20 de nov. de 2015

DEMOS VOZ AOS IDIOTAS

Nos séculos XX e XXI, os meios eletrônicos facilitaram a disseminação dos conceitos errados e do radicalismo que todo ser humano tem em algum assunto, em menor ou maior grau. Ao dar voz a idiotas, culminando com a internet, criou-se um movimento global de estupidez. Os idiotas passaram a ter poder para disseminar sua burrice, seus preconceitos viscerais, sua preguiça em estudar, seus radicalismos e sua absoluta certeza que que tudo que dizem e pensam é o melhor para alguma coisa, sem margem de discussão. E tendo publicidade, conquistaram público. 

As vezes eles se concentram em interesses específicos. Como os pedófilos que acreditam e divulgam piamente que não fazem mal à ninguém, ou os cantores de funk que acham normal a violência e imoralidade que pregam em suas composições, os alcoólatras que alegam que a vida é deles e por isso, bebem o quanto quiserem e as pessoas que dizem que, em sendo proprietárias dos seus corpos, as mulheres podem abortar o quanto quiserem. São sempre opiniões viscerais, dogmáticas e destituídas de fundamento científico. Estão sempre errados, mas simplesmente não admitem nem aceitam discutir.

Mas não é raro que se revoltem contra o mundo, e o que era um preconceito específico vire ódio social. A onda de terrorismo que arregimenta até jovens de classe média de países desenvolvidos, não é diferente de movimentos de juventude socialista ou comunista cujos integrantes usam iPhone e comem Big Mac, nem dos grupos que pedem golpe militar achando que com isso, a lei e a ordem que pregam será restabelecida.  Todos querem instituir o pensamento único, o deles! E a partir disto, distorcem conceitos de democracia, de valores, de movimentação social e isso sempre acaba descambando, em maior ou menor grau, para violência, seja verbal, seja de fato. São pessoas influenciadas demais por conceitos que sua inteligência limitada não consegue absorver: querem obter a felicidade idealizada na TV, se aventurar como nos filmes de ação, serem belos como nas capas de revistas e felizes como nos perfis do facebook, Em não conseguindo, uns acham melhor destruir tudo, outros aderem a um dogma qualquer que lhes alivie o pouco esforço pessoal ou ainda o fracasso, já que ele é bem mais comum que o sucesso.

As bestas-feras digitais embotadas por idéias fixas que guerreiam com posts da internet e com palavras de ordem, não raro acabam indo para as ruas expressar sua raiva e defender suas certezas com violência e a intolerância. Os mais radicais acabam em grupos terroristas, mas há um enorme contingente de pessoas que mesmo sem perceber, viram patrulheiros de uma fixação qualquer, que não necessariamente é encarada da mesma forma pela maioria.

O Estado Islâmico é apenas a face mais negra disso, mas não se engane o leitor, o radicalismo do idiota se manifesta de inúmeras formas, como o machismo, o feminismo, o veganismo, o vegetarianismo, o fitness, as torcidas organizadas de time de futebol, a  rivalidade entre bandas de música ou gêneros musicais, a necessidade de pedir compensação por algum fato ou situação histórica, o racismo e até mesmo a inclusão social. Eles escolhem um dogma, não aceitam discuti-lo, inventam dados para justificá-lo em em algum momento a tensão explode. No caso do terrorismo, a tensão virou guerra, mas em menor escala, a cada vez que vemos grupos políticos tentando melar a manifestação uns dos outros, ou torcidas de clubes de futebol de matando em arquibancadas, é tudo manifestação decorrente da voz dos idiotas portadores de verdades falsas, que um grande número de outros idiotas segue por identificação.

Umberto Eco afirmou há pouco tempo que as "redes sociais dão voz aos imbecis" e que "a internet promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade". É é uma síntese brilhante do que pretendo dizer, que um intelectual como ele consegue resumir em duas frases.

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