As últimas declarações do presidente Lula, e sua visível irritação com as críticas ao PAC, que é dito eleitoreiro, desencadearam com mais de 2 anos de antecedência a campanha presidencial de 2010.
Nos últimos dias, sempre em palanques de inaugurações e eventos populares ele afirmou entre outras coisas, que o PAC não é eleitoreiro, que "faremos o sucessor para continuar governando" e até atribuiu à oposição a renúncia forçada do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, mas apenas para alfinetá-la, porque é difícil que ele não acredite nos fatos graves que forçaram o citado político a renunciar.
E dos discursos presidenciais decorreram especulações, algumas até absurdas, como a da renúncia do presidente em abril de 2010 para concorrer ao Senado e ficar na cena política para candidatar-se novamente em 2014, como se ele precisasse disso, com o capital eleitoral que possui e 68% de popularidade apurada e divulgada pela imprensa que muitos insistem em chamar de "pig", mesmo ela não escondendo tais números.
Mais do que isso, uma parte dos holofotes passou a acompanhar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, que num lance de entusiasmo chegou até a admitir a "maternidade" do PAC, o que logo depois foi amenizado, porque a ministra sabe que é tão mais difícil governar quanto maior a temperatura de um processo eleitoral.
O PAC não é eleitoral, porque num país em que há eleições a cada dois anos, é impossível ao Governo Federal tocar obras e programas sem que eles se iniciem ou tenham andamento durante campanhas por votos. E ao mesmo tempo é importante porque o Brasil precisa das obras que ele encerra. Aliás, sou favorável à essa concentração
de iniciativas e coordenação em apenas um ministério, é melhor que aquela fragmentação inútil do passado onde os programas corriam sozinhos dentro das pastas individuais nos ministérios. Hoje, pelo menos, uma ministra assume todas as responsabilidades se alguma coisa dá errada, ao mesmo tempo também assume os louros. Se tem efeitos eleitorais? Bem, todos os ministros são políticos, e políticos são indissociáveis de campanhas eleitorais.
Mas se o PAC não é eleitoreiro, a atitude do presidente é.
É bem dito que ele tem todo o direito de escolher um candidato e apoiá-lo. Aquela atitude de "magistrado" que foi adotada por José Sarney em 1989, mantendo-se indiferente ao processo, só ocorreu porque ninguém queria o então presidente no palanque, o que não ocorre com o atual, que é extremamente popular e bom em puxar votos.
Só que fazendo isso ele adianta a campanha e suas baixarias de modo que ele, seu governo e qualquer ou pessoa ligada aos dois, em especial a sua candidata presuntiva, passam a ser fustigados pela oposição que por sua vez não faz nada errado agindo assim, até porque o partido do presidente, o PT, fez a mesma coisa na época em que o então ministro José Serra recebeu o apoio de Fernando Henrique Cardoso.
A diferença é que, naquela época, faltavam 6 meses para a eleição e hoje, faltam mais de 2 anos, só isso. Mas foi o presidente quem desencadeou a campanha adiantada.
É tudo política, e quando uma campanha eleitoral começa, pouco se pensa no país,no governo ou mesmo na moral das pessoas. Como diria um político paranaense, "na política vale tudo, menos perder". Sendo política, o que é lamentável é a precocidade da campanha de 2010, mas já que tornou-se inevitável, os brasileiros que se acostumem, porque até lá, pouco se pensará no país e muito nas urnas.
Nesse processo, a pessoa mais tranquila é o presidente. Os resultados econômicos de seu governo dão a ele a chance de eleger o sucessor com folgas, ainda mais quando a oposição é fragmentada entre Aécio e Serra. E mais que isso, o presidente tem capital para eleger seu sucessor e até vencê-lo em 2014, mesmo sendo um aliado.
Enfim, se o presidente Lula vender bem sua imagem durante esta campanha, não precisará de cargo nenhum para manter-se candidato para 2014.
Penso que estamos em plena campanha presidencial, mas principalmente a de 2014.
PS: Uma assessora próxima à ministra Dilma produz um dossiê. A notícia é interceptada pelo PSDB antes do "vazamento" da informação e logo após fala-se em CPI da Dilma e até renúncia dela, ao mesmo tempo em que o presidente diz que estão "destilando ódio" contra o governo. É campanha eleitoral aberta e bravateira como todas as campanhas no Brasil, e assim será daqui até 2014 se em 2010 o presidente fizer seu sucessor.
28 de mar. de 2008
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