23 de set. de 2016

O PROBLEMA DA EDUCAÇÃO NÃO É O CURRÍCULO


O problema da educação brasileira definitivamente não está no currículo que ela adota, à despeito da discussão tosca causada  por mais um ato mal divulgado do governo Temer.

No Brasil, se comete a excrescência de haver eleições para diretor de escola, elegendo o mais popular, o que quase sempre exclui o mais competente para a função. 

Em uma escola onde o diretor é eleito, ele deixa de ser professor para virar candidato, o que não guarda relação nenhuma com o ensino. E, pior, numa escola onde há processo eleitoral, existe situação e oposição, e em sendo isto não diferente de uma eleição qualquer, pode-se concluir que a permissividade adotada sob a desculpa de "democracia" ou até "participativismo" à transformou numa panela de pressão constante, onde o processo político influi (sempre para o mal) no educacional.

As reformas educacionais recentes agravaram esta situação. Sob a desculpa de privilegiar o pensamento, nossos alunos passaram a receber aulas de filosofia e sociologia. Não é preciso ser muito inteligente, basta visitar uma faculdade de filosofia brasileira, qualquer uma, para saber que a única intenção dessas medidas era de fazer proselitismo ideológico, uma forma de manter no senso comum do brasileiro o esquerdismo crônico que mantém o país no atraso atávico do Estado paternalista que despreza e atrapalha o cidadão sob a desculpa de protegê-lo e ampará-lo, isso com escolas ruins, segurança pública inexistente, saúde caótica e previdência incerta.

E dentro desse caldo de cultura, a inexistência de obrigações. 

Não preciso listar os casos de violência de alunos contra professores, porque estes são diários. Mas é bom lembrar as escolas pichadas e vandalizadas pelos próprios alunos, isso quando eles não aderem a algum movimento político e às invadem, impedindo seu uso para o ensino, como aconteceu no RS, em SP e no RJ pouco tempo atrás.

O aluno brasileiro só tem direitos. Obrigação, nenhuma, porque nem mais o seu desempenho escolar mínimo é cobrado, empurrado que ele é de série em série, porque os administradores públicos o encaram como uma despesa, não como um investimento no futuro do país.

E, a partir disto, a constatação da falta do mérito. Sempre me pergunto qual o incentivo que um bom aluno tem em tirar boas notas e se destacar, se nossa sociedade aprova a todos, mesmo os que não aprendem nada? Todos os anos vemos hordas de adolescentes saindo do nível médio sem a capacidade de escrever uma redação de uma lauda ou de entender um texto curto ou um enunciado de vestibular. 

As escolas brasileiras (não somente as públicas) viraram lugar de socialização, e só disto. 

Por não ter obrigações, o aluno se dirige à elas para namorar, para encontrar os amigos, para matar o tempo e as vezes para ter algum momento e lazer numa aula de educação física. Só isto, já que não tem obrigação alguma e é tratado como um ser intocável protegido por promotores de justiça e conselheiros tutelares que não sabem o inferno que é dar aula para quem não quer estudar e faz o possível para atrapalhar quem queira.

Some-se à isto pais omissos e famílias que não se importam com educação achando que seus rebentos são meros consumidores de educação.

Nas listas de melhores escolas brasileiras, se destacam as de viés militar, onde o aluno é sujeito a uma hierarquia e um conjunto de regras de disciplina. Ou seja, não é difícil constatar que o problema do ensino no Brasil não está no currículo, está na forma com que a sociedade brasileira o encara.

O ensino será tão mais eficiente quanto menos politizado, mais imparcial e mais disciplinado. Quando o Brasil entender que o aluno não é consumidor de ensino, mas agente dele, o currículo adotado será o menor dos problemas educacionais.


6 de set. de 2016

OU REFORMA A PREVIDÊNCIA OU OS IMPOSTOS AUMENTAM


O Brasil foi por muito tempo um país de jovens. Nossas taxas de natalidade eram tão altas que na década de 60 criou-se o atual sistema previdenciário unificando vários institutos (IAPI, IAPETEC,IAPC, etc...), contando com a conta generosa de mais de 4 pessoas ativas financiando uma inativa, com a  (boa) intenção de universalizar o direito à aposentadoria, que até então era muitas vezes um sonho, especialmente para trabalhadores rurais, e uma realidade para algumas classes específicas de trabalhadores urbanos. 

Não faz muito tempo, aposentar-se não era mais que ter muitos filhos para o amparo na velhice.

Aquela reforma radical de 1966 não mudou muito a situação do funcionalismo público, pois muitas categorias já tinham o direito a se aposentar sem contribuir com absolutamente nada durante a vida, bancadas pelo Estado, outras, podiam se aposentar ganhando mais que na ativa, o que se manteve intacto até o governo FHC, apesar da tímidas tentativas de alteração nos governos Sarney, Collor e Itamar.

A Constituição de 1988 criou um problema colossal. Além de especificar o piso de um salário mínimo para o benefício previdenciário, dobrando a remuneração dos aposentados rurais, ela unificou os sistemas de contratação de funcionalismo. Existia o estatutário e o celetista, aquele, destinado às carreiras de Estado (procuradores, juízes, auditores fiscais, etc...) este, aos funcionários da burocracia comum, os escriturários, os atendentes, os motoristas, etc... 

Por óbvio que na esteira da demagogia que marcou o processo constituinte, a unificação se deu pelo sistema mais vantajoso para os funcionários, e, de um dia para o outro, um motorista passou a ter os mesmos direitos previdenciários de um procurador de justiça, como aposentar-se com salário integral, o que foi a decretação pura e simples da quebra do Estado brasileiro, que já vinha cheio de problemas pela crise do petróleo na década de 70.

E é fato inconteste: hoje, a maior parte do déficit da previdência decorre da generosidade dela para com os funcionários públicos, não exatamente para quem ganha salário mínimo ou se aposenta com média salarial. E não foram poucas as medidas de contenção disto, como iniciar a cobrança de contribuições deles e inclusive, fazer uma tímida unificação dos sistemas para os funcionários contratados a partir de 2013, com aposentadoria máxima de R$ 5.128 para todos, o que mesmo assim não afeta a todo o funcionalismo, porque estados e municípios podem criar regras próprias mais generosas, em todos os casos, apenas para os novos concursados, sendo que, na crise atual, os mesmos estados previdenciariamente tão generosos quanto quebrados (RS e RJ, por exemplo), já insinuaram que pretendem transferir seus rombos para a previdência social federal.

Acontece também que o Brasil vive crise econômica e social constante. 

Pode não ser fácil de vincular uma coisa a outra, mas o fato é que o descontrole constante das contas do Estado que paga mordomias demais, gasta demais com obras superfaturadas, perde dinheiro constante com estatais  e não consegue ter eficiência de gestão, impuseram à sociedade uma conta de aumentos habituais de impostos e de burocracia, piorando indicadores como inflação e desemprego, gerando carestia e efeitos colaterais, como êxodo rural (que por sua vez gerou o crescimento desordenado de cidades) e a entrada maciça das mulheres no mercado de trabalho (se bem que este também é fruto da evolução da sociedade) para gerar renda adicional para manter as famílias, embora o pior efeito seja o pouco empreendedorismo do brasileiro, que não consegue enfrentar os desafios de criar empresas e gerar empregos e riqueza com tanto carimbo, taxa e obrigação a observar. Esse pouco empreendedorismo leva à aposentadoria tão logo obtidas as condições legais para tanto, e muitas vezes, pessoas capazes passam à inatividade porque não querem criar uma empresa ou assumir algum tipo de empreendimento.

A violência é outro fator que pressiona a previdência. A cada pessoa que se acidenta no trânsito, pode corresponder um auxílio-doença ou uma aposentadoria por invalidez, a cada indivíduo morto numa luta de traficantes, pode significar uma pensão para a viúva e/ou os filhos e ao mesmo tempo, em cada situação desta, perde-se alguém muitas vezes em idade econômica ativa que deixa de contribuir para o sistema.  A violência gratuita e descontrolada torna o SUS e a previdência simplesmente reféns das leis frouxas que não punem infrator nenhum mas causam prejuízos à toda sociedade.

As recessões seguidas e o crescimento econômico pífio e descontinuado tornam a média de crescimento do PIB baixa demais para o tamanho do país e de sua população. A geração de empregos se concentra nos de baixa qualidade, que ocupam pessoas sem maior qualificação e que são os primeiros a serem extintos nas crises cíclicas, que acabam pressionando a previdência por levar mais pessoas a pedirem aposentadoria precoce, mesmo com corte de valor, para substituir a renda perdida do trabalho.

Hoje, a relação entre quem contribui e quem recebe é de no máximo 2 x 1. Mais do que isso, mais gente tem direito à aposentadoria, basicamente porque o sistema não foi ajustado quando era preciso e manteve-se generoso ao autorizar benefícios precoces para pessoas que muitas vezes contribuíram por no máximo 30 anos, chegando a recebê-lo por bem mais tempo que isto.

O resultado de todos estes fatores é que o déficit da previdência aumenta exponencialmente. Era de 50 bilhões há 3 anos atrás, no ano que vem, é projetado para 180. Enquanto havia crescimento mesmo tímido da economia, era possível levar o problema com a barriga, mas com a situação criada a retração econômica causada no governo Dilma, criou-se um déficit descontrolado e a reforma passou a ser urgentíssima.

Acreditar que uma reforma previdenciária pode ser feita gradualmente e com regras generosas de transição é simplesmente ignorar que o Estado brasileiro é deficitário mesmo sem o rombo da previdência. Ou seja, há dois déficits que precisam ser cobertos, o da administração em si e o da previdência, o que agrava dramaticamente a situação de um país que, graças às suas práticas pouco capitalistas, pouco honestas e cartoriais em todas as áreas da economia, depende demais do investimento público para obter crescimento econômico, já que não é capaz de construir marcos regulatórios e dar segurança para investidores privados.

Assim, o problema da previdência passa a ser de viabilidade pura e simples do Estado. Se ele não for atacado com déficit crescendo nos índices atuais, reforma nenhuma e nenhum processo de eficiência administrativa vai solucioná-lo. Enquanto o rombo administrativo pode ser atacado demitindo funcionários em confiança, privatizando estatais inúteis e acabando com mordomias, o previdenciário não, as pessoas que recebem do INSS simplesmente dependem do benefício para subsistência, não se pode simplesmente cortar suas remunerações, que são a despesa primordial do sistema.

Ou seja, sem reforma, a previdência necessitará de novos impostos para ser mantida. É a única alternativa e mais que isso, uma alternativa grave, porque não se limitará à uma CPMF de 0,38% que gere apenas 90 bilhões de reais por ano, já que o déficit para 2017 deverá ser o dobro disso. 

É um problema que a sociedade brasileira não atacou quando devia, porque preocupou-se demais em manter os benefícios pessoais nele envolvidos, e esqueceu que eles só existem em razão de uma estrutura coletiva. Sendo eleitoralmente espinhoso, sempre foi deixado de lado pela classe política, mas nunca houve no passado tanta dificuldade em criar novos impostos como hoje, com a estagnação geral da atividade econômica de um país emergente com taxas tributárias da Escandinávia e serviços públicos péssimos que o povo não reconhece como justificadores da conta.

Agora, porém, a solução é uma, ou outra, não parece haver margem para mais uma reforma parcial a empurrar o problema para outro governo. Se a reforma da previdência não sair, será inevitável que se criem e aumentem impostos para cobrir o déficit, porque a alternativa será simplesmente não pagar os aposentados, o que geraria outra crise ainda mais grave, tanto social quanto política, já que os maiores benefícios pagos pelo INSS são todos para altos e politicamente influentes ex-servidores públicos.

É a reforma ou o aumento de impostos.

1 de set. de 2016

SITUAÇÃO GRAVE, RISCO (AINDA) ALTO


Eu mesmo demorei para me convencer disto, mas o PT e seus partidos auxiliares (PSOL, Rede, PC do B, PDT, PSTU, PCO)  pregam uma democracia de fachada para se adonarem da coisa pública como fizeram na Venezuela e empreendem na Bolívia, no Equador e na Nicarágua. Os demais partidos, por sua vez, usam a democracia para fazer valer seus interesses paroquiais, embora não atentem contra ela naquilo que não os afeta.

A única coisa inteligente que Dilma Roussef conseguiu falar nesses 9 meses de processo de cassação, foi sobre a fragmentação política, que impõe um acordo com mais de uma dezena da partidos para montar uma base parlamentar, ao passo que no governo FHC isso se dava com apenas 3 legendas. Um governante brasileiro se obriga a compor com inúmeras lideranças partidárias, tornando o processo legislativo e decisório difícil pela necessidade de atender demandas muitas vezes contraditórias entre os próprios "aliados". Dilma foi a prova maior disso, porque durante seu governo não teve a competência nem de conseguir unanimidade dentro de seu próprio partido.

É fato, porém, que essa fragmentação foi incentivada pelo PT e por Lula. A criação do PSD de Gilberto Kassab ocorreu com a intenção clara de tirar parlamentares do DEM, partido que o ex-presidente jurou de morte e que foi o único que sempre fez oposição aos governos do PT.

A fragmentação política empreendida por Lula retirava parlamentares de partidos de oposição e driblava as leis de fidelidade partidária, atendendo inclusive a uma demanda das ditas "esquerdas" que é justamente a de inviabilizar partidos e focar a política nos nomes, na personalidade do proprietário de cada legenda. 

Mal ou bem, o PT tem e sempre teve um líder incontestável, Lula, como os comunistas da Rússia tiveram Lênin e Stálin, como os revolucionários cubanos tiveram Fidel, como Evo Morales, Hugo Chaves, Rafael Correia, Nicolau Ceaucescu, Tito e os ditadores norte-coreanos. O personalismo é essencial para um projeto de poder que pretenda criar uma fachada de democracia, mesmo que tênue, como havia no Iraque de Saddam Hussein ou há em Cuba, ou ainda, na Coréia do Norte.

As esquerdas nunca triunfam em países em que os partidos são mais fortes que seus líderes. Em todos os lugares em que existem estruturas partidárias consolidadas, a esquerda até governa, mas não consegue se adonar do Estado como fez na América Latina nos últimos 20 anos.

Digo tudo isto porque o "impeachment" de Dilma Roussef soluciona apenas um dos muitos problemas que o país continua enfrentando. Sim, não temos mais uma presidente arrogante e incompetente a meter os pés pelas mãos sem capacidade de articular qualquer apoio político. Mas ao mesmo tempo, ainda temos dezenas de partidos, cada um deles com interesses específicos pressionando os governos em todas as esferas, impedindo reformas estruturais e prontos a vender seu "apoio" pelo melhor preço.

Temer não é exatamente uma boa solução para nada. Ele é um mal menor que chegou ao poder dentro do esquema de fragmentação montado por Lula. e, portanto, também com interesses paroquiais bem anotados na agenda. Se é verdade que o processo de cassação foi constitucional e, portanto, não foi golpe, também é fato que o interesse do PMDB também é de nunca apear do poder, o que o deixa aberto a qualquer proposta, inclusive uma de voltar a aliar-se ao PT e seus partidos asseclas, diretamente ou não.

Nada impede que Lula articule uma nova coligação sem cor ideológica e volte ao poder para retomar a tentativa das esquerdas em se adonarem do Estado para perpetuarem-se no poder, porque o PMDB demonstra não entender este perigo. Se o ex-presidente não for preso ou desconstruído com eficiência, vai se aproveitar da crise que ele mesmo, Lula, em conluio com Dilma, criaram e entregaram para o governo de Michel Temer, que terá que, no mínimo, propor reformas duras e medidas impopulares (como a CPMF, por exemplo) para tentar tirar o país da paralisia econômica causada pela inviabilidade de um Estado que passou décadas gastando mais do que arrecadava em benefícios pontuais para certas carreiras do funcionalismo público e certos setores da economia.

A situação ainda é grave. O risco para a democracia (não a de fachada), alto. 



31 de ago. de 2016

A LATA DO LIXO DA HISTÓRIA



A máquina de propaganda do PT fez muita gente acreditar*, mesmo transitoriamente, nas mentiras que o partido usou na busca da perpetuidade do poder. 

Hoje sabemos que o marqueteiro João Santana era onipresente na cúpula decisória, ele ditava a forma de de apresentar os planos e resultados de governo, de tal modo à sociedade acreditar que o país melhorava em índices espetaculares em todas as áreas, a despeito dos números reais serem não mais que tímidos, ante a fatores externos que possibilitariam bem mais do que o que foi conseguido.

Usava-se do enorme poder publicitário do governo federal para mentir e repetir incessantemente a inverdade transformando-a em fato, mesmo que não demonstrado, o que conseguiu levar à impressão de sucesso para um país que não fez nenhuma reforma estrutural que pudesse justificar sua saída do limbo das nações economicamente ineficientes.

O Brasil não reformou a previdência social, não reavaliou seu sistema tributário caótico, aumentou (em muito) a burocracia já insana e não teve nenhum cuidado com contas públicas a ponto de tornar corrente a prática da contabilidade criativa deslindada no processo de impeachment em curso. Inchou-se o Estado de ministérios e cargos em comissão e confiança que drenaram recursos públicos para agradar máquinas partidárias, não se buscou eficiência nem qualificação, todas as políticas governamentais resumiram-se às mentiras da propaganda e à mais rasteira troca de favores, tenha sido entre os próprios políticos e mesmo com o próprio eleitorado.

Aproveitando-se da demanda global de commodities, o Brasil experimentou aumento constante de arrecadação (e carga) tributária ao mesmo tempo em que as despesas aumentavam acima disto, sem freios, sem nenhuma possibilidade ou vontade de serem contidas para evitar que numa crise o Estado quebrasse. Quando a arrecadação caiu, o Estado simplesmente se tornou inviável.

Em 13 anos de governo, o PT simplesmente acreditou nas mentiras que propagou. Usou a descoberta do Pré-Sal para dizer que o país seria exportador de petróleo, o que transformaria a Petrobrás na maior companhia petrolífera do mundo. Usou de estimativas hiperdimensionadas para dizer que a China pretendia investir 140 bilhões de dólares por aqui, quando nunca houve nenhuma declaração do Estado chinês neste sentido. Prometeu Copa do Mundo e Olimpíada que alavancariam o turismo e os serviços definitivamente. Afirmou que a transposição do Rio São Francisco acabaria com o problema das secas no Nordeste, chegou a comemorar a construção em apenas 5 anos de um faraônico trem-bala que custaria somente 14 bilhões de reais. Nada, absolutamente nada disto se realizou, nem chegou perto de acontecer, foi apenas megalomania de um grupo político que acreditou que nunca mais deixaria o poder, porque pensava ser o detentor exclusivo da verdade e da virtude, o que justificaria suas falhas morais comprovadas no trato com empresários que atendem a coisa pública.

Lula, o grande timoneiro desta viagem quimérica acreditou no sonho criado pelo marketing e se viu como o Midas que daria sucesso a tudo o que tocasse. De uma piada do presidente dos EUA, acreditou ser "o cara", e constatando à contra-gosto que não seria capaz de conseguir uma emenda constitucional para reeleger-se indefinidamente, tratou de escolher sua sucessora não pela competência, mas justamente pela mediocridade de aceitar ser conduzida. Lula queria alguém manipulável para continuar a governar mesmo que informalmente. Ele podia ter escolhido quadros capazes do PT para lhe sucederem. Havia Jacques Wagner, Arlindo Chinaglia, Antonio Palocci, Tarso Genro e Aloisio Mercadante, mas a escolha recaiu sobre a mais medíocre da lista, que inclusive, nem era do partido até pouco tempo antes, Dilma Roussef.

E quando ela assumiu a Casa Civil, a máquina de propaganda imediatamente passou a tratá-la como a "gerentona" que recuperava a credibilidade abalada do governo por conta das inexplicáveis derrapadas legais e morais do seu antecessor José Dirceu. E mais do que isso, imediatamente após sua posse, ela passou a ser tratada como candidata. e Lula elegeu e reelegeu uma das pessoas mais incapacitadas, se não a mais incapacitada, que já ocupou a presidência do Brasil. 

Arrogante, eivada da soberba por acreditar-se superior em sendo a primeira mulher a ocupar o mais alto posto executivo do Estado mesmo tendo sido tratada como "poste" nas piadas do seu criador, Dilma Roussef assumiu o poder e trocou os pés pelas mãos, até porque não foi capaz sequer de cumprir o prelado de seguir as orientações de seu poderoso antecessor. Rebelando-se, governou com sucessivas alterações de ministérios, conduziu desastrosamente a economia e as finanças públicas. Praticou a presidência com ausência de propostas, viagens suntuosas, discursos destituídos de sentido, negação de problemas como as crises hídrica e elétrica com direito a redução de tarifa a quase inviabilizar o sistema, e tarifaço de contas públicas para corrigir os próprios erros na mais pura e simples negação de responsabilidades, o que repetiu na nomeação de dirigentes de companhias estatais afundadas em escândalos grotescos de corrupção, afora a incoerência em tentar explicar o caso de Pasadena.

No momento em que escrevo, não sei se Dilma Roussef será mesmo cassada. Talvez, dentro de 4 ou 5 horas, ela seja reconduzida ao cargo colocando o país em uma crise política e econômica ainda mais grave, profunda e desesperadora que a legada até agora pelas mentiras incessantes do Partido dos Trabalhadores, que nada mais queria que montar uma estrutura que o tornaria financeiramente invencível em todas as eleições, usar o poder para financiar a manutenção do poder. 

Os crimes fiscais que cometeu foram apenas a intervenção da Divina Providência para que fosse possível dar-se um basta a um processo de destruição do Estado pela apropriação dele por um partido.

No entanto, já se pode afirmar que Dilma Roussef já ocupa seu lugar na lata do lixo da história. Será lembrada para sempre como a arrogante que chegou ao poder pela vaidade do seu antecessor e que acabou acelerando por seu próprios atos falhos a descoberta da narrativa mentirosa que o Brasil experimentou desde o fatídico ano de 2002.

Se há aspecto positivo em toda essa sujeira, é apenas a rebelião do povo brasileiro que foi às ruas protestar contra um governo que lhe roubava o futuro que ele mesmo prometia glorioso, um povo que, apesar de seus inúmeros defeitos, exigiu o funcionamento da instituições e levou ao lixo da história quem pretendia se apropriar dela.

(*) Este que vos escreve, inclusive, embora apenas transitoriamente.

22 de ago. de 2016

E O QUE SERÁ DO ESPORTE BRASILEIRO?



Acompanho olimpíadas desde 1980. Vi muita medalha perdida por despreparo emocional, gente chorando antes mesmo de começar a competir assustada com a cobrança incessante por medalhas praticada por certa rede de TV. Ouvi discursos chateados com o desempenho ruim, presenciei o conformismo por quartos, quintos e sextos lugares, quando o discurso era de pódio.

Posso dizer que alguma coisa mudou em 2016. O Thiago Braz botou pressão no favorito saltador francês porque queria o ouro. Vi o sangue frio da  Rafaela Silva mesmo depois do racismo do qual foi vítima em, Londres, 2012. A fé das meninas da vela no seu conhecimento da baía de Guanabara, mudando o percurso para serem campeãs. O Robson Conceição e o Maicon Siqueira partirem para cima dos adversários. Desta vez eu vi sangue nos olhos, gente que não estava contente apenas por estar ali ou por frequentar a vila dos atletas, atletas com o objetivo definido de vencer.

É certo que olimpíada em casa melhora o rendimento do atleta. Mas o Brasil teve ótimos resultados em várias modalidades em que jamais sonhara pontuar até então. Inegável que evoluiu, apesar de ser óbvio que houve um investimento direto em atletas de alto desempenho, já com resultados que indicavam a capacidade de fazer boa campanha, coisa que todo o país que sedia olimpíada faz.

Também é certo que muitos atletas brasileiros tremeram nesta Rio 2016 tal qual aconteceu muitas vezes no passado. Muita gente boa e favorita não conseguiu vencer a pressão, o que não faz deles maus atletas, mas exige do país que os ajude a melhorar sua preparação e aprenda de uma vez por todas que derrota não é o fim, pode ser um recomeço como o de Diego Hypólito.

O medalhista de hoje é o cara que vai atrair gente para o esporte que ele pratica. O medalhista de hoje pode ser o técnico ou o dirigente do amanhã, ele pode ser o cara que vai mudar a face daquela modalidade para sempre.

Foi assim no vôlei. Carlos Arthur Nuzmann não foi medalhista, mas sabia a fórmula de criar ídolos para fomentar a modalidade. O vôlei passou a ter rostos e nomes, caras com quem se identificar como Bernard, Renan, Montanaro, William e Bernardinho. E nós então pudemos comentar o "Jornada nas Estrelas" e o "Viagem ao Fundo do Mar" e ver o Brasil vencer a URSS em pleno Maracanã lotado e abaixo de chuva.  Aquela prata de 1984 valeu muito mais que ouro, ela transformou o vôlei em mania e o ouro em objetivo. Hoje nós temos jovens que querem praticar vôlei e fazer carreira nele, e aprendemos isso tão bem que ajudamos a criar outra modalidade de vôlei olímpico, a de praia. E na Rio 2016 o vôlei fez bonito, trouxe 3 medalhas, emocionou o país com o ouro da seleção de quadra e nos causou aquela tristeza enorme não pelo fracasso das bi-campeãs olímpicas, mas porque sabíamos que apenas uma derrota às separou da medalha, derrota esta contra uma seleção do mesmo nível.

É óbvio que o esporte brasileiro será desafiado como nunca antes a partir de agora. Temos o desafio de fomentá-lo na base a partir dos heróis que criamos ao financiar o atletas de alto rendimento. Temos o desafio ainda maior de ocupar, utilizar e manter as instalações caríssimas construídas para a Rio 2016. Temos que vencer o descaso dos governos e a corrupção das federações. Temos que conseguir espaço permanente de mídia para todas as modalidades, precisamos de patrocínio privado. Temos que levar o esporte para as escolas do país inteiro e voltar a ensinar os valores da disciplina e do esforço pessoal que o sistema educacional brasileiro perdeu quando abdicou do mérito, empurrando alunos de série para série sem exigir desempenho.

Podemos aproveitar o lado bom daquelas vaias feias que promovemos nas quadras da Rio 2016, que é a vontade férrea de vencer e o inconformismo com a derrota sem luta que nos espreitou no futebol masculino, aprender a cobrar e sermos cobrados, a pedir e dar satisfações, a fugir das desculpas e aprender com os erros. 

Temos que aprender que competir é antes de tudo uma escola de cidadania, onde se moldam bons homens e boas mulheres, que aprendem suas responsabilidades, que respeitam o próximo, que sabem a importância do que fazem para um todo. O esporte pode trazer decepções eventuais, mas no geral ele fomenta o sucesso de uma pessoa.

É um grande desafio, é do tamanho da nação que os brasileiros bons, honestos e trabalhadores querem ter.



9 de ago. de 2016

COMPLEXO DE VIRA-LATA



"Complexo de vira-lata" é uma expressão do genial Nelson Rodrigues que foi muito bem aproveitada pelos políticos e governantes brasileiros para esconder sua incapacidade em fazer as coisas direito, sem roubar o contribuinte, e transferir a culpa de seus atos falhos para o suposto eterno mau-humor nacional consigo mesmo.

É a tal coisa, prometeram um legado que não foi entregue na Copa do Mundo? Complexo de vira-lata, povo chato! Os estádios da copa viraram elefantes brancos? Complexo de vira-lata, ô povo que só vê o lado ruim das coisas! A baía de Guanabara não foi despoluída como prometido para a olimpíada? Vira-lata, onde já se viu esse povo reclamar de poluição? Não tem saúde, nem educação, nem segurança pública, o brasileiro tem medo da vergonha que pode passar com os estrangeiros que vêm ao país? Bando de complexados, tudo se resolve com malemolência, jeitinho e um sorriso no rosto, quem não pensa assim tem complexo de vira-lata!

Quando as coisas não dão certo e as críticas estão pesadas, entram em campo as desculpas clássicas: Fizemos do nosso jeito, dizem alguns. Outros dizem que fizemos o que pudemos. Outros, ainda, dizem que no exterior também houve problemas em situação parecida. 

Admitir que as expectativas que criaram foram muito superiores ao entregue, nem pensar, é coisa de vira-lata achar ruim que o país prometa muito e não cumpra nada, que atrase, que cobre mais caro, que não se organize, que deixe tudo para a última hora. Só passa vergonha o vira-lata, esse cara chato que tem essa mania irritante da excelência, de querer ver as coisas funcionando e de saber o que se faz com o dinheiro que paga de impostos.

E assim vamos, o povo é complexado, é vira-lata. Os políticos e governantes, não. Estes podem superfaturar, prometer, descumprir, prevaricar, roubar, negar, errar, falhar, serem irresponsáveis, não observarem prazos nem orçamentos, não seguir regras de segurança... nada, coisa nenhuma é responsabilidade deles. Se o viaduto caiu é culpa da construtora, se a ciclovia matou é porque a ressaca estava forte, eles não fazem nada errado e sempre tem algum otário para dizer que o brasileiro sofre do complexo de vira-lata na linha de um tenho orgulho do meu país e nojo do vira-lata que vê defeito em tudo

Reclamar e pedir bom uso do dinheiro dos impostos no Brasil virou complexo de vira-lata. É simples, é eficiente e conveniente. Afinal, não tem coisa que deixe um brasileiro mais chateado que não parecer legal e chique, ele não gosta de ser rotulado, brasileiro é cosmopolita por natureza, dá nó em pingo d'água, se adapta em qualquer lugar...  se reclama é vira-lata, é chato, tem mania de achar que tudo aqui é ruim.

Coitados dos simpáticos vira-latas, cães muitas vezes largados no mundo, sofrido mas espertos, fiéis aos donos e que pouco pedem, sempre abanando a cauda ao menor sinal daquela mais básica atenção que merecem e nem sempre ganham. Viraram símbolo de brasileiro chato, mas escudo de político ladrão e incompetente!


8 de ago. de 2016

ESPORTE É DISCIPLINA, MEDALHA É BÔNUS


Ensinar esportes não deve ser uma busca por medalhistas, precisa ser um exercício de cidadania. 

O Brasil tem um povo vaidoso com um governo que se aproveita disto. Achamos que vitórias, medalhas e títulos diminuem nossos problemas, quando em verdade só aliviam nossa sensação de impotência ante a tantas coisas que não resolvemos porque nossos políticos não tem nem competência, nem vontade para atacar.

Incorremos no erro de buscar os fenômenos individuais das modalidades para fazer deles medalhistas e celebridades. Merecidamente eles viram ídolos, tais como Gustavo Kuerten, Joaquim Cruz, Flávio Canto, Hortência, Gustavo Borges, Daniele Hipólito, Servílio de Oliveira, etc... Daí eles se aposentam, e o esporte diminui ou desaparece do cenário porque não aparecem fenômenos todos os dias e eles sozinhos não deixam uma tradição no ensino da modalidade não porque não queiram, mas porque seu país valoriza demais os resultados e de menos o trabalho de formação e a pura e simples prática recreativa. 

É preciso ensinar esportes para as crianças e adolescentes todos os dias e mais do que isso, mostrar para eles todo tipo de modalidade, informá-los das muitas possibilidades, dar-lhes a opção de conhecer  e despertar interesse para o que tenham vocação, se é que à tenham.

Escrevo isso em época de olimpíada, para dizer que esporte é antes de tudo uma  parte da formação de um bom cidadão, devia ser um elemento importante e obrigatório do sistema educacional, representando a procura por disciplina e saúde.

Não se deve ensinar esportes nas escolas focando nos resultados, mas para mostrar as boas coisas que ele retorna à pessoa. O aluno que aprender esportes na escola e tiver o talento, naturalmente acabará adotando a profissão de atleta, vai treinar e buscar resultados. É assim nas potências esportivas, elas formam cidadãos melhores que aprendem a seguir regras, respeitar os adversários e praticar por prazer, ao mesmo tempo em que formam atletas de sucesso potencial.

O professor Paulo me acompanhou desde a segunda série do primário até a primeira do colegial. 

Boa praça com os alunos, amigão de todo mundo, não havia gente na escola que não gostasse dele. Era o professor da diversão, do futebol, do basquete, do handebol, das corridas e dos passeios à pé pela cidade. Quando precisava de silêncio dizia um "tá agitada, Creuza?" e sendo a sala quase sempre só de garotos, voltava ao silêncio, segurando o riso. 

Mandava fazer trabalhos sobre esportes, tínhamos que pesquisar regras, atletas e competições. Quando chovia, aproveitava esses trabalhos e fazia brincadeiras de perguntas e respostas, perguntava dos resultados das olimpíadas, dos panamericanos, da copa, do campeonato brasileiro. Os alunos aprendiam regras, conheciam os astros do esporte, se divertiam nos erros das equipes alheias, mas sempre em silêncio, algazarra só era permitida até ele fazer a próxima pergunta. 

Um dia os alunos estavam agitados. Era para montar 4 times para um torneio de handebol, naquela linha de ir escolhendo e deixando os piores para o final. O problema é que por mais que ele pedisse silêncio e mandasse parar com as palhaçadas, não conseguia. 

Daí se irritou. Apitou forte, disse que o handebol estava cancelado e mandou formar duplas com o aluno que estivesse mais próximo. Seguiu-se a pior sequência de exercícios que eu e todo mundo ali tinha feito na vida. Abdominal, carrinho (consistindo em um dos alunos segurar as pernas do outro e atravessarem a pista com os  braços fazerem as honras da roda, trocando para voltar), corrida em torno da escola e um monte de outras atividades chatas que ninguém gostava.

No final da aula, todo mundo exausto, uns olhando pros outros com cara de culpados, foi curto e grosso: sem comportamento, todas as aulas seriam iguais àquela. E nunca mais, inclusive nos anos seguintes, aconteceu de alguém cair na besteira de sair da linha.

Mesmo eu, que sempre fui um desastre completo em todos os esportes, sempre tive empatia, era um professor que nos ensinava um valor que não esqueci nunca, o da disciplina em observar regras por ser parte de um todo.

Eu e meus colegas aprendemos boas coisas sobre o esporte. Não saiu daquele colégio nenhum campeão de nada, mas bons universitários, bons pais, bons profissionais, bons funcionários, bons cidadãos. Gente que, via de regra aprendeu a respeitar para ser respeitado.

Esporte é muito mais o que o professor Paulo nos ensinava do que resultados, medalhas, glórias e aparições da TV. Esporte é escola de disciplina. Medalhas e vitórias são um bônus para quem aprende a fazer dele um gerador de cidadania.

5 de ago. de 2016

A OJERIZA A EQUILÍBRIO FISCAL



A união e os estados em crise, como o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, tem em comum o fato de acumularem déficits por décadas à fio, sem preocupação alguma com equilíbrio fiscal e abusando da prática nacional de empurrar os problemas com a barriga.

No Brasil, as sucessivas crises fiscais sempre foram tratadas a partir do ponto de vista da receita, nunca do problema real, que é a despesa. A solução clássica para os apertos fiscais e para atender às exigências de órgãos de socorro como o FMI sempre foi de arrancar mais dinheiro da sociedade, nunca adequar o tamanho do Estado ao da receita.

A última grande reforma administrativa do país deu-se em 1967 (veiculada pelo famoso decreto-lei nº 200).

A folha de pagamento da União e de muitos estados cresce vegetativamente sempre acima do crescimento da receita, que por sua vez cresce quase todos os anos acima de qualquer índice de inflação, decorrência de manobras fiscais criminosas como a não correção das tabelas dos impostos progressivos como o IRPF e o Super Simples, da criação de taxas para absolutamente tudo, do puro e simples aumento e criação de novos impostos ou ainda pelo aumento da burocracia que por sua vez gera receitas indiretas porque causam a necessidade das empresas contratarem serviços adicionais que também pagam impostos.

A carga tributária do Brasil girava em torno de 12% do PIB no inicio da década de 80. O governo de João Batista Figueiredo foi o primeiro a enfrentar os problemas fiscais com aumento de impostos, criando o PIS, que inicialmente era um programa social, que depois foi transformado em imposto (contribuição social), sendo que, de incidente sobre folha de pagamento, passou a ser calculado a partir do faturamento bruto das empresas. Tempos depois, já no governo Sarney, criou-se o FINSOCIAL que foi declarado inconstitucional e substituído pelo COFINS, com a desculpa de que seria utilizado para financiar a saúde, coisa que nunca aconteceu. Depois vieram vários governos e aumentos sucessivos de todos os impostos. O ICMS que na década de 80 era de no máximo 16%, hoje tem alíquotas que chegam a 25%, sendo que a alíquota básica foi definida em 18%, mas o estado do Rio de Janeiro conseguiu uma exceção e cobra 19%, sem contar os penduricalhos, tais como diferenciais de alíquota, que elevam essa conta para bem mais que 25% contados na ponta do lápis. Hoje a carga tributária oficial é de 38% do PIB, mas dependendo da forma de cálculo, ultrapassa os 40%.

Mas as despesas nunca foram atacadas. No país inteiro, há categorias de funcionários que gozam de coisas como anuênios e licenças-prêmio, algumas categorias chegaram a poder se aposentar ganhando mais que na ativa e na maioria delas, ainda há gente que se aposenta sem redução de vencimentos, apesar das restrições tímidas havidas nos últimos anos.

Nada contra os direitos dos funcionários públicos, o problema é que essa conta nunca fechou e no caso da União, a receita previdenciária cobre o déficit colossal da previdência do funcionalismo público há décadas, prejudicando a segurança atuarial dos aposentados do setor privado, que recebem menos e sujeitam-se a regras cada vez mais exigentes para obter o benefício.

Mas não é só o funcionalismo. Os governos brasileiros, mesmo as câmaras de vereadores mais humildes, dos menores e mais pobres municípios, enchem seus agentes políticos e mesmo concursados de mordomias que vão desde o cafezinho até aviões intercontinentais. São assessores em profusão, carros oficiais, gabinetes suntuosos, viagens, telefones celulares, comitivas, auxílios disso e daquilo e inclusive frotas de aviões e helicópteros que seriam melhor utilizados pelas forças armadas no cumprimento dos seus deveres.

Não há um dia que não se tome conhecimento de um tribunal licitando caviar ou de uma repartição alegando que precisa dar iPhone para seus procuradores. O único freio para tanta bondade é a opinião pública descobrir o processo licitatório nos complexos sites de "transparência", cujas informações são sempre truncadas e indiretas.

O resultado são déficits públicos recorrentes, que são pagos pela sociedade na conta de juros que representa não menos que 30% do orçamento da União. 

Isso quando ela não paga com a mercadoria mais cara que existe, que é o seu bem estar futuro. 

Ontem eu lia um artigo sobre a reforma da previdência e deparei com uma informação de que os estados, especialmente os em crise, pretendem unificar seus sistemas previdenciários com o federal. Ou seja, durante décadas foram generosos com seus funcionários e pouco se preocuparam em contribuir para seus fundos previdenciários serem sadios e com segurança atuarial. Agora, deficitários, querem passar a conta para a União, mas mais especificamente, para os aposentados do setor privado, aqueles que só conseguirão o benefício com 65 anos de idade e 30 de contribuição, e cujos vencimentos podem ser hoje, no máximo de R$ 5.189,82. Os governadores preferem quebrar a previdência de quem recebe um salário mínimo a adequar suas despesas governamentais e sanear seus sistemas previdenciários, eles não querem briga com seus funcionários, preferem transferi-la para que a União se incomode com o problema. 

Embora boa parte dessa briga que eles deveriam ter, seria com sindicatos, órgãos de classe e entidades "sociais" que dizem defender os direitos "dos trabalhadores", mas só defendem mesmo interesse paroquiais e mesquinhos, de certas classes bem organizadas.

Se trata de uma ojeriza sistêmica de políticos e agentes públicos de todas as esferas contra o princípio de equilíbrio fiscal. A idéia geral é de que se deve fazer equilíbrio fiscal, desde que os interesses individuais dos políticos e dos agentes públicos não sejam violados de modo algum. 

Funcionou por bons 194 anos desde a proclamação da independência, mas chegou ao limite. A atual carga tributária e a burocracia insana simplesmente inviabilizam a atividade econômica, causam a informalidade e a insegurança jurídica, prendem a economia do país, impedem o crescimento e forçam à reforma do Estado, que está longe de ser discutida pelo tom do que se ouve entre a classe política do país.

2 de ago. de 2016

VIRAR PESSOA JURÍDICA PODE PREJUDICAR SUA APOSENTADORIA



Nestes tempos em que se discute com 15 anos de atraso uma reforma previdenciária profunda que ataque um dos dois principais problemas fiscais brasileiros, o déficit crescente do INSS (o outro é a conta absurda de juros), não deixa de ser importante discutir o efeito de transformar o empregado em pessoa jurídica.

Para nós, contabilistas, é o melhor dos mundos. O empregado de certa empresa vira pessoa jurídica, nós recebemos os honorários de tabela e ele ainda desconta 11% (quando somos pessoas físicas) do valor que é nossa contribuição previdenciária. Mas para o ex-empregado as coisas não são assim tão simples.

Quando você aceita virar pessoa jurídica, imediatamente tem de pensar em como ficará sua aposentadoria. Um empregado que ganhe R$ 15 mil mensais, contribui para o INSS pelo máximo da tabela, ou seja, ele está pagando para, quando completar o tempo e a idade, aposentar-se com um valor de aproximadamente R$ 5 mil por mês, talvez um pouco menos dependendo de sua média de contribuições. Porém, quando transformar-se em pessoa jurídica, existe o risco de cair no erro de não contribuir mais ou de fazê-lo no modo econômico, de um salário mínimo por mês, remunerando-se pelo lucro apurado em contabilidade, que em princípio é isento de IR e de contribuição para o INSS.

Numa empresa tributada pelo MEI, o ex-empregado obrigatoriamente contribuirá com um salário mínimo, somente um salário mínimo, independentemente de poder faturar R$ 4 mil por mês. Numa empresa tributada pelo Super Simples, ele estipulará o valor do seu pró-labore, que é a parte que conta para efeito de contribuição previdenciária, contribuindo com 11% sobre o valor estipulado. Se a empresa do ex-empregado acabar no sistema normal de tributação (lucro presumido, arbitrado ou real), além dos 11% pagará a contribuição parte empregador, de 20%. 

Imposto de renda continua incidindo da mesma forma sobre os valores.

O ideal é que o funcionário que se transforme em pessoa jurídica avalie bem sua situação. Se ele estiver próximo de se aposentar, deve manter a contribuição que já praticava, por mais caro que isso seja. Se ele ainda tiver muito tempo antes de se aposentar, pode, dentro das regras atuais, contribuir algum tempo com um salário mínimo, muito embora haja consequências em outros aspectos, como no caso de auxílio-doença ou auxílio-maternidade.

O que não pode é acreditar que transformar-se em pessoa jurídica, mesmo com aumento de remuneração não terá consequências futuras.

Aqui, no meu escritório, sempre que aparece um caso assim eu trato de instruir a pessoa no sentido de proteger sua carteira previdenciária. Transformar-se em pessoa jurídica não pode ser apenas uma vantagem para o empregador que se livra de certos custos, nem um alívio da carga de trabalho do empregado que passa a ter mais tempo livre ou menos obrigações (muito embora há casos de transformação em pessoa jurídica para burlar regras trabalhistas).

Previdência e aposentadoria são assuntos espinhosos que, em verdade, só tem sido tratados com cuidado no Brasil há pouco mais de 10 anos. Com as novas regras previdenciárias que certamente virão com a(s) reforma(s) que se aproxima(am), o cidadão terá se pensar na sua aposentadoria desde o primeiro dia de trabalho, o que vai significar fugir da informalidade e assumir o custo de planejar a velhice, que é muito mais importante do que casar, ter filhos ou comprar um carro ou uma casa. 

E isso passa por avaliar com cuidado a possibilidade de transformar-se em pessoa jurídica.

26 de jul. de 2016

CORITIBA: NOVO ESTÁDIO É DISCUSSÃO SOBRE O FUTURO



É sintomático. Quando em campo as coisas não vão bem aparecem propostas de construir um novo estádio ou de reformar o Couto Pereira, o que gera irritação na torcida não só pelo fato de demonstrar pouco foco na atividade-fim do clube, mas também porque geralmente acaba virando discussão vazia, que tempos depois cai no esquecimento, não sem antes haver a divulgação de desenhos e maquetes bonitos e entusiasmantes, que acabam em decepção.

Porém, o fato de todas as diretorias do clube nos últimos 30 anos terem prometido coisa assim sem cumprir, não pode excluir a discussão do assunto, porque ela é, em essência, uma projeção sobre futuro da instituição. 

Sim, é preciso que o Coritiba Foot Ball Club discuta de modo sério e objetivo o futuro do seu patrimônio, e que considere não só as opiniões da torcida, mas também dos sócios, dos conselheiros e dos diretores, além, claro, de pessoal qualificado para avaliar negócios e suas viabilidades.

Não se faz negócio sem objetividade. Negócios que projetam um futuro fantasioso, a partir de premissas falsas quase sempre dão errado. Negócios que consideram demais as paixões dos envolvidos, idem. Negócio é por definição, algo simples e direto, que considera o risco a partir de fatos e projeções objetivos, alheios às emoções.

Temos fatos objetivos já sabidos que podem ser trazidos à discussão:

a) Hoje, o clube tem como moedas de troca em um negócio como este, que não será inferior a 500 milhões de reais, a propriedade do CT Campina Grande, do CT Bayard Osna e do estádio, sendo que não pode ser desalojado dos dois últimos antes que uma nova praça esportiva e um novo CT sejam erguidos e entregues em plenas condições de uso. E quando cito isto, é porque estou excluindo de qualquer negócio o uso das verbas de TV, publicidade e bilheteria, que sustentam o clube e não podem ser carreadas para mais nada, sob pena de agravar a má-fase do futebol e inviabilizar o clube a partir do agravamento da situação da sua atual dívida.

b) O município de Curitiba não aprovará a demolição do Couto Pereira. A partir do noticiário havido quando do projeto da W-Torre, sabe-se que o município imporá restrições à construção de novo estádio no local. Fatores como o recuo em relação à rua e a proibição de atividades complementares terão impacto no modelo negocial, de modo que é mais fácil reformar do que erguer nova construção. Porém, isso afeta a viabilidade econômica do negócio, porque também já ficou claro que a região não comporta um shopping-center, um hotel, um centro de convenções e um estádio, todos concentrados ali. É sabido que a prefeitura vetou, porque a região não aguentaria o fluxo de tráfego, além de outros problemas.

c) Não se deve imaginar um negócio em Curitiba, a partir de premissas que valem para, por exemplo, os EUA. Nos EUA, o conceito de estádio afastado das áreas centrais das cidades considera que o evento esportivo é uma oportunidade de passar um dia agradável com a família, não apenas o torcer pelo time. No Brasil temos a cultura da vitória a qualquer custo. Assim, o torcedor chega no estádio mais ou menos na hora do jogo e, se o time está perdendo, sai até antes para ganhar tempo, ou seja, ele não vai ao estádio para experimentar a gastronomia ou passear com a família, ele vai ver o jogo e, se o time perde, vai sair dali o mais rápido que puder. Não há nenhum estádio no Brasil que se mantenha sem a necessidade de agregar pessoas que paguem mensalmente pelo direito de assistir eventos nele, e os shows e eventos são considerados como receitas extraordinárias, nunca fixas. Não há no Brasil, estádio que seja um lugar de entretenimento 7 dias por semana.

Claro que há inúmeros outros fatores, alguns deles indecifráveis, como por exemplo, a quantidade de público que a mudança de endereço ganharia ou perderia, o que aconteceria com as tradições da instituição que sempre se orgulhou de ocupar o "Alto da Glória", o sentimento em relação ao que muita gente (inclusive eu) viveu nas arquibancadas do Couto Pereira.

Eu penso que a mudança de endereço não diminuiria o amor pelo clube, nem a procura por acompanhá-lo. Muitos clubes tradicionais já mudaram de endereço e outros tantos nem estádio têm e nem por isso perderam torcedores, vide Grêmio (que já mudou-se duas vezes), Flamengo, Fluminense e mesmo Corinthians até pouco tempo. Se o clube estiver bem em campo, o torcedor o seguirá. 

E também imagino que um negócio bem feito terá reflexos positivos em campo, porque se der lucro, naturalmente haverá mais recursos para investir em futebol.

O que não podemos de modo algum, é excluir do clube e da comunidade Coxa-Branca a discussão sobre o assunto porque não gostamos da diretoria, porque temos desconfianças em relação ao Conselho Deliberativo ou ainda porque o clube está mal em campo. Também não podemos limitar o assunto às tradições e à intransigência de ficar no Alto da Glória porque nossos corações ficariam apertados com o fim do Couto Pereira. Se pensarmos sempre assim, o clube não evoluirá, porque desconfianças e boas lembranças sempre existirão entre os Coxas.

O mundo evolui, não é diferente com o futebol. Na década de 70, o gigantismo do Couto Pereira fez o Coritiba virar um clube de expressão nacional não só porque os Coxas pagavam ingressos, mas porque nossos rivais pagavam para jogar os grandes jogos em nossa casa. Hoje, isso não existe mais, o modelo de negócio tem que mudar, temos que viabilizar estruturas de treinamento modernas para as categorias de base, temos que criar fatores que aumentem a visibilidade da marca Coritiba e que impulsionem as vendas de produtos dela. É o futebol moderno, é o mundo de hoje que se impõe. É a competitividade que caracteriza o tempo em que vivemos que nos obriga a discutir essas coisas, sob pena de simplesmente desaparecermos do mercado.

A alternativa à isto é simples: voltemos ao amadorismo, renunciemos a tudo o que é moderno e profissional e aceitemos um clube tradicionalíssimo, que jogue apenas torneios suburbanos.

A discussão tem que ter menos paixão e mais objetividade.

25 de jul. de 2016

A VIOLÊNCIA BRASILEIRA DESCONTROLADA



Mais de 50 mil assassinatos por ano, tiroteios, mortes e ferimentos causados por balas perdidas, explosões de caixas automáticos, assaltos cinematográficos a bancos e transportadoras de valores, guerras entre traficantes, pichações  por todos os lados, manifestações políticas que vandalizam patrimônio publico e privado e que ofendem os valores mais básicos de pura e simples educação ao estar em publico, brigas entre gangues de rua, desrespeito às mais básicas regras de convívio social, violência contra mulheres, explosão de casos de pedofilia, homofobia, racismo, xenofobia, maus tratos a animais, separatismo político, abandono de idosos, trânsito caótico e mortífero, corrupção generalizada em todas as esferas da administração pública, tráfico de drogas, de armas, de escravos, de crianças e de animais silvestres.

Uma guerra civil não declarada. Absolutamente nada no Brasil está livre da violência descontrolada causada pelo excesso de leis paternalistas que consideram o bandido como uma vítima da sociedade, não como um destruidor dela, com direito aos mais variados recursos, à prescrição e à todo tipo de perdão, e inclusive, com o direito de culpar a vítima, com a possibilidade de algum parlamentar lhe tomar as dores.

No Brasil o indivíduo abre o porta-malas de um carro de som em frente de um hospital as 3 da madrugada e promove uma "rave" com muito álcool e drogas. Se instado a acabar com a baderna, ele agride a pessoa que pediu clemência pelos adoentados, e, na remotíssima possibilidade da intervenção da polícia, nem preso ele vai. e, quando é chamado à Justiça, paga pelo crime com uma cesta básica doada a algum miserável escolhido pelo juizado especial.

E nossos maiores astros do "show biz" promovem o álcool, o consumismo, o sexo irresponsável e a pura e simples destruição da infância, querendo tornar adultos o mais rápido possível as crianças que serão futuras consumidoras de lixo supostamente cultural como o funk e o sertanejo universitário.

O Brasil está nessa situação porque simplesmente não cultua mais nenhum valor, não adaptou seus conceitos morais à sociedade moderna e urbana. 

É o resultado de um sistema legal tão generoso que um indivíduo que planeja matar a esposa e o faz com requintes de crueldade, é condenado a 30 anos mas não passa mais que 6 em regime fechado e ainda é capaz de pedir a guarda dos filhos com enormes chances de sucesso. 

E décadas martelando na cabeça das pessoas que o policial é tão mau quanto o bandido.

E uma verdadeira obsessão em acabar com a família e com bons costumes, sob a alegação de que impedem que mulheres e homossexuais tenham seus direitos consolidados, 

E leis cada vez mais restritivas de direitos do honestos, como se criminoso tenha apreço por regras de qualquer natureza.

A violência no Brasil está descontrolada porque somos uma sociedade doente, que em certo momento escolheu defender o crime, achando que ele existe porque o país é socialmente injusto. É o resultado de décadas de pensamento ideológico socialista e marxista que não se adapta à uma sociedade eminentemente capitalista, com o resultado claro: o criminoso se prevalece das leis toscas e frouxas e do aparato político desconectado com a realidade por ranço ideológico.


CORITIBA: O MEDO DO FUTURO.

No erro de uma diretoria interina, que acionou a justiça comum em 1989 para não jogar uma partida marcada de má-fé pela CBF para prejudicar ...