Nossas escolas mal e porcamente conseguem ensinar o básico para seus alunos, e não me refiro apenas à rede pública. Mesmo as escolas privadas são péssimas, por mais que a cada janeiro façam publicidade caríssima mostrando alunos contentes em salas de aulas modernas e em torno de equipamentos esportivos e culturais que só servem para justificar o aumento constante de suas mensalidades.
E o mesmo acontece nas universidades. Estudei na UFPR, numa época em que os equipamentos esportivos estavam praticamente abandonados, mas mesmo assim, quando havia competições entre instituições, ela vencia todas, porque as estruturas das universidades privadas eram ainda menos que ridículas, considerando as mensalidades milionárias que já na época cobravam, sem contar o "pagou-passou" que é a regra do ensino superior nacional, basta ver as más qualificações do ENADE.
Antigamente, o esporte amador no Brasil era praticado nos clubes sociais. O Flamengo e o Vasco da Gama, o São Paulo e o Pinheiros, o Pinheiros de Curitiba, o Minas Tênis de Belo Horizonte e a SOGIPA em Porto Alegre. Se não criavam atletas olímpicos, difundiam os esportes e criavam bases que, melhor trabalhadas, poderiam gerar bons resultados nos circuitos regulares. Se isso não acontecia, é porque no Brasil nunca houve o passo seguinte. Havia a base, e só.
Mas todos esses clubes entraram em crise. Os que mantém futebol, pelo aumento exponencial do custo deste esporte, obrigados a carrear todos os seus recursos para pagar jogadores nem sempre bons. Já os clubes eminentemente sociais, porque sofreram a concorrência dos condomínios com piscinas e quadras esportivas (que viraram mania da construção civil nacional nos ultimos 10 ou 15 anos), perdendo sócios e obrigando-se a desfazer de patrimônio para manter as contas em ordem.
Daí vemos os resultados dos atletas olímpicos do Brasil e descobrimos que as medalhas mais importantes são conquistadas ou por verdadeiros fenômenos do esporte, ou por pessoas que treinam e vivem fora do país.
O Brasil não tem bases esportivas.
Penso que as pessoas se acostumam à pressão constante, mas sofrem com a pressão eventual. Isso explica o por que de chineses e americanos terem bons resultados olímpicos. Eles são pressionados sempre e não é incomum que suas competições sejam transmitidas e comentadas periodicamente e que as pessoas os reconheçam nas ruas, aplaudindo seu desempenho e cobrando resultados. E eles suportam, porque são resultados de um processo de criação de atletas que se inicia nas escolas e passa pela universidade até chegar à profissionalização.
Aqui no Brasil foram criados centros de excelência que escolhem alguns atletas promissores e os trabalham. Mas isso não é suficiente, porque esse tipo de programa depende muito de resultados para conseguir patrocínio e evoluir no sentido de aumentar o número de pessoas que o componha.
E ao mesmo tempo não há o apoio constante da sociedade, basta ver que as TV(s) brasileiras só transmitem competições de judô, ginástica e atletismo se elas custam baratinho ou se de graça. Mas essas mesmas TV(s) cobram, e cobram bastante, os resultados que tragam medalhas e audiência durante as Olimpíadas, com direito a comoção nacional quando elas entrevistam os avós, ou os tios ou as ex-namoradas dos eventuais medalhistas.
Daí criamos uma situação sui generis: Atletas olímpicos que recebem treinamento de qualidade mas só são cobrados e só sofrem pressão durante as Olimpíadas. Nos 4 anos anteriores, esquecimento, durante os jogos, cobrança e pressão.
Sem contar que de regra, esses atletas chegam à competição máxima do esporte sem experiência esportiva de base. Não participaram de competições infantis e juvenis, não fizeram exatamente uma carreira esportiva, não se acostumaram às pressões, porque nos circuitos eles não são lembrados por ninguém e seus resultados são motivo de notinhas de canto de página nos jornais.
Mas nas Olimpíadas, eles viram capas e motivos de flashes e são perseguidos pelos repórteres.
Os resultados brasileiros em Olimpíadas não são pífios por não conseguir medalhas.
Eles são pífios porque a cada 4 anos, não constatamos evolução alguma nos esportes.
Continuamos escolhendo uma meia dúzia de agraciados a receber patrocínio de fome de empresas estatais, mas as crianças brasileiras não lutam judô, não correm nem saltam, não praticam ginástica e não têm sequer bolas para jogar basquete e handebol. Não há torneios infantis e juvenis, não há o embate entre escolas e universidades e mesmo as competições entre clubes vão rareando porque todos eles estão quebrando.
É preciso, sim, investir nos centros de excelência e nos atletas olímpicos. Metade do dinheiro que é jogado fora a cada vez que o Rio de Janeiro tenta sediar uma olimpíada, já seria uma evolução e tanto. Mas ao mesmo tempo é necessário desenvolver bases esportivas para que o país não dependa mais de fenômenos e que aprenda pelo esporte coisas vitais para o desenvolvimento humano e social, como disciplina, responsabilidade, capacidade de absorver derrotas e humildade em encarar as vitórias.
Desenvolver o esporte no Brasil seria bom para a sociedade, e não só para acumular medalhas.
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