Por mais que eu seja oposição e não goste dele, não posso deixar de dizer que Roberto Requião do Mello e Silva, governador do Paraná, tem uma folha de serviços pelo estado. Ninguém se elege governador três vezes sem méritos, e isso deve ser ressaltado ao tratar da figura polêmica do atual ocupante do Palácio Iguaçú.
Foi bom governador nas gestões 1991/1994 e 2003/2006, marcadas por rigor administrativo-fiscal, controle das contas públicas e gestões tributárias eficientes. Eu mesmo votei nele em duas ocasiões. Em 2002 porque o segundo mandato de Jaime Lerner foi horroroso e não fez absolutamente nada pela região onde vivo. E em 2006, porque ele, Requião, cumpriu a promessa velada feita na frente da minha casa, de recapar a PR-092 e asfaltá-la entre Rio Branco do Sul e Cerro Azul no seu segundo mandato.
Foi um deputado estadual combativo e fiscalizador, e um senador atuante.
Tem algumas virtudes difíceis de encontrar nos políticos brasileiros, como a oratória, a boa cultura e formação acadêmica e conhecimento de administração pública, tanto em teoria quanto na prática.
Porém, tem aparecido na mídia nacional nas últimas semanas à guisa da suposta censura por parte da Justiça, mais especificamente uma decisão proferida pelo desembargador-federal da 4ª Região, Edgard Antonio Lippmann Junior, contra quem, em represália, o governador insinuou numa entrevista à Folha de S.Paulo o crime de vender sentenças.
Requião se acha censurado por não poder utilizar a TV Educativa para atacar seus adversários, que são muitos e cuja lista nunca pára de crescer, uma vez que ele não admite qualquer alusão a defeitos de sua paralisada terceira gestão à frente do estado do Paraná.
Diz que não tem espaço na mídia e obriga-se a usar a TV Educativa como único órgão que lhe restou para para apresentar as suas versões para os muitos fatos noticiados sobre seu governo, bem como prestar contas de suas realizações.
Contra o Judiciário a briga já é antiga, vêm desde o primeiro mandato, porque o governador simplesmente acostumou-se a não cumprir decisões judiciais, especialmente as de reintegração de posse de invasões do MST, que no Paraná tem trânsito livre inclusive para fechar e vandalizar praças de pedágio.
Já o Ministério Público é inimigo porque ousa discutir o nepotismo no governo estadual, onde 8 parentes próximos ao governador ocupam altos cargos administrativos, mas o número de familiares chega a mais de 40, considerando também os cargos de segundo escalão.
Outra reclamação do governador, é sobre uma suposta perseguição implacável contra o superintendente do Porto de Paranaguá, seu irmão Eduardo.
Nesse caso, em defesa dos Requião, deve-se dizer que eles têm razão ao reclamar da RPC (Rede Globo local) que, ao noticiar a fila de caminhões para o desembarque de soja na época da colheita, usou imagens de arquivo e inflou o problema que se repete todos os anos, mas não é tão grave quanto o noticiado.
Mas isso não significa que o porto não tenha problemas, até porque perdeu clientela e movimento, ao não aceitar exportar produtos transgênicos, não modernizar a área de containeres e postergar indefinidamente as obras de aumento da calha e dragagem do Canal da Galheta, sem as quais os navios de grande porte não poderão mais operar ali.
E as concessionárias de pedágio são objeto de eterna diatribe, mesmo tendo a recentemente demissionária ex-procuradora geral do Estado, Josélia Nogueira Broliani, declarado em alto e bom som que ainda não houve acordo com elas para reduzir as tarifas apenas e tão somente porque o governador prefere manter a discussão.
Vejam, não foi foi a imprensa, nem o MP e muito menos o Judiciário que sugeriu a declaração da ex-assessora de confiança de Requião, e que saiu às turras do governo, tal qual o procurador-geral anterior, Sergio Botto de Lacerda e também uma terceira figura de proa da segunda gestão, o ex-governador Paulo Pimentel, que foi o presidente da COPEL que reergueu a companhia, tornando-a uma das maiores energéticas do país (com méritos também para o governador, sejamos justos) mas que saiu do governo pondo seus jornais em claro e imediato oposicionismo.
E também não se pode dizer que o governador não tem espaço na mídia, quando o estado carreia as verbas estaduais de publicidade apenas para veículos que nunca criticam a administração pública, muito embora de repercussão mínima ou inexistente.
O jornal HoraH de Curitiba, ligado ao PMDB e ao MR-8, e a TV Exclusiva, receberam gordas verbas publicitárias, que chegam a ser desproporcionais às suas repercussão, tiragem e audiência. Mas eles dão o espaço quando e como o governador queira, de tal maneira que nem mesmo há censura sobre um suposto dossiê contra o juiz Lippmann, que tais órgãos fizeram questão de divulgar.
Se parte da mídia lhe tem má vontade e foi injusta em um dos aspectos do porto, ela não inventou os problemas que o afligem, como o caso das TV laranjas, uma licitação em que o estado adquiriu TV(s) de uma empresa que vende móveis escolares e de escritório, e que coincidentemente foi a maior doadora de recursos para a campanha do PMDB em 2006.
O preço unitário das TV(s) vendidas ao governo, foi comprovadamente superior ao encontrado em lojas de eletrodomésticos, mesmo com o negócio contando com isenção do ICMS e em grande quantidade, o que deveria baixar sensivelmente o preço final unitário. Os documentos foram trazidos à baila pela oposição, mas são oficiais, não foram forjados por jornais e TV(s).
A reclamação de ser ignorado cai por terra justamente em situações como esta, em que o governador é manchete de todos os grandes órgãos de comunicação do estado e ainda por cima recebe espaço na Folha de S.Paulo, órgão de imprensa que certa feita ele classificou de "jornalão de direita", mas onde teve espaço para disparar a grave insinuação supra citada.
Logo, tanto quanto a mídia não ignora o governador, censura não há, até porque esta se caracteriza como ato de arbitrariedade e contra legem, o que não ocorre numa decisão judicial que determina o uso de um bem público, a TV Educativa, para os fins para os quais foi criada, o que não inclui o uso proselitista por governante.
Censura seria lacrar a TV Exclusiva ou apreender as tiragens do jornal HoraH, coisa que a Justiça não fez.
Com efeito, o governador não está impedido de dar entrevistas (como deu à Folha) ou de pagar publicidade oficial para esclarecer questões relativas à sua administração.
Ele não sofre censura. O problema é que seu terceiro mandato é marcado por discussões estéreis, falta de foco e reclamação excessiva contra a imprensa, decorrente do fato do governador atribuir a ela sua vitória por apenas 10 mil votos nas eleições de 2006.
Até hoje, parece que o governador não se conforma que venceu.
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