5 de mai. de 2010

A CRISE DO FUTEBOL


Em meio às finais das copas e campeonatos europeus, dos grandes jogos eliminatórios da Libertadores e da Copa do Brasil e da expectativa em torno da Copa da África, pouca gente percebe a crise que vem tomando conta gradual do esporte mais popular do planeta.

Os seus custos estão cada vez maiores.

Os salários são inflacionados por empresários de um lado e pela má gestão financeira dos clubes do outro. Clubes pequenos mantém em suas folhas de pagamento jogadores que em início de carreira ganham mais que profissionais de nível superior em vias de aposentadoria, cedendo à pressão de empresários, de modo que não conseguem a manutenção dos atletas, tampouco o ganho na sua negociação.

Banalizou-se o termo "craque" para facilitar o recebimento de comissões sobre o passe de atletas que, as vezes adquiridos por alguma grande força, sequer são utilizados. O exemplo de Keirrison, jogador formado no Coritiba, que foi levado ao Palmeiras sem deixar um centavo no clube paranaense e depois vendido para o Barcelona com compensação mínima ao clube paulista, e logo depois emprestado ao Benfica e depois, à Fiorentina. O Barcelona pagou 30 milhões de reais por um jogador que nao vestiu, como provavelmente jamais vestirá sua camisa.

Sob outro aspecto, a pressão da FIFA e da UEFA na adequação de estádios a cadernos draconianos de encargos que são inviáveis na maioria das cidades do mundo. Clubes que obrigam-se a gastos extraordinários para jogar torneios nacionais e internacionais, gastos estes nem sempre ligados à segurança dos torcedores, mas apenas aos critérios vagos de funcionalidade imposto pelas entidades.

E a partir disto, se constatam alguns fatos que levam pouco destaque na mídia, mas são relevantes para demonstrar que a escalada de custos está afetando o esporte:

a) Um movimento grevista na riquíssima Liga Espanhola. Muitos jogadores do país reclamando dos atrasos sistemáticos de salários por times das principais divisões do país. Leia aqui;

b) Leia aqui, sobre a crise dos grandes clubes do futebol argentino. Boca Juniors e River Plate em meio a risco de rebaixamento por conta da necessidade imperiosa de desfazer-se de bons jogadores que vão para a Europa;

c) O rebaixamento, na última década, de grandes clubes brasileiros, como o Corinthians, O Vasco da Gama, o Fluminense, o Botafogo e o Palmeiras, constatando-se em todos eles situações semelhantes: grandes dívidas mal administradas, atrasos salariais, contratações equivocadas;

d) Dificuldades financeiras num dos maiores clubes do mundo, o AC Milan da Itália, que você pode ler aqui;

e) Hoje, no jornal A Tribuna do Paraná uma extensa matéria sobre a derrocada financeira do Paraná Clube, um dos mais vitoriosos do estado, cujo patrimônio imobiliário era o maior o hemisfério sul na sua fundação em 1989, fruto da fusão de dois clubes tradicionais de Curitiba, o Colorado e o Pinheiros.

Está se aceitando uma idéia errada de que os títulos e as glórias do futebol devem ficar concentrados em grandes clubes que por sua vez, deterão sempre o poder financeiro. A divisão do bolo das verbas de TV no mundo todo tem privilegiado os clubes mais tradicionais de cada país, sem que isso diminua o custos dos clubes médios e pequenos que estão em rota de extinção, porque se endividam para fazer frente à clubes contra os quais não tem chances, pois a maioria dos torneios nacionais hoje é vencida ora por um, ora por outro de dois ou três grandes detentores de verbas, e só!

Enquanto Real Madrid, Barcelona, Manchester Unidet, Arsenal, Chelsea, Milan, Internazionale, Juventus, Flamengo, Corinthians, Boca Juniors e River Plate concentram as verbas de TV e não necessariamente apresentam saúde financeira (Milan, Boca e River demonstram isso), impõem prejuízos aos pequenos e médios clubes que são alijados da disputa por títulos vendo suas revelações contrabandeadas para dar lucro a empresários.

Um círculo vicioso que está destruindo o futebol regional. Quantos clubes tradicionais do Brasil disputam com dificuldade ou não disputam mais nem os torneios de seus estados para vencer? Vejam a lista: CSA-AL, CRB-AL, ABC-RN, América-RN, América-RJ, Juventus-SP, Juventude-RS, Operário-MT, Ferrovário-CE, Criciuma-SC, Joinvile-SC, etc...

As liga esportivas americanas já descobriram há décadas que é financeiramente suicida que se concentrem os títulos e receitas em apenas um clube ou franquia. Lá as negociações de atletas são limitadas, existindo um critério de escolha deles que favorece os clubes com colocações piores nos torneios, para equilibrar as disputas, e as verbas de TV e marketing são divididas de modo muito mais equilibrado como forma de valorizar os espetáculos.

Se o futebol não descobrir um caminho como o americano, ou vai acabar ou forçará a criação de uma liga mundial de clubes, uma Fórmula 1 do futebol com custos astronômicos, que será proibitiva para pessoas comuns assistirem todos os domingos. Fico imaginando se isso será bom ou ruim para o esporte, não consigo ver aspectos positivos.

7 comentários:

  1. Não sou de "analisar" o futebol, mas reconheço com facilidade os males do capitalismo em qualquer lugar, e no esporte em questão me parece muito claro. As práticas capitalistas arruinaram um esporte tão simples e popular.

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  2. Zé,

    Não acho que o problema seja o capitalismo. Nos EUA as ligas esportivas geram milhões em receita, enriquecem muita gente, dão milhares de empregos e são entretenimento sadio para as massas, preservando a competitividade de todos os participantes e gerando progresso, coisa que o futebol não está fazendo, na medida em que limita gradualmente o número de times de sucesso.

    Sem contar que não haveria o futebol que conhecemos sem capitalismo, ele seria apenas uma prática esportiva, não uma paixão das pessoas.

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  3. Concordo com você Fábio, a coisa se concentra em um pequeno grupo. Veja o caso do Santos, para manter Neymar na equipe, será formado um fundo que comprara seus direitos e depois irá emprestar à equipe. Quem perde com isso???

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  4. Olá, tudo bem? Você não citou o maior problema do futebol atual: a lavagem de dinheiro... É nesse ponto que o bicho pega... Abraços, Fabio www.fabiotv.zip.net

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  5. Para muitos torcedores, quanto pior estiver o adversário melhor. Eles se regojizam com a queda do time adversário, bate palma com a falência, com a má administração do clube contrário. È ruim quando times passam por crise assim. Faz falta!

    Tomara que eles aprendam a tomar desições acertadas.

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  6. O capitalismo funciona muito bem nos EUA. Eu sempre disse que o capitalismo é um sistema perfeito para países ricos, foi feito assim.
    Meu ponto é o clássico "nem tudo que é bom para os EUA é bom para o Brasil" ou para o resto do mundo.
    Quem estragou o futebol e os jogadores foi o dinheiro, que tratou atletas como bens de capital.
    É claro que um clube deve dar lucro, um craque deve ganhar muito; Mas "passaram da conta" no valor dos jogadores ao mesmo tempo que os clubes faliram. Forçando um pouco, é igual aos grandes bancos americanos que faliram enquanto os sócios presidentes faturavam horrores...

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  7. Isso porque, na Europa, há o profissionalismo. Aqui, ainda estamos começando a fazer. Nossos clubes sofrem na pele e em campo com essa realidade. No meu, em especial, criticas sistematicas à diretoria pela postura que não deixe que o clube entre em rota definitiva de colisão. Mas se não fazem isso, vamos acompanhar o Coxa... de fato, não há formato melhor que os das ligas americanas. O maior risco, é ter as "15 maiores marcas" nas mãos de grupos internacionais, pra desespero de muitos torcedores que muito falam e pouco fazem. No mais, só vejo beneficios...

    A FIFA já está ensaiando com o mundial do final do ano, essa liga... abraços!

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