5 de nov. de 2010

FUTEBOL: A SEGUNDONA NÃO É O FIM DO MUNDO


O meu Coxa está no limiar de voltar para a série A do campeonato brasileiro. Dependendo de uma vitória hoje (que será sofrida, acredite o leitor, porque o Ipatinga é osso duro de roer) e um empate nos 4 jogos faltantes.

Mas desde que o Brasil aderiu ao bom senso e instituiu o campeonato de pontos corridos, todos os anos quando chegamos em novembro vemos a mesma novela criada pela imprensa, sobre a "tragédia" que aflige os clubes, especialmente os grandes. A impressão que fica é que, rebaixados, eles estão mortos e enterrados, sem futuro à vista, acabados com direito a protesto de torcidas organizadas e caça a dirigentes que os presidem ano "trágico" de sua queda.

Uma pequena parte da torcida do Coritiba causou um problema colossal ao invadir o campo de jogo após o rebaixamento do clube em 2009, que já era esperado, se bem que uma vitória naquele dia teria impedido. Mas esta sim foi a verdadeira tragédia que afligiu o clube, que a partir de então foi triturado nos tribunais recebendo a maior pena já aplicada no futebol brasileiro, jogando quase 20 jogos fora de seu estádio nos campeonatos paranaense e brasileiro, perdendo sócios e patrocinadores, encerrando ações de marketing e tendo até dificuldades em contratar atletas.
Mesmo assim, o Coxa provou sua grandeza e está disputando com grandes chances a volta à série A. Como também o Bahia, que chegou à terceira divisão, também está, comprovando a força da sua massa torcedora.

Fora isso, o rebaixamento só é desastroso para clubes sem tradição ou com problemas efetivamente sérios de gestão. Veja o leitor que clubes grandes como o Corinthians, o Vasco, o Grêmio, o Palmeiras e o Botafogo caíram e voltaram até mais fortes. Nenhum deles fechou as portas, nenhum deles acabou. E clubes tradicionais como o Coritiba, o Sport e o Bahia vão para divisões inferiores e cedo ou tarde voltam para a série A, porque têm um diferencial que a maioria dos clubes de futebol não têm: grandes torcidas, massa torcedora, gente que empurra o clube para cima se necessário for.

A segundona só é o início do fim para clubes em situação financeira crítica, mas nesses caso é apenas mais um capítulo de uma crise. E também é ruim para clubes de fachada, associações itinerantes que não levam público aos jogos e sobrevivem da negociação de jogadores por serem mantidos por interesses empresariais. Claro que não vou citar nomes desses clubes, mas basta o leitor olhar as tabelas dos campeonatos brasileiros que vai identificá-los.

As séries B,C e D são campeonatos nacionais de futebol, seus títulos são de grande importância para qualquer clube e as vezes, representam o renascimento da instituição. Na era dos pontos corridos, o brasileiro está aprendendo a importância de um futebol organizado em divisões, que permite planejamento de temporada e fortalecimento gradual dos clubes.

A série B é uma prova de força. É tão emocionante e disputada quanto a série A, vencê-la e passar por ela é um atestado de grandeza de uma instituição de futebol. Tregédia não é cair, mas pensar que o mundo acabou e jogar a toalha, abandonar a instituição quando ela mais precisa provar que é forte.

3 de nov. de 2010

A IRRELEVÂNCIA POLÍTICA DO PARANÁ


Dono do 5º PIB estadual do Brasil, do segundo porto mais importante e do terceiro maior destino turístico com uma capital que é referência nacional em urbanismo e qualidade de vida. Líder na produção agrícola, bem colocado na produção de carnes, detentor de um parque industrial considerável especialmente na agroindústria e na área automobilística, corredor de importações do Paraguay, detentor de duas das mais completas universidades do Brasil (UFPR e PUC-PR) e maior produtor brasileiro de energia elétrica, o Paraná está para o Brasil como o Japão para o mundo: rico, mas irrelevante em termos políticos.

Seja quando o governo é conservador, como o de Fernando Collor, seja quando o governo é dito progressista, como o caso de Lula e como, aparentemente, será o de Dilma Roussef, o Paraná não consegue transferir seu peso econômico para a política.

O paranaense que chegou mais perto da presidência da república foi o ex-governador Ney Braga, que foi ministro da educação no governo Ernesto Geisel. Fora isso, mesmo os políticos mais relevantes da terra, como José Richa, Jaime Lerner e Roberto Requião, nunca passaram de curiosidades políticas nos palácios brasilienses, onde há um ou dois paranaenses lotados em tribunais superiores e apenas o ministro Paulo Bernardo em um cargo realmente influente da administração federal, o planejamento.

É certo que a tradição conservadora do estado diminui suas chances de emplacar nomes em governos ditos de esquerda. Mas conservadorismo não é algo ruim, porque sua interpretação depende muito do momento histórico e econômico que se vive. E mesmo conservador, o Paraná foi irrelevante por exemplo, no governo Fernando Collor.

O estado viveu nos últimos 8 anos um governo que se dizia de esquerda e alinhado ao governo Lula, mas não foram raras as vezes que seu governador flertou com o PSDB de José Serra ou Geraldo Alckmin e depois rifou o seu passe na composição da chapa de Osmar Dias, derrotada na corrida estadual justamente pela heterogeneidade e pelo que nós chamamos aqui de "autofagismo", aquela coisa de não ser nada mas invejar o alheio e atrapalhar o sucesso deste, seja impedindo composições, seja se impondo acima dos interesses alheios.

E há pouca probabilidade desse quadro mudar no curto prazo. Na composição do novo governo estadual, acorreram para as hostes tucanas todos os aliados de primeira hora do governo Requião com intuito claro de manter-se no poder e mais do que isso, de não mudar a forma de fazer política em terras paranaenses. Ou seja, o autofagismo continuará forte na terra das araucárias.

A esperança do estado em ter mais importância e consideração política nacional estaria numa renovação do PSDB, com aumento da importância de novas lideranças como Aécio Neves e Aluísio Nunes, incluindo o governador eleito Beto Richa. Mas o fato deste dirigir-se a passos largos para recepcionar de braços abertos a turminha do PMDB que bancou o péssimo governo Roberto Requião, marcado por 8 anos de estagnação política, deixa parecer que as coisas não evoluirão de novo, o estado continuará rico, pujante, mas com influência política quase nula.

1 de nov. de 2010

DILMA PRESIDENTE


Vi muita gente reclamando das pesquisas, mas se considerarmos as últimas que em média davam 10 pontos de vantagem para Dilma Roussef, temos que concluir que foram confirmadas.

Acontece que todas elas têm margem de erro de no mínimo 2 pontos percentuais para mais ou para menos, sendo que a diferença em 2010 foi de 8 pontos. Portanto, essa discussão boba perdeu sentido. Enquanto pesquisas forem tratadas como informação, sua divulgação estará protegida pela Constituição. Já houve Lei tentando restringir a divulgação no mês da eleição, mas isso é impossível por inconstitucional, como também são, diga-se de passagem, controles de mídia que alguns estados pretendem instituir. Resta para os políticos alterar a regulamentação da metodologia, fora isso, elas continuarão, para raiva de quem aparece ou aparecerá atrás nelas.

Portanto, Dilma venceu independentemente das pesquisas.

E se é verdade que venceu porque teve o apoio do presidente, se bem que ninguém em sã consciência recusaria o apoio dele e seu governo com índices de sucesso econômico, também se constatou que evoluiu como candidata. A exemplo, basta comparar o desempenho no primeiro debate na BAND, insegura que estava, ao último, na Globo, quando expressou idéias e opiniões no mesmo nível do adversário.

Sem isso, a vitória não teria sido tão expressiva. Lula pode ter bancado sua candidata, mas ela também venceu por méritos próprios.

No seu primeiro discurso já como presidente, Dilma foi conciliadora e direta no sentido de realçar a defesa dos valores democráticos, especialmente a liberdade de imprensa, bem como reiterar que as bases do seu governo são as mesmas do governo Lula, centradas em políticas sociais consistentes sem descuidar do profissionalismo e da eficiência da coisa pública, chamando inclusive a oposição para o diálogo republicano, reconhecendo a força desta, até pelo número e relevância dos estados que governará a partir de 1º de janeiro.

Eu sempre escrevi aqui neste blog que não achava que Dilma Roussef fosse o monstro pintado durante a campanha eleitoral. Pelo contrário, penso que enquanto ministra, ela sempre demonstrou capacidade administrativa e mais do que isso, credito na sua competência muitas das realizações do governo Lula e parte substancial da popularidade do presidente.

Biografia e capacidade em administração pública lhes sobram. Apoio parlamentar não faltará porque sua coligação elegeu a maioria das bancadas na Câmara e no Senado e por mais que existam os fisiologistas e os infiéis, seu governo terá menos dificuldades que os dois anteriores, de Lula.

O Brasil ainda é uma democracia jovem, o que leva a um debate constante sobre a manutenção da ordem institucional, fruto do medo de experimentar novamente um regime de exceção. Isso ficou patente durante esta campanha. Mas não se deve confundir setores radicais dos partidos com os candidatos. Em todos os partidos políticos brasileiros há quem defenda a tomada do poder e o absolutismo de sua prática, mas isso é exceção, o Brasil caminha para estabilidade democratica como em nenhum momento antes de sua história, sendo implausível e até ilógico que enverede pelo caminho de países em estágios políticos bem menos avançados como a Venezuela e mesmo a Argentina.

Dilma é a primeira mulher a governar o país. Por si só isso é prova da evolução constante da nossa democracia desde que Tancredo Neves rompeu o ciclo de governos militares e abriu o processo que passou pela Constituição de 1988, pelo Plano Real, pelas eleições livres e diretas de presidente em 6 ocasiões e inclusive, pela cassação de um deles com manutenção da democracia e das instituições.

Dilma, pintada por alguns como um retrocesso democrático, em verdade é a prova da evolução constante do país como nação.

29 de out. de 2010

MAS A CPMF VAI VOLTAR...

Vença quem vencer domingo, tenho absoluta certeza de que o primeiro debate legislativo importante de 2011 será o retorno da CPMF com alguma desculpa esfarrapada, como recursos para a saúde ou para a previdência, ignorando o fato de que só este ano (e só até outubro), as receitas tributárias da União cresceram o equivalente a 3 vezes o que era arrecadado pela antiga CPMF.

O que é engraçado é que isso fica nas entrelinhas da campanha. Se Dilma vencer, ela aprova a CPMF em 1 mês no Congresso Nacional por conta da ampla maioria parlamentar que terá. Se Serra vencer, ele demora um tempo a mais, talvez 6 meses ou 1 ano por conta da oposição forte que teria, mas que sempre é ideologicamente favorável à criação de novos impostos e que vai resistir, mas acabar, pelo menos em parte, votando em favor.

Como eu já escrevi aqui e no twitter, durante esta campanha os grandes temas nacionais foram jogados para escanteio. O inchaço da máquina pública, que mantém funcionários demais em cargos de comissão e confiança e cuja folha de pagamento cresce todos os anos acima do crescimento da arrecadação tributária (que por si só é altíssimo) é um fato que foi agravado no governo Lula, mas que já estava fora de controle nos anos de FHC.

Nos últimos 16 anos a arrecadação tributária nunca deixou de crescer. Mesmo assim, as despesas aumentaram sistematicamente mais que as receitas, sem que se tenha feito absolutamente nada para conter esse quadro, que desemboca em endividamento interno crescente e consequente pagamento de juros.

E ainda há o problema grave da previdência social que precisará sofrer reforma com aumento de idade mínima de aposentadoria, sem contar a enorme pressão por gastos em investimentos em razão da Copa do Mundo e da Olimpíada, gastos estes em obras que, por terem prazo exíguo em serem encerradas, podem gerar enormes sobrepreços, como é tradição no país.

Durante esta campanha eleitoral, os candidatos do segundo turno debateram bolinhas de papel e bexigas d'água, discutiram o aborto, sendo que ambos são favoráveis e contrários ao mesmo tempo, e fizeram comparações entre os governos FHC e Lula buscando a paternidade de programas sociais.

Mas se reprisarmos todos os debates e programas de TV veremos que ambos só defenderam promessas vazias, muitas das quais inexequíveis e fugindo de discutir a verdadeira grande função presidencial, que é a de coordenar a administração federal.

O que se extrai desse quadro de negação em atacar problemas fiscais, é que mesmo que as receitas tributárias continuem crescendo por conta do impulso desenvolvimentista que o Pré-Sal, a Copa e a Olimpíada vão gerar, cedo ou tarde o país terá que experimentar um ajuste fiscal que vai preocupar-se em aumentar receitas, mas nunca em conter as despesas, e o Brasil vai continuar sob o risco de crises fiscais e sob o jugo de especuladores do mercado mobiliário, coisas das quais poderia se livrar com uma política séria e consistente de gastar menos do que arrecada.

27 de out. de 2010

DEUS SALVE A AMÉRICA DOS NEOCONS!


Os EUA têm sido o país líder do mundo nos últimos 100 anos basicamente em razão da liberdade interna que cultuam.

A vanguarda tecnológica e cultural do país sobre o mundo é explicada justamente pelo fato de que sempre foi uma nação que, internamente*, sempre prezou a liberdade de pensamento, de opinião, de credo e de expressão, mesmo no período negro de histeria anti-comunista entre fins da década de 40 e meados da de 50, o Macarthismo, que acabou enterrado justamente pela violação contínua de direitos humanos e civis no país.

Graças à esta liberdade sempre defendida com unhas e dentes, reconhecida pela Suprema Corte em muitas decisões e sobrevivente até ao anti-comunismo radical latente na sociedade, o país legou ao mundo um arcabouço cultural que influencia as culturas de todo o planeta a partir da música e do cinema, representado por alguns de seus maiores artistas reconhecidos globalmente, como Elvis Presley, Frank Sinatra, Paul Newman, Marlon Brando, Audrey e Katherine Hepburn, Meryl Streep, Madonna, Michael Jackson, entre muitos outros.

Graças à liberdade política e de credo, o país atraiu cientistas renomados, tais como Léo Szilard, Albert Einstein, Enrico Fermi e tantos outros fugidos do nazismo. E isso legou ao país a vanguarda tecnológica mantida até hoje, bem demonstrada pelo fato de deter a maioria dos prêmios Nobel de física, química e medicina/fisiologia (129), que também são resultado da liberdade de debater idéias e da efervescência de suas universidades e centros de pesquisa, detentores da maior parte das patentes de invenções existentes no mundo.

Mas a "pátria da liberdade" convive há mais ou menos 30 anos com uma ameaça que têm se tornado cada vez mais presente na vida do país e que nestas eleições de 2010 tende a agregar (pelo menos aparentemente) mais poder. São os "Neocons" e os integrantes do "Tea Party", movimentos ultraconservadores que existem nas fileiras do Partido Republicano desde a década de 70, que chegaram timidamente a altas posições com a eleição de Ronald Reagan em 1980 e que alcançaram o topo de sua influência nos tenebrosos anos de George W.Bush na Casa Branca.

Candidatos ultraconservadores beirando a hipocrisia pura e simples a exemplo da a ex-candidata a vice-presidente Sarah Palin, tomaram o lugar de políticos tradicionais (e moderados) da legenda com discursos religiosos radicais e defesa e oposição encarniçada à intervenção estatal na economia, pregando ainda a continuidade das políticas de controle migratório e anti-terrorismo que cresceram a níveis assustadores desde os atentados de 11/09/2001, isso para um país que não só se acostumou a receber quem quer que seja de braços abertos, mas fez disso uma das alavancas de seu progresso material.

Apresentam-se como caçadores de bruxas e defensores da família, mas defendem a restrição de liberdades que sempre foram cultuadas pelos americanos, justificando isso com a promoção da paranóia anti-terrorista que permeou o governo Bush, e da qual se pensava que a eleição do negro de ascendência muçulmana Barack Obama tinha livrado o país.

Deus salve a América, e nisso o mundo também, dos neocons!


* Quando ressalto o internamente, é justamente para avisar que externamente o assunto é outro. Fora dos EUA, o que vale para todos os governos do país são os interesses internos, isso é histórico, eles não se importam com a liberdade dos outros, nem com a democracia dos outros se isso não lhes causar problemas. Se estão certos ou errados, não sei, mas o que é bem claro na história da humanidade é que países não se tornam potências influentes com bondade.

25 de out. de 2010

A MARCA IMPLACÁVEL DO TEMPO!


"Pelos caminhos da bola, a marca implacável do tempo!" dizia o locutor Durval Leal quando eu criança, acompanhava os jogos do Coxa ou na Rádio Clube ou na Rádio Independência, ambas de Curitiba.

Na época eu não percebia muito o sentido da frase, porque o tempo só era implacável quando o Coxa estava perdendo. Se não, era doce e passava bondoso na lerdeza da juventude que se divertia com o espetáculo.

Há pouco eu entrei no "you tube" e sem me dar conta, digitei Waldo de Los Rios na procura.

O maestro Waldo de Los Rios é o responsável por eu gostar de música clássica, porque um dia meu pai trouxe para casa dois long-plays comprados nas lojas Hermes Macedo. Um deles, com uma flor estilizada de papel e no centro, uma reprodução do rosto de Mozart, o "Mozartmania". E na capa do outro, uma estátua em mármore com um grande par de fones de ouvido, o "Sinfonias".

Pouco antes meu irmão me mostrara no mesmo you tube um video de outro artista da minha infância, o alemão Heino, interpretando com a orquestra do genial maestro e violinista André Rièu, remetendo direto para as bandinhas alemãs que cresci ouvindo e que sempre me lembram da gaitinha harmônica do tio Waldino, incessantemente tocada nos aniversários da oma* lá em Jaraguá do Sul, que eram a reunião anual da família, com todos os primos dormindo ou tentando dormir no sótão onde a festa ia longe a ponto de em algum momento um adulto subir as escadas para mandar que parássemos ou de rir ou de brigar.

Será o tempo implacável?

Apesar de eu ainda gostar (muito) de Waldo de Los Rios e Heino, e mais ainda do Coritiba que me fazia fã do Durval Leal que era Coxa-Branca como eu, já não me encontro mais anualmente com os primos, e a oma e mesmo o tio Waldino já se foram para o céu, ele há quase dois anos, para tocar sua gaitinha por lá e alegrar a velhinha que recebia os netos com bolachas caseiras de glacê, balas "Sasse" e gasosa de framboesa.

Não sei porquê, mas hoje me dei conta que agora, os adultos somos eu, meus irmãos e meus primos, e nossos pais já são os opas** e e as omas. Fiquei nostálgico, sentindo saudades implacáveis como o tempo, que porém, também é generoso.

De certa forma o tempo me levou à Universidade Federal do Paraná, também de tantas boas lembranças. E foi ele quem me conduziu a assistir um recital da Orquestra Filarmônica de Israel, regida pelo genial Zubin Mehta, presente que recebi de duas amigas queridas ligadas à Universidade Positivo aqui de Curitiba. Foi o tempo que me fez passar pela alegria indescritível dos sofridos títulos do Coxa, pelas minhas namoradas, meus amigos, minhas vitórias e minhas derrotas. Foi o tempo que me trouxe algumas lindas crianças, meus sobrinhos, e que encheu minha retina de imagens ainda nítidas, de alegrias que me fazem chorar e de tristezas que me fazem rir.

O tempo vai passando e deixando suas marcas nas nossas vidas. É implacável, mas quem o faz cruel somos nós mesmos. Eu prefiro encarar o tempo como um grande baú de coisas boas que aberto, exulta a alma e nos ensina a sermos nós mesmos, dando valor para nossa história, nossa vida, nossa caminhada até aqui. O tempo é um baú das imagens e dos sons de nossos entes queridos, das nossas conquistas e derrotas, do nosso aprendizado.

Sua marca é implacável, somos nós mesmos evoluindo e tentando aprender o segredo da vida, que pode ser o de se deixar levar por ele sem nunca esquecer de, de tempo em tempo, abrir o baú para voltar ao que passou.

* vovó, em alemão.
** vovô.


O DILEMA NÃO É SÓ DA FRANÇA DE SARKOZY (II)

Na GAZETA DO POVO (Curitiba) de hoje:

Previdência, com rombo crescente, é ignorada pelos presidenciáveis.

Numa campanha suja e rasteira mantida pelos dois lados, as verdadeiras questões importantes ao país estão renegadas a segundo plano.

22 de out. de 2010

NUNCA HOUVE UM ATLETA COMO PELÉ!

Foto: Placar/Editora Abril .


Hoje abri o jornal e atônito, li um colunista de Curitiba fazer insinuações separando a pessoa Edson Arantes do Nascimento do atleta Pelé, como para diminuí-lo, dando à ele uma dimensão muito menor que a que alcançou em décadas de uma vida inteira dedicada ao esporte e às boas causas, por mais que eventualmente a pessoa Edson também sofra dos mesmos defeitos morais que todo ser humano tem.

Hoje em dia, acusa-se o Edson Arantes do Nascimento de ter sido mau pai, de não ter reconhecido uma filha senão por sentença judicial, de se omitir na luta pela democracia (onde ele nada podia fazer), de ter tido problemas com sócios e até de ter sido garoto propaganda de vitamina e remédio de disfunção sexual. Falam até que é mau cantor...

Incrível que no Brasil ainda se diminua a figura de Pelé levantando essas picuinhas inerentes a qualquer ser humano, e especialmente aceitando discutir comparações ao obtuso Diego Armando Maradona, quando comparação só seria plausível e minimamente aceitável entre Pelé e Di Estéfano ou Pelé e Puskas, sendo que o brasileiro vence qualquer uma delas com folga e quem diz ou disse isso não sou eu, mas as pessoas que vivenciaram aquela época dourada do futebol, inclusive o próprio Puskas.

Eu prefiro cultuar a figura do atleta exemplar que treinava além dos colegas e que estudava o estilo de jogo de cada um deles para obter melhor rendimento. O atleta que não bebia quando não podia beber, e não festava quando não podia festar. O atleta que nunca teve uma fase ruim de rendimento técnico, a ponto de encerrar a carreira ainda no auge do seu esplendoroso futebol. O atleta que marcou mais de 1000 gols, que foi 5 vezes campeão mundial, 2 vezes da América, 8 vezes campeão brasileiro e que colecionou dezenas de outros títulos, inclusive como artilheiro da maioria dos torneios que disputou.

Quer mais? Cultuo o Atleta do Século XX escolhido por jornalistas do mundo inteiro, o indivíduo que foi capaz de causar um cessar-fogo numa guerra para que seu futebol pudesse ser visto, o então rapaz que ao marcar seu milésimo gol pediu para o Brasil olhar pelas suas crianças, coisa que o país não fez até hoje, o embaixador da UNICEF pela Paz e do Esporte, que visitou centenas de chefes de Estado e Governo pelo mundo afora, o negro que encantou um mundo racista e encurtou o caminho da igualdade das gentes, o patrocinador de projetos sociais como o do Hospital Infantil Pequeno Príncipe aqui de Curitiba, o Rei do Futebol cujos feitos e espetáculos são vívidos mesmo na memória de pessoas que nem nascidas eram àquela época.

E ainda o bom rapaz que nunca esqueceu a família, os amigos e suas raízes, que não fugiu do serviço militar obrigatório quando podia ter apelado para o jeitinho, que quando estava alcançando as glórias que nenhum jogador antes dele conseguira, resolveu estudar e dar exemplo. O jogador que recusou salários polpudos em times da Europa para continuar defendendo o seu amado Santos FC, e que deixou o glamour de Milão, Roma e Madrid para ficar aqui mesmo no Brasil.

A vida de Pelé deu tantos bons exemplos ao Brasil e ao mundo, que destacar a pessoa Edson Arantes que têm defeitos morais como eu ou como você, leitor, do mito Pelé, é injusto, é cruel, é aviltante à importância dele para a humanidade.

O século XX foi generoso para a humanidade, nele o mundo vivenciou vidas e feitos de grandes homens e mulheres, tais como Winston Churchill, Nelson Mandela, Madre Teresa, Golda Meir, etc... no esporte, Pelé foi e é até hoje o maior expoente de uma época dourada da humanidade, alguém que deixou sua marca para todo o sempre, e que será lembrado por gerações como um dos ícones das boas coisas que o ser humano pode fazer.

Parabéns ao Rei do Futebol, nunca existiu um atleta como ele!

20 de out. de 2010

O DILEMA NÃO É SÓ DA FRANÇA DE SARKOZY

Os franceses protestam. Um projeto de lei partido do governo pretende aumentar a idade mínima de aposentadoria e mexer nas contas da previdência social de lá para adequar o cálculo atuarial e garantir a sanidade do sistema.

A França é um país em que a idade média da população é alta. Está em franco processo de envelhecimento, entrando no rol daqueles de taxas demográficas negativas, de modo que há cada vez menos trabalhadores ativos sustentando os inativos amparados pela previdência social.

Mas as centrais sindicais não entendem assim e promoveram a onda de protestos peitando o governo. Bem dito, promoveram a onda de protestos mas não apresentaram nenhuma proposta exequível para evitar que as contas da previdência de lá entrem em colapso em alguns anos. Pura demagogia política, igualzinha à que se vê no Brasil de tempos em tempos.

Mas o problema da França de Sarkozy não é diferente do da Inglaterra de David Cameron, nem do da Alemanha de Angela Merkel, nem da Argentina de Cristina Kichner, muito menos do Brasil de Lula e de Dilma ou Serra a partir de 1º de janeiro.

O problema previdenciário é mundial, afeta todas as economias do planeta de uma forma ou de outra, porque tem sua gênese no aumento da expectativa de vida da população do planeta, causada pelos avanços da medicina e da tecnologia, mas especialmente da sociedade como um todo. Não é porque Sarkozy é um governante de direita que suas ações não são fundamentadas como entendem as centrais sindicais francesas, os governos de esquerda geralmente não têm coragem de enfrentar este problema, a verdade é esta.

30 anos atrás, cada aposentado brasileiro recebia sua remuneração a partir de uma conta simples: 4 ativos contribuiam, as empresas em que estes 4 ativos trabalhavam contribuiam e o Estado brasileiro assumia o que faltava. Hoje, essa relação de 4 x 1 está em queda livre e ela já forçou o Brasil a aumentar os percentuais de contribuição e a idade mínima de aposentadoria, limitar as aposentadorias especiais por tempo de serviço, diminuir o teto de remuneração, dar incentivos para a previdência privada e criar o fator previdenciário. O Brasil viveu pelo menos 4 reformas previdenciárias desde a Constituição de 1988, à guisa de muito protesto de centrais sindicais e até do movimento "Fora FHC", que exonerava o presidente mas não atacava o problema.

Mesmo assim, o próximo governo, seja de quem for, terá que enfrentar novamente o desgaste de mexer na previdencia, tal qual fazem os governos sérios pelo mundo afora.

Com sua popularidade recorde, o presidente Lula podia ter proposto essa nova reforma e deixado uma situação mais tranquila para seu sucessor. O problema é que quando o assunto é previdência, não existe base aliada, nem situação, nem oposição no Congresso Nacional. No nosso parlamento tomado por populistas e analfabetos funcionais, qualquer coisa que envolva previdência social vira tabu, mito que não pode ser discutido sem ao menos uma generosa troca de favores com emendas parlamentares e distribuição de cargos para apaniguados vadios.

Se Dilma Roussef for eleita presidente, terá mais condições de empreender uma reforma. Terá ampla maioria (pelo menos teórica) no Congresso e menos (embora não nenhuma) resistência por parte de centrais sindicais e organizações sociais. Já para José Serra a tarefa seria bem mais indigesta, porque ele teria no mínimo a oposição barulhenta do PT, o mesmo PT que aprovou em 2003 algumas reformas sugeridas pelo governo FHC, mas que se negará a discutir qualquer coisa durante um eventual governo tucano. Mas mesmo que o PT fique em minoria, ainda assim, Serra contará com oposição dentro do próprio PSDB, partido menos idológico e, portanto, muito mais afeito à troca de favores no parlamento.

De qualquer modo, uma nova reforma previdenciária no Brasil terá que mexer numa colméia de abelhas africanas: a previdência que afeta o funcionalismo público, que atende 1/10 dos inativos do país, mas cujos gastos equivalem a algo entre 30 e 40% do total.

Muito longe de ser uma discussão eleitoral, trata-se de uma questão estrutural no Brasil e em qualquer lugar do mundo. Se o tesouro nacional de um país passa a acudir o sistema previdenciário em percentuais cada vez maiores, falta ou faltará dinheiro para outras áreas, como a indução econômica para manter crescimento. Se isso afeta os países ricos, imaginem então os emergentes, que dependem muito de programas desenvolvimentistas para combater a miséria e melhorar as condições de vida de suas populações.

A França discute hoje o bate-boca do Brasil de amanhã.

18 de out. de 2010

TÁ DIFÍCIL ESCOLHER

Embora não ache que Dilma e Serra sejam os monstros pintados pelas campanhas adversárias, sinceramente não gosto deles. De repente, o país está evocando Deus para que se escolha entre dois candidatos que eu entendo intelectualmente preparados para o cargo de presidente, mas, sejamos sinceros, ruins de doer!

Serra impôs sua candidatura ao partido e Dilma foi imposta por Lula ao PT. Se o currículo político-administrativo de Serra é muito melhor que o de Dilma, esta tem a vantagem de nunca ter renunciado a um mandato para concorrer a outro. Ambos têm ligações diretas ou indiretas com pessoas acusadas de corrupção que estavam sob suas ordens e supervisão.

Fernando Henrique Cardoso foi eleito duas vezes prometendo ajustes fiscais e recuperação econômica. Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito duas vezes prometendo políticas sociais e combate a pobreza. Mal ou bem, ambos tinham estampada desde sua campanha as linhas gerais dos seus governos, o que não é possivel aferir hoje, quando tanto Serra quanto Dilma fogem de todos os assuntos que lhes possam causar o mínimo desconforto eleitoral. Durante a campanha agiram no melhor estilo "bagre ensaboado", fugindo de questões sensíveis como as reformas previdenciária e fiscal sem as quais o país não vai sustentar crescimento econômico por longo prazo. Mesmo na questão do aborto, que é relevante mas muito menos importante, mantiveram uma discussão estéril. São candidaturas vazias de uma direção, porque dizer que vai continuar o trabalho do antecessor ou que é possivel avançar mais que nos últimos 16 anos apenas comprova o fato já posto, de que seus planos de governo são inexequíveis.

Chegamos ao final do processo eleitoral de 2010 sem saber qual será a cara da presidência do Brasil nos próximos 4 anos, estamos assistindo uma absoluta falta de idéias próprias, de dois candidatos pautados pelos marqueteiros, não por suas convicções pessoais. Estamos numa loteria eleitoral.

CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.

No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar ...