11 de jun. de 2012

UM MUNDO SUSTENTÁVEL



Não é preciso ser diplomata para saber que os resultados práticos da Rio + 20 serão tímidos ou até nulos.

O problema de órgãos multilaterais como a ONU é que eles dependem que países abram mão de uma parte de sua soberania para que as decisões colegiadas tenham algum efeito e abrangência.

Para um organismo como a ONU traçar diretivas e impor sua aplicação ele teria de ter um mandato deferido pelos países, com o poder de fiscalizar e fazer cumprir, o que pelo menos hoje em dia é impensável por várias razões

A primeira é que os governantes de qualquer lugar têm o hábito de achar que o mundo se resume ao que está em volta do seu umbigo. É praticamente impossível encontrar um estadista que aceite a aplicação de regras transnacionais no território do seu país, violando diretrizes políticas como a manutenção de um crescimento econômico acelerado (caso da China) ou alterar o orçamento do país para gastar menos com programas sociais e mais com programas ambientais (caso do Brasil) ou ainda, limitar emissões que de gases que aumentam os lucros de suas empresas (caso dos EUA), porque além da soberania que ninguém quer violada, há promessas de campanha e programas de governo que muitas vezes são até mesquinhos ante a tarefa de salvar a humanidade preservando o meio-ambiente, mas são por demais afeitas àquele eleitorado, e não serão objeto de negociação porque implicam em um ônus eleitoral para o governante.

Ademais, como a ONU conseguiria fazer colossos militares e econômicos como os EUA e a China, principais emissores de gases do efeito estufa, cumprirem suas regras em detrimento de sua economia interna e em ultima análise, do seu eleitorado? Se pegarmos um tema atual, veremos que não se consegue fazer cumprir diretrizes do Conselho de Segurança na Síria, que é um país minúsculo, o que fazer então se hipoteticamente se descobrisse que a Alemanha viola regras ambientais mundiais?

Logo, contentemo-nos com os resultados pífios obtidos na Rio’ 92, cujas metas do documento final não foram atingidas em nem 5% da lista. Não será diferente na Rio + 20, por mais que o oba-oba em volta do evento seja grande e que para os desavisados seja vendida uma revolução, um pacto de concórdia entre os países para evitarem o desastre ambiental que se anuncia.

Não haverá concórdia, não haverá pacto, no máximo haverá um alerta para que cada país ao menos aumente um pouco os esforços que têm (se é que os tenha) para salvar o meio-ambiente.

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Mas isso não significa que não se deva discutir o problema cada vez mais grave da degradação ambiental que por sua vez é causada pelo pior agente poluidor, o mais implacável, o mais presente e cujo combate é extremamente delicado, o homem!

Sempre digo que não existirá lugar, cidade ou país sustentável sem que o ser humano assim seja. Enquanto vivermos em um mundo que desperdiça alimentos, que é viciado em energia obtida com grave prejuízo ao meio-ambiente. Um mundo que por motivos estéticos ainda não extinguiu uma série de produtos impossíveis de reciclar, um mundo que exige cada vez mais pontos turísticos mesmo que para tanto eles agridam ecossistemas ainda virgens, um mundo que consome de tudo, em grandes quantidades e em velocidade que aumenta exponencialmente. Com esse quadro não haverá sustentabilidade por mais que diplomatas, cientistas e ecologistas se unam na tentativa de apresentar soluções.

O Brasil experimentou nos últimos 10 anos um processo que demonstra muito bem que não adianta um país querer ser sustentável a partir dos discursos do seu governo, se o seu povo não o é. Quando a população brasileira recepcionou uma melhoria econômica ela foi às compras sem nenhuma preocupação com o meio-ambiente. Primeiro importaram-se bugigangas chinesas feitas com material altamente poluente e produzidas com grande prejuízo ao meio-ambiente e mesmo à raça humana, já que muitas vezes frutos de trabalho escravo. Quando a febre dos importados perdeu força, o brasileiro descobriu o automóvel e transformou cidades pacatas em pequenas metrópoles cheias de problemas com trânsito caótico, falta de espaços urbanos e poluição. E por fim, o brasileiro adotou o mais perverso sistema de consumo que é o difundido no mundo pela cultura norte-americana e segundo o qual um produto é feito para durar pouco tempo com enorme pressão social e econômica para ser descartado e/ou trocado, muitas vezes não por não mais servir, mas simplesmente por não estar mais na moda.

O leitor lembra do Traband? O Traband era o sonho de consumo de todo o alemão oriental, ou seja, os habitantes do país socialista que resultou da cisão da Alemanha nazista no pós 2ª Guerra. O Traband rodava mal pra caramba, não dava conforto nenhum para o motorista e tinha um motor poluente que era movido a gasolina com altos índices de chumbo sendo que a instalação de um catalisador provavelmente travaria seu motor. Mesmo assim, se a gente olhar bem, o Traband era mais sustentável que qualquer carro de hoje em dia por uma razão simples - a pessoa que comprava um ficava com ele até o fim da vida - ou seja, havia uma enorme economia de recursos naturais na sua produção e mesmo que a pessoa quisesse trocá-lo, trocaria um antigo por outro mais novo mas na essência sem inovações e na prática, perda de dinheiro!

É óbvio que eu mesmo não quero viver em um mundo tipo Traband, mas se as pessoas consumissem com mais responsabilidade, se aproveitassem a vida útil de seus bens, se os enviassem corretamente para a reciclagem, se jogassem seu lixo no lugar adequado, se deixassem de consumir coisas que sabem que agridem o meio ambiente (quantos milionários adquirem móveis de madeira de lei roubada da Amazônia?) não estaríamos do outro lado do espectro, vivendo em uma sociedade tão opulenta quanto irresponsável, onde a saúde de uma empresa não está nos números consolidados do seu balanço, mas apenas na opinião de operadores ainda imberbes das bolsas de valores que exigem que ela aumente seus lucros todos os anos, apresentando novos produtos “indispensáveis” ou “da moda” para o público consumidor, sob pena de rebaixarem a cotação dos seus papéis.

Dias atrás li algo que me deixou impressionado, um articulista foi direto ao ponto e afirmou de modo bastante lúcido que a salvação do homem não está apenas em preservar os recursos naturais que são finitos, mas sim em promover a criatividade e a inovação do próprio homem, que é infinita. Talvez esteja na hora de transferir esse ânimo em inovar das fábricas de eletroeletrônicos e automóveis para os comportamentos sociais ou para programas de reaproveitamento de matérias-primas, talvez a sustentabilidade que salvará o planeta esteja em aprender a consumir de modo responsável e mais que isso, aprender a recuperar os recursos já despendidos sem perdas ou descartes de qualquer natureza ao meio-ambiente.

O desafio é conter a natureza humana, mas só o próprio homem é capaz disto!



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