19 de dez. de 2008
Eu já havia comentado aqui da surpresa em constatar que o governo federal reduziu impostos para combater a crise.
Mas esqueci de dizer que ele já havia feito desonerações pontuais anteriores, para combater o surto inflacionário do início do ano, ao diminuir impostos sobre o trigo e o milho, e depois, ao reduzir a CIDE sobre os combustíveis, que tiveram majoração nas refinarias por conta da disparada do barril do petróleo.
Mas a supresa não se limitou a isto.Imagine o leitor, o Congresso Nacional aprovou esta semana o orçamento da União para 2009. Por quê a surpresa? Porque era comum no passado que o orçamento da União fosse aprovado em abril ou março, tornando problemática a administração da coisa pública.
E ontem, para alegria deste que vos escreve, a mesa da Câmara de Deputados rejeitou promulgar a Emenda Constitucional aprovada pelo Senado, que aumentava o número de vereadores sem diminuir o percentual de repasse dos municípios às câmaras municipais.
Bons fluidos para o Brasil? Espero que sim. Já se disse que momentos de crise ao mesmo tempo são de oportunidades. Para um país, a crise (ou a impressão dela) pode ser oportunidade de se reinventar em meio ao sacrifício.
O governo federal deu sinais claros em 2008, de que entende que a carga tributária chegou a um limite insuportável e que é preciso mudar esse quadro para sustentar o crescimento econômico, nem que haja cortes orçamentários.
E o Congresso Nacional deu neste fim de ano, sinais de que compreende a necessidade de ações parlamentares objetivas. Só o fato de ter aprovado o orçamento da União no prazo correto, em um ano eleitoral, já demonstra que há, entre os parlamentares, a preocupação com o bom andamento das coisas públicas. Se é verdade que o Senado foi infeliz, ao querer aumentar as regalias desses inúteis ocupantes do cargo de vereador, dando cargos a quem não foi efetivamente eleito em outubro passado, também é fato que a Câmara lhe serviu de contrapeso, exatamente como prevê o sistema bicameral.
Enfim, um fim de ano com boas notícias de cunho institucional.
PS.: Na contramão da história e do bom senso, fazendo-se valer do voto de deputados de baixo clero que jamais são oposição a nada e ninguém, meros carimbadores e chanceladores de ordem do poder executivo estadual, a Assembléia Legislativa aprovou, por ordem expressa do bolivariano governador Roberto Requião, uma "reforma" tributária estadual que aumentará os preços da energia elétrica, da telefonia, dos combustíveis e das bebidas, dando ganhos apenas para grandes supermercadistas e para o erário, mas causando inflação. O governo federal do presidente Lula, deve ficar de olho em indivíduos como Roberto Requião, que se dizem "aliados" mas em verdade, agem como inimigos do governo do PT e principalmente, do país.
Foto: Vista da orla, Santos/SP.
17 de dez. de 2008
Embora eu não seja exatamente velho, vou completar apenas 40 no próximo dia 3, ainda sou de um tempo em que não existia escola pública, universal e gratuita.
Quando eu era criança, não havia escola para todo mundo.
Mais do que isso, a merenda escolar era limitadíssima e quem morava longe da sala de aula, ou ia à pé, ou não ia. Não foram poucos os colegas que acordavam de madrugada e andavam 7 ou 9 km para estudar. E ninguém reclamava, até porque, ao voltar para casa, alguns ainda ajudavam na lavoura.
E todos eles aprenderam a ler e a escrever. E suas famílias, mesmo as mais pobres, de regra cobravam a aprovação e todo mundo, de regra, estudava. Se apenas eu cheguei a ter formação universitária, isso é outro assunto, mas garanto que a maioria dos meus colegas de escola primária e ginasial compreendem um texto simples de uma lauda. Pena que aquele ensino não era universal e muita gente ficava fora da escola.
Hoje em dia, a escola praticamente universalizou-se. A Constituição de 1988 impõe o oferecimento de vagas. Houve um tempo, aqui onde eu moro, em que as salas de aula chegaram a ter 60 alunos, quando a média recomendável é de 30 para menos. Mas o importante é que as crianças estavam (ou estão) numa escola.
E na minha época, apenas uma ou outra escola de oferecia merenda. Hoje em dia, ela também é universal, apesar, claro, de muitos prefeitos roubarem dinheiro disso, desviando recursos municipais, estaduais e federais para suas contas pessoais. Mesmo assim, a enorme maioria das crianças em idade escolar de hoje em dia, recebe merenda.
E ao mesmo tempo, a distância deixou de ser problema. Prefeituras municipais gastam horrores com o transporte escolar, de tal modo que até se fecharam escolas rurais transferindo os alunos para escolas urbanas, não poucas vezes por interesses eleitoreiros, vez que os ônibus recebem e não raro pagam comissão para vereadores e prefeitos. Mas os alunos chegam às salas de aula e voltam para a casa em relativa segurança.
O acesso ao ensino foi universalizado e facilitado. Hoje há escola, merenda e transporte, mas a enorme maioria de quem é beneficiado por isso não aprende quase nada.
Criou-se a regra da aprovação automática, de tal modo que os pais não se preocupam mais se os filhos estudam ou não e mesmo as crianças não dão bola para obrigação alguma.
Instituiu-se a preguiça mental a partir do paternalismo do Estado, e há mais de 20 anos, estamos formando gerações de indolentes acostumados ao maná governamental sem qualquer tipo de contraprestação.
As crianças aprendem desde cedo que o governo lhes dá muita coisa de graça, e, sem o risco da reprovação, ao mesmo tempo compreendem que não precisam retribuir com nada, nem com esforço e notas altas. O Estado sempre lhes passará as mãos na cabeça, as aprovará sem que saibam ler e escrever e depois dará bolsa-família, seguro-desemprego e até condições favorecidas de litigar judicialmente, por serem pobres ou empregados, por meio de presunções juristantum que eu mesmo defendo, mas cujos resultados práticos não são os desejados pelo legislador.
Some-se isso à cultura da ignorância das celebridades sertanejas, pagodeiras ou funkeiras, e aos escândalos de lavadeiras que artistas ruins promovem com seus relacionamentos fugazes e seu culto obsessivo à imagem e ao sucesso sem mérito que a maioria alcança, criamos uma geração de alienados que sonha com próteses de silicone ou contratos de futebol com times do exterior, mas que compreende que para isso não é preciso ler e escrever, muito menos ser capacitado para algo mais que o óbvio.
A sensação que tenho hoje em dia, é que essa universalização combinada com falta de cobrança de obrigações, gerou uma geração de pessoas descomprometidas com tudo o que não seja de interesse exclusivamente pessoal. Virou uma espécie de treinamento do ego, do "eu", do "se dar bem" e da amoralidade que deságua até em formandos de medicina que não entendem o mínimo conceito ético, como aqueles lá de Londrina.
Mas eu posso estar errado, afinal, mal ou bem, estou ficando velho.
Foto: Museu Nacional do Imigrante. Joinvile/SC
15 de dez. de 2008
O espertalhão do momento, chama-se Bernard Madoff que foi nada mais, nada menos, que presidente da NASDAQ, uma das bolsas de valores mais influentes do mundo, e que criou uma pirâmide especulativa cujos prejuízos são estimados em 51 bilhões de dólares, com aportes(e prejuízos) de várias grandes instituições financeiras tradicionais, tais como Santander, HSBC e BNP Paribas.
Fico me perguntando o que se passa na administração de instituições financeiras pelo mundo afora. Em qualquer lugar as taxas de juros no mercado de varejo são sempre muito superiores às taxas básicas praticadas pelos bancos centrais. Talvez a diferença em outros países não seja tão grande quanto a praticada no Brasil, mas ela existe, garantindo liquidez e lucratividade ao sistema financeiro/bancário.
Mas em qualquer lugar do mundo, se um cidadão como eu quiser empréstimo acima de um valor determinado, tem que apresentar garantias e passar por processos burocráticos complicadíssimos que vão atestar o seu bom ou mau histórico de crédito. E mais do que isso, se eu propuser um investimento (mesmo de pequeno risco) para o banco, não sou recebido nem pelo porteiro do prédio da diretoria, que dizer por um gerente.
Daí aparece um indivíduo como o senhor Madoff, apresenta um negócio da China e ninguém se pergunta se é realmente sério?
Para um cidadão comum, burocracia, entraves e a fogueira da inquisição. Para um tubarão, 51 bilhões jogados fora em um negócio nebuloso.
E graças a esse negócio nebuloso, as bolsas de valores pelo mundo afora terão índices negativos esta semana e não serão poucos os analistas que afirmarão ser necessário que os governos intervenham e salvem essas instituições desses prejuízos bilionários em que elas mesmas se meteram por incapacidade ou falta de massa crítica entre seus diretores e altos financistas.
Foto: Teatro Carlos Gomes, Blumenau/SC.
12 de dez. de 2008
Em 25 anos militando na área de contabilidade, desde os tempos em que era contínuo e pagava as contas dos clientes nos bancos, até depois, formado em Contabilidade e ainda adiante, formado em Direito, jamais vi o governo federal diminuir impostos.
Eu critiquei o governo Lula por não levar a sério, no momento inicial, a ameaça de crise e desaceleração econômica. Também critiquei a bravata sobre a marola.
Mas justiça seja feita: a partir do momento em que o governo sentiu que os efeitos econômicos passaram a afetar o país, e mais do que isso, no momento em que a histeria passou a pintar um quadro muito piorado da economia, o governo agiu. E de modo efetivo.
Se por um lado não hove redução dos juros, por outro, houve alívio para o sistema financeiro, com a diminuição dos depósitos compulsórios sobre empréstimos, além das medidas de oferta pública de crédito e a contenção da especulação com o dólar, usando das reservas cambiais. E ontem, a diminuição de impostos sobre a renda e sobre produtos industrializados.
Até o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal levaram reprimenda por aumentar juros sem justificativa técnica, apenas especulativa.
Pouco, alguns dirão. Demagógico, podem outras pessoas acusar.
Não acho. Desoneração tributária é um tabu nacional e o governo que a promove, mesmo temporariamente, demonstra ter coragem de afrontar os interesses mesquinhos de políticos meia-boca, e mesmo os interesses da máquina arrecadatória, que constitui um governo dentro do outro por aqui já há muitas décadas, pois não foram poucas as "reformas" tributárias que presenciei, em que projetos de lei com artigos de lavra da área técnica dos orgãos fazendários embutiram aumentos disfarçados de impostos.
Nesse caso elogio o governo, ele merece.
Mas não esqueço das tentativas de prorrogar a CPMF e criar a CSS, nisso, estou de olho.
PS.: Na contramão de qualquer bom senso,o governador do Paraná mandou a Assembléia Legislativa aumentar o ICMS para cobrir o rombo da péssima administração pública do estado de 2003 para cá. Os combustíveis terão até R$ 0,10 de aumento a partir de 1º de janeiro, e também haverá majoração de luz e telefone, sob a desculpa de desonerar de ICMS produtos da cesta básica, medida inútil, pois 90% de quem produz isso ou é pessoa física (já não recolhe ICMS) ou é tributada pelo SuperSimples (recolhe ICMS por valor fixo sobre o faturamento). Na verdade, a medida só alivia o resultado da incapacidade administrativa e atende a um lobby poderoso de supermercadistas. Requião de afasta cada vez mais de Lula.
10 de dez. de 2008
Domingo passado, acabei assistindo uma parte do Fantástico na Rede Globo, e deparei com esta reportagem aqui, sobre a incapacidade dos alunos brasileiros em ler e escrever, mesmo cursando faculdade.
Daí lembrei de um outro lugar, este aqui, onde as pessoas não só escrevem errado como se orgulham disso, e onde não é incomum que pessoas que se dizem "professores" cometam erros que até seriam aceitáveis em cidadãos comuns, mas não vindos de gente que têm por obrigação ensinar.
É vergonhoso.
O sistema educacional brasileiro não tem afeição alguma pelo conceito de mérito que meus leitores sabem que defendo aqui. Ele vai empurrando alunos incapacitados para a leitura e a escrita de série em série, abusando das desculpas mais esfarrapadas, como a falta de recursos públicos (o que é mentira) ou a pobreza dos incapazes.
Mas o pior é discutir com uma pessoa que escreve "axo", ou "encima", demonstrar o seu erro e ela se ofender, alegando que estudou em escola pública, que é pobre e que ler e escrever é coisa de "elite", mesmo se considerando que tem muita gente que estuda em colégio "bacana" mas não é capaz de escrever e/ou entender uma lauda de texto.
Tudo isso ou porque as escolas não estão mais preocupadas em formar, mas em faturar, ou porque os alunos, embevecidos pelos muitos direitos e poucas obrigações a que são submetidos, simplesmente não estudam mais, mera preguiça.
É preciso exigir avaliação meritória em todos os níveis de ensino no Brasil.
O indivíduo que escreve "axo" em uma prova na faculdade de Direito, tem que perder pontuação por isso. Aquele que não sabe o mínimo de concordância verbal e não consegue aplicar o plural nas suas frases, não pode sair do ensino médio. E quem não consegue entender um texto simples de uma lauda, não pode sair do ensino primário.
Indivíduo que não tira média 6 (no mínimo) em qualquer série, não pode ser empurrado adiante, porque ele vai atrasar o desenvolvimento das turmas futuras. A cada vez que um professor se obriga a baixar o nível da avaliação para fazer frente a pessoas despreparadas, o país perde recursos públicos bilionários, além de capacitação tecnológica no longo prazo.
Em suma, está na hora de começar a reprovar em massa e forçar os alunos a voltarem às mesmas séries e principalmente, a ESTUDAR.
Claro que todas as pessoas cometem erros no uso do idioma, isso é absolutamente normal. O que não é normal, é dizer que a pobreza justifica a ignorância e esta, o comprometimento do futuro do país, renegado que ficará à uma situação de exportador de matérias-primas sem gente capacitada para fazer frente aos desafios tecnológicos diários do mundo em que vivemos.
9 de dez. de 2008
8 de dez. de 2008
PONTOS CORRIDOS EXIGE REGULARIDADE
O São Paulo foi campeão brasileiro mais uma vez, justamente porque aposta em times e administrações regulares, coisa que não é de hoje.
Se o moderno campeonato brasileiro (de 1971 para cá) fosse por pontos corridos desde a primeira edição, provavelmente o São Paulo já teria sido campeão em 10 ou 12 ocasiões. Basta constatar que, pelos pontos acumulados até sua eliminação, ele seria campeão, por exemplo, em 1985 e 2001, anos em que os clubes paranaenses venceram a competição. Some-se à isto a quantidade de vezes em que foi vice-campeão (1971, 1973,1981,1989, 1990) em que nem sempre ficou, em pontos, atrás do campeão.
Isso porque o clube aposta em projetos de longo prazo (Telê, Cilinho, Muricy), técnicos que trabalham vários anos e categorias de base bem estruturadas, que funcionam em conjunto com o departamento de futebol profissional. No São Paulo, não são três derrotas consecutivas que abalam o prestígio do técnico e mesmo as inevitáveis vendas de jogadores são assimiladas com uma política de repor as "peças" antes delas se irem, planejando o momento das negociações.
Claro que no clube há problemas, como em todo o futebol brasileiro. Mas os resultados dos últimos 5 anos demonstram que o caminho é este, o da regularidade tanto dos resultados em campo, quanto das práticas administrativas.
Bom é saber ao final deste campeonato nacional de 2008, que clubes como o Grêmio, o Internacional e o Cruzeiro já atentaram para a fórmula deste sucesso tricolor, e demonstram que no curto prazo, podem melhorar muito e encostar no clube do Morumbi.
Em Porto Alegre, os dois gigantes rivais já acumulam juntos mais de 75 mil sócios. O Internacional prepara-se para fazer uma reforma espetacular no estádio Beira-Rio e o Grêmio iniciará em 2009 a construção do mais moderno estádio da América Latina, em um complexo de prédios que mudará a face urbana de um bairro inteiro da cidade.
Já o azul de Minas conta com o melhor centro de treinamentos do país, sem negligenciar os trabalhos na antiga Toca da Raposa, celeiro de futuros craques. São todos clubes que têm mantido práticas administrativas rigorosas e resultados regulares em campo.
Se o exemplo do São Paulo for seguido por mais clubes, o futebol brasileiro reencontrará a antiga glória e a capacidade de manter aqui, os craques que produz. O jeito, então, é torcer para que isso aconteça.
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