Vou construir uma laje sobre os rios Tietê e Pinheiros, com oito pistas para o trânsito. Entrego a obra em quatro anos.
A frase acima foi dita pelo candidato à prefeitura de São Paulo, Paulo Salim Maluf, que, como se vê, pretende CANALIZAR os rios Tietê e Pinheiros para supostamente melhorar o trânsito da capital paulista.
Eu comentei esse assunto no blog do Cejunior, mas vou repetir aqui meus argumentos.
A maior parte dos problemas de trânsito não é causada pela falta de vias, mas sim pela falta de educação dos motoristas. Pesquisa recente dá conta de 32% dos motoristas brasileiros abusam do álcool, especialmente a cerveja, antes de dirigir. Junte-se a isso alguns fatos comuns, como filas duplas e triplas nas portas de escolas, rachas entre adolescentes que dirigem sem habilitação, estacionamentos irregulares, conversões perigosas e ilegais, "costuras" e péssima manutenção de veículos.
Nossos motoristas erradamente concluem serem prioridade no trânsito, levados a isso justamente por políticas irresponsáveis como as do senhor Maluf, que pouco fez pelo transporte coletivo e pela humanização da cidade de São Paulo enquanto prefeito dela a abrir avenidas e levantar viadutos. São Paulo virou uma selva de pedra onde é possível rodar por horas sem encontrar uma área verde. E a conta é paga pelos próprios paulistanos, vítimas de enchentes e neuroses urbanas causadas pela feiúra ímpar do cimento pichado em conjunto com os demais fatores, como a poluição do ar e a visual e o barulho insuportável.
O que a maioria das pessoas não entende é que o progresso econômico impõe uma escolha. As pessoas podem adquirir veículos, mas em troca, recebem o trânsito ruim e não é válido destruir a natureza, ou, no caso, de São Paulo, impedir programas de recuperação ambiental, para melhorar a rodagem dos veículos por 1 ou 2 anos. No ritmo do crescimento da frota brasileira, o senhor Maluf poderá construir pistas elevadas sobre o mesmo Tietê que ele pretende canalizar, que as coisas só vão melhorar temporariamente. Se ele não investir em educação dos motoristas e transporte coletivo, essas obras faraônicas e ambientalmente irresponsáveis de nada servirão.
As margens do Rio Tietê têm recebido reflorestamento por várias razões, as mais relevantes delas, melhorar a permeabilidade do solo da capital para evitar enchentes, e facilitar a oxigeração do rio, que está morto, e precisa de ações firmes para ser recuperado pelo próprio bem dos paulistanos.
Aliás, acabou a era de devastar áreas verdes para construir avenidas, isso é passado, o planeta não resiste mais a esse tipo de gestão urbana. Cidades como São Paulo precisam investir em parques, praças e jardins, e em fiscalização de propriedades privadas para acabar com a selva de pedra. Se isso não acontecer, idéias de jerico como a do senhor Maluf representarão uma melhoria de 1 km/h no trânsito, em troca de mais um dia de enchentes e prejuízos para a cidade.
E o trânsito?
Bem, o trânsito tem jeito se o transporte coletivo melhorar e as pessoas entenderem que não são proprietárias da rua ao instalar-se em frente de um volante. A simples educação dos motoristas seria suficiente para melhorar sensivelmente a situação dos engarrafamentos.
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