1 de jul. de 2008

A FALTA DO MÉRITO

Um comentarista político de Curitiba, Raul Mazza, sempre comenta que o Brasil é um país em que não existe uma meritocracia.

Ele quer dizer com isso que o Brasil, via de regra, não premia quem é mais competente, porque aqui, o que mais importa é ser popular, ser bonito ou ter algum tipo de apadrinhamento.

E não deixa de ser verdade.

Quem procura emprego nessas agências estúpidas de recrutamento passa pelas maiores humilhações. Em processos seletivos, convocam uns 10 ou 15 profissionais e fazem várias entrevistas e as ridículas dinâmicas de grupo, mas o contratado geralmente é alguém indicado por um dos diretores da empresa ou até mesmo da agência ou ainda pior, o mais bonito dentre os candidatos. A maioria dessas empresas de recrutamento cobra sem prestar um mísero serviço, se aproveitam na necessidade alheia de trabalhar. Elas alimentam a deméritocracia ao selecionar os bons e escolher apenas os mais ou menos.

Mas vamos mais longe.

Conheço uma funcionária de tribunal cuja promoção foi preterida em favor de outra, com anos a menos de serviço, porque esta adulava o juiz responsável pela sua repartição, e aquela, se limitava a trabalhar feito escrava e deixar seus prazos em dia. Ou seja, mais vale elogiar diariamente a cor da gravata do magistrado, que trabalhar sério e fazer as coisas funcionarem.

E sob outro aspecto, aqui na cidade onde vivo um dos candidatos a prefeito mal e porcamente sabe escrever o nome, mas ele é favorito às eleições porque é parente de um ex-prefeito que foi cassado porque condenado em todas as instâncias por comprar votos na cara dura, mas praticava assistencialismo barato. Mesmo assim, o gajo é favorito, porque o povão vê nele a continuidade do "injustiçado".

Eu mesmo já senti na carne que o mérito não é valorizado entre nós. Certa feita, um cliente meu foi acionado em valores milionários. Eu e minha sócia trabalhamos durante uns 10 dias sem parar para juntar provas, montar alegações e fazer a contestação. Um trabalho estafante, sob a pressão de um prazo exíguo combinado com a preocupação do cliente, empresa formada por fundos de pensão, que queriam explicação detalhada do por que de serem réus em juízo.

Não nos negamos a atender à situação de urgência, decidimos discutir o valor dos serviços depois, confiando no cliente. Ganhamos a ação em primeira instância, mas ele se recusou a pagar pelos serviços, alegando que era nossa obrigação contratual, mesmo havendo cláusula expressa dizendo que não.

Tempos depois, o mesmo cliente que nunca nos pagou, forçou-nos a aceitar um novo advogado na causa, um ex-desembargador que "cuidaria" do recurso. O tal advogado usou a mesma petição feita no meu escritório, acrescentou um parágrafo e fez uma sustentação oral completamente fora do que estava escrito, não sem antes botar banca e garantir para minha sócia que aquele processo se encerraria ali. Perdeu a ação no tribunal e mesmo assim, recebeu R$ 40 mil, enquanto eu e minha sócia nunca recebemos nem um centavo porque, afinal, não somos ex-desembargadores, pouco importa a qualidade de nosso serviços.

Longe de reclamar da vida, me considero um advogado comum mas pouco acima da média do que se encontra nos fóruns. Mas fico estarrecido ao ver o trabalho que prestam alguns dos grandes figurões do mundo jurídico. É incrível como se encontram erros crassos de português e de interpretação jurídica tudo compensado porque o advogado "x" tem boa influência no tribunal, de onde as vezes ele é aposentado, ou porque advogado "y" é ligado ao deputado "w". Enfim, claro que há os profissionais excepcionais, aqueles que são uma referência, mas a maioria dos figurões só o é porque atropelaram o mérito, e porque é comum no Brasil se escolher um advogado bom em trocar influência, ou bom em ganhar tempo para quem não quer pagar o que deve.

No Brasil é quase sempre assim. Bons empregos são deferidos a quem tem indicação ou a quem é mais bonito, pouco importando sua competência. Promoções no serviço público não consideram as fichas funcionais. Correligionários imbecis de políticos recebem chefias que seriam melhor ocupadas por funcionários de carreira. Políticos comprovadamente corruptos são extremamente populares. As dançarinas do Tchan recebem mais reconhecimento que, por exemplo, as talentosas Vanessa da Mata ou Ana Carolina. Quem promete vender influência é mais valorizado que os que trabalham duro. Até no futebol que antigamente era exceção esse quadro chegou, à vista dos cabeças de bagre que conseguiram a façanha de perder para a seleção da Venezuela, convocados não exatamente pelo seu mérito.

Não existe meritocracia no Brasil. Pouco importa se o leitor tenha estudado para conseguir lugar nas melhores universidades. Pouco importa se antes das provas você estudava de madrugada e tirava nota 10 porque é provável que seu colega que saía do bar para a sala de aula, fazia a prova, colava e tirava 5 tomará o seu lugar no mercado de trabalho por tem alguém que o indique ou por ser mais bonito e descolado. De nada adianta trabalhar sério, as promoções não são decididas pelo seu desempenho. E no resumo, pouco adianta ser honesto, porque o que importa entre nós é "se dar bem" e pessoas honestas não aceitam isso, elas querem vencer por méritos.

Somos um país de indicações, de cargos em comissão que desprezam os concursos públicos, de mulheres que só fazem sucesso por mostrarem as carnes em revistas masculinas e de políticos populistas. Excluímos o mérito de nossas vidas, e o fazemos isso justificando até em boas intenções, como a de desafogar as escolas públicas, que aprovam alunos que sequer aprender a ler e escrever, ou ainda, damos o direito de trabalhar a profissionais saídos de faculdades tipo fim de semana e pagou-passou, porque supostamente isso tira pessoas da pobreza.

Enfim, vivemos a cultura do "se dar bem".

27 de jun. de 2008

CADERNOS DE VIAGEM - 7 (Serra Gaúcha - V)

São Marcos e Nova Petrópolis não são, exatamente, cidades turísticas. O forte nelas é a industria mecânica da primeira e a têxtil da segunda, sem contar a agricultura, que em toda aquela região é muito desenvolvida.

Sendo, porém, cidades de colonização italiana e alemã, encontra-se nelas a limpeza e o ajardinamento apurados, culinária típica e gente simpática e acolhedora.

Eu já conhecia São Marcos, mas tive o prazer de passar por lá desta vez, numa celebração de Corpus Christi, quando a belíssima Praça do Caminhoneiro é rodeada com o tapete mais bonito que já vi nesse tipo de celebração religiosa e cujas fotos seguem para o leitor constatar.

A última foto é uma vista parcial da praça, onde se vê o chafariz de água cristalina, prova do esmero no cuidado com o local.









Em Nova Petrópolis, a arquitetura de inspiração alemã confere o mesmo ar europeu que se encontra em Gramado e Canela, com destaque para a praça central da cidade.

Detalhe da arquitetura.





Esse é um dos bancos da praça. Para ver o por quê de eu mostrá-lo, clique sobre a foto, aumente-a e preste atenção nos detalhes dos desenhos.





Vista do labirinto verde. A casa, em primeiro plano, é uma loja de souvenires construída em estilo enxaimel.





Detalhe dos jardins.

AMPLIE AS FOTOS CLICANDO SOBRE ELAS.
USO LIVRE DAS IMAGENS NA INTERNET, CITADA A FONTE.

Na próxima semana, Mini-Mundo, Aldeia do Papai Noel e Museu do Piano em Gramado.

26 de jun. de 2008

O AUMENTO DO BOLSA-FAMÍLIA

Nunca fui contra o Bolsa-Familia.

Mas não aceito esse aumento para ele, de quase 8%, anunciado ontem pelo governo.

Porque o governo, que bate recorde atrás de recorde de arrecadação, calculou e prometeu aumentos salariais para várias categorias do serviço público e simplesmente não os honrou. Um bom exemplo, os fiscais agropecuários, que ameaçam parar na virada do mês, porque o governo simplesmente não paga o aumento que negociou na greve do ano passado.

O mesmo governo que se nega a dar aos aposentados um percentual de aumento este ano, igual ao do salário-mínimo, proposta do senador Paulo Paim (PT-RS).

Governo que não dá garantia alguma de que vai honrar o reajuste dos soldos militares, estes, ainda mais aviltados que qualquer outra classe do funcionalismo público.

Uma coisa, é tratar de verba alimentar, que é salário, aposentadoria e soldo. Outra completamente diferente, é tratar de verba complementar como o Bolsa-Família e o seguro-desemprego.

Verba complementar tem natureza diferente, por mais que seu uso seja alimentar. No BF ela é uma ajuda do Estado para uma condição excepcional de necessidade. O problema é que não sendo uma verba alimentar e recebendo aumentos generosos à guisa da inflação, isso é discriminatório contra milhares de pessoas com empregos na ativa, e de aposentados, que contribuíram durante a vida para receber uma contraprestação mensal na sua inatividade.

Não nego que o Bolsa-Familia recebeu este como o primeiro aumento percentual, desde que foi criado em 2003.

Mas ao mesmo tempo, o governo alardeia que o país cresceu e a pobreza diminuiu, e se assim foi, a verba complementar pode sofrer um congelamento, porque sua função precípua é atender uma situação emergencial que, repita-se, segundo o próprio governo, ficou menos grave desde 2003.

Enfim, é preciso entender que programas sociais são paliativos provisórios feitos para alavancar o progresso pessoal de quem os recebe. Eles não podem ser tratados do mesmo jeito com que se trata a renda advinda do trabalho, que dizer em ano eleitoral.

24 de jun. de 2008

BUROCRACIA DO CÃO!

No dia 30/06 vence a declaração anual do Super Simples. Seria algo simples de ser feito, se não fosse um tal Comitê Gestor, que inventou que todo e qualquer procedimento sobre o tributo deve ser feito on-line, diretamente no site do sistema, site este que nunca funciona bem e é um verdadeiro tormento para contadores, por ser lerdo e instável, comumente perdendo dados digitados, além da demora do acesso em si.

O que era para ser Super Simples virou super-complicado, à guisa das normas cretinas inventadas por burocratas retardados que ganham lautos salários no tal Comitê Gestor, passando seus dias a inventar asneiras para aporrinhar os contribuintes.

É a tal coisa, inventaram um órgão que só serve de cabide de emprego. Nenhum de seus componentes entende nada sobre pequenas empresas, nenhum deles sabe distinguir uma empresa como a Microsoft, do boteco do Mané na esquina de casa.

Impõem regras absurdas, fazem o diabo para incomodar o contribuinte, que só pode se queixar para a sogra, uma vez que jamais seria atendido por um desses engravatados que passam a vida a encontrar meios de arrancar mais dinheiro do contribuinte, tornando sua vida um verdadeiro inferno.

Antigamente o contribuinte instalava seu software no escritório e enviava a declaração via Receitanet, tal qual se faz com a declaração de imposto de renda pessoa física. Ao invés de aperfeiçoar o sistema, conseguiram torná-lo intratável.

E quem paga a conta?

O contribuinte, claro. Porque não acredite o leitor que o Super-Simples diminuiu a tributação porque isso não é verdade - apenas as menores empresas comerciais tiveram um alívio de carga tributária, todas as demais, pagam mais impostos hoje do que pagavam na vigência do antigo SIMPLES.

21 de jun. de 2008

CADERNOS DE VIAGEM - 6 (Serra Gaúcha - IV)

O Parque da Ferradura fica 8 km adiante do Parque do Caracol, por uma estrada de chão que está "mais ou menos". Mas vale o passeio. Ele é composto basicamente de trilhas no meio da mata, de onde se pode avistar o cânion do Rio Caí, levando a diversos mirantes e mesmo à margem do rio, se você se dispuser a caminhar por 52 minutos de ida e outros tantos para a volta em subida íngreme.


Esta, é a "ferradu-ra", que captei com minha limitada máquina.


Cachoeira. É possível chegar à sua base, caminhan-do muito, o que, naquele dia e nas condições físicas em que nos encontrávamos, não tivemos coragem de fazer.


E uma foto deste que vos escreve em um dos mirantes, para dar idéia da profundidade do cânion, ao fundo.

Clique sobre as fotos para ampliá-las.
Uso livre na internet, citada a fonte.


Na próxima semana: Corpus Christi em São Marcos e Nova Petrópolis.

18 de jun. de 2008

A ARGENTINA NA MESMA

Outrora um país imensamente rico, hoje a Argentina paga o preço de acreditar no populismo estúpido de governantes como Perón, Galtieri, Ménem e os Kirchner.

A Argentina da senhora Kirchner avançou alguns degraus da escada da imbecilidade tributária ao decretar o aumento de impostos sobre a exportação(1)agrícola para prevenir a inflação que o governo anterior (do seu marido) tratou de esconder manipulando os índices oficiais e forçando o tabelamento de preços, especialmente os agrícolas.

Dados os tabelamentos, era natural que os agricultores exportassem para não ficar no prejuízo. Daí a senhora Kirchner achou que, impedindo seus produtores rurais de exportar trigo para o Brasil, os preços dos seus derivados cairiam no mercado interno. O resultado, porém, é que os preços na Argentina não caíram e no Brasil, dispararam, o que obrigou o parceiro bolivariano Lula a ir justamente na direção contrária de Cristina, desonerando o trigo de impostos de importação, para evitar altas absurdas nos preços, o que conseguiu, em parte(2).

Com o locaute dos agricultores, os produtos sumiram das prateleiras, os preços internos dispararam e a popularidade da presidente entrou em queda livre, por mais que ela venha com o discurso bonitinho de que, com o dinheiro dos impostos adicionais, construirá hospitais e escolas.

Agora ela recua e manda um projeto de Lei ao Congresso, onde tem maioria, mas nada garante que o locaute não continuará e mesmo que cesse, o estrago já está feito: a inflação disparou, e isso é grave em um país que deu calote na dívida externa, tem as contas públicas deficitárias e ainda por cima sofre com problemas como a falta de energia, razão pela qual seus políticos saíram a apoiar o paraguaio Fernando Lugo, para comprar energia de Itaipú na marra, nem que para isso o Brasil tenha que se danar.

Enfim, a Argentina hoje é o retrato dos políticos populistas e irresponsáveis que permeiam toda a sua história, e se daqui há pouco os panelaços da população "apearem" mais um presidente do cavalo Casa Rosada, ninguém se surpreenderá, será apenas a rotina num país em que a classe política age apenas pelos seus próprios interesses.




(1) Poucos países no mundo cobram impostos diretos sobre exportações. O Brasil é um deles, embora com a atenuante da Lei Kandir (ICMS) e do PIS e COFINS não cumulativos, isso tenha melhorado um pouco.

(2) O governo Lula adotou a tática de desoneração tributária para impedir o aumento exponencial de preços. Aconteceu com o trigo e com os combustíveis, aquele com desoneração de IPI e imposto de importação, estes, com diminuição da CIDE. Isso prova, entre outras coisas, que impostos demais são inflacionários, outra razão para que não se crie a CSS.

17 de jun. de 2008

C.A.O.S.

Quem sou eu para comentar sobre o Rio de Janeiro, não?

Mas mesmo assim vou expressar o que penso sobre o caos que tomou conta da Cidade Maravilhosa.

O problema da violência no Rio não é culpa do Exército, que é o vilão escolhido do momento. Também não é da Polícia e muito menos dos traficantes, que exercem seu ofício criminoso, mas que chegaram à atual situação de poder por conta da inércia das autoridades.

A culpa da violência no Rio é dos POLÍTICOS!

Uma sucessão de governos populistas destruíram o Rio e o entregaram ao tráfico de drogas de mão beijada. O tal "socialismo moreno"impediu a polícia fluminense de fazer operações nos morros cariocas por um tempo suficiente para que a bandidagem se estruturasse. Bandido é como aqueles caracóis africanos que infestam cidades brasileiras: Uma vez que encontra campo fértil, se multiplica do dia para a noite e só o fogo dá um jeito.

Mas as autoridades cariocas foram contemporizando. Uma sucessão de governadores manés e prefeitos estúpidos, levando décadas para construir penitenciárias e prometendo obras faraônicas para jogos Pan-Americanos e Olímpicos, sem pensar que o dinheiro torrado no Engenhão bem poderia ser utilizado para contratar mais policiais ou aumentar os complexos penitenciários de Bangu.

A mesma classe política que age desse modo irresponsável, é que deu habeas-corpus na marra para um deputadinho preso por suspeita de corrupção. Aliás, na Assembléia Legislativa do Rio, há uma tremenda saia justa por conta disso - decretaram o habeas corpus e depois descobriram que há provas suficientes para cassar o mandato do gajo, mas ninguém se ofereceu para relatar o processo.

Ou seja, todos os dias, os políticos fluminenses e cariocas dão provas de seu populismo torpe, sua irresponsabilidade e inconsequência, que mantém a polícia desatualizada em equipamentos, defasada em pessoal, treinamento e estratégia. Daí quando a coisa aperta chamam o Exército e quando dá m... porque soldado é treinado para matar, ele não sabe fazer policiamente ostensivo, deixam esse fuzuê dos últimos dias...

CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.

No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar ...