1 de set. de 2008

AGORA, O GRAMPO!

Toda a verborragia de Carlos Lacerda não foi suficiente para arranhar a imagem nem de Getúlio Vargas, muito menos de Juscelino Kubitschek.

Lacerda batia forte. Praticamente todos os dias dava socos no fígado do presidente de então, sempre seu desafeto, porque achava que desconstruindo o o mito que GG e JK representaram, chegaria ao poder para sentar na cadeira deles.

Getúlio não se entregou a seus ataques e, morto, transformou o político carioca em vilão.

Lacerda conseguiu se recuperar de seu processo demonizatório e então voltou as luvas de boxe contra JK.

Novamente virou vilão, o que inviabilizou sua candidatura em 1960, quando ele teve que engolir Jânio Quadros sentando na cadeira que tanto cobiçou durante vida públlica.

Insatisfeito, virou golpista a atacar um presidente incompetente e sem carisma algum (João Goulart), mas no final de sua carreira política acabou pedindo penico para Juscelino, tentando formar a "frente ampla" para fazer o país retornar à democracia que seu discurso incendiário e irresponsável ajudou a destruir.

Porque resolvi lembrar Carlos Lacerda?

Por que já tem gente da oposição falando em "impeachment" do Presidente Lula, dado o caso do grampo envolvendo o Ministro do STF, Gilmar Mendes.

É incrível como a história se repete. Lacerda tentou desconstruir dois mitos, GG e JK, e a atual oposição tenta desconstruir o mito Lula, como que não percebendo que não adianta atacar de modo confuso um presidente com índices altíssimos de aprovação e que detém a simpatia do povão.

GG morreu como herói e até hoje é idolatrado. JK, se não fosse mito e com enorme aprovação popular, não teria terminado seu governo que acabaria em golpe de Estado promovido por pessoas como Carlos Lacerda e efetivado pelas forças armadas de então.

Já o caso de Lula, éuma síntese desses dois ex-presidentes e não adianta absolutamente nada tentar associá-lo aos (muitos) casos de corrupção de seu governo, basicamente porque sua força popular está na economia em alta e na distribuição efetiva de riqueza que promoveu nos últimos 6 anos.

A oposição prefere atacar o presidente de novo e dar com os burros n'água de novo, o que é um atestado de burrice extrema e mesmo de falta de consciência dos instrumentos que possui.

Se ao invés de a toda hora buscar acertar o fígado do ocupante do Planalto, que é blindado, a oposição utilizasse os meios de que dispõe para exigir o julgamento acelerado dos próceres do PT envolvidos em casos de corrupção deste governo, seria mais eficaz.

Não batendo em Lula, mas deixando claro as mazelas do PT, a oposição obteria um crédito eleitoral ao enfraquecer o partido do presidente, que não se confunde com ele. Agora, batendo em Lula, a oposição alimenta sua mitificação, o torna herói e ao mesmo tempo fortalece o PT.

Lula não será candidato em 2010, de tal modo que a oposição deveria voltar suas baterias aos muitos próceres petistas e às pessoas próximas ao governo, com condições de alçar vôo presidencial. Enfraquecendo o PT, a oposição teria chances de fragmentar a instável "base aliada" que entraria em 2010 com vários projetos presidenciais entabulados, muitos deles com intenção de passar por cima até mesmo do partido do presidente, que ficaria em maus lençóis se dois ou três de seus aliados mais próximos (incluídos do PT) resolvessem usar sua imagem de mito popular na campanha para o Planalto.

Mas não! Preferem atacar o presidente e reforçar o mito. Se algum tipo de manifestação brancaleone em prol de cassação acontecer contra Lula, o povão identificará isso como golpismo, o mesmo que vitimou Getúlio e JK e, pelo menos eu penso assim, criará alguém acima do bem e do mal, capaz de decidir uma eleição apenas subindo em um palanque.

Desse jeito, Lula está a um passo da eternidade... e a oposição correndo em direção ao abismo.

Mas vai ver que sou eu que não entendo nada de política e percebo as coisas de modo errado...

27 de ago. de 2008

O IMPERADOR DO PARANÁ

Roberto Requião remanejou o primeiro escalão da administração do Paraná. Nomeou como secretários especiais a sua esposa e seu irmão, como forma de adequar a sua administração ao que provavelmente determinará a súmula do STF, sobre o nepotismo.

Quanto aos muitos demais parentes dele empregados na administração estadual, só após a edição da súmula haverá decisão.

Enfim, tudo como dantes, no quartel de Abrantes.

26 de ago. de 2008

FUNDO SOBERANO

Um Fundo Soberano nada mais é que uma reserva de dinheiro de um país, usado para investimentos produtivos privados dentro ou fora de seu território, algo como uma carteira de ações com dupla função:

a) facilitar negócios interessantes ao país;
b) gerar lucros com destinação específica.

Na prática, economizar recursos públicos em um determinado momento, para depois passar a adquirir participações em empresas e negócios que gerem dividendos, tal qual faz uma instituição financeira, quando capta dinheiro de seus clientes para administrar carteiras de ações.

A diferença é que, quando um país faz isso, atua em escala global e utiliza a lucratividade gerada para funções públicas.

Imaginemos um governo adquirindo milhões em ações de determinada empresa, desde que ela se comprometa a montar uma unidade de produção ou de negócios no seu território.

Ou, ainda, ditos "off-set", que são comuns em operações de venda de produtos bélicos - um país vende uma quantidade "x" de aviões para outro, que por sua vez, comprando-os, recebe investimentos do fundo em igual valor, dentro do seu território.

A Noruega, a China, o Kwait e alguns outros países o têm, usando-o para alavancar sua economia e fazer reservas e como contra-partida, obtendo investimentos estrangeiros.

E a destinação do dinheiro que advém do lucro serve para diversas finalidades, tais como melhorar a infra-estrutura, programas sociais e algo que me chama especial atenção, financiar sua Previdência Social.

A Previdência é um problema global, causado pela diminuição do número de contribuintes. Ela tanto será mais problemática, quanto mais idosa a população do planeta, colocando nessa equação outro problema ainda mais sério: o planeta agüenta o aumento exponencial da população por quanto tempo? Os sistemas previdenciários criados na metade do século XIX, e em funcionamento até hoje, são calcados na contribuição dos ativos, que paga a aposentadoria dos inativos. No Brasil, houve época em que 20 ativos contribuíam para manter um inativo. Hoje, essa proporção é de 4 x 1 e caindo. Portanto, todos os sistemas calcados na contribuição estão fadados a falir, porque a população não crescerá aos níveis do passado e tende a estabilizar e envelhecer, e é nesse momento em que entram os fundos financeiros, porque eles são capazes (em teoria) de gerar recursos advindos de lucratividade para financiar aposentadorias.

Penso que os fundos soberanos acabarão financiando a previdência de muitos países, desde, claro, que bem administrados. Eles seriam a versão estatal dos fundos privados de previdência, compensando, em parte, a perda de receita decorrente da estabilidade dos índices demográficos.

É por essa, e outras razões, que não acho ruim a idéia de criação de um fundo brasileiro. Ele poderia ser utilizado para diminuir o déficit previdenciário, fazendo parte do financiamento do sistema, além, claro, das outras vantagens citadas, como a de ser utilizado para atrair investimentos estrangeiros ou vender produtos brasileiros.

No entanto, é óbvio que é preciso discutir a questão com a sociedade.

Se por um lado é interessante que o governo contingencie parte do orçamento para alavancar um fundo, por outro, me assusta, e muito, que a administração disso ficará nas mãos dos políticos nacionais, sempre instáveis e pouco afeitos a não ceder à tentação de usar os recursos para fazer demagogia eleitoreira.

Um Fundo Soberano é um instrumento absolutamente capitalista, que depende do capitalismo e do seu principal elemento, o lucro, para ter sucesso. Se um governante resolver utilizar seus recursos para fazer política social (e eleitoral) a fundo perdido, se aplicar o dinheiro em investimentos duvidosos (ou superfaturados) de infra-estrutura ou se intervir em sua administração para torná-la mais próxima de seus interesses políticos (nomeando parentes, por exemplo), o sistema pode desabar feito castelo de cartas e o dinheiro pode ir para um ralo ainda mais voraz que o da administração pública comum, porque o mercado de ações, por exemplo, tem surtos de histeria que acabam com fortunas inteiras em dias, sendo que todos os passos dentro dele devem ser muito bem pensados.

Outro aspecto importante é de onde sairão os recursos para formá-lo. O dinheiro de impostos não pode ser utilizado, mesmo com contigenciamento orçamentário, porque são verbas carimbadas, com destinação específica determinada na Constituição e nas Leis do país, operadas via orçamento. Uma das idéias é utilizar-se dos recursos ainda não certos da exploração de petróleo da camada pré-sal, e ainda, partes dos lucros de empresas estatais e retenção de royalties.

Enfim, a idéia é boa, mas a administração é complexa. Acho que não devemos descartar a hipótese, mas ao mesmo tempo, devemos debater o tema com profundidade e principalmente, criar mecanismos de fiscalização.

22 de ago. de 2008

A HORA DE ELOGIAR

A cada quatro anos, a cada olimpíada, nós torcedores do esporte brasileiro experimentamos muitas decepções. Minha opinião sobre a atuação deletéria da imprensa e pela falta de base esportiva decorrente da irresponsabilidade de nossos cartolas e políticos é apenas o complemento do que deve ser dito sobre muitos de nossos atletas, que precisam, e muito, de um acompanhamento psicológico melhor para focar suas atuações em resultados.

Eu continuo achando que o esporte brasileiro está involuindo. Bons resultados em modalidades em que não temos tradição, têm sido fruto de uma política de pinçar fenômenos, atletas excepcionais e prepará-los em separado dos demais. Dá certo as vezes, mas o melhor era o Brasil ter carreiras esportivas, circuitos de competições e categorias de base em todos os esportes em que tenciona disputar jogos olímpicos. Seria bom do ponto de vista de ganhar medalhas, mas seria muito melhor do ponto de vista de difundir os bons conceitos e valores que o esporte encerra, ajudando a criar cidadãos melhores.

Mas não vou deixar de elogiar quem merece (na ordem de importância que atribuo), por seu destaque nestes jogos de Pequim:

1. Maurren Higa Maggi. Ganhou uma medalha ainda mais importante que a da natação de Cesar Cielo. Isso porque ela não teve o treinamento específico no exterior, sempre atuou com base aqui no Brasil. Além disso, deu prova de superação e caráter, porque foi injustamente punida por doping e soube dar a volta por cima. Haverá quem diga que suas principais adversárias sairam da disputa e não chegaram à final. Mas isso é do esporte, e o que ficará na história é que ela não tremeu quando o ouro lhe acenava, ao contrário do que aconteceu com muitos brasileiros, cujos nomes não citarei aqui.

2. Ketleyn Quadros. Uma moça pobre, humilde e que teve enormes dificuldades em ir a Pequim. Chegando lá, foi a primeira brasileira a ganhar uma medalha individual na história dos jogos. Não se pode deixar de reverenciar tanto esforço. Bronze que valeu ouro.

3. Robert Scheidt. Ele e seu parceiro estavam em 13º lugar quando faltavam 3 regatas para acabar a competição. Partiu pro tudo ou nada e chegou na regata final sonhando com um bronze. Conseguiu prata num esporte onde o vento a favor ou contra nem sempre é justo com o trabalho dos atletas.

4. Cesar Cielo. Sem maiores comentários, entrou nos jogos focado para vencer, chegou em Pequim como um invisível, saiu de lá como o maior nadador brasileiro de todos os tempos.

5. Seleção Feminina de Futebol. Apesar da atuação desastrosa na final, a seleção feminina tem méritos, porque aqui no Brasil não existe nenhuma estrutura para que elas pratiquem seu esporte. São ignoradas pela CBF e jogam torneios de várzea aqui no Brasil e mesmo assim, são medalhistas de prata contra verdadeiras profissionais, como as americanas, as norueguesas, as suecas e as alemãs. Pela absoluta falta de apoio, são vitoriosas.

6. Não sei se o Brasil será medalha de ouro no volei de quadra masculino e feminino. Penso que são as seleções mais bem montadas que o Brasil mandou a Pequim, basicamente porque o volei é um esporte que tem bases, onde se disputam campeonatos e mal ou bem há patrocínios e divulgação pela TV. O que ficou claro, é que há um trabalho muito sério nesse esporte, tocado por gente como Bernardinho e José Roberto Guimarães, onde se nota que não vivemos mais de uma geração de ouro ou prata. Hoje, há renovação constante e o Brasil virou potência no esporte. Mesmo que eventualmente percam as medalhas de ouro, ainda assim o resultado será ótimo por demonstrar que o Brasil trabalha as duas categorias sem preconceitos e discriminações.

21 de ago. de 2008

TEXTO PERFEITO!

Sabe quando você lê algo que queria escrever mas não teve capacidade?

Pois é, o jornalista Bob Fernandes, no seu blog no Portal Terra escreveu algo assim hoje.

Recomendo... e fico aqui, na invejinha de não ter escrito:

BRASIL: O MEDO DE VENCER E AS DERROTAS.

E também a Ruth de Aquino, na versão digital da Revista Época:

ESSA GENTE BRONZEADA E O CHORORÔ OLÍMPICO.

19 de ago. de 2008

O TRÂNSITO VAI PARAR? (PARTE 3)

Está na Folha de S. Paulo de hoje:

Propostas para o trânsito de SP ignoram explosão da frota

Um dia alguém disse que campanha eleitoral serve para debater os grandes temas da coisa pública. Bobagem! Campanha eleitoral tem servido para divulgar asneiras, como as que Marta Suplicy, Geraldo Alckmin e demais concorrentes deixaram claro para esta reportagem da Folha.

Mas o fato é que os candidatos demonstram ou má assessoria ou preocupação excessiva com os humores do eleitorado, mormente aqueles ditados pela sensibilidade do seu bolso.

Falar que o metrô será aumentado é partir do pressuposto que a cidade terá BILHÕES de reais para aplicar em obras, coisa que sabemos que não tem, e estamos falando de São Paulo, cidade mais rica do país. Sem contar que a obra do metrô é estadual, o que faz dessa promessa uma tentativa clara de usar o bolso alheio para receber o próprio troco.

Dizer que haverá mais corredores de ônibus é como ignorar que eles existem hoje em dia e pouco representam em termos de solução.

Pior de tudo, apostar em obras viárias, viadutos, pontes, minhocões, etc... é continuar no velho modelo, aquele que incentiva o transporte individual ao custo de bilhões em licitações que sempre acabam objeto de suspeitas, com outro agravante, a deterioração de áreas da cidade.

E não pense o leitor que em Curitiba ou Porto Alegre a coisa está diferente, eu preferi usar São Paulo porque nela o problema é real, presente, imediato. Aqui em Curitiba, é um problema, mas cuja gravidade ainda não chegou no nível da calamidade como na Paulicéia onde, se houvesse algum planejamento há 30 anos atrás, talvez a situação atual seria melhor, e isso sem o excesso de viadutos e obras viárias que impermeabilizam o solo, aumentam a poluição e não resolvem a questão da mobilidade urbana.

O trânsito vai deteriorando a olhos vistos em todo o lugar, e nenhuma medida concreta é discutida de modo franco, livre dos clichês eleitorais. Hoje, se algum candidato falar em pedágio urbano, o marketing da campanha dos adversários (qualquer um deles) dirá que ele pretende cobrar pelo uso das ruas, levantará o preço das rodovias pedagiadas e as suspeitas de corrupção em suas concessões, etc... mas certamente não lembrará que todos os partidos políticos um dia resolveram aplicar essa solução em seus governos e que mal ou bem, as rodovias pedagiadas são as melhores do país.

Mas eu já cheguei à conclusão que este será um dos caminhos, por mais que eu mesmo não goste dele. Em São Paulo, haverá cobrança para uso das marginais e de vias públicas onde concentra-se o movimento, e uma vez aplicado em São Paulo, será questão de dias ou meses para que chegue no Rio, em Belo Horizonte, Curitiba, etc...

Não gosto da solução, mas ela tem o mérito de desestimular o uso do transporte individual.

E você, leitor? Que sugestão daria para melhorar o trânsito?

Eu encerro com uma sugestão: diminuir as vagas de estacionamento à margem das ruas, transformando-as em pistas de rolamento. Isso traria mais um custo para o dono de automóvel, o de pagar estacionamento privado. Mas funciona, embora apenas em parte, para dar melhor fluidez ao trânsito.

17 de ago. de 2008

O ESPORTE BRASILEIRO INVOLUI

Nossas escolas mal e porcamente conseguem ensinar o básico para seus alunos, e não me refiro apenas à rede pública. Mesmo as escolas privadas são péssimas, por mais que a cada janeiro façam publicidade caríssima mostrando alunos contentes em salas de aulas modernas e em torno de equipamentos esportivos e culturais que só servem para justificar o aumento constante de suas mensalidades.

E o mesmo acontece nas universidades. Estudei na UFPR, numa época em que os equipamentos esportivos estavam praticamente abandonados, mas mesmo assim, quando havia competições entre instituições, ela vencia todas, porque as estruturas das universidades privadas eram ainda menos que ridículas, considerando as mensalidades milionárias que já na época cobravam, sem contar o "pagou-passou" que é a regra do ensino superior nacional, basta ver as más qualificações do ENADE.

Antigamente, o esporte amador no Brasil era praticado nos clubes sociais. O Flamengo e o Vasco da Gama, o São Paulo e o Pinheiros, o Pinheiros de Curitiba, o Minas Tênis de Belo Horizonte e a SOGIPA em Porto Alegre. Se não criavam atletas olímpicos, difundiam os esportes e criavam bases que, melhor trabalhadas, poderiam gerar bons resultados nos circuitos regulares. Se isso não acontecia, é porque no Brasil nunca houve o passo seguinte. Havia a base, e só.

Mas todos esses clubes entraram em crise. Os que mantém futebol, pelo aumento exponencial do custo deste esporte, obrigados a carrear todos os seus recursos para pagar jogadores nem sempre bons. Já os clubes eminentemente sociais, porque sofreram a concorrência dos condomínios com piscinas e quadras esportivas (que viraram mania da construção civil nacional nos ultimos 10 ou 15 anos), perdendo sócios e obrigando-se a desfazer de patrimônio para manter as contas em ordem.

Daí vemos os resultados dos atletas olímpicos do Brasil e descobrimos que as medalhas mais importantes são conquistadas ou por verdadeiros fenômenos do esporte, ou por pessoas que treinam e vivem fora do país.

O Brasil não tem bases esportivas.

Penso que as pessoas se acostumam à pressão constante, mas sofrem com a pressão eventual. Isso explica o por que de chineses e americanos terem bons resultados olímpicos. Eles são pressionados sempre e não é incomum que suas competições sejam transmitidas e comentadas periodicamente e que as pessoas os reconheçam nas ruas, aplaudindo seu desempenho e cobrando resultados. E eles suportam, porque são resultados de um processo de criação de atletas que se inicia nas escolas e passa pela universidade até chegar à profissionalização.

Aqui no Brasil foram criados centros de excelência que escolhem alguns atletas promissores e os trabalham. Mas isso não é suficiente, porque esse tipo de programa depende muito de resultados para conseguir patrocínio e evoluir no sentido de aumentar o número de pessoas que o componha.

E ao mesmo tempo não há o apoio constante da sociedade, basta ver que as TV(s) brasileiras só transmitem competições de judô, ginástica e atletismo se elas custam baratinho ou se de graça. Mas essas mesmas TV(s) cobram, e cobram bastante, os resultados que tragam medalhas e audiência durante as Olimpíadas, com direito a comoção nacional quando elas entrevistam os avós, ou os tios ou as ex-namoradas dos eventuais medalhistas.

Daí criamos uma situação sui generis: Atletas olímpicos que recebem treinamento de qualidade mas só são cobrados e só sofrem pressão durante as Olimpíadas. Nos 4 anos anteriores, esquecimento, durante os jogos, cobrança e pressão.

Sem contar que de regra, esses atletas chegam à competição máxima do esporte sem experiência esportiva de base. Não participaram de competições infantis e juvenis, não fizeram exatamente uma carreira esportiva, não se acostumaram às pressões, porque nos circuitos eles não são lembrados por ninguém e seus resultados são motivo de notinhas de canto de página nos jornais.

Mas nas Olimpíadas, eles viram capas e motivos de flashes e são perseguidos pelos repórteres.

Os resultados brasileiros em Olimpíadas não são pífios por não conseguir medalhas.

Eles são pífios porque a cada 4 anos, não constatamos evolução alguma nos esportes.

Continuamos escolhendo uma meia dúzia de agraciados a receber patrocínio de fome de empresas estatais, mas as crianças brasileiras não lutam judô, não correm nem saltam, não praticam ginástica e não têm sequer bolas para jogar basquete e handebol. Não há torneios infantis e juvenis, não há o embate entre escolas e universidades e mesmo as competições entre clubes vão rareando porque todos eles estão quebrando.

É preciso, sim, investir nos centros de excelência e nos atletas olímpicos. Metade do dinheiro que é jogado fora a cada vez que o Rio de Janeiro tenta sediar uma olimpíada, já seria uma evolução e tanto. Mas ao mesmo tempo é necessário desenvolver bases esportivas para que o país não dependa mais de fenômenos e que aprenda pelo esporte coisas vitais para o desenvolvimento humano e social, como disciplina, responsabilidade, capacidade de absorver derrotas e humildade em encarar as vitórias.

Desenvolver o esporte no Brasil seria bom para a sociedade, e não só para acumular medalhas.

CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.

No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar ...