7 de out. de 2009

ONTEM, HOJE E ETERNAMENTE


Frederico Fritz Essenfelder, ousado empreendedor que construiu na provinciana Curitiba uma das mais famosas marcas de pianos do mundo, trouxe do Rio Grande do Sul a primeira bola de futebol e o entusiasmo para difundir o esporte bretão em terras paranaenses. Ele arregimentou ginastas do Clube Teuto-Brasileiro e conseguiu um lugar para que treinassem e aprendessem o novo jogo. E um dia os jovens foram convidados para um “match” em Ponta Grossa que o Clube Teuto-Brasileiro proibiu em seu nome. E ele, Essenfelder, e mais uma centena de rapazes, a maioria de origem germânica como João Vianna Seiler, Walter Dietrich, Leopoldo Obladen, Artur Hauer e Artur Iwersen resolveram criar uma verdadeira religião, um exercício contínuo de fé, esperança, garra, vibração e júbilo que completará 100 anos no próximo dia 12 de outubro: o Coritiba Foot Ball Club.

Escrever sobre o Coritiba para mim é transpor as barreiras do tempo.

Se existe reencarnação, certamente a experimentei algumas vezes e fui um daqueles jovens que subscreveu a ata de fundação. Eu fiz campanha para eleger Antonio Couto Pereira presidente, martelei pregos e cimentei tijolos para construir e inaugurar o estádio Belford Duarte. Visitei São Paulo para inaugurar o estádio do Pacaembú e estive no jogo onde um pobre de espírito, querendo ofender o zagueiro Hans Egon Breyer, o chamou de “alemão, quinta coluna, coxa-branca” e como castigo divino, além da derrota daquele dia acabou criando o mantra que identifica e orgulha até hoje os adeptos do clube alviverde sediado no bairro do Alto da Glória:Coxa-Branca!!!

Vibrei com jogadas sensacionais e times fantásicos, comemorei títulos e vi a bola nos pés de craques inesquecíveis nos tempos românticos do futebol como o maior deles, a lenda Fedato, ou ainda Bequinha, Miltinho, Neno, Duílio Dias, Ninho, Pizzatinho, Tonico, Baby, Nico, Pizzatto, Merlin, Janguinho, Rei, Staco, Carazzai, Carnieri, Leocádio, Maxabomba, Breyer e Sanford, que numa encarnação seguinte seria meu tio pelos laços de amizade que ele e tia Rose construíram com meus pais.

Nasci (ou reencarnei novamente, sabe Deus!) em 03/01/1969 no bairro do Juvevê, ali pertinho do templo erguido com o mais poderoso dos materiais, o amor incondicional da comunidade Coxa-Branca, o estádio Major Antonio Couto Pereira.

Voltei a esta terra abençoada de pinheiros em plena era Evangelino da Costa Neves, o maior dos Coxas, o presidente eterno e inesquecível dos óculos fundo de garrafa e competência que transcendeu uma vida comum.








Senti desde bebê as energias positivas que emanavam do templo que se avizinha à Igreja do Perpétuo Socorro, mas assustei minha mãe ao chorar de dor no berço, em solidariedade ao herói Krüger, que quase morreu em abril de 1969 num jogo contra o Água Verde, e que recuperado com as graças de Deus e as preces de toda nação alviverde, resolveu ficar no clube para sempre, até hoje ajudando o Coxa a transpor desafios.

Nos anos seguintes, a criança calma que fui talvez tenha deixado minha mãe intrigada, por tentar fugir de casa algumas vezes. Na verdade, mesmo inconscientemente eu queria ir para a rua acompanhar a chegada dos heróis do tricampeonato (71,72, 73), do Torneio do Povo, do tetra, do penta e do hexa.

Eu saboreava a pipoca que papai trazia do estádio para agradar as crianças e que tinha um sabor diferente, de paixão que causava uma atração inexplicável, um chamado poderoso para as imediações das ruas Mauá e Ubaldino do Amaral.

Então, em um domingo dos anos 70, papai levou-me pela primeira vez ao templo em que tantas vezes estive nas minhas vidas passadas. E o como alguém louco de saudades a dar boas vindas ao filho que retornava à sua casa, o Coxa venceu por 7 x 1 a Desportiva Ferroviária do Espírito Santo. E se não bastasse, no domingo seguinte repetiu o placar contra o Ferroviário do Ceará para ter certeza que o filho nunca mais deixaria de orar ali para os deuses alviverdes.

Voltei ao templo. Não pude ver Hidalgo, Zé Roberto, Kosilec, Paulo Vecchio, Dirceu, Cláudio Marques, Paquito e Tião Abatiá nos timaços treinados por Elba de Pádua Lima, o Tim, mas estava em casa novamente para presenciar os recitais de mais gênios como o gigante de ébano Jairo, mais Manga e Mazaropi, Vilson Tadei, Luis Freire, Eli Carlos e Aladim, o maior craque que vi ostentar a camisa sagrada nesta encarnação.






E o regenerado Rafael Camarota, mais André, Gomes, Heraldo, Dida, Almir, Vavá, Marildo, Marcos Aurélio, Lela (o careta), Indio e Edson, treinados pelo grande Enio Andrade me ensinaram numa noite fria da 31/07/1985 a nunca duvidar da existência de Deus, porque foi Ele quem tirou da linha uma bola maliciosa que daria o gol e o título brasileiro daquele ano para o Bangú do Rio de Janeiro.

Vibrei com os títulos paranaenses de 1986 e 1989 tanto quando chorei de raiva contra a injusta canetada de um mafioso que condenou a minha vida a 10 anos de jejum e humilhações embora ainda assim com craques como Alex e Pachequinho, e que no dia 10 de julho de 1999 me fez chegar ao cúmulo de dizer que não torceria mais para o Coritiba por exatos 30 minutos, até que Darci empatou o jogo que deu o título ao time que tinha Reginaldo Nascimento e Cleber Arado lá no longínquo Pinheirão, onde eu não pude ir por estar me recuperando de uma pneumonia.

Enfim, o tempo foi passando e o Coxa foi se recuperando aos poucos, com alegrias extremas e algumas tristezas, e numa noite gelada de julho de 2007, ano de crise, gravei na memória a imagem mais bonita de todas as minhas vidas de Coxa-Branca.

Naquele jogo feio, em que a bola não rolava de tanto que chovia, o Coritiba perdia da Ponte Preta até os 37 do segundo tempo quando o mítico Henrique, verdadeira reencarnação de Fedato, empatou o jogo que o Coxa virou aos 48 minutos com um gol do prodígio Keirrison, representante da alma imortal de Duílio Dias.

Naquele momento, sob chuva e com os cabelos encharcados eu berrava a plenos pulmões, pulava, corria a esmo e abraçava todas as pessoas que passavam pela minha frente. Eu era pura emoção e o Coxa mística, porque naquele gramado os garotos valentes treinados pelo grande Renê Simões eram as reencarnações dos guerreiros do passado, renascidos nos garotos Coxas Edson Bastos, Henrique, Pedro Ken, Ricardinho e Keirrison e encarnados nos leões Gustavo e Túlio e no brevemente futuro herói imortal Henrique Dias.

E a cada vez que subo as escadarias das arquibancadas da Mauá o coração bate mais forte e me faz saber que aquele ato singelo acontecerá ainda por milhões de vezes e milhares de vidas pela eternidade afora, como será repetido por milhões de almas enamoradas de uma instituição de adeptos guerreiros que jamais a abandonam mesmo desafiando o tempo e o espaço por um amor que completa 100 anos, mas que não acabará jamais.



O COXA, AQUI NO BLOG:

Imagens do Coxa - 3

Imagens do Coritiba - 2

Obrigado Coxa-Branca

Cooooooooxxxxxxaaaaaaa!!!!!

O Adeus ao Maior dos Coxas

A Festa

Imagens do Coritiba

Coritiba Foot Ball Club Marschner Mayer

Convocação

97 Anos de Amor!



LIVROS SOBRE O COXA:

O Campeoníssimo - de Carneiro Neto e Vinicius Coelho, conta a saga do maior dos Coxas, o presidente Evangelino da Costa Neves.

Fedato - O Estampilla Rubia - autobiografia de Aroldo Fedato, com a colaboração de Paulo Krauss, a história do maior atleta que já vestiu a camisa alvi-verde do Alto da Glória.

Emoção Alviverde - DBA Editora, a história do clube em imagens.

Do Caos ao Topo, Uma Odisséia Coxa-Branca - do técnico Renê Simões, contando a história do dramático título brasileiro da série B em 2007.

VIDEOS SOBRE O COXA:

Da Queda ao Alto da Glória - A trajetória alviverde na conquista do campeonato brasileiro 2007 da série B, uma homenagem à torcida que nunca abandona.

REVISTAS E EDIÇÕES ESPECIAIS:

100 Anos de Glórias - Edição especial da revista Placar, editora Abril, 2009.

98 Anos - Revista comemorativa distribuída aos sócios, 2007.

Coritiba - O Orgulho de Ser Coxa-Branca - Edição especial do jornal Lance, 2005.

Coritiba Foot Ball Club 80 anos - Edição especial da revista Paraná em Páginas, 1989.

As Maiores Torcidas do Brasil - Coritiba - Edição especial da revista Placar, editora Abril, 1988.

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