8 de abr. de 2008

A DEMOCRACIA QUE NÃO PRATICAMOS

O debate político brasileiro é efetivamente muito pobre.

No dia seguinte à reeleição do atual presidente, já havia aduladores especulando sobre uma nova chance para ele permanecer por mais 4 anos.

Já o adversário dele na disputa, Geraldo Alckmin, foi abandonado na campanha porque sabia-se que suas chances eram mínimas ou nulas, mas havia a possibilidade dele tornar-se candidato natural para 2010, o que desagradava muito os governadores de SP e MG, cujos "apoios" foram limitados, na clara tentativa de se desvencilharem de uma suposta obrigação partidária, sem tirar os olhos gordos sobre a cadeira hoje ocupada pelo senhor Lula.

Agora, pouco menos de 3 anos antes das eleições o debate sobre a campanha de 2010 reaquece sem nenhuma novidade.

Aécio Neves tenta fazer composições esdrúxulas nas eleições municipais visando abrir caminhos para eventualmente trocar de partido e obter alguma simpatia do atual presidente, enfraquecendo Serra, que por sua vez não intervém nas eleições de São Paulo na clara tentativa de queimar qualquer pretensão presidencial de Geraldo Alckmin, que tenta repetir o que ele mesmo, Serra, fez, ao eleger-se prefeito de São Paulo para ficar no cargo apenas por um ano e meio e depois tentar um passo maior.

Aécio sabe que o partido pende para Serra, e busca opções para se lançar candidato quem sabe até com simpatia do Palácio do Planalto. Hoje, ele não é nem governo, nem oposição, está em cima do muro, compondo com o PT em Belo Horizonte na maior cara de pau. E Serra, que deveria se impor e buscar meios de fazer o PSDB compor com o DEM em São Paulo, prefere que Alckmin entre na disputa, perca e enterre de vez sua carreira política, ou seja, um pré-candidato paulista a menos para 2010.

Já nas hostes governistas, é claro que o presidente escolheu uma candidata para 2010 (deixemos de lado essas especulações sobre terceiro mandato), sem, no entanto, consultar o seu partido, porque Dilma Roussef é egressa do PDT, não é petista histórica, o que incomoda muito certos setores da organização.

Em outras palavras, enquanto os tucanos se debatem num jogo intrincado de traições e vaidades pessoais, o presidente pratica um "el dedazo" (*) praticamente determinando quem seria a canditada para sua sucessão, ignorando seu próprio partido.

Nada de prévias. Nada de consulta às bases de filiados tanto do PSDB quanto do PT, que dizer dentro de agremiações oligárquicas como o DEM o PTB, ou sindicaleiras, como o PC do B e o PDT. Tudo se resolve em conchavos entre próceres, de um tal jeito que os partidos nada mais são que siglas, feitas para possibilitar o alpinismo político dos mais espertos.

Nós brasileiros temos a mania de criticar o sistema eleitoral americano. Dizemos que é complexo, que muitos candidatos se debatem por meses em prévias, "caucus" ou eleições primárias para conseguir uma indicação na convenção nacional dos Democratas ou Republicanos, e ainda assim, lá nos EUA, o atual presidente foi eleito com menos votos que seu oponente, Albert Gore, em 2000.

Tentamos esconder nossa falta de democracia ao apontar as virtudes da democracia alheia, pois nos EUA os integrantes dos partidos são consultados sobre quem os representará nas eleições, sem contar que o sistema eleitoral pode ser caótico, mas suas regras não mudam ao sabor de conveniências como aqui, onde o mandato presidencial pode ser obtido de modo direto, mas já teve 6, 5 e 4 anos, e depois uma oportunidade de reeleição e agora, uns dizendo querer reeleições livres e outros querendo mandato único de 5 anos. O colégio eleitoral dos EUA elegeu quem tinha menos votos populares, mas o fêz dentro de regras centenárias, isso, aqui no Brasil das tão contestadas urnas eletrônicas, quase ninguém lembra.

Enfim, comparo os dois sistemas e concluo que não praticamos democracia, temos apenas algo parecido com ela.

(*) Até meados da década de 80, o México era governado por uma organização oligárquica chamada PRI - Partido Republicano Institucional. A praxe dentro do PRI era que o presidente em exercício indicasse o seu sucessor, o que eles chamavam de "el dedazo", momento em que se definia entre os próceres da instituição, quem assumiria a presidência da república.

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