, como aconteceu na Bahia, não se chega a resultado algum.
Se os PM(s) baianos não tivessem chutado o pau da barraca, como o fizeram os bombeiros do RJ, os políticos simplesmente não lhes dariam ouvidos, não fariam NADA para solucionar a questão. Da mesma forma, se o pessoal despejado do Pinheirinho não fizesse aquelas manifestações, provavelmente não teriam sequer conseguido a liberação de aluguel social para as famílias que, afinal, são sem teto.
Infelizmente em um país onde o Estado existe para se auto-financiar e manter as mordomias da classe política e dos extratos mais altos do funcionalismo público (aquelas ditas "carreiras de Estado" em que sobram benefícios e faltam obrigações e mesmo bom senso), somente o protesto veemente faz efeito.
Prezado Fábio,
ResponderExcluirParabenizo-o pelo seu blogue, a forma como escreve e como responde aos leitores do mesmo.
O alto nível dos debates que ocorrem aqui é um alento!
Obrigado Maria Eugenia.
ResponderExcluirO Brasil é um balaio de gatos...
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