20 de jun. de 2007

PARTE II

O estigma da mulher negra na cultura brasileira

No período de escravidão, as mulheres negras possuíam uma posição inferior entre os inferiores. Valiam menos por serem menos produtivas e envelheciam mais depressa, a escrava com mais de 35 anos não possuía mais valor. As que trabalhavam na roça aproximavam-se da casa grande e quando engravidavam , muitas vezes, abandonavam seus filhos para amamentarem os filhos da senhora, numa época em que não era comum para as mulheres da elite amamentarem seus próprios filhos.

As escravas escolhidas para os serviços domésticos das casas ricas desfrutavam de melhores condições de moradia, alimentação, vestimentas, e aprendiam a ler e escrever (o que era proibido aos escravos). Porém eram as que mais sofriam violência sexual. Vistas como sensuais, essas mulheres viraram “objeto sexual”. Algumas ao virem no sexo uma forma de poder começaram a usá-lo como forma de rebeldia, assim como o aborto e o infanticídio. Para os pequenos proprietários, essa perda podia levá-los à ruína, pois eram escravos que seriam vendidos ou usados como moeda de troca.

Não raro, essas escravas eram prostituídas pelos seus donos, e por esses favores sexuais, muitas vezes, obtiam sua alforria. Em meados do século XIX , o número de mulheres alforriadas era superior ao dos homens, devido às suas habilidades como vendedoras que lhes rendiam dinheiro para comprar suas alforrias. As herdeiras dessa tradição ainda podem ser vistas no Bahia e no Rio de Janeiro como vendedoras de acarajé e cocadas.

Na literatura brasileira são várias as histórias de amor entre o homem branco e a mulher negra e, principalmente a mulata, considerada por muitos a companheira sexual ideal, pois tem a sensualidade negra e a aparência da branca. Esses personagens também aparecem nas modinhas populares, como essa de Lamartine Babo em O Teu Cabelo Não Nega:

“O teu cabelo não nega
Mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega
Mulata
Mulata quero o teu amor
Tens um sabor
Bem do Brasil
Tens a alma cor de anil
Mulata, mulatinha, meu amor
Fui nomeado teu tenente interventor”


Composta em 1931, essa famosa canção carnavalesca, insinua que a relação entre uma mulher negra e um homem branco é possível por que “a cor não pega”.
Por essa herança de trabalhos e serviços às senhoras das grandes fazendas, as mulheres negras também são vistas como serviçais. Muitas delas trabalham como empregadas domésticas, para patrões brancos, não convivendo socialmente com eles e são até impedidas de usar o elevador social. São versões modernas da escrava negra e da sinhá, que vivem hoje como viviam suas bisavós e tataravós escravas. Na televisão, são as preferidas para interpretarem o papel das domésticas, governantas e babás. Séculos depois a negra ainda é vista ou como objeto sexual ou serva do branco

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