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4 de abr. de 2009

CRISE DO ENSINO SUPERIOR

Foto: Fábio Mayer - Campus Central da UFPR na Praça Santos Andrade, Curitiba/PR.


Uma pesquisa do ENADE divulgada esta semana e comentada hoje pela Gazeta do Povo de Curitiba, dá conta que os alunos do ensino superior brasileiro praticamente não estudam em casa (fora às aulas), não empreendem atividades de pesquisa, não praticam atividades extra-curriculares e não lêem jornais e revistas com regularidade.

O ensino superior brasileiro é uma piada de mau-gosto e a culpa não é apenas dos governos, que não fiscalizam a instituições, que promovem e deixam promover o pagou-passou ou o simples empurrar de alunos para fora da faculdade, quando não deixam que se criem verdadeiros jardins de infância de nível superior, como o que aconteceu em fins da década de 90, quando, por exemplo, o número de faculdades de direito em Curitiba pulou de 3 para 12, sendo que as 9 adicionais não conseguem aprovar ninguém em concursos de carreira jurídica e nem 10% dos que se candidatam no Exame de Ordem da OAB.

As comunidades acadêmicas , se é que esse termo se aplica aqui, também têm responsabilidades.

Quando eu estudava, tive dois professores alcoólatras. Eles passavam a noite na farra, chegavam, às vezes perguntavam se aquela era a sua turma, sentavam, davam 15 minutos de aula e caíam fora.

Outro, que deu nome à minha turma, fazia uma espécie de brincadeira de gato e rato. Suas aulas iniciavam-se às 7 da manhã e iam até às 9. Quando chegávamos às 7, ele chegava às 8. Quando chegávamos às 8, ele chegava às 7:30, quando chegávamos às 7:30 ele entrava na sala às 8:30 e quando ele não tinha vontade de dar aulas, o que era quase todos os dias, ficava a debater os temas com um colega meu, um verdadeiro gênio já naqueles tempos, e que hoje, além de brilhante advogado de sucesso, também dá aulas na mesma disciplina e na mesma faculdade, para sorte dos alunos atuais que queiram estudar.

E ainda havia as faltas recorrentes de indivíduos que eram professores apenas pelo status de sê-lo, causadas por seus muitos compromissos não acadêmicos. Afinal, advogados famosos, juízes, promotores e procuradores nem sempre têm tempo para bater ponto numa faculdade.

E isso se repete em maior ou menor grau em todas as demais faculdades, onde a dedicação exclusiva ao magistério não é uma regra.

Porém, a despeito disso, quem quisesse ainda aproveitava a experiência de vida deles, e mesmo com estes defeitos todos, podia aprender muito. Foram os melhores anos da minha vida, porque não só aprendi o ofício do direito como passei a ter uma visão ampla de mundo, que me abriu horizontes e ampliou minha curiosidades sobre vários assuntos (filosofia, astronomia, política, economia, biologia, finanças). Deixei de ser um suburbano criado numa cidade medíocre, de gente medíocre, analfabeta e indolente, para me tornar um cidadão capaz de entender o mundo em que vivo.

Mesmo assim, o pior de uma faculdade brasileira, qualquer faculdade brasileira, são seus alunos.

Alçados ao corpo discente geralmente decorando fórmulas e macetes, até porque o ensino médio é péssimo mesmo nas escolas particulares mais caras, os alunos encaram a faculdade como uma continuidade da escola legalzinha que frequentavam antes.

Cansei de ver colegas que pediam para outros falsificarem suas assinaturas nas listas de chamada. E outros que entravam, assinavam a lista e saíam em direção aos muitos botecos próximos ou ao centro acadêmico, onde organizavam torneios de truco e futebol e especulavam sobre a próxima pendura de 11 de agosto. E outros engajados em política estudantil, sempre prontos a organizar greves ou a arregimentar cara-pintadas, mas ao mesmo tempo sempre ávidos em copiar os cadernos alheios. E ainda havia especialistas em criar novos métodos de cola e estrategistas, como uma colega que não suportava o fato de não ser a primeira da turma. Ela arranjava atestados médicos e simplesmente não fazia as provas, requisitava segunda chamada para ter mais tempo para estudar e para saber o que foi cobrado na primeira. O azar dela era que seu desempenho sempre ficava abaixo de outros colegas que não usavam esses artificios, hoje ela cuida de uma empresa que aluga piscina de bolinhas e organiza festas infantis, a despeito de ter sido a terceira da turma.

Foram ótimos anos, é verdade. Cultuo daquele periodo, as melhores lembranças de minha vida, mas o fato é que não havia dia que não se falava em alguma festa, greve, manifestação, apoio ou eleição para qualquer porcaria. E nas festas, que ocorriam quase sempre no meio da semana, o álcool e as drogas corriam soltos e estudar era para os otários, como este que vos escreve e que, sendo otário, naquela época disponibilizava o cadernos para os descolados copiarem.

Se era assim naquela época, imaginemos hoje, quando tem pais que acompanham seus filhinhos estúpidos nas faculdades e dão de dedo nos professores perguntando o sabe com quem tá falando? ou dizendo em alto e bom som que pagam aquela m...! como se seus rebentos ainda tenham 5 anos de idade?

Não senso injusto, é fato que havia muitos que se preocupavam em fazer as coisas pelos meios corretos. Gente que estudava e se esforçava independentemente de classe social, a maioria com carreiras brilhantes, títulos acadêmicos, prêmios profissionais e grandes clientes no currículo.

Mas é triste constatar passados quase 20 anos, que muitos dos que não estudaram se formaram na mesma cerimônia sem saber absolutamente nada, conseguiram bons cargos por indicação política, viraram juízes e promotores ou montaram grandes bancas de advocacia por conta de seus sobrenomes.

Muitos alunos tem o defeito da preguiça, talvez por saber que no Brasil pouco importa o mérito. Na área do direito, tendo sobrenome de juiz ou promotor, provavelmente ele será juiz ou promotor. E se tiver nome de dono de cartório com deputado no bolso, será dono de cartório. E se não tiver nada disso no patronímico, basta adular algum político que as coisas se acertam do mesmo jeito. E mesmo se não tiver oportunidade alguma assim, sempre sobra um bolsa-família ou um seguro-desemprego para salvar a lavoura. É fato que há os que estudam e vencem por seus próprios méritos, mas se o fazem, é por mérito pessoal porque nem as faculdades ajudam, nem as pessoas exigem.

Mas que se diga que há um aspecto material interessante. O aluno brasileiro não estuda apenas por preguiça, há várias outras razões. Uma delas é a falta de atividades culturais dentro da maioria das faculdades. Tirando as instituições públicas, as privadas disponibilizam aos seus alunos apenas o que está no orçamento e não comprometa o lucro que obrigatoriamente deve sempre ser maior que o do exercício anterior. Nas faculdades brasileiras pouco se pensa, pouco se discute e pouco se faz para abrir as mentes dos alunos, elas são cursinhos, a ensinar macetes para que o futuro profissional enrole bem os seus clientes.

É um estado de coisas deplorável, causado por inércia governamental, conceitos errados sobre a universalização do ensino superior, falta de um conceito meritório, má formação moral do brasileiro médio e mau uso de recursos materiais.

Corrigir isso é tarefa para gerações de pessoas, e deveria começar imediatamente.


PS: Pode parecer ao leitor se tratar de um desabafo de quem não teve o sucesso profissional que almejava. Não é. Tenho plena consciência de que se não obtive o sucesso profissional que desejava, é porque ou não fui competente ou não soube aproveitar as oportunidades que me apareceram. Mas meus erros e deméritos não significam que não se deva discutir e melhoria do ensino brasileiro.

4 de mar. de 2009

NA RABEIRA DOS BRICS, NA CORRIDA TECNOLÓGICA


Praticamente uma vez por semana eu tomo conhecimento de que Rússia, Índia e China colocam em andamento projetos de tecnologia ligados ou não às suas forças armadas, mas sempre a partir da premissa do investimento em pesquisa e capacitação nacional.

Sejam satélites de comunicação ou monitoramento, sejam projetos nas áreas naval e aeronáutica, sejam programas militares que ao fim do processo sempre implicam em aplicações civis dos resultados.

Já no Brasil, o que se constata é que o Programa Espacial está parado por falta de verbas e, quando estas aparecem, por burocracia, pois até áreas quilombolas viraram desculpa para que ele não saia do papel. A Embraer, por sua vez, não dá um impulso definitivo no projeto de um moderno avião militar de carga, porque até agora o governo brasileiro não deixou claro se vai adquiri-lo ou não, e isso com o Tesouro Nacional detendo goldes shares da empresa. E já há impasse sobre os novos estaleiros que, conforme o acordo com a França, devem ser construídos para colocar em prática o programa de novos meios submarinos na Marinha.

O Brasil negligencia projetos que, militares ou não, levem à capacitação de nossa indústria.

Rússia, Índia e China são países que, como o Brasil, têm grandes extensões territoriais e, portanto, muitos recursos naturais. Mas por miopia política, falta de visão global e de futuro ou mesmo a prevalência de interesses pessoais sobre os nacionais por parte de nossa classe governante, o Brasil se contenta em exportar produtos primários enquanto os demais membros do BRIC reforçam seus parques industriais agregando valor aos seus produtos e potencializando suas vantagens naturais.

Sem contar que o Brasil talvez seja um caso único no mundo, pois tributa pesadamente atividades de pesquisa ao considerá-las investimento no cálculo do lucro das empresas. Ou seja, o empresário que pretenda substituir a inépcia governamental lança as despesas de suas pesquisas numa conta ativa do balanço que, portanto, contribui para o aumento do resultado positivo do exercício, que por sua vez é pesadamente tributada pelo IR e pela CSLL, quando não por PIS, COFINS e ICMS, vez que não é todo investimento pode ser abatido destes três últimos impostos citados.

Sem contar que, ao empreender qualquer atividade que envolva profissionais (como geólogos, químicos e físicos) não raro é exigido que as empresas paguem anuidades para os respectivos conselhos profissionais que pouco ou nada fazem pelo progresso do país.

Pode ser uma percepção errada da minha parte. Talvez seja até reflexo da minha birra contra a burocracia insana, contra a mania cartorial, a irresponsabilidade política e a falta de foco do Brasil em questões importantes, especialmente ligadas ao desenvolvimento.

Mas minha impressão é de uma situação grave. Ao invés de investir para gerar empregos qualificados na indústria, o Brasil prefere gerar empregos braçais na lavoura ou na mineração. Ao invés de vender produtos com valor agregado e ganhar mais sobre suas riquezas naturais, o Brasil prefere vender produtos in natura desvalorizando as riquezas que Deus lhe deu.

O crescimento econômico consistente dos últimos anos não deve mascarar o fato de que o país ainda cresce muito menos que os demais membros do BRIC, que encaminha um número ínfimo de patentes e que têm alguns dos piores índices do G-20 no que tange a investimentos em pesquisa tecnológica e qualidade da educação.

Nossa classe política não valoriza as potencialidades de nosso país. Vende a imagem de um país rico, mesmo que sua riqueza esteja apenas em pedras e vegetais. Enquanto os russos, chineses e indianos saem pelo mundo vendendo aviões, navios e sistemas de informática, o Brasil oferece carne, soja e pedra, embora, claro, haja exceções, como os produtos da já citada Embraer, cujo índice de nacionalização, porém, é baixo.

Não que carne, soja e pedra não tenham valor, mas o fato é que, toneladas de um certo vegetal as vezes não pagam uma unidade de um produto manufaturado.

17 de dez. de 2008


Embora eu não seja exatamente velho, vou completar apenas 40 no próximo dia 3, ainda sou de um tempo em que não existia escola pública, universal e gratuita.

Quando eu era criança, não havia escola para todo mundo.

Mais do que isso, a merenda escolar era limitadíssima e quem morava longe da sala de aula, ou ia à pé, ou não ia. Não foram poucos os colegas que acordavam de madrugada e andavam 7 ou 9 km para estudar. E ninguém reclamava, até porque, ao voltar para casa, alguns ainda ajudavam na lavoura.

E todos eles aprenderam a ler e a escrever. E suas famílias, mesmo as mais pobres, de regra cobravam a aprovação e todo mundo, de regra, estudava. Se apenas eu cheguei a ter formação universitária, isso é outro assunto, mas garanto que a maioria dos meus colegas de escola primária e ginasial compreendem um texto simples de uma lauda. Pena que aquele ensino não era universal e muita gente ficava fora da escola.

Hoje em dia, a escola praticamente universalizou-se. A Constituição de 1988 impõe o oferecimento de vagas. Houve um tempo, aqui onde eu moro, em que as salas de aula chegaram a ter 60 alunos, quando a média recomendável é de 30 para menos. Mas o importante é que as crianças estavam (ou estão) numa escola.

E na minha época, apenas uma ou outra escola de oferecia merenda. Hoje em dia, ela também é universal, apesar, claro, de muitos prefeitos roubarem dinheiro disso, desviando recursos municipais, estaduais e federais para suas contas pessoais. Mesmo assim, a enorme maioria das crianças em idade escolar de hoje em dia, recebe merenda.

E ao mesmo tempo, a distância deixou de ser problema. Prefeituras municipais gastam horrores com o transporte escolar, de tal modo que até se fecharam escolas rurais transferindo os alunos para escolas urbanas, não poucas vezes por interesses eleitoreiros, vez que os ônibus recebem e não raro pagam comissão para vereadores e prefeitos. Mas os alunos chegam às salas de aula e voltam para a casa em relativa segurança.

O acesso ao ensino foi universalizado e facilitado. Hoje há escola, merenda e transporte, mas a enorme maioria de quem é beneficiado por isso não aprende quase nada.

Criou-se a regra da aprovação automática, de tal modo que os pais não se preocupam mais se os filhos estudam ou não e mesmo as crianças não dão bola para obrigação alguma.

Instituiu-se a preguiça mental a partir do paternalismo do Estado, e há mais de 20 anos, estamos formando gerações de indolentes acostumados ao maná governamental sem qualquer tipo de contraprestação.

As crianças aprendem desde cedo que o governo lhes dá muita coisa de graça, e, sem o risco da reprovação, ao mesmo tempo compreendem que não precisam retribuir com nada, nem com esforço e notas altas. O Estado sempre lhes passará as mãos na cabeça, as aprovará sem que saibam ler e escrever e depois dará bolsa-família, seguro-desemprego e até condições favorecidas de litigar judicialmente, por serem pobres ou empregados, por meio de presunções juristantum que eu mesmo defendo, mas cujos resultados práticos não são os desejados pelo legislador.

Some-se isso à cultura da ignorância das celebridades sertanejas, pagodeiras ou funkeiras, e aos escândalos de lavadeiras que artistas ruins promovem com seus relacionamentos fugazes e seu culto obsessivo à imagem e ao sucesso sem mérito que a maioria alcança, criamos uma geração de alienados que sonha com próteses de silicone ou contratos de futebol com times do exterior, mas que compreende que para isso não é preciso ler e escrever, muito menos ser capacitado para algo mais que o óbvio.

A sensação que tenho hoje em dia, é que essa universalização combinada com falta de cobrança de obrigações, gerou uma geração de pessoas descomprometidas com tudo o que não seja de interesse exclusivamente pessoal. Virou uma espécie de treinamento do ego, do "eu", do "se dar bem" e da amoralidade que deságua até em formandos de medicina que não entendem o mínimo conceito ético, como aqueles lá de Londrina.

Mas eu posso estar errado, afinal, mal ou bem, estou ficando velho.

Foto: Museu Nacional do Imigrante. Joinvile/SC

10 de dez. de 2008


Domingo passado, acabei assistindo uma parte do Fantástico na Rede Globo, e deparei com esta reportagem aqui, sobre a incapacidade dos alunos brasileiros em ler e escrever, mesmo cursando faculdade.

Daí lembrei de um outro lugar, este aqui, onde as pessoas não só escrevem errado como se orgulham disso, e onde não é incomum que pessoas que se dizem "professores" cometam erros que até seriam aceitáveis em cidadãos comuns, mas não vindos de gente que têm por obrigação ensinar.

É vergonhoso.

O sistema educacional brasileiro não tem afeição alguma pelo conceito de mérito que meus leitores sabem que defendo aqui. Ele vai empurrando alunos incapacitados para a leitura e a escrita de série em série, abusando das desculpas mais esfarrapadas, como a falta de recursos públicos (o que é mentira) ou a pobreza dos incapazes.

Mas o pior é discutir com uma pessoa que escreve "axo", ou "encima", demonstrar o seu erro e ela se ofender, alegando que estudou em escola pública, que é pobre e que ler e escrever é coisa de "elite", mesmo se considerando que tem muita gente que estuda em colégio "bacana" mas não é capaz de escrever e/ou entender uma lauda de texto.

Tudo isso ou porque as escolas não estão mais preocupadas em formar, mas em faturar, ou porque os alunos, embevecidos pelos muitos direitos e poucas obrigações a que são submetidos, simplesmente não estudam mais, mera preguiça.

É preciso exigir avaliação meritória em todos os níveis de ensino no Brasil.

O indivíduo que escreve "axo" em uma prova na faculdade de Direito, tem que perder pontuação por isso. Aquele que não sabe o mínimo de concordância verbal e não consegue aplicar o plural nas suas frases, não pode sair do ensino médio. E quem não consegue entender um texto simples de uma lauda, não pode sair do ensino primário.

Indivíduo que não tira média 6 (no mínimo) em qualquer série, não pode ser empurrado adiante, porque ele vai atrasar o desenvolvimento das turmas futuras. A cada vez que um professor se obriga a baixar o nível da avaliação para fazer frente a pessoas despreparadas, o país perde recursos públicos bilionários, além de capacitação tecnológica no longo prazo.

Em suma, está na hora de começar a reprovar em massa e forçar os alunos a voltarem às mesmas séries e principalmente, a ESTUDAR.

Claro que todas as pessoas cometem erros no uso do idioma, isso é absolutamente normal. O que não é normal, é dizer que a pobreza justifica a ignorância e esta, o comprometimento do futuro do país, renegado que ficará à uma situação de exportador de matérias-primas sem gente capacitada para fazer frente aos desafios tecnológicos diários do mundo em que vivemos.

CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.

No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar ...