30 de jan. de 2008

O FIM-DA-PICADA


Nos campos nazistas de concentração, milhões de judeus foram torturados e mortos a sangue frio.

Destituídos de agasalhos, praticavam trabalhos forçados em temperaturas abaixo de zero. Dormiam em catres infestados de piolhos e outros insetos, comiam algo pior que uma lavagem que não se dá nem para porcos, eram usados em experimentos científicos cruéis e muitos imploravam pela morte que os nazistas, por maldade e desumanidade não deferiam. Na mínima tentativa de buscar alento em Deus e em sua religião, ou eram punidos com ainda mais crueldade ou tinham algum amigo ou familiar seviciado para lhes mostrar o dever de obediência cega a seus verdugos.

Se isso tivesse acontecido na Idade Média não causaria tanto choque. Mas aconteceu no século XX, em um país culturalmente desenvolvido, terra de poetas como Goethe, de cientistas como Einstein e músicos como Beethoven, Mozart e Bach, onde já se praticava (apenas em teoria, é verdade) a separação do Estado e da igreja e, portanto, deveria ser um lugar de tolerância religiosa e racial.

No mundo inteiro, o Holocausto é um fato da história que causa vergonha a qualquer ser humano com um mínimo de inteligência, porque foi a representação física da maldade e dos instintos mais selvagens do homem.

É uma ferida purulenta da história que deve ser lembrada para fazer todo o ser humano baixar a cabeça e pensar nos limites da crueldade e da loucura de regimes políticos e estados latentes das sociedades. Mais que isso, deve ser lembrado e seguir-se de um pedido de perdão a Deus porque a humanidade inteira foi responsável ao se omitir ante a sabida loucura daqueles que perpetraram essa ofensa à Ele no corpo de milhões de Seus filhos.

Mas no Brasil, onde tudo é motivo de piada e nada é levado à sério, por que alguém não pensaria em se exibir aproveitando o desespero de milhões de pessoas, como o carnavalesco da Escola de Samba Viradouro, que pretende sair na avenida com um carro alegórico chamado "Holocausto"?

Isso me dá engulhos e vontade de vomitar, ainda mais quando o tal carnavalesco ainda teve o desplante de dizer que o carro não terá destaques e se ninguém sambar em cima, não é ofensivo e não tem problema.

Quer dizer que não é ofensivo lembrar do massacre em meio de um monte de gente nua ou seminua sambando, a bateria bombando e o povão pulando na arquibancada?

Se isso não é ofensivo, então as funerárias devem começar a contratar conjuntos de Axé Music para tocar nos enterros, com direito inclusive a dançarinas quase sem roupa e letras como a boquinha da garrafa.

É uma vergonha e um despropósito de proporções monumentais porque a dramática falta de educação e cultura do brasileiro médio, especialmente do povo que assiste desfiles de escola de samba e frequenta bailes carnavalescos não tem a menor idéia do que foi o holocausto, sem contar aqueles néscios que existem em todo o lugar, que usando de piadas e clichês sobre judeus, ainda defendem o nazismo.

Um carro assim, a ser apresentado em um desfile cujas imagens vão ser divulgadas no mundo inteiro, vai dar a impressão de que o Brasil faz troça do sofrimento alheio, razão pela qual não combate à contento a violência que existe por aqui.

Muito pior que isso vai passar a impressão errada para milhares de brasileiros analfabetos e desaculturados, de que o Holocausto foi algo tão insignificante que pode até ser citado por uma escola de samba para divertir as pessoas na festa "alegre" do carnaval.

Não dá pra dizer que chegamos no fundo do poço da ignorância brasileira, porque ela sempre nos surpreende. Antigamente as pessoas desfilavam na avenida em fantasias elegantes, mas a partir do advento da TV e do vale tudo pela audiência, as fantasias foram substituídas pelos seios nus e calcinhas lantejouladas ou simples tapa-sexo de modelos e atrizes burras, prática que já está chegando também aos corpos masculinos, afinal, mulher também assiste TV e também turbina a audiência.

Nas TV(s) mais pobres, o negócio é faturar em cima da promiscuidade de gente bêbada e drogada que se exibe em frente das câmeras sob a suposta desculpa da "alegria" da ocasião, mostrando para o Brasil inteiro não apenas os seus corpos e órgãos sexuais, mas sua falta de educação, de cultura e mesmo de vergonha na cara, entremeada a vadiagem institucionalizada com entrevistas estúpidas com pseudo-celebridades.

Transformaram o carnaval numa festa de prostitutas e cafetões que faturam alto em verbas publicitárias e em comissões de contratos futuros de "modelos e atrizes" ou "modelos e atores".

Será que já não bastava isso? Até aí seria suportável porque basta desligar a TV, atravessar a rua na porta dos bailes carnavalescos.

Mas não, essa gente nunca está satisfeita enquanto não atrair os holofotes para seus atos tresloucados. O negócio agora é atrair ainda mais audiência chocando o ofendendo as pessoas, suas crenças e suas tragédias pessoais.

Anos atrás o carnavalesco Joãozinho Trinta achou ruim que a Justiça o impediu de por na avenida uma imagem do Cristo Redentor envolto em lixo. Eu pensava que nunca mais o carnaval desceria tão baixo. Estava enganado... Deus queira que as autoridades não deixem esse carro desfilar, pouco me importa se terá palermas dizendo que é censura.

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