5 de out. de 2020

CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.


No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar o clube, iniciou-se um calvário de fracassos retumbantes e seguidos para o Coritiba Foot Ball Club. O então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, rebaixou o clube com uma canetada, após uma decisão vergonhosa do STJD.

E foram 10 anos de fracassos, sem vencer sequer campeonato paranaense, acumulando dívidas e derrotas. Teve um início de gestão em que o clube não tinha fornecedor de material esportivo e não havia bolas para treinar enquanto crescia mato nas juntas de dilatação do estádio Couto Pereira. Os Coxas assistiram uma década de ouro do (grande) time formado em Vila Capanema e o renascimento do seu maior rival, que nas décadas seguintes os suplantaria em absolutamente todos os aspectos práticos de um clube de futebol.
Mas nem naquela época triste eu vi o Coritiba tão mal, tão sem perspectivas e tão sem futuro.
Foram tempos difíceis, mas havia uma torcida vibrante que apoiava o clube, havia categorias de base que disputavam competições e revelevam jogadores, havia ídolos em campo, havia inclusive, grandes homens que, vendo a situação caótica, deram seus maiores esforços para salvar a instituição: Evangelino da Costa Neves, Estevão Damiani, Professor Sidnei, João Jacob Mehl, Sérgio Prosdócimo, Joel Malucelli, Giovani Gionédis, Domingos Moro, Dirceu Kruger e outros tantos, de modo que, mesmo com os bate-chapas eleitorais, também existia o ânimo de manter a chama da instituição, aquele fulgor que atraía pessoas, aquela ânsia de reviver os bons tempos e de encarar o futuro.
Hoje é um clube abandonado à própria sorte.
A torcida dividida entre facções, a política interna afogada numa asquerosa batalha que tem como protagonistas ao menos dois indivíduos que são culpados diretos pela destruição da instituição que se afundou em dívidas ao mesmo tempo em que acostumou-se aos vexames, como as derrotas seguidas para clubes amadores na Copa do Brasil, ou as derrotas quase certas para todo time que venha de uma série de derrotas anteriores, ou esteja na zona de rebaixamento.
Na década de 90 o clube ainda era respeitado pela sua história. Hoje, é motivo de chacota na imprensa esportiva, tamanha a quantidade de besteiras que as diretorias que vieram de 2008 em diante praticaram, roubando as tradições centenárias de uma instituição que era amada não pelas vitórias, mas pela imagem que construiu ao longo das décadas.
Leio o noticiário sobre eleições do Coritiba e tenho vontade de chorar.
Um bando de ególatras falando em “união”, mas não abrindo mão de seu quinhão de poder, sabe Deus com quais intenções! E gente que se elege com o discurso do planejamento, mas no dia seguinte esquece tudo o que disse em campanha, reclama das diretorias anteriores e assume a postura de dar prioridade aos cuidados com sua vaidade e sua panelinha.
E o clube em segundo plano.
Em estado de pré-insolvência, que acumula déficit ano após ano, que não cria ídolos, que não atrai crianças e jovens, que não revela craques, que não tem intensidade no sentido de despertar aquela paixão que todo torcedor de futebol gosta de sentir, mesmo nos momentos mais críticos. A torcida encolhendo e envelhecendo. Um clube que não atrai atletas de qualidade, que virou uma entreposto onde jogadores são acumulados no elenco enquanto procuram uma contrato em lugar melhor. A ausência de fervor, o conformismo com as derrotas, o papo do “não somos grandes”, do “somos perseguidos” e do “não temos dinheiro”...
Nestes tempos de pandemia, sem público nos estádios, tenho notado a quebra do “elã” entre as pessoas e o Coritiba. Nos demais clubes, as pessoas continuam torcendo mesmo com derrotas, porque sentem uma vontade de melhorar, um afã em procurar o bom futebol. Entre os Coxas eu sinto cansaço, as pessoas estão largando o clube porque não notam absolutamente nenhum movimento vindo dele que não seja de derrotismo e reclamação.
E agora inauguramos o bacharelismo. Discutem-se filigranas estatutárias com o time na zona de rebaixamento, dando a entender que o egocentrismo poderá discutir o resultado das urnas na Justiça, qualquer que seja o custo para a instituição.
Os anos 90 foram bons e eu nem sabia... ao menos naquele tempo eu torcia para uma instituição vibrante, guerreira e inconformada. Hoje, vejo só abandono, certas pessoas passaram a se achar mais importantes que a instituição e a torcida (inclusive eu), que não quer saber de pessoas, está se afastando...

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