8 de fev. de 2012

A RADICALIZAÇÃO NOSSA DE CADA DIA

Imagem: Carlos Lacerda - esquerdista radical e intolerante na juventude, direitista radical e intolerante na idade adulta.


Parece que os políticos brasileiros, especialmente os do PT e aliados, ainda não aprenderam a lição que eles mesmos martelavam na cabeça do povão quando eram oposição: ano eleitoral é ano de lutas e radicalizações, é momento de fazer barulho, de incomodar, de acusar as autoridades de fascistas, de explorar a cantilena dos movimentos sociais, de dizer que o mundo é injusto e que os governos não querem negociar. É hora de afrontar a autoridade e fazer com que ela tenha vergonha de si mesma porque o efeito é sempre favorável a quem protesta - se aplicada gera mártires entre baderneiros e imagens chorosas para a TV, se não, gera uma impopularidade idêntica partida de quem defende a ordem e não aceita a omissão em cumprir a Lei.


Em outras palavras, a intenção de quem protesta é chamar a atenção para sua causa e constranger a classe política, de modo que a atitude dos PM(s) baianos não é diferente da dos invasores do Pinheirinho em São José dos Campos. E se o momento é propício, como o atual, onde os governos do Brasil afora torram dinheiro com Copa do Mundo, tanto melhor.


Os policiais da Bahia estão exigindo a mesma prioridade que é dada à Copa do Mundo. Como os policiais e bombeiros do Rio de Janeiro já fizeram e ameaçam repetir, como é provável que aconteça pelo país afora em outros estados e como tem sido comum nos canteiros de obras do evento, que volta e meia são paralisados por greves por melhores salários e melhores condições de trabalho, e tudo isso sem que os governos (e daí, bem dito de todos os partidos) aceitem reconhecer que gastam dinheiro público com coisas quase inúteis, mas se recusam a melhorar as condições de saúde, segurança e educação.


Se o governo da Bahia pode gastar quase 700 milhões para construir um estádio, como o Rio de Janeiro gasta 1 bilhão para reformar o Maracanã, então deve ter dinheiro para remunerar dignamente os profissionais da segurança pública, cujas atividades são muito mais relevantes e indispensáveis que a construção de estádios que, com exceção do Maracanã, estarão sub-utilizados na maior parte de sua existência.


No Brasil há uma tendência em encarar a radicalização de movimentos como casos isolados, quando em verdade eles são parte do processo político.


O petistas taxaram as ações na Cracolândia em São Paulo de higienistas e a reintegração judicial de posse do Pinheirinho de fascista mas não hesitaram em chamar o Exército e a Força Nacional na Bahia para prender lideres da classe policial. Fizeram em casa o que não aceitam que se faça em estados que não governam, sendo que os motivos em todos os lugares, inclusive na Bahia, são válidos, de resguardar a Lei pela Lei, como todo político deve fazer sempre.


O processo político e a aplicação da Lei estão acima dos partidos e ideologias. Não deixará de haver radicalização, protestos, piquetes, atos violentos ou pacíficos apenas porque um partido dito de “esquerda” está no poder, até porque uma vez no poder, descobre-se que as soluções para os problemas e as reivindicações não são tão simples quanto as palavras de ordem gritadas em passeatas.

Políticos tem leis a cumprir, suas ações não são simplistas e contra eles existe o fato de que sempre há dois outros poderes constituídos que devem ser ouvidos em praticamente todas as decisões. O manifestante de rua acha que se chegar ao poder, a força de sua ideologia será suficiente para atender todas as demandas, mas só quem já passou pelo poder aprende que isso é utopia.

1 de fev. de 2012

SERÁ QUE O DIREITO À PRIVACIDADE ACABOU?

De uns tempos para cá, com o aparecimento dos blogs e depois das redes sociais, a impressão que temos é que as pessoas estão abdicando da sua privacidade, escancarando suas qualidades e defeitos (principalmente eles), contando vantagem de ter ido a este ou àquele lugar, mostrando o carro novo, o celular novo, o novo apartamento e expondo crianças aos perigos da pedofilia cada vez mais presente na sociedade, alimentada pela incapacidade de pais que não sabem exatamente o limite da exposição que devem dar a seus filhos, que são tratados como mercadorias a serem exibidas ao mundo como prova da felicidade da família, que nem sempre é real que dizer constante, como parecem mostrar as fotos sorridentes que todas as pessoas (inclusive este que vos escreve) divulgam na internet.


Artistas, quase artistas, celebridades e sub-celebridades chegam a informar em que hora se dirigem ao mictório e não raro exibem crianças com a real intenção de transformá-las em fonte de faturamento. Pessoas ditas “públicas” que buscam alimentar uma opulência geralmente falsa, uma vida de compromissos sociais intensos que não condiz com suas posses materiais. E há inclusive, quem resolve divulgar sua decadência material para ser se consegue ser objeto de pena da sociedade para obter um sucesso redivivo, mesmo fugaz.


Também há os que partem para a briga, usam a internet para distribuir farpas, alimentar polêmicas, se fazerem de vítimas de uma injustiça falsa alimentada pela própria sanha em aparecer a qualquer custo para tentar faturar alguma coisa com o fato.


Some-se a isto a mania dos “reality shows” que evidenciam o pior lado de psiqué humana, generosamente exibindo corpos sãos em mentes adoentadas vendendo o corpo para satisfazer o desejo paranóico por fama e exposição, quase sempre não acompanhadas de progresso material, mas apenas de decepções. São programas em que o espectador anseia ver o que sabe que não verá e nos quais os participantes mostram a única mercadoria que lhes sobra para ficarem famosos sem talento e/ou capacidade intelectual, seus belos corpos generosamente exibidos numa postura sexista exagerada, até porque, é histórico que sexo é a mercadoria mais fácil de vender desde tempos imemoriais.


Isso reflete na sociedade. Não há um dia sequer em que, ao abrir a internet, não deparemos com alguma imagem bisonha postada em um facebook ou um orkut, de um indivíduo exibindo notas de vinte reais do salário recebido no dia ou outra usando biquini numa caixa dágua, isso quando algum marginal não exibe o produto de seus crimes e acaba preso em razão de sua estupidez extrema em se mostrar para os “amigos” como alguém bem sucedido.


É interessante para a imprensa dos nossos dias que a privacidade desapareça e que se possa devassar a vida alheia ao sabor da necessidade de preencher espaços em portais de internet com notícias bombásticas de apelo popular. É o sonho dourado de editores que precisam desesperadamente de fatos que chamem a atenção do grande público (e não do público qualificado, este pouco interessa para a internet) cujo interesse é fofocar sobre a vida de jogadores de futebol, atores de novela, modelos e gente da alta sociedade.


Mesmo assim, o direito à privacidade não acabou justamente pelo fato já comprovado de que só abre mão dela quem tem interesses econômicos imediatistas e quem não tem arcabouço intelectual suficiente para entender que seu exibicionismo não passa de uma piada pela qual a imensa maioria das pessoas vai rir pelas suas costas, os bôbos da côrte em versão de massa, cujos atos ridículos expostos na internet, servem para o entretenimento de milhões de pessoas que zombam da atitude pouco inteligente de se dar ao ridículo achando estar a caminho do sucesso com amigos e com desconhecidos.

O direito à privacidade, arduamente conquistado depois de centenas de anos de lutas por democracia e contra o absolutismo dos governantes é recente, ele remonta a meados do século XIX, tempo em que se consolidaram muitas das interpretações sobre direitos individuais havidas desde a Guerra da Independência dos EUA e da Revolução Francesa. E há quem diga ainda, que ele só grande valor por um curtíssimo período de tempo que ocorreu entre o fim do Macarthismo (a Caça às Bruxas nos EUA) e o 11/9/2001, quando passou a ser limitado em razão da necessidade de lutar contra as ditas forças assimétricas do terrorismo. Mais especificamente no Brasil, o direito à privacidade foi duramente golpeado com a possibilidade de quebra administrativa do sigilo bancário em favor do combate à corrupção e à sonegação fiscal, uma necessidade nacional que mesmo existindo legalmente, ainda assim é usada com muito critério a ponto de não virar, salvo episódios isolados, uma violação flagrante.


Mas a grande verdade é que o direito à privacidade só parece ter acabado, ele mantém-se firme a partir da atitude das pessoas. Uma famosa atriz de novelas conseguiu na Justiça uma decisão que impõe a certo programa de TV a manutenção de um perímetro de segurança tal que não possam atentar contra sua privacidade como tentaram por dezenas de vezes. Um renomado humorista simplesmente ignorou a pressão que o mesmo programa de TV lhe fez e simplesmente não deu atenção para a suposta polêmica de ter sido “mal educado”, de tal modo que o assunto simplesmente se esvaiu, desapareceu. A atitude de quem não quer sua vida esmiuçada em bocas de lavadeiras mantém firme e forte o direito à privacidade.


Nota-se nitidamente na sociedade atual uma divisão entre as pessoas que mantém os limites de sua privacidade, geralmente as mais capacitadas que não dependem de exposição pública, e as que transformam suas vidas em shows inverossímeis do tipo “acredite se quiser”. Com exceções (é claro), artistas, políticos e figuras públicas intelectualmente qualificadas mantém a postura sóbria de promover sua privacidade acima dos interesses em devassá-la, os (com exceções) desqualificados por sua vez, buscam a exposição a qualquer preço, por mais que ela lhe cause problemas futuros de falsa imagem mitificada, assumindo o risco de serem taxados o resto da vida como isso ou aquilo, em razão de não terem preservado sua imagem ao tempo certo.


Isso também vale para a sociedade no geral. Basta verificar no seu orkut ou facebook quem exagera nas poses sensuais das fotos ou mesmo na quantidade de imagens que expõe lá, ou, pior, na quantidade de informações pessoais absolutamente inúteis que desata a relatar como que tentando demonstrar uma vida num “glamour” que todos seus conhecidos sabem que não é verdadeira. É a uma busca pela fama fundada na esperança da “descoberta” por alguém, a tentativa de ser o que não é ou de mostrar que se insere em um meio que não é o seu. Isso é humano, há pessoas que têm essa necessidade de se mostrarem sempre exuberantemente felizes e com sucesso, mesmo que não seja humana uma vida de eterna felicidade e opulência.


Mas não significa nem de longe que o direito à privacidade acabou, na exata medida em que ela pode (e deve) ser defendida a partir de arcabouços legais ainda não revogados. A privacidade não acabou, o que acontece é que, agora, ela é uma construção intelectual e, como tudo o que depende de gente que pensa de verdade, demora para ser assimilada pelas massas, daí a falsa impressão geral de que a vida é um livro aberto.

30 de jan. de 2012

O GOSTO BRASILEIRO POR MARGINALIDADE

Imagem: Irresponsabilidade de bebum.

Que no Brasil não se respeita a lei a gente já sabia, mas a impressão é que, de tempos para cá, agora resolveu-se ir mais além, agora também não há respeito às ações do Estado em prol da ordem e dos bons costumes.

Em Curitiba um grupo de policiais estourou um cassino de luxo que também era usado como casa de prostituição e agora assistimos uma tentativa velada de setores da elite política paranaense (segundo consta, useira e vezeira do local) em incriminar os agentes da lei porque não planejaram a operação antes, como se a um policial fosse proibido prender um indivíduo delinqüindo às suas vistas. Queriam no mínimo que os figurões da cidade fossem avisados antes para a operação não gerar constrangimentos nas altas rodas cheias de políticos de raia miúda que de chiques só tem a aparência e o lugar cativo em colunas sociais jecas da imprensa local.

Negócio agora é desqualificar os policiais dizendo que, ao invés de terem estourado uma fortaleza do jogo que roubava os usuários, estavam praticando política sindical e constrangendo o governo por melhores salários ao não se fazerem acompanhar por um delegado.

Em São Paulo, a ação do governo em atacar o problema da Cracolândia foi tratada como higienista e nazista e ainda se apelou para o sentimentalismo barato de perguntar para onde aquela horda de viciados e traficantes iria, uma vez que teve desmontadas parte das estruturas precárias onde praticavam o vício e supostamente viviam. Falou-se todo tipo de palavra de ordem, levantou-se todo tipo de demagogia barata, mas nenhum dos tais grupos de "direitos humanos" se preocupou com as pessoas que tiveram imóveis invadidos e destruídos pelo tráfico de drogas e o consumo delas na região, ou com os milhares de assaltos à luz do dia que ali aconteciam, ou com as brigas e contendas entre viciados que ceifavam vidas na mais pura violência patrocinada por barões do tráfico que tomaram aquela parte da cidade para si e seus interesses. Os grupos de "direitos humanos" têm a mania de apontar o dedo sujo para qualquer autoridade que tome providências práticas, mas fazem vistas grossas para as vítimas do tráfico, pessoas que perdem familiares mortos ou desaparecidos, pessoas furtadas, roubadas, assassinadas e violentadas, pessoas sujeitas a todo tipo de violência praticada por usuários que na maioria das vezes simplesmente nem querem se tratar e por traficantes que no mínimo, financiam grupos de "direitos humanos" que maliciosamente usam como "escudos" para suas ações criminosas.

Vale tudo para desqualificar a operação, inclusive afrontar policiais e dizer que prisão por crime de desacato é arbitrariedade, sem se preocupar sequer em lembrar que desacato é crime tão punível quanto o tráfico e mesmo o consumo de drogas, especialmente quando este consumo não raro é financiado pelo crime de raia miúda, o ladrão de galinha que precisa desesperadamente de 20 reais por dia para se manter no vício. A cidade pode perder um espaço público, proprietários podem perder imóveis, pessoas podem perder bens materiais e imateriais, podem perder partes dos corpos e até a vida, para que demagogos defensores de marginais gritem palavras de ordem e fiquem do lado errado da questão, apenas pelo prazer de afrontar as autoridades constituídas que mal ou bem ainda defendem a ordem!

Em São José dos Campos a Justiça determinou a reintegração de posse de um terreno invadido, e até secretário do ministro das cidades apareceu lá para tentar impedir a operação, como enviado do partido de um governo que teve 8 longos anos para buscar uma solução que alocasse os invasores no local e indenizasse os proprietários do terreno, mas que nada fez a não ser demagogia barata a partir do discurso imbecil de que os invasores não tinham para onde ir, como se isso fosse problema do autor da ação de reintegração, que além de esperar o Judiciário paquidérmico levar 8 anos para decidir que seu terreno é seu mesmo e depois mandar a polícia (que não acompanha nenhuma ação de desforço necessário de posse imediata, como manda o Código Civil) efetivar a ordem conseguida a duríssimas penas depois de uma batalha onde os personagens vão desde juízes que pouco trabalham, assessores incompetentes, advogados malandros e um Estado disfuncional que não garante a propriedade de ninguém, muito menos a vida de quem quer que seja e que quando acaba o fazendo, é afrontado por grupos armados de defesa do errado, da baderna e do vale-tudo.

Pois bem, além de terem invadido o imóvel sabendo que ele não era público nem estava à disposição de programas de moradia popular, os invasores organizaram milícias munidas de capacetes, paus, pedras e vontade férrea em criar um confronto para serem taxados de "vítimas" do sistema, sendo justamente o contrário, pois não é aceitável vitimizar quem simplesmente ignora a lei quando ela não lhe é conveniente.

Parece que o negócio no Brasil, especialmente em época de eleições, é defender o bandido e o marginal a qualquer custo. Parece que são o bandido, o marginal e o mau-caráter que representam a sociedade contra os governos e polícias e não o contrário. Parece que os grupos de "direitos humanos" só se preocupam com o bem estar de minorias de irresponsáveis violentos e desapegados a regras, sem preocupação alguma com as vítimas deles, as pessoas honestas (e mesmo as não honestas) e (ou mas) protegidas pela Lei, e que só podem ser afrontadas ou perder seus bens mediante sentença judicial, e não ordem de algum líder popular disposto a afrontar o Estado para depois se eleger vereador ou prefeito e gozar das doces mordomias do poder, em que todo o demagogo é viciado.

É certo que no Brasil os marginais nunca foram tão idolatrados.

É assassino italiano que recebe asilo político com o abraço até de presidente da república, são "musas" de reality shows que vendem o corpo feito mercadoria para se darem bem, são funkeiros que incentivam o crime, a afronta aos bons costumes, são sertanejos que viram sucesso alardeando "pegar" mulheres como se elas fossem coisas materiais na prateleira se um supermercado. No Brasil, o criminoso sempre se faz de vítima. Quem bebe e dirige se faz de vítima para não fazer bafômetro ou, se o faz, diz que seus direitos foram violados para não responder sequer por assassinatos a mão armada de carrões potentes e largas doses de álcool, e é vítima também quem vende a bebida para menores e os pais que colocam idiotinhas no mundo para incomodar a terceiros e depois alegam não saber das atividades estúpidas de seus filhinhos boçais, consumistas e malcriados por escolas que prometem muito, mas são incapazes (como qualquer uma) de substituir a ética que deveria partir dos pais que são igualmente boçais e cujos comportamentos são imitados pelos filhos sem freios!

Ninguém no Brasil quer ser responsável por nada, estamos vivendo a era da marginalidade onde todos se acham oprimidos pelo Estado mesmo não observando a lei e princípios éticos óbvios. Todos levantam a voz para gritar contra as arbitrariedades... desde que elas não sejam de sua própria autoria!

14 de jan. de 2012

DE PRÓTESES DE SILICONE A BOMBAS DE GASOLINA


O Brasil continua a ser a pátria do absurdo, o lugar "sui generis" onde coisas estranham acontecem e são tratadas como algo normal, por mais que impactem no bolso das pessoas.

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Prótese de silicone virou modismo.

Quase todas as atrizes, cantoras e beldades famosas, quase famosas ou ainda as que pretendem ficar famosas às utilizaram mesmo que não precisassem sequer por motivos estéticos. O verbo "turbinar" entrou na moda em programas de fofocas e revistas de TV criando um mercado consumidor que logo foi atendido com uma solução de crédito.

Hoje é possível implantar prótese de silicone em qualquer parte do corpo em suaves prestações, a ponto de meninas de 16 anos pedirem o procedimento como "presente de Natal" para pais idiotas que não raro realizam o desejo da imbecilzinha que nem virou mulher ainda, mas que já projeta uma forma de alcançar a fama ou ao menos um marido rico e babão.

E se alardeiam aos quatro ventos os novos seios das celebridades e a "estréia" na ilha da revista de famosos, mas esquecem de dizer que se trata quase sempre de um implante com data de validade, que precisará em algum momento futuro de manutenção e/ou troca sob pena de afetar severamente a saúde da usuária, como aconteceu com uma das mais famosas atrizes brasileiras, ex miss Brasil por Santa Catarina.

E todo procedimento médico tem risco, como o comprovado das próteses serem mal fabricadas ou mal escolhidas (talvez por mais baratas para atender a demanda crescente e descontrolada, já pensaram nisso?) causando um episódio de risco coletivo de saúde.

O SUS vai proceder a troca das próteses de silicone falhas usadas por mulheres que adquiriram o procedimento sem planos de saúde, sendo que estes terão que cobrir os custos da troca para suas clientes.

Quem é atendida por plano de saúde não me interessa, o problema é dela com sua operadora.

Mas me irrita que o SUS assuma o custo da vaidade desmedida de mulheres que compraram implantes de silicone por modismo em suaves prestações e sequer tenham se preocupado em fazer um seguro ou, pior, não tenham sido instruídas pelos médicos a fazerem seguro em razão da quase certeza da necessidade de manutenção das próteses.

Que o SUS deve cobrir o procedimento em primeiro momento, eu aceito porque vida é vida e não se deve pensar duas vezes em preservá-la. Mas penso que logo após fazê-lo, deve procurar o médico que fez o implante inicial e cobrar dele o custo da reposição, com a exceção óbvia e ululante do procedimento naquelas mulheres que fizeram a operação por motivos fundamentados de saúde (como as que perderam as mamas em razão de câncer).

Porque se não o fizer estaremos estatizando a vaidade. O SUS vai pagar pela vaidade de pessoas que não precisavam aumentar os seios por motivo algum, mas o fizeram por modismo. Em palavras mais claras: dinheiro que deveria ser usado para tratar de câncer, para atender gestantes, para melhorar os exames de todas as outras doenças, está sendo jogado fora para atender pessoas fúteis e vaidosas que acorreram ao sistema privado e ao crédito para alimentar um desejo criado por terceiros, já que o SUS não cobre o procedimento salvo por motivos fundamentados, como o do exemplo que citei.

Aceitar que não ocorra punição pelo uso irresponsável da cirurgia e da prótese de silicone em casos assim é o mesmo que pedir o SUS passe a cobrir implantes capilares, chapinhas, escovas progressivas e drenagens linfáticas, tudo em favor da vaidade alardeada pela mídia de futilidades, por mais que isso tire dinheiro dos tratamentos pré-natais ou de câncer. É o fato.

-o-

Outro episódio "sui generis" acontecido esta semana é o da adulteração de bombas de combustíveis em postos de Curitiba e região.

O indivíduo, aproveitando-se da sanha governamental em informatizar a operação dos postos de gasolina e usar disso para aumentar barbaramente e aos níveis da insanidade a burocracia na gestão tributária deles, resolveu usar o sistema para se dar bem em um contexto em que, ao mesmo tempo em que não sonegava impostos, roubava dos consumidores.

Ele adulterou o software de controle das bombas para que elas liberassem menos combustível para o consumidor, mesmo informando que tinham depositado todo o volume adquirido. Ou seja, o consumidor pagava e declarava 20 litros e levava 18, os 2 ficavam com o dono do posto e os órgãos públicos não se preocupavam com isso, porque para a fazenda isso era altamente vantajoso, afinal, se o indivíduo ficava com o combustível em estoque ele continuava vendendo e a receita arrecadava mais pela simples razão de que a cada 20 mil litros, 22 mil eram tributados na lógica do sistema em que a sonegação é praticamente impossível, mas na qual o governo não se importa se a pessoa venda mais desde que pague os tributos (no caso, a maior).

O azar do golpista foi ser pego por um repórter insistente informado do esquema por donos honestos de postos de gasolina, que não aguentavam mais a concorrência desleal.

E o resultado que a imprensa paranaense teima em esconder é que o governo estadual arrecadou impostos a mais e, sabendo do esquema havia ao menos um ano, nada fez para atacá-lo.

Aconteceu o contrário das próteses de silicone, privatizou-se o roubo com chancela da coisa pública e o prejuízo ficará no bolso dos otários que abasteceram seus carros nos estabelecimentos e provavelmente chutaram os pneus com raiva, imaginando que estavam desregulados e gastando mais que a média normal.

Enfim, um país "sui generis", onde o bolso dos honestos está sempre sob ataque de alguém.

9 de jan. de 2012

NÃO, O MUNDO NÃO VAI ACABAR!

Imagem: Lula e Cabral... se a gente sobrevive à eles, como é que o mundo vai acabar?

Ao final do ano passado, com a chuva no litoral estive zapeando pelas TV(s) por assinatura e me impressionei com a quantidade de programas afirmando que o mundo não passa de de 21 de dezembro próximo e que vamos todos desta para melhor. Tem um canal que eu gostava, que só fazia programas sobre história e biografias mas que hoje em dia limita-se a falar de antiguidades e do fim do mundo. Chega a afirmar que se o mundo não acabar por conta do calendário Maia, acaba porque o ser humano vai dar um jeitinho de provocar uma hecatombe global para coincidir com ele, apostando no espírito de porco global!


Uma coisa é certa, e só ela: se o mundo não acabar, o canal acaba, ficará difícil manter a programação só com revolucionários produtos Polishop se os programas sobre o fim do mundo não tiverem mais espaço na grade de programação.


Todos os programas seguem a mesma linha. Especulam sobre o por quê do calendário, sobre os números e coincidências de datas, dizem que Nostradamum também previu o fim do mundo, que ele nunca errou (embora também nunca tenha acertado, porque suas poesias hecatômbicas são interpretáveis ao gosto do leitor), que o mundo tá uma m..., que o meio-ambiente tá fraquejando, que as pessoas “tão nem aí”.


Mas nunca, absolutamente jamais dizem como efetivamente o mundo acabaria na epifânia índia prevista por uma “avançadissima”civilização que precedeu incas e a ocupação espanhola, mas que não conseguiu sobreviver aos 6 séculos que separavam ela do fim do mundo que seus próprios escritos dizem que supostamente vai acontecer.


Estranho, não? Os caras eram avançados pra caramba mas o fim do mundo para eles chegou antes?


Se os “historiadores” Maia me dissessem que o mundo vai acabar por alguma razão concreta, como um meteoro, uma invasão de extra-terrestres malvados ou um juízo final vindo do além com inquisidores espanhóis ressucitados para julgar os ímpios, eu até pensaria no assunto. Mas sinceramente, essa história de que vai acabar porque vai acabar já encheu o saco!


Tem um indivíduo nos EUA que já previu o fim do mundo umas 7 ou 8 vezes durante a vida, amealhou seguidores e até se preparou para passar desta para melhor sempre em alguma sexta-feira dramaticamente pré-anunciada. E chegava a sexta-feira e o mundo continuava tropicando como sempre, mas existindo apesar das bombas nucleares de russos, americanos e chineses, da loucurada do Ahmadinejad e do Hugo Chaves e mesmo da péssima voz do Michel Teló...


Quando milênio passado ia acabar, chamaram os intérpretes das bobagens do Nostradamus e afirmaram que a guerra do Iraque e Saddam Hussein estavam previstos e que de 31/12/2000 o mundo não passava, até porque o “bug” dos computadores ia gerar uma catástrofe global: gente sem telefone celular e TV a cabo porque os malditos pc(s) e mac(s) iam falhar, como se essas porcarias não falhassem todos os dias para atormentar pobres mortais.


Mas estamos quase todos aqui em 2012 e não foi o aquecimento global, nem Saddam Hussein e a Al Qaeda, nem o É o Tchan que acabaram com o mundo.


Quer saber?


O mundo não vai acabar. Processos naturais não funcionam assim destruindo tudo de uma vez só, uma guerra nuclear até é possível mas mesmo os militares mais empedernidos pensam muito antes de explodir um artefato tão poderoso e meteoros perigosos são monitorados pelas autoridades espaciais do mundo todo... sobraria a invasão de alienígenas malvados mas, pensemos bem... será que os caras viajariam zilhões de anos-luz para vir aqui destruir tudo como adolescentes bêbados destróem canteiros de praças?


O negócio é esperar até 21/12 para ver se voltam as biografias eletrônicas e acabam com a encheção de linguiça sobre o fim do mundo... e aguentar o Michel Teló mesmo achando melhor o mundo acabar do que ouvir aquilo!


Leia mais aqui.

22 de dez. de 2011

BOAS FESTAS!


Escrevi pouco em 2011.

Não tive inspiração e ao mesmo tempo, ando atarefado no trabalho.

Mas não esqueço das muitas pessoas legais que conheço (e conheci) em razão deste blog.

É certo que pretendo voltar à ativa, porque estas mesmas pessoas me incentivam a tanto, e à elas devoto respeito e carinho.

São pessoas inteligentes, opinativas, cidadãs que à sua maneira e dentro daquilo em que acreditam, querem um mundo melhor para todos. Exemplos para mim, cada uma a seu jeito, de que sempre há esperança em melhorar nossa cidade, nosso país e o mundo.

À todos vocês, meus votos de Feliz Natal e um maravilhoso Ano Novo!

PS: A imagem é do portal de luz que foi instalado na Rua XV, em Curitiba, uma belíssima idéia que celebra a vocação da minha terra em comemorar o Natal com boas mensagens a todos.

6 de dez. de 2011

A CBF E A GLOBO QUEREM O FUTEBOL PARA POUCOS


Ontem caí na besteira de assistir uma parte da cerimônia de entrega dos prêmios dos melhores do campeonato brasileiro pelo Sportv/Rede Globo e CBF.

Uma festa para a qual o presidente do clube vice-campeão da temporada, que também havia vencido a Copa do Brasil, não foi convidado em razão das críticas que fez contra arbitragens que, no Brasil, já há muito deixaram de ser falhas, são escandalosas, para não dizer coisa pior.

Uma festa com ares "holywoodianos" mas sem a classe, a pompa e a imponência das celebrações do Oscar, com apresentadores que não sabiam onde se colocar no palco, convidadas anunciando vencedores aos berros ou gemidos e políticos aparecendo para mostrar como o futebol brasileiro de hoje deixou de ser apenas esporte para virar faceta dos muitos interesses não esportivos da Copa 2014.

Do evento, a impressão é que o futebol brasileiro é e será de agora em diante apenas uma celebração do futebol praticado nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, que, afinal, são as duas praças de TV que importam para a poderosa proprietária dos direitos de transmissão. A impressão é que, se pudesse, a TV faria um campeonato nacional só com times do Rio-SP, ano vencendo o Corinthians, ano vencendo o Flamengo, que são as torcidas que mais geram audiência. Seria a fórmula mais lucrativa e de maior eficiência operacional, uma fórmula empresarial por excelência!

A nova realidade, a dos contratos personalizados, vai levar o futebol brasileiro a experimentar em 4 ou 5 anos o fenômeno espanhol, onde Barcelona e Real Madrid dividem os títulos nacionais e muito, mas muito esporadicamente, são surpreendidos por algum coadjuvante.

Ronaldo Fenômeno, que está intimamente ligado à CBF nos últimos tempos, andou declarando que pretende fazer de Flamengo e Corinthians os equivalentes pátrios das duas potências futebolísticas espanholas e não coincidentemente, a CBF anunciou que a partir de 2013, o calendário da Copa do Brasil também vai mudar, para recepcionar os clubes brasileiros eliminados da Libertadores. Ou seja, o poder do dinheiro e da mídia agregada à tais clubes, fará de todos os outros meros coadjuvantes a se contentarem com as migalhas, pois a competitividade real está sendo assassinada.

O Flamengo e o Corinthians vão receber da TV a partir do ano que vem o equivalente a 3 vezes o que recebem os clubes pequenos como os do Paraná, que por sua vez, receberão metade do valor de Grêmio, Internacional, Atlético Mineiro, Botafogo e Cruzeiro e menos de 40% do que será pago para Palmeiras, São Paulo, Vasco da Gama e Fluminense. Essa relação com os clubes pequenos era de 50% e 70% até 2011.

Criou-se um abismo.

Cedo ou tarde, quando os clubes do segundo e terceiro pelotão perceberem serem apenas coadjuvantes dos clubes preferenciais da TV, talvez esse quadro mude. E talvez as reclamações de Roberto Dinamite com seu "não convite" para a festança de ontem, seja indício de que há esperança das coisas se reequilibrarem.

Mas o fato é que, agora, o futebol brasileiro quer virar "debut" apenas para dois clubes, como acontece em vários lugares na Europa que sinceramente, eu não sei se são bons exemplos para o nosso futebol.

12 de nov. de 2011

A CRISE DA EUROPA É DE DESENVOLVIMENTO

A crise na Europa é reflexo do seu próprio desenvolvimento sócio-econômico.

Se pensarmos que a maioria dos países ricos na Europa experimenta um processo acelerado de estabilização demográfica, ou seja, população que não cresce ou cresce pouco ou diminui, com envelhecimento generalizado a pressionar sistemas previdenciários e de saúde bancados por Estados nacionais que sempre adotaram uma linha social-democrata, vemos que as contas públicas européias tendem, sim, a sofrer graves problemas.

Houve uma primeira fase de endividamento extremo, fase esta que gera a atual crise, mas não é improvável que esse processo venha em ondas nas próximas décadas, porque em determinado momento futuro, ou os impostos vão aumentar ou os gastos públicos vão diminuir, seja para zerar déficits, seja para, com isto, evitar que Estados nacionais sujeitem-se às regras pouco sensatas e justas dos mercados financeiros detentores de títulos dos tesouros, capazes de criar instabilidades do dia para a noite sem conexão alguma com a realidade.

Por outro lado, nos países ricos da Europa não há mais a necessidade de investimentos colossais de infra-estrutura que gerem indução econômica. As nações mais tradicionais da Europa já são economicamente bem preparadas, tudo, lá, implica apenas adaptação, não é necessário construir nada, basta ajustar. Talvez seja por isto que a União Européia tenha aceito alguns países eminentemente pobres como a Grécia em seus quadros, a necessidade de encontrar lugares onde alocar investimentos e gerar riquezas.

É verdade que a Europa pode exportar capitais, como efetivamente faz, importando dividendos. Funcionaria de modo perfeito se a exportação de capitais fosse feita pelos Estados nacionais e não por instituições privadas. Se os Estados praticassem isso dentro de um contexto de equilíbrio orçamentário interno, os dividendos que recebessem do exterior seriam usados para financiar o próprio Estado, como faz a Noruega com seu fundo soberano de petróleo.

O problema é que a exportação dos capitais europeus está sob controle da iniciativa privada, o que significa que os lucros da operação enriquecem os poucos proprietários destas carteiras, não os Estados, muitos menos seus cidadãos.

É um dilema: o Estado, em qualquer lugar do mundo, e salvo raras exceções, não sabe lidar com dinheiro. O Estado geralmente desperdiça e faz uso político e daí não gera lucro. Mas quem o usa com eficiência e gera lucro, não necessariamente gera riqueza para o Estado, ou seja, os déficits orçamentários continuam, a emissão de títulos, idem, e a especulação e a instabilidade, também.

E há o componente político.

O cidadão europeu cresceu e se acostumou a viver sob a proteção do Estado, que assumiu os sistemas educacional, de saúde e de previdência e sempre manteve a prática de tributar e retribuir com qualidade. E em vista desse sistema, o europeu também se acostumou a ter aversão à imigração, por mais que ela exista e gere problemas pontuais, especialmente o da exclusão pura e simples dos imigrantes dos sistemas de bem estar social da região.

Os índices demográficos europeus vão estabilizando, o que poderia ser revertido com políticas de imigração, mas o eleitorado não quer isto, na exata medida em que também não quer abrir mão dos benefícios que conquistou durante toda a vida.

Para nós, brasileiros, que pagamos os impostos mais altos do mundo sem qualquer contraprestação de qualidade pelo Estado, pode parecer estranho e mesquinho não aceitar a imigração que gera indução econômica, afinal, nessa lógica, mais gente, mais necessidade de infra-estrutura, mais obras = economia girando e crescendo. O problema é que os imigrantes não vão à Europa mais por oportunidades econômicas, eles vão para lá assumir sub-empregos na esperança de gozarem daqueles sistemas de bem estar social que seus países de origem nem sonham ter.

Ou seja, a Europa está em crise porque é desenvolvida, porque, talvez (e isso é apenas especulação), tenha chegado no limite do seu desenvolvimento, em uma situação em que será necessário rever conceitos econômicos arraigados, tanto no setor público, de governos gastadores, populistas, irresponsáveis e politiqueiros, quanto no setor privado, onde especuladores brincam com a vida de milhões de pessoas não exatamente por motivos justos, como comprovam os bônus desproporcionais aos méritos, que muitos executivos de finanças recebem de seus empregadores.

E sabem o que é pior nisso tudo? É que cedo ou tarde, esse processo vai chegar ao resto do mundo e pode até se agravar com o esgotamento dos mercados consumidores para onde hoje se exporte capital. Ou ainda com a falência de sistemas previdenciários que terão que suportar o envelhecimento da população em escala global. Cedo ou tarde, os países subdesenvolvidos vão virar desenvolvidos, as populações vão estabilizar, as necessidades de indução econômica vão diminuir, chegaremos a um limite econômico já que até o planeta terá esgotamento de seus recursos se a raça humana não descobrir como se expandir para fora dele. E não haverá país, seja ele capitalista, seja socialista, que não vá sentir os efeitos, se uma nova estrutura financeira mundial não for gestada desde já.

Pode demorar, mas a crise da Europa é alerta para o que virá adiante para todos.

PS: Não ando inspirado para escrever, o que é notado pela falta de posts aqui no blog. Eu peço desculpas aos leitores.

12 de set. de 2011

AS ESCOLAS BRASILEIRAS SÃO PIORES QUE O ENEM

O resultado alarmante o ENEM (apesar do governo Dilma entendê-lo satisfatório dentro de sua perspectiva de uma melhoria efetiva em um processo de 10 anos*) mostra apenas aspectos objetivos da questão.

Não adentra nos subjetivos que estão em aspectos como a falta do interesse dos pais no desempenho escolar, ou ainda, o interesse de outros pais em se livrarem dos filhos chatos depositando-os nas escolas para que nelas pratiquem a falta dos modos que não aprendem em casa.

Notaram os ótimos resultados de escolas militares? Que fator às faz mais eficientes?

Pois é! O Brasil experimentou uma onda libertária com o fim do regime militar. A partir de 1985, toda disciplina imposta de cima para baixo passou a ser tratada como algo ruim e "não pedagógico". O resultado é o que está aí - não existe mais autoridade nas escolas - professor virou refém ou dos alunos mal-educados ou dos pais incapazes de contrariarem seus reizinhos particulares, impondo o primado do quem pode mais, a prática do vale-tudo, o "sabe com quem está falando?", o clientelismo e uma relação consumidor-fornecedor e ao cúmulo de escolas públicas terem virado palco da politicagem mais rasteira de prefeitos e vereadores analfabetos, com regras estúpidas de "eleição" de diretores que no passado eram escolhidos por competência, não por votação.

Tudo o que desde então se ganhou em universalização foi anulado na incapacidade das escolas em impor disciplina para ensinar alguma coisa. Há mais alunos estudando, há transporte, uniformes, livros e materiais gratuitos nas escolas públicas e inovações tecnológicas de ponta nas escolas privadas.

Mas em essência, a escola virou um lugar para diversão e suposta socialização dos alunos sem muita relação obrigacional com quem quer que seja. Professor não apita mais nada (isso quando não é pura e simplesmente agredido) e a antiga chamada para a sala do diretor virou motivo para processos de dano moral, partidos de famílias cujos pais envergonhados com sua falta de tempo para os filhos, lhes dão razão em tudo mesmo nas situações mais extremas.

O brasileiro pobre tende a pensar que a escola vai por freios nos filhos que não soube educar e o brasileiro rico acha que pagando, isso será suficiente para seu filho aprender valores. Etiqueta não se produz em sala de aula e valores não se compram apesar da publicidade agressiva das escolas que dizem formar cidadãos, mas em verdade formam consumidores com suas listas enormes de material escolar, com a tolerância com mochilas cada vez mais caras estampadas com os astros de TV do momento, suas festas juninas animadas com sertanejo universitário a ensinar a "pegação" e a bebedeira como formas de alegria (e nesse item, não diferente nas escolas públicas), e suas mil formas de nunca reprovarem ninguém porque isso pode expor o jovem a uma situação supostamente vexatória.

As Leis de diretrizes e bases da educação esqueceram de blindar as escolas da paranóia generalizada contra a autoridade confundida com autoritarismo.

Se um professor não tiver a prerrogativa de ralhar com um aluno ou se o diretor não puder suspendê-lo, o fato é que as famílias lenientes com os maus modos (e diga-se de passagem, estas são a maioria)do jovem vão apelar para a velha desculpa da perseguição que hoje é corroborada com ameaças de processos com inversão do ônus da prova por se tratar ou de relação com o Estado, ou de relação de consumo.

A escola tem que voltar a ser obrigação, o desempenho escolar precisa ser cobrado. É inaceitável que um país que nas últimas décadas tenha aumentado (e muito, eles praticamente foram multiplicados por 5 na esteira do aumento do percentual sobre o PIB e do próprio PIB) os recursos para a educação, não consiga sequer dar um passo a frente nesse assunto, sujeitando-se a uma falta dramática de mão-de-obra em todos os setores, desde os menos necessitados de formação, mas especialmente nos que mais dependem dela.

O ENEM apenas demonstrou que o Brasil está é completamente paralisado quando o assunto é educação.


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*Mas fica a pergunta: Se Lula governou por 8 anos sempre com crescimento econômico e em céu de brigadeiro, já não deveríamos estar no ano 5 ou 6 deste processo?

8 de set. de 2011

AS UPP(S) VIRARAM SUCO?

No Brasil existe o costume de achar que o que dá certo em um primeiro momento, é eterno. No Rio de Janeiro, então, passar do caos à festança é uma tradição local e todo mundo acreditava piamente, para o gáudio dos políticos da região, de que o problema da violência nas favelas estaria resolvido com as UPP(s).

Os últimos acontecimentos comprovaram que as UPP(s) são uma boa idéia, mas não solucionam coisa alguma.

São uma boa idéia porque representam policiamento ostensivo, que em qualquer lugar do mundo é a melhor arma contra a violência do dia a dia. Polícia na rua, afinal, significa pronto atendimento às pequenas ocorrências, que não raro viram grandes ocorrências.

Mas solução definitiva efetivamente não são.

Já escrevi aqui antes, posso estar errado, mas o que soluciona o problema de violência nas favelas do Rio (e de qualquer lugar) é urbanização. Acabar com os guetos, melhorar as condições de vida e facilitar a ascensão social.

O Estado brasileiro, especialmente no Rio de Janeiro, é preguiçoso. Ele quer dar uma esmola qualquer aos cidadãos, no caso as UPP(s), para dizer que solucionou problemas, mas não se mexe de modo efetivo para fazer ações efetivas de desenvolvimento.

As UPP(s) seriam apenas o primeiro passo de um processo que necessariamente tem que passar por derrubar barracos e fazer arruamento, recompor topos de morro com vegetação, construir praças, postos de saúde e quadras esportivas, dotar as regiões de linhas de ônibus e corredores de transporte por onde circulem pessoas e valorizem os imóveis para que seus proprietários montem negócios e façam florescer a economia local. Uma vez havendo economia, naturalmente o progresso chega e melhora sensivelmente as condições de segurança, até porque isso gera empregos e ocupação econômica que tira pessoas do tráfico.


É certo que existe algo nesse sentido no Rio de Janeiro, faça-se justiça, o Programa Favela-Bairro atua nesse sentido, embora não pareça ser uma prioridade naquelas bandas.

Mas buscou-se pintar as UPP(s) como a panacéia, o ovo de Colombo, a solução definitiva gestada em 1 ano, para um problema causado pela irresponsabilidade política de mais de século, que começou com a desapropriação de cortiços para a urbanização da parte central da cidade do Rio há muito tempo atrás, e que de omissão em omissão legou um complexo colossal de favelas nascidas da inexistência de ação estatal.

As UPP(s), como solução definitiva viraram suco. Será que desta vez as autoridades vão entender que esse problema só se resolve com ação integrada do Estado por décadas e começar já a investir nessas favelas, integrando-as às cidades?

21 de ago. de 2011

A MORTE DA JUÍZA NÃO FOI OCASIONAL

A impressão que tenho, é que estão pintando o caso da juíza assassinada de modo bárbaro no Rio de Janeiro como mais uma "última gota d'água" na questão da violência e da impunidade no Brasil.

É mais uma manifestação da atávica e gigantesca hipocrisia nacional. No Brasil, a morte violenta de alguém de uma classe privilegiada vira capa de jornal e mote de movimento contra a violência. Já a morte de cidadãos comuns é tratada como cotidiano, como um problema a ser atacado quando o Estado puder, sendo que o Estado acaba nunca podendo.

A morte da juíza repercute porque ela era de uma classe de pessoas que o brasileiro têm como intocáveis. No Brasil, políticos, juízes, promotores, altos funcionários públicos, empresários ricos e celebridades da TV são mais importantes que o resto das pessoas. A morte violenta de um deles gera indignação, medo e até vontade de meia dúzia de pessoas irem às ruas pedir paz e justiça, porque é bonitinho parecer engajado por algo, pode ser que renda entrevista para o Jornal Nacional ou mesmo uma foto estampada em alguma página secundária da revista Caras.

O caso da juíza é sintomático, é verdade. As primeiras informações são de que ela pediu proteção que lhe foi negada por duas razões - a primeira, por não ser uma juíza "bacana", com sobrenome de desembargador ou de familia tradicional - a segunda, porque o Estado brasileiro (leia-se, o conjunto de Judiciário, Executivo e Legislativo) não queria gastar uns caraminguás a mais para garantir a segurança de uma cidadã exemplar no exercício de sua função, e que combatia o crime, como aliás, reluta sempre em fazer com juízes e promotores com a mesma atitude que ela.

Mas o fato marcante e cuja repercussão verdadeira muita gente está escondendo, é que a cúpula do Judiciário carioca sabia do perigo que aquela (ótima) magistrada corria em enfrentar o crime organizado das milícias e do narcotráfico, mas omitiu-se, tratou o caso dela como trata o caso de um servente de pedreiro morto com 21 facadas na periferia, colocou-o apenas nas estatísticas!

Ser juiz e promotor não é para mauricinhos e patricinhas formados com louvor em faculdades classe A, capazes de ficarem estudando 3 anos em casa sem fazer mais nada para adentrar ao serviço público e depois gozar dos altos salários entrando as 14:00 no fórum e saindo às 17:00 para ir buscar os filhos no colégio, como há muitos pelo Brasil afora, que este advogado que vos escreve pode atestar que existem.

Ser juiz e promotor é função para gente corajosa que entenda a grandeza e a gravidade das funções bem como o risco à elas inerente. Parece que no Brasil há uma falsa escala de valores - estas funções são tratadas como um prêmio para bons alunos de classe média-alta, não são mais uma função de representação da força que o Estado deve ter sobre os cidadãos que ferem as leis.

Enfim, para as autoridades brasileiras, incluindo uma boa parte dos próprios juízes e promotores, o crime é problema para os pobres e para as pessoas que não têm ligações políticas fortes. Todos os dias o brasileiro comum sofre com a violência. Todos os dias ele perde o sono porque alguém resolveu fazer um baile ao ar livre na porta da sua casa e ninguém aténde o telefone 190. Todos os dias há assaltos à mão armada, insegurança no ir e vir, violência doméstica, tráfico de drogas e casos de corrupção. Todos os dias há assassinatos bárbaros praticados com dezenas de tiros, de facadas e todos os demais tipos de violência.

E a absoluta omissão de muita gente é visível, muitas "autoridades" têm dois pesos e duas medidas: rapidez e eficiência nos pleitos feitos pelos ricos e poderosos, lerdeza e má vontade para os pobres e remediados.

O caso da juíza não é isolado, não é ocasional. Todos os dias há casos idênticos, como o mesmo grau de violência e o mesmo dano à estrutura social. Não foi a "última gota d'água", porque todos os dias há enxurradas de violência que são simplesmente ignorados neste país.

CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.

No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar ...