6 de jan. de 2010

OS CAÇAS DA FAB


Já se arrasta há 13 anos a licitação para aquisição de novos aviões de caça para a FAB e os últimos acontecimentos parecem indicar que esta novela não terminará tão cedo.

Comenta-se que a FAB apresentou à Presidência da República um relatório do qual se pode concluir que o oficialato prefere o caça sueco Gripen, pelos custos (muito) menores de aquisição e operação.

Mas muito mais do que isso, o resultado desse relatório é presumível desde 2008, quando a FAB divulgou os 3 finalistas da licitação (O F-18 Super Hornet da norte-emericana Boeing, o F-3 Rafale da francesa Dassault e o NG Gripen da sueca Saab), até porque a força sofreu épocas recentes em que nem 40% dos seus aviões podia sair dos hangares, eminentemente por falta de recursos para sua manutenção.

O problema é que Palácio do Planalto prefere o Rafale, que é notoriamente o avião mais caro de adquirir e operar dentre os 3 concorrentes, e que vai contra as diretrizes da Força Aérea Brasileira, que nos últimos anos têm prezado estratégias de contenção de custos na área operativa, tais como a padronização ao máximo dos meios (a aviônica dos AT-29 Super Tucano, F-5M e futuramente dos A-1M é, em linhas gerais, idêntica) e modernização de aeronaves antigas (F-5, A-1, C-95 Bandeirante e P-3C Órion).

E assim, o governo Lula, tal qual o governo FHC, hesita em decidir a questão, que foi sucessivamente adiada de fevereiro de 2009 para julho, agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro e agora, janeiro de 2010, sem qualquer indicio de que não vá postergar novamente.

FHC não decidiu por ser absurdamente incompetente. Estava em fim de mandato e não era candidato a nada, podia ter solucionado a questão mas preferiu deixá-la para o sucessor numa época em que o noticiário informava que o vencedor da licitação também era o sueco Gripen, com a preferência do Planalto pelo francês Mirage 2000-5.

Já Lula não o faz por razões eminentemente políticas (como a antipatia velada de partes do PT ao plano de reequipamento das forças armadas, engendrado por Nelson Jobim, que é do PMDB) e recentemente por interesse personalíssimo de manutenção de sua imagem internacional. O Palácio do Planalto prefere o caça francês, até porque o presidente Lula já declarou isso de modo público e expresso, em cerimônia com o presidente francês Nicolai Sarkozy.

Em um país que tenciona ser considerado potência econômica e política no mundo, essa discussão soa ridícula, na exata medida em que o poder militar é praticamente requisito de influência internacional. O Brasil, hoje, tem forças armadas incapazes de ações ofensivas e inferiores em qualidade de equipamentos às do Chile, Côlômbia e Venezuela. E pior do que isso, é incapaz de, após 13 anos, escolher uma aeronave mediante análise eminentemente técnica, porque nossos políticos, incluindo o presidente, preocupam-se demais com picuinhas políticas que sobrepõem os interesses nacionais.

PS: Comentários liberados, troquei a caixa para eles.

11 comentários:

  1. Eis uma questão que não pode, de maneira alguma, ser de ordem política e sim técnica. Se quem vai operar as aeronaves são os militares, a escolha deve sim partir deles, acho eu...

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  2. Osnélio Vailati7/1/10 23:51

    A escolha de equipamento militar precisa sim levar em conta as alianças estratégicas e não pode nunca ser apenas técnica, pois, em caso de necessidade o fornecedor pode decretar embargos como os EUA já fizeram várias vezes com muitos países inclusive com o Brasil. O F - 18 (um excelente avião seria uma temeridade, pois os EUA não são confiáveis). O Gripen é um avião que não existe, a proposta é honesta e boa, mas não para o momentos, pois o desenvolvimento de um projeto pode se elevar muito, isso ocorre em qualquer projeto, na área militar não é diferente. Não se trata apenas da escolha de um avião mas de uma parceria (aliança estratégica com a França) e assim contrabalançar a presença geopolítica estadunidense na America do Sul (Bases aéreas na Colômbia e no Paraguai). Na Red Flag 2008 realizada nos EUA, os Rafale superaram os F-18 americanos cujos pilotos afirmaram que quando viam os rafales não dava mais tempo de reagir. É mais caro, é. Mas o Brasil precisa aumentar seu orçamento de defesa ou não conseguirá ocupar o papel que almeja entre as grandes nações do mundo e terá sua soberania e consequentemente a posse de suas riquezas ameaçadas. Militares entendem de critérios técnicos mas não muitos deles entendem de geopolítica, globalização, blocos econômicos e enfim de política.

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  3. Osnélio,

    Concordo contigo. Há mais do que simples requisitos técnicos a serem analisados e a decisão passa pela política.

    O grande problema é que a nossa política simplesmente não decide.

    FHC não decidiu e Lula também não, em situações em que suas respectivaspopularidades sequer seriam arranhadas, qualquer decisão que fosse tomada.

    O presidente empurra com a barriga, posterga e foge da função para a qual foi eleito, que é a de decidir.

    Já tenho escrito isso e repito: se o presidente entende que o Rafale é melhor para o país, ele que decida por isto, porque não adianta pedir relatórios novos para a FAB, sabendo que seu corpo técnico prefere outro equipamento.

    É preciso pura e simplesmente DECIDIR, e é isso que está faltando.

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  4. Os técnicos da FAB não decidem com base em fatos políticos e sim, técnicos. Eles analisaram projetos.Tiveram a assessoria do pessoal da Embraer, decididamente experts pois senão a Embraer não seria a terceira maior fabricante de aviões do mundo. Se concluíram que o projeto sueco é melhor, pronto! Com a vantagem de poder ser desenvolvido em conjunto com a indústria brasileira o que abre um leque de opções comerciais futuras.Esse negócio do custo poder subir é balela pois um bom gerenciamento evita distorções de custo e de prazos. Basta ter seriedade na gestão do desenvolvimento do projeto.Agora, se a decisão é basicamente política, não seria necessário um estudo de 30.000 páginas. Bastaria decidir e pronto! Pelos belos olhos do concorrente. O que eu desconfio, afinal estamos no Brasil, é que Lula está assessorado por uma outra "comissão" que tem argumentos muito fortes para fazer com que ele decida a favor do produto francês.

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  5. Anônimo8/1/10 12:37

    Se a escolha será política, porque perder tempo solicitando relatório técnico?

    Se for para ignorar a opinião dos militares então feche logo o negócio com os franceses.

    Flávio Eugenio

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  6. Tunico,

    Eu concordo que, se a decisão é eminentemente política, não precisa perder tempo, dinheiro e paciência para fazer relatório de 30 mil páginas.

    Aliás, relatório para tratar de algo decidido é coisa de esquerdofrênico mesmo!

    Portanto, a crítica fica:

    a) Por que fazer relatório se o presidente quer o Rafale?

    b) Por que o presidente não decide logo de uma vez e acaba com a novela?

    c) Por que o presidente, que é comandante em chefe das FFAA, de tal modo que elas devem respeito às suas ordens, não aceita que elas expressem opinião contrária?

    Essa mania de querer unanimidade em tudo é burra, como toda a unanimidade!

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  7. Osnélio Vailati17/1/10 20:30

    Como já disse, não se trata apenas da escolha de um avião, portanto critérios técnicos não são suficientes. A FAB já afirmou que qualquer dos três caças preenche as necessidades da FAB. No entanto o Rafale e o F-18 são disparadamente melhores. O Gripen NG é um avião que ainda não voou, portanto não existe. O custo de um projeto pode sim se elevar, tanto o Rafale como o F-18 demandaram duas vezes mais recursos do que o inicialmente projetado. O Gripen como monomotor que é sairá mais barato, mas talvez nem tão mais barato assim. O que está em jogo não é a escolha de um avião como se fosse uma mercadoria de prateleira, pois aí seria fácil escolher. O que se pretende é formar uma aliança estratégica e aí fica a pergunta: Seria melhor e mais confiável com os EUA ? Com a Suécia ou com a França? No caso dos EUA seria uma temeridade pois este país não desperta nenhuma confiança em qualquer pessoa que tenha um mínimo de noção de história e geopolítica mundial. A Suécia é um país com pequena expressão e que busca um parceiro para arcar com as pesadas despesas de desenvolvimento da nova geração do Gripen para que o projeto tenha continuidade, o desenvolvimento de um projeto de caça custa vários bilhões de dólares antes que a primeira aeronave voe, uma aliança com a Suécia possibilitaria a transferência tecnológica e um upgrade no conhecimento nacional para a construção de futuras aeronaves melhores que o Gripen NG, mas nada acrescentaria ao Brasil no cenário geopolítico mundial. O peso da Suécia na geopolítica internacional, ou seja, no jogo das nações é inferior ao do Brasil e muitas peças do Gripen NG são estadunidenses, portanto sujeitas a embargos para posteriores vendas a terceiros países e também no caso de um esforço de guerra em que a posição estadunidense seja contrária à brasileira. Não é exagero nenhum afirmar que se existe um país que pode ameaçar os interesses brasileiros de uma maior participação na geopolítica sulamericana e mundial e mesmo a soberania nacional esse país é os EUA, pois o mesmo não deseja que sua influência na região seja enfraquecida pelo fortalecimento exagerado do Brasil(além do que os EUA consideram aceitável). Dos três países, a França é único que defende a ampliação do Conselho de Segurança com a participação do Brasil. É um canal importante de acesso dos interesses brasileiros (leia-se comércio) junto à União Européia pois juntamente com a Inglaterra e a Alemanha, são os países mais importantes da Europa. A França detém tecnologias que a Suécia não dispõe e que a parceria poderia transferí-las para o Brasil. O Rafale é mais caro, é! Mas se queremos o mais barato então podemos continuar garimpando sucatas pelo mundo e reformando-as, enquanto assistimos países vizinhos de menor expressão econômica e política comprando armamentos melhores e assim cada vez mais fazendo bravatas contra o Brasil. Para assegurarmos a paz e a soberania nacional é necessário que sejamos respeitados e não seremos respeitados se formos fracos. Assim entre EUA, Suécia e França, a França é a melhor aliança estratégica para o Brasil.

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  8. Osnélio,

    Minha crítica não é à escolha do Rafale, é, sim, ao fato de que ela não é definida logo de uma vez. Nossos políticos estão empurrando esta questão com a barriga há 13 anos!

    Mesmo que o negócio saia com a França, ainda sim os EUA podem causar problemas, porque ao contrário do que é falado, a França depende de componentes norte-americanos em seus aviões.

    Mas sinceramente, DUVIDO que os EUA se rebaixem por tão pouco. 36 caças F-18 não representam nada para eles...

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  9. A preferência pelo Rafale se deve à Dassault possuir 0,9% das ações da Embraer. O Rafale possui aviônicos que estão entre os mais avançados, com sistema "inteligente" de navegação. Todos os três caças que estão na disputa são de última geração, o que deverá definir a escolha é o custo-benefício, a melhor possibilidade de sharing com as indústrias aeronáuticas nacionais e se as características da aeronave se adequam às missões específicas da FAB.

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