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ATÉ TÚ, DEMÓSTENES?
Tenho por hábito e consciência não colocar a mão no fogo por político nenhum.
Político, desde o correligionário que cola cartazes e distribui santinhos na esperança de conseguir um cargo de pouco trabalho e boa remuneração, até o cacique poderoso ocupante de cargo eletivo majoritário, sempre deve ser tratado com ressalvas morais na exata medida em que a eleição custa caro, aliás, muitas vezes custa quantias inestimáveis, porque implicam negociar a própria honra.
Mas não significa que eu desacredite de todos os políticos.
Neste Brasil onde a mediocridade da oposição só encontra paralelo na mediocridade da situação que, com todo o poder que acumulou não consegue fazer sequer uma reforma importante para alavancar o progresso do futuro, destacava-se até 2010 a figura de Demóstenes Torres, que era capaz de apontar os defeitos morais do governo Lula e demonstrar ao menos um espasmo de crítica a um governo que de tão popular murchou a oposição a ponto dela apresentar um candidato (Serra) que de tanto medo de Lula, foi incapaz de atacar sua adversária e apresentar-se como opção e não variação do mesmo tema ditado pelo então presidente.
Demóstenes Torres era um senador em que eu punha fé, um ícone da praticamente inexistente oposição no Brasil, cuja mediocridade dá a forte impressão de que, se puder, adere ao governo sem ressalvas, bastando um “veeenha!” partido do Palácio do Planalto.
Ter relações com bicheiros no Brasil só parece algo prosaico e inocente, porque eles são ícones da colossal hipocrisia pátria na medida em que são tratados como “pessoas diferenciadas” da sociedade sofisticada mas desonesta dos salões e das colunas de fofocas “in”, com largos sorrisos no rosto acompanhados de artistas, celebridades e políticos que certamente lhes pedem “contribuições” para campanhas e por esta razão acabam presos a uma amizade que pode ficar inconveniente.
Demóstenes Torres deixou-se seduzir pelo bicheiro sofisticado que ninguém (e quando digo ninguém é NENHUMA autoridade) lembra ser um contraventor que geralmente é icone também de crime organizado, já que contravenção é crime, o que muda é apenas a extensão da punição que, todos sabemos, só vem se o cara pisar na bola com políticos, que foi o caso agora, o que significa que o bicheiro deverá passar por problemas no curto prazo.
Mas até tu, Demóstenes, um procurador de justiça de carreira?
Estamos vivendo um tempo de mediocridade política como jamais vista no Brasil. A dita “situação” detém 70% do Congresso Nacional mas se debate na disputa pelo controle mesquinho de ministérios cheios de cargos em comissão para distribuir para apadrinhados imprestáveis antes de pensar em deixar uma marca que avance no tempo, como as reformas que já citei. E a oposição... bem, a oposição definha, seus ícones caem como um castelo de cartas ao vento porque à ela não sobra nem mais o discurso da moralidade tantas vezes conspurcada pela situação!
Até onde iremos com esse estado de coisas em que a política anda sempre de namoro com o crime?
SOCIEDADE DE CASCAS-GROSSAS
É interessante notar o estágio da sociedade brasileira que com quase uma década de estabilidade econômica, adotou a violência, a má-educação e a estupidez como padrão de comportamento.
Para o brasileiro médio de hoje em dia não basta se divertir, tem que incomodar terceiros de alguma forma. Não basta ter amigos se isso não significar beber até ficar de 4. Não basta ter namorado ou namorada, tem que “pegar” o máximo possível de periguetes na balada que toca música sertaneja que incentiva à bebedeira, o sexo irresponsável e o puro e simples agir de modo boçal, ignorando as regras mais elementares de educação, valor que virou coisa de otário.
O Brasil rico também é o lugar onde estudar é coisa de panaca, o que se constata a cada vez que se vê um cantor sertanejo afirmando em meio a sorrisos à sua volta que “deixou a escola, graças a Deus!”, como fez um desses patetas de cabelos oleosos tempos atrás com a vibração do Faustão ao lhe puxar o saco!
Uma sociedade que enriqueceu a olhos vistos e usou isso para propagar maus exemplos em reality shows, rodeios e brigas de rua travestidas de esporte. Os ídolos da juventude de hoje são pessoas que vendem até a mãe para ganhar ganhar reality show da TV ou ao menos conseguir um contrato de nudez em revistas de baixo nivel, e brucutus que cultuam o corpo perfeito mas com o cérebro atrofiado, que se orgulham de suas lutas onde o sangue espirra por todos os lados em meio de uma turba cuja vibração consiste em incentivar a humilhação física e moral do adversário.
Viramos uma sociedade de cascas grossas. Antigamente, cantava-se “olha que coisa mais linda mais cheia de graça” para elogiar uma bela mulher que passava, hoje, fala-se “ai se eu te pego” como que dizendo que uma bela mulher nada mais é que uma mercadoria no supermercado do prazer a qualquer custo, nem que “pegar” signifique violência moral ou física se ela não o quiser.
O resultado desse padrão de comportamento perverso ditado pela obrigação de 'se dar bem” a todo custo é uma sociedade violenta.
Os índices de acidentes de trânsito causados por bêbados e irresponsáveis batem recordes, o número de ocorrências de violência doméstica, idem, os estupros e as violências sexuais contra crianças e adolescentes também, os maus tratos e torturas contra animais são praticamente um padrão de comportamento., sem contar assaltos, formações de quadrilhas, corrupção, trafico e todos os tipos de atentados à humanidade que acontecem todos os dias enquanto muita gente pensa que sua “diversão” em patrocinar brigas, bebedeiras, assédio sexual e perturbação da ordem é inocente.
22 de fev. de 2012
OS JET-SKI DO ANDRÉ BARCINSKI
CADERNOS DE VIAGEM - 16 - APARECIDA/SP
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