Ontem caí na besteira de assistir uma parte da cerimônia de entrega dos prêmios dos melhores do campeonato brasileiro pelo Sportv/Rede Globo e CBF.
Uma festa para a qual o presidente do clube vice-campeão da temporada, que também havia vencido a Copa do Brasil, não foi convidado em razão das críticas que fez contra arbitragens que, no Brasil, já há muito deixaram de ser falhas, são escandalosas, para não dizer coisa pior.
Uma festa com ares "holywoodianos" mas sem a classe, a pompa e a imponência das celebrações do Oscar, com apresentadores que não sabiam onde se colocar no palco, convidadas anunciando vencedores aos berros ou gemidos e políticos aparecendo para mostrar como o futebol brasileiro de hoje deixou de ser apenas esporte para virar faceta dos muitos interesses não esportivos da Copa 2014.
Do evento, a impressão é que o futebol brasileiro é e será de agora em diante apenas uma celebração do futebol praticado nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, que, afinal, são as duas praças de TV que importam para a poderosa proprietária dos direitos de transmissão. A impressão é que, se pudesse, a TV faria um campeonato nacional só com times do Rio-SP, ano vencendo o Corinthians, ano vencendo o Flamengo, que são as torcidas que mais geram audiência. Seria a fórmula mais lucrativa e de maior eficiência operacional, uma fórmula empresarial por excelência!
A nova realidade, a dos contratos personalizados, vai levar o futebol brasileiro a experimentar em 4 ou 5 anos o fenômeno espanhol, onde Barcelona e Real Madrid dividem os títulos nacionais e muito, mas muito esporadicamente, são surpreendidos por algum coadjuvante.
Ronaldo Fenômeno, que está intimamente ligado à CBF nos últimos tempos, andou declarando que pretende fazer de Flamengo e Corinthians os equivalentes pátrios das duas potências futebolísticas espanholas e não coincidentemente, a CBF anunciou que a partir de 2013, o calendário da Copa do Brasil também vai mudar, para recepcionar os clubes brasileiros eliminados da Libertadores. Ou seja, o poder do dinheiro e da mídia agregada à tais clubes, fará de todos os outros meros coadjuvantes a se contentarem com as migalhas, pois a competitividade real está sendo assassinada.
O Flamengo e o Corinthians vão receber da TV a partir do ano que vem o equivalente a 3 vezes o que recebem os clubes pequenos como os do Paraná, que por sua vez, receberão metade do valor de Grêmio, Internacional, Atlético Mineiro, Botafogo e Cruzeiro e menos de 40% do que será pago para Palmeiras, São Paulo, Vasco da Gama e Fluminense. Essa relação com os clubes pequenos era de 50% e 70% até 2011.
Criou-se um abismo.
Cedo ou tarde, quando os clubes do segundo e terceiro pelotão perceberem serem apenas coadjuvantes dos clubes preferenciais da TV, talvez esse quadro mude. E talvez as reclamações de Roberto Dinamite com seu "não convite" para a festança de ontem, seja indício de que há esperança das coisas se reequilibrarem.
Mas o fato é que, agora, o futebol brasileiro quer virar "debut" apenas para dois clubes, como acontece em vários lugares na Europa que sinceramente, eu não sei se são bons exemplos para o nosso futebol.