31 de mai. de 2010

PATRIOTISMO DE OCASIÃO

A cada 4 anos é a mesma coisa. Bandeiras nacionais nas casas, nos carros, nas janelas dos prédios e nos estabelecimentos comerciais. Ruas enfeitadas em verde-amarelo irradiando ufanismo, gente declarando amor eterno ao país. Músicas em homenagem ao jeito brasileiro alegre e descontraído, propagandas de TV em verde-amarelo exaltando a seriedade da "nação de guerreiros" dispostos a lutar contra tudo e contra todos em busca dos objetivos.

E ao mesmo tempo, a indignação dos justos. A discussão sisuda sobre a não convocação de alguém, a crítica raivosa ao técnico da seleção (seja ele quem for), cujos atos são esquadrinhados e as frases são dissecadas nos mínimos detalhes, porque ele é o vilão nacional, o indivíduo sobre o qual repousa a responsabilidade de atender aos anseios brasileiros de vencer a Copa do Mundo sem perder um único ponto, goleando todos os adversários por no mínimo 3 tentos, sem tomar gols e apresentando futebol-arte.

Eu gostaria que o brasileiro fosse tão inquisidor com nossos políticos quanto é com o técnico da seleção e seus convocados. Gostaria que o brasileiro cobrasse dos políticos por educação, saúde, cultura e segurança pública quanto cobra do Dunga pelo futebol arte.

Eu quero um dia chegar a ver os brasileiros discutindo nas esquinas das ruas, nos bares, nas praças e nas rodas de amigos, as decisões de Luis Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Roussef, José Serra ou qualquer outro político, tal como discute as do Dunga. Eu gostaria de ver gente indignada, chorando de raiva e prostrada de indignação perante os casos escabrosos de corrupção, como vi nas viúvas de Neymar e Ganso. Eu gostaria de ver esta festa cívica colorida e bonita que se arma a cada 4 anos nas datas pátrias, como o 7 de setembro, o 15 de novembro ou o 21 de abril, e não aquelas crianças com cara de tédio por terem de cantar o hino nacional na marra no pátio do colégio.

Esse patriotismo de ocasião me enoja.

A maioria dos brasileiros não se importa com o país onde vive por quase 1000 dias, e de repente, às portas de uma Copa do Mundo, quer demonstrar algo que não sente no tempo certo, ou seja, sempre!

Pintar ruas de verde-amarelo e pendurar bandeirinhas é fácil. Rir de comerciais sobre futebol, decorar a musiquinha da copa, aprender a dança idiota da copa ou falar algumas palavras no idioma da copa... tudo isso é fácil, muito fácil!

Difícil é votar direito e acabar com a carreira de políticos ladrões sem necessitar da nossa (péssima) Justiça, ou seja, simplesmente não reelegê-los a despeito de seus recursos infindáveis para driblar a legislação eleitoral. Difícil é ser guerreiro para combater a disseminação criminosa de álcool entre crianças e adolescentes, para ajudar com ações cívicas na melhoria do ensino, para denunciar os abusos contra os direitos civis, para peitar os prevalecidos que dizem "você sabe com quem está falando?". Difícil é esquadrinhar a vida de candidatos a cargos públicos, entender sua trajetória política, suas realizações, seus erros, suas propostas, suas boas e más intenções. Dífícil é perguntar com quem eles andam e o que pretendem fazer. Difícil é se perguntar e analisar para onde vai o dinheiro dos impostos extorsivos que todos pagamos. Difícil é entender que um prefeitinho ou vereador de m... semi-analfabeto e miserável não pode enriquecer da noite para o dia ao assumir o cargo sem roubar dinheiro público.

Seria bom para o Brasil se a Copa do Mundo tivesse 365 dias e a escalação da seleção dependesse dos senhores políticos. Quem sabe o brasileiro aprendesse o mal que eles fazem quando ficam livres dessa fiscalização cívica que se vê a cada 4 anos contra a CBF e seus contratados.

Eu adoro futebol, eu torço pela seleção como torço pelo Coxa. Mas é apenas futebol, chorar e indigar-se por uma derrota em campo é irrelevante, chorar, indignar-se e exigir providências pela falta de recursos para a saúde e a educação, isso sim é patriótico.

Mas o brasileiro, via de regra, só chora pelo país na desclassificação de alguma copa, ou na efêmera comemoração de uma vitória.

11 comentários:

  1. Infelizmente é assim e mais um pouco!

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  2. Eu gosto de futebol, você sabe disso. Mas não consigo acompanhar a seleção brasileira, por conta desse ufanismo inconsequente. O pior é que eu vi, em 1970, pessoas falando que o Brasil era a patria de chuteiras e um monte de asneiras mais.

    E estão repetindo tudo de novo...

    Involuimos!

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  3. O mais um pouco é que hoje foi anunciado mais um corte de 1,2 bi do orçamento para a educação.

    Agora pergunte se um brasileiro que está na caça do Dunga sabe disso, está mais é se lixando.

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  4. na verdade, nem assim. O país para pq uma metade se interessa. Como é cultural estar no "ritmo brasil", dai todos sugerem entrar. Quando o assunto é politico, o que falta é saber discutir. Tem bastante gente que quer conversar sobre, só que geralmente a coisa é levada no estilo Fanaticos vs. Imperio Alviverde. Por isso há pouquissimo falar, e nulo fazer. A bola está quicando, literalmente, pra gente reaprender a discutir politica no Brasil. Vamos aproveitar enquanto temos "só" 30 anos de democracia...

    abraços!

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  5. Esta festa nada tem de patriotismo.É festa e nada mais.O futebol é uma das identidades nacionais.Preferível ser o futebol do que a guerra conta o terrorismo, por ex.

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  6. Magui e Tony,

    Vocês sabem que a opinião de vocês aqui no blog é SAGRADA, eu respeito e sempre que divergem de mim, paro para pensar um pouco no que escreveram, até para eventualmente me corrigir.

    NO entanto, nesse caso eu mantenho o que penso. Se o brasileiro médio dispendesse toda essa energia que dispende em época de Copa do Mundo, para fiscalizar seus processos políticos, o Brasil seria um lugar melhor onde viver.

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  7. Dos presidentes todos cobram. Podem não falar em bares, mas pentelham sempre. Dos 'outros' políticos é que nada fazem.

    Interessante é notar que você, sendo um membro atuante da justiça brasileira, entende como a nossa justiça é péssima. É coerência. Respeito seu ponto de vista e acho isto bom. Era bom que muitos advogados pensassem assim como você. Mas há milhares deles por aí que não veem assim. Para eles está tudo uma 'maravilha'.

    Concordo com seu desabafo cívico, pois eu mesmo, sou um contumaz crítico dessa sujeira politica que está aí, e que assistimos todos os dias. Desse marketing imundo exaltando a seleção brasileira de Dunga à esses politicos hupócritas que na maior cara de pau metem a mão nos cofres publicos e no dinheiro do contribuinte sem dó, e principalmente, desses eleitores que só votam nessas eleições pensando em seus bolsos. E em nada mais.

    E depois vem as moléstias e reclamações...

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  8. .....sem ocmentários o texto acima, simplesmente FANTÁSITICO, é o que penso sempre a ponto de correr risco de ser agredido por cobrar o veidadeiro patriotismo, pior ainda é ver que uma nação com tantos problemas, gente morrendo pelas mais básicas necessidades, ver todos "irmanados" nessa época, e capitais miseráveis falando em construir estádios de mais de 700 milhões de reais, é vergonhoso, triste, e uma enorme imprensa alienadora colabora para isso, sou de Curitiba, aqui temos uma favela a menos de 1 km do marco zero da cidade, próxima ao centro, aonde até a polícia tem seus receios de entrar, aqui tem inúmeros problemas que ninguém mostra, fizeram de Curitiba uma enorme mentira de qualidade de vida, capital modelo e outras bobagens, qual é a obrigação de um prefeito e seus vereadores ?.....ODEIO isso, quem apóia este tipo de circo não tem a mínima moral de reclamar da situação do país, são todos patriotas de ocasião sempre, estou aqui há 55 anos, e sempre foi assim.....nossa, maravilhoso ver que não estou só, mas me sinto isolado, em outro planeta no meio de tanta ignorância, falta de raciocínio e burrice, com todo respeito ao burro.....parabéns pelo texto.....

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  9. Carlos,

    Obrigado.

    Toda pessoa normal torce e se emociona com o futebol da seleção brasileira. Mas isso, não é patriotismo, isso é festa, é embevecimento.

    Patriotismo é muito mais que isso. E Graças a Deus, também não estou sozinho nessa opinião.

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  10. E eu que pensei estar sozinho nessa...sinceramente, tenho raiva daqueles impecis que colacam bandeirinhas nos carros durante a Copa. É a mesma bandeira que eles rasgarão e jogarão no lixo em caso de fracasso futebolístico, como se nossa bandeira fosse o símbolo de um tume de futebol. Perguntem a essas pessoas se elas ao menos sabem quantas estrelas há na bandeira... absolutamente ridículo. parabéns pelo texto.

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  11. Fauaze,

    É isso mesmo, depois da Copa, as bandeiras vão para o lixo... isso não é cidadania, é zoar com um símbolo importante.

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