3 de set. de 2008

O TRÂNSITO VAI PARAR? (parte 4)

Um médico de mão cheia, referência na sua especialidade, que além disso, é dono de clínicas e hospitais, professor e ex-reitor da maior e melhor universidade do sul do país.

Um indivíduo assim, candidato a prefeito, poderia fazer ótimas propostas na área de saúde municipal, com a competência de quem entende do assunto e a capacidade comprovada em colocar em prática tudo o que prometer. Além disso, professor e ex-reitor, poderia fazer propostas na área da educação, pois sua experiência o autoriza a pô-las em prática.

Mas não! O candidato a que me refiro foi para a campanha de rádio e TV tal qual uma madame estressada porque o trânsito atrasou pegar seu cachorrinho no pet shop, e reclama que o tempo parado nos engarrafamentos (é, Curitiba também os têm!) é perda de tempo de trabalho e lazer.

E por isso, tem a solução mágica na cartola: VAI ENCHER A CIDADE DE VIADUTOS E TRINCHEIRAS!

Em primeiro lugar, disse o óbvio sobre a perda de tempo.

Em segundo lugar, o mais grave, demonstra não entender absolutamente nada de urbanismo e muito menos do mundo em que vive, o que seria essencial para alguém que pretende ser prefeito de uma grande cidade.

Fazer viadutos e trincheiras significa criar um paliativo que só beneficia o transporte individual em detrimento ao transporte público de massas.

Uma coisa é a pessoa ser motorista e reclamar de modo meio confuso que hoje em dia todo mundo tem carro, que não há mais rua que chegue, que o trânsito só piora, que antigamente fazia o mesmo trajeto em 15 minutos e hoje leva 1 hora, etc... Outra completamente diferente, é pensar assim sentado na cadeira de prefeito, buscando "soluções" sob o ponto de vista de quem segura um volante. O excesso de carros é culpa do modelo econômico que adotamos, de tal modo que cabe aos políticos tratar de limitar o uso deles para benefício de toda a sociedade... e escrevo isso na qualidade de motorista contumaz.

À volta de uma trincheira ou viaduto os imóveis perdem valor. São abandonados e não raro invadidos por marginais. Viram mocós que degradam bairros inteiros com aumento generalizado de violência e feiúra urbana, como pichações e fachadas destruídas pelo tempo. Em conceito urbanístico moderno, é solução para casos extremos e não pode ser considerado como proposta de governo.

Analisando o que aconteceu com as grandes cidades que adotaram a prática de erguer viadutos para aliviar o tráfego, o que se conclui é que isso só piorou o problema no longo prazo, porque incentivou as pessoas a saírem de carro, ao mesmo tempo em que prejudicou soluções que poderiam ser tomadas para melhorar o transporte coletivo, sem contar os valores faraônicos gastos na construção de vias de rodagem que poucos meses após inauguradas, já se encontravam saturadas.

E o aspecto mais grave: as áreas mortas destas cidades, lugares abandonados pela sombra ou pelo barulho dos viadutos, sem possibilidades de revitalização. Já têm áreas assim em Curitiba, em Porto Alegre, em Florianópolis, em São Paulo, Rio, BH, etc... e nada consegue consertá-las.

É por essas razões que admiro muito o ex-prefeito Jaime Lerner. Suas soluções sempre tenderam a valorizar o transporte coletivo e limitar o individual. Há 20 anos atrás, ele já cuidava para que Curitiba não caísse no mesmo erro de outras cidades pelo mundo afora... e fez isso com um mínimo de viadutos e trincheiras! Se esse mínimo já criou problemas, imaginemos com a cidade cheia de elevados e subterrâneos?

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