4 de abr. de 2011

QUAL O LIMITE DO CONSUMISMO?

No Estadão:
Após ter trigêmeos, pais rejeitam um dos bebês no PR

Um casal de Curitiba é acusado de "devolver" bebês trigêmeos.

A história, ainda não bem explicada, seria de que eles teriam passado por um tratamento de inseminação artificial, que notoriamente sujeita os interessados ao nascimento de gêmeos, trigêmeos ou até mais crianças.

E neste caso, existe a especulação de que o casal ficou contrariado sim é com o número de rebentos, porque esperava apenas um e, na pior das hipóteses, dois.

O que gerou, além da polêmica na imprensa, um indicativo judicial de perda do pátrio-poder com estipulação de pensão para as três crianças, paga, claro, pelos pais. Afinal, se um pai rejeita uma criança por um motivo como este, não serve nem para ter uma barata de estimação, que dizer criar um filho.

Notem bem: não estou acusando ninguém de nada, estou apenas repassando ao leitor as especulações havidas sobre este caso. Pode ser que no meio do processo judicial que se formou, os pais apresentem explicações e provas de que não agiram do modo desumano que foi citado, e eu mesmo, espero que assim seja. Ademais, os nomes dos envolvidos não vazaram (graças a Deus, pelo menos para as crianças!) a público. Mas o que choca é constatar onde chegou o consumismo, na confirmação de que rejeitaram a criança nos termos da notícia dada pela Agência Estado/Estadão.

Hoje em dia, consumir virou requisito de felicidade.

A pessoa não será considerada feliz se não trocar de celular a cada dois anos, se não tiver carro, se uma vez por semana não beber uma caixa de cerveja (se possivel à beira mar, com muita gente em trajes sumários), se não viajar, se não munir sua residência de TV-LCD, home-theater e leitor Blue-Ray, se não tiver câmera digital, IPad, Notebook, se não ostentar bolsas e roupas de grife, se não decorar a casa com os móveis da moda... toda a felicidade do mundo é apenas e exatamente aquela do senso comum da classe média que muitas vezes não tem um lugar digno para morar, com água encanada e esgôto, mas ostenta os produtos e os comportamentos ditados pela publicidade e pelos modismos.

Mas há mais um dos requisitos de felicidade, ditado pelo senso comum da classe média - os filhos.

Já conheci gente que teve filhos por obrigação social antes da vontade efetiva de assumir o encargo (que é grave e exige responsabilidade) de criar uma criança.

Tiveram filhos porque os amigos dizem que isso é indispensável para a felicidade ou porque as publicidades de colégios particulares dão a impressão de que é moleza educar uma criança... que além de tudo, só traz felicidade! TIveram filhos primeiro, para verificar depois se efetivamente os queriam ou mesmo se podiam criá-los fora do contexto pronlemático de, por exemplo, usar escolas públicas na sua educação.

Mas se for confirmada essa história sórdida, vamos concluir que os pais foram a um médico como iriam a um marceneiro:

- Queremos dois armários, digo, dois filhos. Se possível, com olhos azuis, cabelos louros e padrão marfim, ops, desculpe: olhos azuis, cabelos louros e pele clara!

Daí, passado um tempinho, o marce... digo, o médico anuncia que chegarão trigêmeos e o casal indignado ameaça ir ao PROCON e por fim, devolve a mercadoria com exigência de abatimento de preço.


O leitor notou a situação chocante? Será que estamos chegando no ponto em que o consumismo puro e simples também vai ditar o número de crianças abandonadas nas ruas das cidades? Será que já não tem sido este o comportamento de muita gente que se aventura em ter filhos e depois os larga por aí, ou pensa que a educação deve ser dada pelos colégios?

Antigamente, crianças abandonadas eram fruto de pais irresponsáveis que às faziam sem ter condições financeiras de criá-las. Agora, chegamos numa situação em que elas são frutos de pais que planejam tanto suas contas pessoais que enjeitam um filho porque sabem que não terão condição de colocar dois na escola da moda, nem vestir dois com roupas de grife, nem dar aos dois, os muitos brinquedos exigidos para a felicidade da criança... e dos pais.

As pessoas estão virando máquinas. Elas não "são" mais alguém, elas querem "parecer ser" alguém, um alguém modelado pela opinião dos outros, pelas convenções sociais nem sempre justas e corretas, pelos modismos, pela publicidade... estamos deixando a humanidade, as pessoas estão aceitando virar números nas tabulações de pesquisas de opinião feitas para justificar a colocação de produtos no mercado, só isso. E o pior de tudo, parece que crianças também estão virando produtos...

6 comentários:

  1. Esse é o caso mais absurdo - e realista do ponto de vista da 'falta de amor verdadeiro' - que eu já vi em toda a minha vida.

    Estou surpreso. Surpreso com os limites da indecência dos seres humanos na terra. Chegar ao ponto de rotular uma criança com uma mera mercadoria de balcão é o cúmulo do absurdo. Inexplicável.

    Sinceramente, a lição que se tira desse caso é que esses 'supostos pais', de fato, NÃO TEM CONDIÇÕES ALGUMA DE SEREM PAIS. E isto compromete sobremaneira a vida dessas crianças sob sua tutela - tanto hoje quanto futuramente. Será que a justiça irá permitir que eles a levem? Não há dinheiro que garante nada para os menores.

    Crianças não são objetos. Não são robôs. "Não se cria crianças vivas como se elas tivesse um botão de on/off em que as liga e desliga conforme a vontade de seus pais (aqui, creio seja isso que exista na cabeça desses pais: eles realmente pensam assim). Amor não se compra, não é algo que se encontra nas famácias e nas esquinas, nem em lojas - embora exista muitos médicos e clinicas por aí dispostos a criar essa fantasia e vendê-las com suas ciências exatas.

    Pois é, amigo Fábio... parece que o mundo está mudando... e pra pior.

    Isto me fez lembrar que a (me disseram!) Xuxa tambem fez coisas e arremedos semelhantes antes do nascimento de sua filha, a Sacha. Ela premeditou tudo para o nascimento da menina, programou tudo, planejou tudo, tintim por tintim - para que a sua "menininha" nascesse com um pai de tal signo, no dia, na hora, sob o signo e na lua e tempo estipulado e desejado por ela previamente...com tudo cronometrado.

    Quando sei ou vejo coisas assim em alguem, percebo de verdade que o ser humano chegou ao último estágio de seus pudores. Ao fim. Em nome do "consumismo da hora" ele perdeu-se em todo o respeito. Crianças não são objetos.

    Pelo que dá a entender, parece que na cabeça dessas pessoas, não há mais Deus. Não há mais amor. Não há mais nada. O que há são "crianças/produtos"... para suas conveniências.

    Um absurdo.

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  2. Outro aspecto horroroso disso, é o casamento em estilo Schrek mostrado pelo Fantástico... ou seja, casamento deixou de ser sacramento, virou ocasião para babacas ostentarem seu mau gosto.

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  3. Fabio, eu li no blog da jornalista curitibana Yvonne, que o pai viu as criancas e uma delas estava bem fraquinha,. Ele disse: "essa, eu nao quero". Depois, horas mais tarde, a que ele tinha rejeitado , sofreu melhoras e a que ele escolhera, piorara. Ele voltou atrás e disse: "quero essa e nao mais aquela."
    Ouvindo isso, a enfermeira comunicou ao Diretor da Clinica que comunicou ao Conselho Tutelar.
    A cada linha que leio sobre esse caso, eu fico estarrecida. Como pode uma pessoa fazer isso com o proprio sangue? E tem mais...segundo depoimento das enfermeiras, NINGUÉM, NEM OS PAIS, AVÓS OU TIOS, VISITAVAM AS CRIANCAS, NO PERIODO EM QUE ELAS FORAM PROIBIDAS DE MANTER CONTATO COM O CASAL.

    DEUS PROTEJA NOSSAS CRIANCAS...
    DIAS FELIZES

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  4. É, Grace.

    É estarrecedor, crianças agora viraram produtos e pais às fazem para agradar a sociedade, não por amor.

    Isso para mim é consumismo... e desumanidade!

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  5. Olá, tudo bem? Não conhecia essa história...Mas eu definitivamente não sou consumista.. Não gosto de trocar as coisas por outras a bel prazer... Abraços, Fabio www.fabiotv.zip.net

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