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9 de ago. de 2016

COMPLEXO DE VIRA-LATA



"Complexo de vira-lata" é uma expressão do genial Nelson Rodrigues que foi muito bem aproveitada pelos políticos e governantes brasileiros para esconder sua incapacidade em fazer as coisas direito, sem roubar o contribuinte, e transferir a culpa de seus atos falhos para o suposto eterno mau-humor nacional consigo mesmo.

É a tal coisa, prometeram um legado que não foi entregue na Copa do Mundo? Complexo de vira-lata, povo chato! Os estádios da copa viraram elefantes brancos? Complexo de vira-lata, ô povo que só vê o lado ruim das coisas! A baía de Guanabara não foi despoluída como prometido para a olimpíada? Vira-lata, onde já se viu esse povo reclamar de poluição? Não tem saúde, nem educação, nem segurança pública, o brasileiro tem medo da vergonha que pode passar com os estrangeiros que vêm ao país? Bando de complexados, tudo se resolve com malemolência, jeitinho e um sorriso no rosto, quem não pensa assim tem complexo de vira-lata!

Quando as coisas não dão certo e as críticas estão pesadas, entram em campo as desculpas clássicas: Fizemos do nosso jeito, dizem alguns. Outros dizem que fizemos o que pudemos. Outros, ainda, dizem que no exterior também houve problemas em situação parecida. 

Admitir que as expectativas que criaram foram muito superiores ao entregue, nem pensar, é coisa de vira-lata achar ruim que o país prometa muito e não cumpra nada, que atrase, que cobre mais caro, que não se organize, que deixe tudo para a última hora. Só passa vergonha o vira-lata, esse cara chato que tem essa mania irritante da excelência, de querer ver as coisas funcionando e de saber o que se faz com o dinheiro que paga de impostos.

E assim vamos, o povo é complexado, é vira-lata. Os políticos e governantes, não. Estes podem superfaturar, prometer, descumprir, prevaricar, roubar, negar, errar, falhar, serem irresponsáveis, não observarem prazos nem orçamentos, não seguir regras de segurança... nada, coisa nenhuma é responsabilidade deles. Se o viaduto caiu é culpa da construtora, se a ciclovia matou é porque a ressaca estava forte, eles não fazem nada errado e sempre tem algum otário para dizer que o brasileiro sofre do complexo de vira-lata na linha de um tenho orgulho do meu país e nojo do vira-lata que vê defeito em tudo

Reclamar e pedir bom uso do dinheiro dos impostos no Brasil virou complexo de vira-lata. É simples, é eficiente e conveniente. Afinal, não tem coisa que deixe um brasileiro mais chateado que não parecer legal e chique, ele não gosta de ser rotulado, brasileiro é cosmopolita por natureza, dá nó em pingo d'água, se adapta em qualquer lugar...  se reclama é vira-lata, é chato, tem mania de achar que tudo aqui é ruim.

Coitados dos simpáticos vira-latas, cães muitas vezes largados no mundo, sofrido mas espertos, fiéis aos donos e que pouco pedem, sempre abanando a cauda ao menor sinal daquela mais básica atenção que merecem e nem sempre ganham. Viraram símbolo de brasileiro chato, mas escudo de político ladrão e incompetente!


3 de mai. de 2016

A MORTE DO TEXTO

Eu estou lendo dois "e-books" de donwload gratuito, "A Pátria de Chuteiras" de Nelson Rodrigues, crônicas e reportagens para o "Jornal dos Sports" (Editora Nova Fronteira) e "O Maracanã" uma coletânea de matérias de "O Globo" que contam a história do estádio mais famoso do Brasil.

O que é impressionante em resgatar textos de 50 ou mais anos passados é a comparação entre eles e o jornalismo que se faz hoje em dia, especialmente o esportivo.

O texto era cadenciado, leve e fluido, praticamente poético. Não se tratava apenas informar sobre o rendimento dos atletas e o número de faltas da partida, buscava-se entreter o leitor naqueles poucos minutos em que ele se dispunha a saber como foi o evento, cuja atmosfera era retratada na descrição dos rostos dos atletas ou dos suspiros da torcida.

Não que este que vos escreve se ache um grande escritor. Aliás, a cada vez que leio as (para ele) prosaicas linhas de um Nelson Rodrigues, autor que eu nunca prestigiei, tratando do rude esporte bretão, me convenço que preciso aprender um pouco mais sobre o idioma. 

Mas o fato é que a arte de escrever está morrendo na objetividade dos dados, na velocidade da troca de informações sempre curtas por aplicativos de internet e na preguiça que muita gente tem em ler alguns parágrafos. O texto vai morrendo a cada abreviatura, a cada subversão das regras gramaticais em prol da velocidade da informação. Ninguém mais escreve,  ninguém mais se dá à paciência de ler um texto de uma lauda, todos buscam a informação da nota curta e dos dados tabulados, as estatísticas e porcentagens, a posse de bola, o número de gols... nada mais de poesia, o lúdico foi assassinado, no seu lugar entra em campo a agressividade do mundo atual e o esporte é retratado como uma guerra: quantas foram as baixas, quanto de terreno se avançou? 


CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.

No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar ...